Reboot que não é reboot na marvel mais Jean Grey que não é Jean Grey igual a Marvel Now

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Há nove anos o roteirista Grant Morrison escreveu uma das fases mais polêmicas dos X-Men, o arco de histórias Planeta X, que resultou em mudanças drásticas na equipe: Magneto, que não era Magneto mas também não era Xorn se passando por Magneto, provocou na X-Man Jean Grey o que o autor chamou de um “derrame cerebral em escala planetária”, causando sua morte. E, mesmo tendo ressuscitado minutos antes, numa nave espacial a caminho do sol, nos braços de seu velho amigo e eterno apaixonado Wolverine, Jean, a Fênix, permaneceu morta. Perfeito para o recém-viúvo, seu marido adúltero (duplamente, se considerarmos o abandono de Madeline Prior, anos antes), que já estava a ponto de trocá-la pela ex-Rainha Branca do Clube do Inferno, Emma Frost.


Desde então a Marvel não economizou referências e teasers sugerindo a volta da ex-Garota Marvel, como a belíssima minissérie Fênix – A Canção Final, na qual Jean é ressuscitada à força por uma nave Shiar cujo comandante buscava vingança contra a Força Fênix, que destruíra seu planeta e toda sua família. Na história, a primeira reação do viúvo Scott Summers ao saber do retorno de sua esposa é decretar sua morte preventiva. Afinal, o que fazer com uma esposa viva e uma amante ciumenta? Apesar disso, a história tem um final convincente, até mesmo poético, no qual Emma e suas garotas Cuco ligam as mentes de todos os X-Men à da Fênix, ou melhor, Jean, fazendo com que a mutante e a entidade cósmica finalmente alcancem um estado de harmonia, a Fênix Branca, e decidam, para alegria de Scott, voltar para a geladeira, também conhecida como Sala Branca e Quente (ui!). Emma até mesmo chora, emocionada, com a demonstração de amor dos X-Men por Jean, ou talvez por ela sair do caminho e deixar o marido disponível novamente.

A história seguinte, Fênix, a Canção de Guerra, é tão ruim que não merece nem ser mencionada. Podemos pular.

Embora pareça ter dado um desfecho respeitoso para a questão da não-ressurreição de Jean Grey, a Marvel ainda precisava de dinheiro, e seu editor-chefe, Joe Quesada, sabia muito bem de onde buscá-lo: da devoção dos fãs da heroína ruiva. E, como um bom pastor, prometeu mundos e fundos, e até a destruição deles, se todos comprassem muito suas histórias.

Foi numa dessas promessas que surgiu Hope – Esperança, - mais uma das muitas ruivas genéricas da Marvel, com todas as evidências de que poderia ser uma reencarnação de Jean: cabelos cor de fogo, olhos verdes, nível ômega e imagens da Força Fênix brilhando vez ou outra em seus olhos. Estavam garantidos mais uns cinco anos de boas vendas nas revistas dos mutantes.

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Mas a Esperança, embora seja a última que morre, era falsa. Hope não é nem tem uma fração do carisma de Jean Grey. E, pobre coitada, após ser usada e surrada – literalmente! – por Scott Summer, que a elegeu messias da raça mutante, teve seu momento de glória negado no grande caça-níqueis chamado Vingadores versus X-Men: quando finalmente a Força Fênix, desprovida de qualquer ligação ou menção ao nome de Jean Grey chegou à Terra, ou melhor, à Lua, Hope foi jogada de lado; e a ave cósmica, dividida em cinco, graças a um robô gigante destruidor de Fênix criado pelo maior gênio do universo, Tony Stark, foi distribuída pelos cinco mutantes mais próximos, Ciclope, Emma Frost (claro!), Namor, Colossus (também acumulando o poder do Fanático) e Magia. Surgiam as Cinco Fênix, porque uma só é mixaria!

Então vejamos: X-Man original enlouquecido, recentemente mesclado e separado do Apocalipse E acumulando a entidade Vácuo, o lado ruim (se é que existe um que preste) do sumido Sentinela (outro personagem apelão e mala); Rainha Branca (não preciso dizer mais nada); Fanático; e a soberana demoníaca do Limbo, uma dimensão mística tão bacana quanto o inferno. Faltou alguém? Ah, sim. O Príncipe Submarino. Absolutamente inútil e recentemente considerado mutante só para pegar carona no sucesso (ou fracasso) dos X-Men.

A história ainda não terminou, mas a Marvel sabe que vai terminar mal, como todas as anteriores, por isso já está na corrida por mais teasers e sagas que juram que vão mudar para sempre o universo 616 – o clássico de Stan Lee e seus amigos. Não que tenha sobrado muito do que era.

Mas uma pergunta ainda carecia de resposta: e Jean Grey? Volta? Próxima pergunta, respondia Quesada, delicadamente (NOT). Eis a resposta: após nove anos choramingando e amaldiçoando os editores e autores da Casa das Más Ideias, os fãs da ruiva terão um novo prêmio de consolação, pois os cinco X-Men originais serão arrancados do passado, na época de sua adolescência (o que para o Homem de Gelo poderia ser agora ou daqui a cinquenta anos) e jogados na Era do Apocalipse, digo, do Quesada, onde ou estão mortos, ou transformados em tiranos fascistas. Ou na mesma, no caso do Homem de Gelo.

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A editora, orgulhosa de seus feitos – entre eles misturar X-Men e Vingadores numa mesma equipe após toda a pancadaria sem motivos e os primeiros terem aprisionado os segundo no inferno – promete satisfazer os desejos dos fãs da Velha Escola, aquela onde Charles Xavier era um homem de caráter e Scott Summers não trocava de mulher como quem troca de roupa. E tudo isso negando a palavra maldita, reboot, tão criticada na concorrente, a DC.

Não, a Marvel não vai reiniciar suas histórias. Apenas misturar tudo como uma grande sopa de entulho, mas com ingredientes indigestos e passados, daqueles que te mandam para o banheiro por meses. E, entendam, sem reboot, lançará algumas dezenas de revistas novas, como fez a concorrente, para horror dos leitores que ainda se importam em pagar por aquilo que não lhes agrada.


[Tens de ter uma conta e sessão iniciada para poderes visualizar esta imagem]O fato é: Jean Grey não ressuscitará. O que estão nos oferecendo é uma versão deslocada no tempo, anterior ao evento que definia sua importância no universo Marvel, a Saga da Fênix, uma das melhores histórias já publicadas na editora. Uma versão adolescente que descobrirá que seu grande amor a traiu, traiu seu clone e todos os valores que faziam deles a alma dos X-Men. Que se tornou uma versão menos ética de Magneto, hoje um mero coadjuvante de luxo, tão sem importância quanto o velho amigo e rival Charles Xavier.

É esse o engodo oferecido pela Marvel Now. É esse o prato do dia, requentado e mal temperado, com gosto rançoso, daqueles que você come, mas sabe que só pode fazer mal.