A high society e os rolezinhos

Jornalismo Wando escreveu:O high society e os rolezinhos

"Berros, correria, gritos de guerra, palavrões, tumulto, ostentação e muita paquera" - essa seria uma descrição perfeita dos rolezinhos que jovens de periferia têm feito dentro dos shoppings brasileiros. Mas também caberia como uma luva pra descrever os rolezinho de uma gente bonita da FEA-USP, a Faculdade de Economia e Administração da USP, que promove suas baguncinhas anuais com os "bixos" no Shopping Eldorado.

O rolezinho do bem funciona assim: depois de pedir dinheiro no farol, jovens bem nascidos se reúnem dentro do shopping pra comemorar - aos berros e palavrões - sua entrada na universidade. Aliás, essa é uma fase bastante comum na vida do jovem de classe média/alta: primeiro estuda em escola particular, depois faz cursinho caro pra passar em universidade gratuita e então vai comemorar brincando de miserável no farol.

Muitos questionaram a diferença dos pesos e medidas nas reações aos rolezinhos. Me parece óbvio, mas tentarei explicar. O rolezinho da FEA claramente faz parte de uma agenda universitária, tradicional, com um propósito definido. Trata-se de um rito de passagem do jovem branco brasileiro para a fase adulta.

E os rolezinhos do funk? Muita gente tentou explicar esse desastre social que tomou conta do país. Jornalistas, sociólogos, antropólogos, filósofos, enfim, uma enorme variedade de profissionais se debruçaram sobre o assunto do momento. Mas poucos pararam pra prestar atenção no que pensa o high society paulistano, uma categoria bastante esquecida, mas que é responsável por grande parte do PIB da nação.

Duas famosas jovens senhoras do jet set brasileiro, que ficaram conhecidas pela participação no programa Mulheres Ricas, resolveram botar a boca no trombone e interromperam um rolezinho em Paris para conversar com a revista CARAS:

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Apavoradas em Paris, nossas meninas mostram que não são apenas dois rostinhos bonitos na revista CARAS. Segue trecho da matéria:

Regina contou que as duas "estão apavoradas" com os passeios programados por jovens em centros de compras e que "acabou a última opção de lazer dos paulistanos e dos que visitam a cidade".
Elas se encontraram no renomado restaurante Ambroise, na Place des Voges, que tem classificação três estrelas do guia Michelin. Elas degustaram caviar lagostins, trufas e uma sobremesa de maracujá e chocolate envolta em uma casca fina. "Realmente para quem pode e nós duas podemos nos dar este luxo", disse Manssur.

Segundo a advogada, a violência no Brasil e a situação caótica nos shoppings tomou conta da conversa. "Conversamos principalmente sobre a situação triste em que se encontra nosso pobre país com relação à violência e como estamos apavoradas com este tal 'rolezinho' nos shoppings! É um absurdo! Na minha opinião, acabou a última opção de lazer dos paulistanos e dos que visitam nossa cidade", contou Manssur.
Me encanta a preocupação social da alta sociedade. E estando em Paris, com o devido distanciamento, fica mais fácil analisar o quadro de maneira isenta. Regina Manssur, que já havia externado seu desespero com a PEC das domésticas, parece estar especialmente interessada no assunto. Ao IG ela afirmou:

“A aglomeração descamba. A aglomeração é perigosa. Por que existe Contru, Corpo de Bombeiros, saída de emergência, instrução de incêndio? Porque lugar fechado é perigoso”

Por que não há a mesma preocupação com o rolezinho universitário? Não sabemos, mas num gesto de carinho e solidariedade, Regina propôs patrocinar a criação do "rolezódromo", um espaço exclusivo de lazer para jovens de periferia, que levaria o nome de sua mãe.

Mas o high society não é composto apenas por jovens senhoras. Temos outras vozes importantes. O jovem Paulo, filho da socialite paulistana Ligia Kogos, vociferou contra os defensores do rolezinho em vídeo no Youtube (aliás, recomendo que assistam na íntegra!):

"Para entender o rolezinho, nós temos que entender a esquerda, que é um movimento político que se utiliza de falácias, mentiras, contradições, confusão mental, distorção dos fatos, perversão da ética e da moral, pra implantar as agendas políticas mais nefastas e totalitárias. Inclusive o nazismo e o stalinismo. Eles querem fazer isso aqui no Brasil"

O temor não é exagerado. A segurança dos consumidores mais tradicionais tem sido colocada em risco. Seja ele rico, pobre, negro, branco, funkeiro ou sertanejo universitário. Portanto, é bobagem querer enxergar preconceito racial ou social na reação aos funkeiros. Essa matéria do UOL confirma minhas palavras:

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Veja bem, essas empresas não estão sendo preconceituosas, jamais. Só estão querendo preservar a exclusividade dos seus consumidores. É uma questão de mercado. Vejamos o que o diz o diretor do DataPopular:

"Boa parte das marcas tem vergonha de seus clientes mais pobres. São marcas que historicamente foram posicionadas para a elite e o consumidor que compra exclusividade pode não estar muito feliz com essa democratização do consumo. Algumas empresas me procuraram dizendo 'minha marca está virando letra de música, febre na periferia e não quero estar associado a esse pessoa"

Isso é elitismo? Preconceito? Claro que não. É apenas uma forma de preservar os clientes que querem exibir sua exclusividade através de boas marcas. Essa é a estratégia de defesa institucional dessas empresas e deve ser respeitada, até porque o mercado é livre.

A verdade é que esses funkeiros estão promovendo um rolezinho no imaginário da alta sociedade e daqueles que compartilham seus bons valores. Meu único medo é que, com os avanço das cotas, o rolezinho universitário acabe se popularizando e ficando cada vez mais parecido com os rolezinhos do funk. Sem falar que, nessa toada, a famosa "pindura" das faculdades de direito tem tudo para ser reclassificada como "assalto".

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volpi escreveu:Eu... eu... eu não entendi... Essa matéria é séria ou é piada?

Victor Pax escreveu:Como disse achava que era, pelo comportamento de muitos trotes em muitas cidades.
Quem nunca ouviu falar do TUSCA aqui em São Carlos não sabe a zona que é (deixa qualquer rolezinho do mais agressivo no chinelo).

Mas se errei sobre a confraternização da FEA sou o primeiro a me desculpar.

Victor Pax escreveu:Bom, as "confraternizações" anuais com os "bixos" no Shopping Eldorado são verdade?
Eu acho que são.

A reportagem das "mulheres ricas" é verdade?
Eu acho que sim.

A insistência de algum setores da sociedade de vincular qualquer movimento de reivindicação como movimento de esquerda como nazismo (?!?!?!?!?!) e o stalinismo é verdade?
Infelizmente é... (o que para mim é um atestado de ignorância).

As grifes se pautam na noção de exclusividade e acima de tudo elitização de seus produtos?
Sim, isso é realidade.

É verdade que rico saindo correndo sem apagar está apernas brincando e pobre sendo ladrão, salafrário e mal caráter?
Tirem suas próprias conclusões.  

Então mesmo que o texto não seja sério os seus tópicos o são... o que dá um sentido todo próprio para o texto.

Wally_Gator escreveu:Na boa...quando vi a cara daquelas velhas podres ali parei de ler. É isso que me intriga, sabe?