Crise total nos quadrinhos norte-americanos

por Koppe Dom Jun 16, 2013 8:58 pm

Juan Gómez-Jurado
Dia 16/06/2013 - 17:20

Autores da Marvel e DC relatam ameaças e interferência de editores, e clamam por um sindicato

Houve uma época em que os quadrinhos eram chamados "a nona arte". Um renascimento de ouro, no final dos anos 80, que transformou bonecos de pijama com menos profundidade do que uma tigela de sopa em personagens maiores do que a vida. Isso ocorreu graças aos esforços da maioria dos autores pessoais, dispostos a questionar todas as convenções do gênero para levá-lo a novas dimensões. Estamos falando de Moore, Miller, Morrison e Gaiman, que trabalharam em grandes casas e fizeram o mainstream ganhar prestígio, para o público levar a sério Superman e Batman.

Hoje, essa era acabou. Aos olhos da Marvel e DC, as duas grandes editoras, escritores e artistas não valem nada, são apenas bucha de canhão no liquidificador na indústria. E estes começaram a se desdobrar e puxar o cobertor. Nomes conceituados como os de Paul Jenkins, Greg Rucka e Gail Simone, entre outros, começam a revelar em seus blogs e em entrevistas aquilo que os fãs já suspeitavam: as histórias em quadrinhos já não importam mais para aqueles que as fazem.

"Há uma Hollywodização grotesca das duas grandes. A qualidade do trabalho é menos importante do que publicá-lo. Não estão interessados em talento, só na promoção do valor financeiro de suas franquias. Mas agora não importa quem escreve, e eu vou dizer porque: existem 5.000 autores lá fora mais baratos do que eu. Mas isso não significa que eles possam fazer o trabalho", diz Greg Rucka, escritor, quatro vezes vencedor do Eisner, o Oscar do mundo dos quadrinhos. Rucka já trabalhou com praticamente todos os principais personagens de ambas as empresas, mas desde a compra da DC pela Warner e Marvel pela Disney, diz que "como o mercado está, eu não tenho paciência para ele." Assim ele está focado em editoras independentes, desencantado com as grandes.

Ele não está sozinho. O abuso constante dos escritores é tão escandaloso que a respeitada escritora Gail Simone foi dispensada como autora de Batgirl por um e-mail com duas linhas. A pressão dos fãs no Twitter com a notícia e a rudeza do editor forçaram a DC a contratá-la novamente. Mas não se trata de um caso isolado, e sim a tendência geral. Paul Cornell, roteirista de filmes como Batman e Wolverine, queixou-se amargamente em sua conta no Twitter: "Precisamos formar um sindicato. Às vezes eu acho que existem cláusulas de confidencialidade só para eles (os editores), poderem nos tratar como merda".

O desconforto dos autores nas grandes casas era um segredo que também denunciou Paul Jenkins recentemente em uma carta aberta. O escritor de Batman: The Dark Knight explodiu: "Na DC eu achei mais mentiras e ameaças veladas do que em toda minha carreira. DC tem ido por água abaixo, eles acreditam que o profissionalismo é foder com o autor e depois fingem ser amigos na frente dos fãs."

Mas não é apenas uma questão de abuso aos criadores mais importantes o único fator preocupante da história, e sim a percepção de que não há mais liberdade criativa em qualquer caso. Os novos "editores" não são fãs de quadrinhos, mas apenas os gestores que precisam justificar o seu salário e manter o valor dos personagens, interferindo nos assuntos mais estúpidos.

"Eles enviaram os scripts para serem reescritos, porque eu tinha colocado em uma cena que Batman estava sentado em uma borda. O editor me disse que não tinha certeza de que eu estava entendendo o personagem Batman bem, porque o Batman nunca se senta". Ao saber desse detalhe, os fãs criaram um blog cheio de fotos do Cavaleiro das Trevas sentado, que está crescendo. "Se o meu trabalho está comprometido por alguém que nem sabe o que está dizendo, eu não posso estar satisfeito", diz Jenkins.

A interferência chegou a tal ponto que depois de enviar um script, um companheiro reescreveu a partir do zero, deixando o seu nome na capa e editorial algo completamente diferente "um pedaço de merda", Jenkins chamou. "A DC começou a agir como um valentão, para forçar as pessoas a aceitar as condições de trabalho de merda como se estivessem nos fazendo um favor", que, como Rucka, também concorda que a culpa do aumento da pressão não é só da compra por mega corporações, mas também a rivalidade subterrânea entre as duas, especialmente após o sucesso de Os Vingadores. Mas, ainda assim "Como pode irritar tanto um autor para lhe dizer que perca o seu número de telefone?", Conclui Moore. Novamente perguntado.

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