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O que seria desse mundo sem as mulheres?

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O que seria desse mundo sem as mulheres? Empty O que seria desse mundo sem as mulheres?

Mensagem por Quero Café Sex Jan 25, 2013 11:49 am

Outro meus compromissos levaram-me a subir á pé um trecho inclinado e longo de uma
grande Avenida de Belo Horizonte. Isso não é grande dificuldade para um sujeito como eu
habituado a longas caminhadas. Na verdade, costumo achar isso uma boa oportunidade para
um pouco de exercício físico e caminhadas em morros extensos são sempre desafiadoras.

Percorri um bom trecho sem que nada de extraordinário acontecesse porque afinal pouco
ou nada de anormal pode ocorrer num evento tão banal e corriqueiro. Fui prosseguindo por
longos trechos de asfalto em angulação suficiente para fatigar o lombo de sedentários. As
solas de meus sapatos comiam lepidamente o manto rochoso que a civilização e o engenho
humanos cobrem as vias por onde as pessoas passam para que o deslocamento seja mais
fluente e sem percalços.

À medida que o esforço foi se tornando automático pelo aquecimento do corpo e o suor
deixou de ser apercebido, minha mente entrou num estado de contemplação. Afinal, nada
é melhor para o vogar inconsequente e despreocupado do pensamento do que ter metros
dificultosos pela frente e algum tempo livre até que se chegue a um compromisso.

Essa foi então uma excelente oportunidade para meditar com o conforto que só a
superficialidade e a dispersão permitem sobre diversos e sucessivos assuntos. Lembrar de
músicas ouvidas a muito foi algo recorrente. Black Sabbath. Já ouvi tanto que preciso de muito
tempo para conseguir ouvir novamente. Filmes vistos recentemente são também ótimos
assuntos para o diálogo consigo mesmo nesse momento.

Permaneci assim corporeamente no planeta terra, mas mentalmente fora dele, por um
período considerável até que olho para o lado e vejo que um sujeito tomou dianteira. Seu
passo era rápido e assim ganhou uma posição superior à minha. Tão logo ele atingiu esse
patamar, sua velocidade diminui, ficou constante e igual à minha. Como pode? O Sem-
vergonha ultrapassou-me.

Depois disso, acelerei meu passo porque não podia permitir tamanho desacato. Como
se diz na roça: passei sebo nas canelas e segui em frente. Logo recuperei a superioridade na
pista e relaxei. Ah! Como pode esse tipinho por um momento sequer crer que me deixaria
para trás dessa maneira? De repente, olho para o lado e vejo que a velocidade dele estava
alta novamente. Tão logo pude constatar que eu não competia com o sujeito sem que ele não
competisse comigo, mas a competição era mútua, franca e declarada ainda que não tivesse
sido verbalizada, ajuntei o máximo que eu possuía de tenacidade para poder vencer.

Agora não adiantava essa de caminhar e pensar. Havia um propósito muito mais nobre
em jogo, já que eu precisava desesperadamente vencer esse sujeito que nunca vi na vida e
nunca mais voltaria a ver. Não só eu precisava disso, mas os diálogos mudos e notórios que
se estabeleceram entre nós mostravam claramente que essa também era uma necessidade
premente do sujeito.

Caminhamos passo-a-passo juntos por um bom momento já que ele era um páreo difícil
de se superar assim como eu. Nem por isso, um dos dois desistiu por um momento da disputa
que não dava sinais de quando iria se encerrar. Trocamos alguns olhares de hostilidade
furtivos como aqueles de filmes de “bang-bang” italianos. Seria até possível acoplar uma trilha
de Ennio Morricone à cena sem que se fizesse injustiça ao músico criador de tantos clássicos
musicais da sétima arte.

Assim prosseguimos até que fossemos retidos numa esquina pela notável falta de
habilidade ao volante e no trânsito de uma motorista de meia-idade que transportava para
algum lugar sua infante prole. Por um momento, a competição cedeu lugar a uma cordial
cumplicidade. Fomos unidos pelo afã de rir uma gargalhada senso-comum das piadas que se
faz justa ou injustamente da capacidade das mulheres de conduzir veículos auto-motores.

De repente, um espírito de oportunismo tomou conta de meu coração e então cometi a
traição de zarpar à frente de relance e sem aviso para conquistar o meu objetivo. Passei da
risada explícita e inocente para a risada silenciosa e de canto de boca da maldade num período
muito breve. Orgulhei-me de meu feito prossegui.

Quando eu já começava a querer voltar para o meu estado meditativo, eis que o insiste
rival reaparece para reconquistar as posições perdidas. Agora, caro internauta, se você ainda
duvidava que se tratava de uma competição mútua, creio que você passará a me dar crédito.
Se você, entretanto, torcia contra mim, sinto em decepcioná-lo. Saiba desde já que eu não
narraria para você um episódio em que eu tivesse saído derrotado.

Nesse momento, eu decidi que acabaria com a competição. Acelerei de verdade o passo
sem que eu me desse ao ridículo de correr naquele lugar até porque em uma subida e eu não
aguentaria aquilo por muito tempo. O rival tentou acompanhar meu ritmo por um tempo,
mas logo se tornou patente que ele não seria capaz de tal. Chegamos num determinado
momento numa pracinha com dois caminhos e então ele tomou outra bifurcação e desistiu
da competição. Pude notar isso porque depois o caminho continuava, mas ele já estava muito
atrás. Eu o havia vencido. Não quero me gabar do fato que eu estava com mochila pesada nas
costas, carregava “notebook” e muitas outras coisas e o rival não.

...

Já venci outras disputas quando eu praticava corrida na rua e alguns homens de meia-
idade tentavam me usar para provar que ainda havia um resto de juventude neles. Eles me
ultrapassavam, mas não conseguiam manter o ritmo. Sim. Era uma disputa. Pode confiar. Mas
nesse período, também perdi algumas vezes.

...

Isso me lembrou um episódio dos Simpsons em que o ex-presidente George Bush pai
mudou-se para Springfield para ser vizinho justamente da família personagem principal do
seriado. Homer e o ex-presidente americano tornam-se inimigos por causa da conduta de
Bart que é uma citação do filme “Denis, o pimentinha” e começam uma disputa por ofensas
verbais e físicas incessantes e progressivamente mais perigosas. Num dado momento, Homer
e Bush estão brigando embaixo do esgoto ao mesmo tempo em que Marge e a ex-primeira-

dama tomam chá civilizadamente e se desculpam pelo comportamento infantil dos respectivos
maridos.


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