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O começo da briga

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Mensagem por Koppe Qui Jul 08, 2010 2:15 am

- O senhor foi intimado para depor sobre a violenta briga acontecida ontem no seu armazém, no Iguariaçá. Três mortos, oito feridos, um horror…

- No meu bolicho, seu delegado. Quem sou eu pra ter armazém? Armazém é o do turco Salim, que foi mascate. Por sinal que…

-Não se desvie do assunto. Como e por que começou a briga?

- Bueno, pos historiemo a coisa. Domingo, como o senhor sabe, o meu bolichote fica de gente que nem corvo em carniça de vaca atolada. O doutor entende: peonada no más, loucos por um trago, por uma charla sobre china. A minha canha é da pura, não batizo com água de poço como o turco Salim. Que por sinal…

- Continue, continue. Deixe o turco em paz.

- Pois então bamo reto que nem goela de joão-grande. Tavam uns quinze hôme tomando umas que outras, uns mascando salame pra enganar o bucho, quando chegou o Faca Feia. O senhor sabe, o índio é mais metido que dedo em nariz de piá. Deu um planchaço de adaga no balcão e perguntou se havia home no bolicho. Todo mundo coçou as bola. Home tem bola, o senhor sabe.
O Lautério – que não é de cheirar flor com pouca venta – disse que era com ele mesmo, deu de mão numa tranca e rachou a cabeça do Faca Feia.
Um contraparente do Faca não gostou do brinquedo e sentou a argola do mango no Lautério. Pegou no olho – lá nele – e o Lautério saiu ganiçando como cusco que levou água fervendo pelo lombo.
Um amigo do Lautério se botou no contraparente do Faca – que já tava batendo a perninha – e enfiou palmo e meio de ferro branco no sovaco do cujo, que lo chamam Pé de Sarna.
Um irmão do Sarna, acho que chateado com aquilo, pegou um peso de cinco quilos da balança e achatou a cabeça do homem que faqueou o Sarna. Os óio saltaram, seu doutor.
Um primo do homem do ferro branco rebuscou um machado no galpão e golpeou o irmão do Sarna. Errou a cabeça, só conseguiu atorar o braço do vivente.
Aí eu fui ficando nervoso, puxei meu berro pro mole da barriga, pronto para um quero. Meu bolicho é casa de respeito, seu delegado, e a brincadeira já tava ficando pesada. Mas bueno, foi entonces que o Miguelão se alevantou do banco, palmeou uma carneadeira, chegou por trás do homem do machado, pé que te pé, grudou ele pelas melena e degolou o vivente num talho a coisa mais linda. O sangue jorrou longe como mijada de cuiudo.
Aí eu e mais uns outros – tudo home de respeito – se arrevoltemo com aquilo. Brinquedo tem hora, o senhor não acha?

- Acho, sim. Mas e aí?

- Pois, como lhe dise, nós se arrevoltemo. Saquemo os talher. E foi aí que começou a briga…


Autor: Aparício Silva Rillo
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