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Pesquisa comprova o racismo flagrante no México

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Pesquisa comprova o racismo flagrante no México Empty Pesquisa comprova o racismo flagrante no México

Mensagem por ediv_diVad Dom Mar 04, 2012 9:54 pm

Um vídeo com dois milhões de acessos que se espalhou pelas redes sociais fez muito mais do que servir de alerta ao racismo no México, disfarçado e ignorado apesar da última pesquisa do Conselho Nacional para Prevenir a Discriminação (Conapred) certificá-lo e as lojas de cosméticos registrarem fortes vendas de cremes branqueadores de pele.

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Dois bonecos, um negro e outro branco. Em frente a eles, uma criança é questionada: "Qual é bom e por quê?". Na maioria dos casos, uma mesma resposta: "O branco, porque é branco".

Este experimento foi criado pelos psicólogos Kenneth e Mamie Clark em 1940 para estudar a atitude das crianças com relação à raça e de vez em quando retorna à atualidade quando é colocado em prática. Um dos últimos vídeos foi feito no México e recebeu cerca de dois milhões de acessos no YouTube, despertando uma polêmica que permanecia adormecida.

O vídeo é parte de uma campanha do Conapred, um órgão público criado em 2003 para prevenir a discriminação que nunca havia questionado se os mexicanos eram racistas até a realização de uma pesquisa nacional em 2011. O levantamento apontou que 55% dos entrevistados acredita que no México as pessoas insultam "muito" ou "um pouco" as outras por sua cor de pele.

"Não esperávamos que o tema da discriminação pela cor da pele aparecesse com essas porcentagens", afirma à Agência Efe o presidente do Conapred, Ricardo Bucio, que explica que esses resultados levaram o órgão a lançar em dezembro a campanha dos bonecos, além de outras ações.

Uma delas foi a reunião de frases carregadas de racismo que são usadas cotidianamente no México, como "Você vai ficar mais morena, não fique no sol" e "O bebê nasceu moreno, mas é lindo".

"O que queríamos com a campanha não era provar que o México é racista, mas tentar iniciar um debate, já que é um tema cultural que precisa de uma reflexão pessoal e coletiva", comenta Bucio, acrescentando que muitos mexicanos nunca haviam se questionado sobre o assunto.

"NÃO DIGA DE ONDE VEM"

"As pessoas não aceitam que são racistas, acham que o racismo tem a ver com cor e como no México não há negros, acreditam que não somos racistas", explica Xóchitl Gálvez, indígena de ascendência otomí que passou grande parte de sua vida lutando pelos direitos destes povos.

Nascida no estado de Hidalgo, com apenas 16 anos se mudou para a Cidade do México para trabalhar e estudar. Conseguiu se formar em Engenharia da Computação e entrou no mundo da política em 2000, quando o então presidente Vicente Fox a designou titular da Comissão de Desenvolvimento dos Povos Indígenas.

Hoje é uma bem-sucedida empresária que visa se eleger senadora pelo Partido Ação Nacional (PAN), mas sua trajetória foi marcada por percalços por ser mulher e indígena, uma combinação que a levou a sentir a discriminação desde muito cedo.

Quando viu o vídeo do Conapred lembrou-se de seu pai dizendo a ela que nunca revelasse de onde vinha. "Ele não me dizia isso porque era mau, mas porque sabia que iam me maltratar, que não era bom para mim dizer isso. Uma criança prefere ser branca porque sabe que vão tratá-la melhor", aponta.

Os anos de discriminação passaram: o dinheiro faz as pessoas esquecerem a cor da pele e as origens. "Eu me tornei uma empresária bem-sucedida que vive nas Lomas de Chapultepec (uma área nobre da capital), e por isso minha vida mudou automaticamente", conta.

A agência de publicidade que fez o vídeo do Conapred encontrou dificuldades para adquirir bonecos com a pele escura nas lojas de brinquedos mexicanas. Além disso, a Efe constatou que não existem dados oficiais sobre a cor da pele dos mexicanos.

O Instituto Nacional de Estatística e Geografia (Inegi) confirmou que nunca foram feitos estudos a respeito, pois no censo não há perguntas sobre a cor da pele. Segundo o World Factbook da CIA, 60% da população do México é mestiça, 30% é ameríndia ou predominantemente ameríndia, 9% é branca e 1% é das outras raças.

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DIFERENÇAS MUITO MARCADAS

Sem a necessidade de dados oficiais, um passeio pela capital mexicana é suficiente para constatar que a cor e os traços indígenas são abundantes entre a população e determinam em parte seu futuro.

"A discriminação se expressa na desigualdade de tratamento e de oportunidades. As pessoas com a pele mais clara têm melhores oportunidades de trabalho, não é a única coisa que importa, mas influi", destaca Bucio.

São feitas distinções desvantajosas em relação à cor da pele e, além disso, são buscados mecanismos reais e simbólicos de branqueamento, comenta o presidente do Conapred. Entre os primeiros estão os cremes e tratamentos estéticos para clarear a pele, e entre os segundos está a publicidade, na qual sempre se representa o branco como desejável e bem-sucedido.

"As elites do poder no México, quanto mais acima estão na escala social, mais brancas são e não representam a composição sociodemográfica do país", indica. Até mesmo na propaganda eleitoral é comum a prática de literalmente branquear os candidatos.

"Em aspectos cotidianos e aparentemente inofensivos como o fato de os pais preferirem ter filhos com a pele clara é onde a discriminação é mais notada", afirma José Rosario Marroquín, presidente da ONG Prodh, de defesa dos direitos humanos.

"Não é um racismo aberto porque a discriminação pela cor de pele é mal vista", explica Marroquín. No entanto, ele é registrado em todos os âmbitos, começando pelas escolas, passando pela polícia e sobretudo em alguns restaurantes e locais de lazer que têm certos requisitos para permitir o acesso.

Alex "Cheetah" conhece de perto estes requerimentos, pois tem uma empresa de relações públicas que organiza eventos, alguns deles em discotecas de alto padrão. "Se uma pessoa que está na fila não cumpre o perfil, não tem permissão para entrar".

O perfil: nível socioeconômico alto, roupas adequadas e, preferivelmente, pele clara. "Embora não seja determinante, influi e de fato existe esta discriminação. Se há um branco junto com um negro, ele tem prioridade", confessa.

Apesar disso, o relações públicas nunca havia questionado o fato de as discotecas parecerem um mundo à parte, afastado da radiografia do país. "Vou a um lugar para me divertir, não reparo se as pessoas são brancas ou negras, não penso que na rua vejo um tipo de mexicano e na noite vejo apenas gente bonita. De fato, nunca tinha parado para pensar nisso", acrescenta.

Embora seja possível denunciar atos racistas ao Conapred, são feitas poucas denúncias porque os agredidos não têm consciência desta discriminação. Dos 1.090 expedientes abertos em 2011, apenas 15 são por discriminação racial. Além disso, a instituição não tem poder para punir o descumprimento da lei.

Bucio acredita ser necessário um confronto cultural contra o racismo, como o que houve contra o machismo. Para ele, o Estado tem que liderar esse processo e as medidas têm que ser focadas no poder sancionador do Conapred, na educação e na imprensa, que acabam reproduzindo e reforçando os estereótipos.

Questionado pela existência de algum programa da sociedade civil que defenda a igualdade no México, Bucio não foi capaz de responder. "Não acredito que existam. Acho que ainda não chegamos a esse nível", avalia.

De:
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