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Entrevista com Adeolu Ogunrombi da West Africa Commision on Drugs

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Entrevista com Adeolu Ogunrombi da West Africa Commision on Drugs Empty Entrevista com Adeolu Ogunrombi da West Africa Commision on Drugs

Mensagem por marcelo l. Seg Jul 22, 2013 11:00 am

No final de junho, a Organização das Nações Unidas realizou seu Dia Internacional Contra o Abuso de Drogas e o Tráfico. Yury Fedotov, chefe do escritório de combate às drogas da ONU, marcou a ocasião com um discurso sem muitas surpresas: o Afeganistão continua sendo o maior produtor de ópio do mundo, o mercado de drogas legalizadas continua crescendo e os governos do planeta estão longe de vencer a guerra contra as drogas.

No entanto, Fedotov tocou num ponto interessante sobre o mercado emergente de cocaína na África (principalmente na Ocidental). “Na África, o consumo [de cocaína] parece estar crescendo”, ele anunciou, antes de afirmar, de forma preocupante, que “o tráfico de drogas e o crime organizado estão fomentando instabilidades econômicas e políticas na África”. Enquanto planeta, Fedotov disse que não devemos permitir que as drogas ilícitas atrasem o desenvolvimento no continente e que a comunidade internacional precisa dar assistência aos países particularmente prejudicados pela cocaína e seus efeitos colaterais sociopolíticos: corrupção, guerra de gangues, vício, crime, doença, pobreza, etc.

O que Yury não conseguiu reconhecer foi que as políticas da ONU são parcialmente responsáveis pela escalada do problema das drogas na África. O policiamento pesado da organização nas rotas tradicionais da cocaína na América do Sul levou os contrabandistas a usarem países como Gana e Nigéria para levar seu produto até os clientes europeus.

Conversei com Adeolu Ogunrombi da West Africa Commision on Drugs, uma organização que presta muita atenção à questão, e perguntei qual é a situação real por lá. Como a foto a seguir é de um homem de cara amarrada segurando uma arma muito grande, podemos assumir que essa situação não é das melhores.

VICE: Então, Adeolu. De onde vem toda essa cocaína?
Adeolu Ogunrombi: A cocaína vem da América Latina, atravessa o Atlântico e chega na África Ocidental visando alcançar a clientela da Europa.

OK. E ela é mesmo uma rota totalmente nova?
A rota da África Ocidental tem sido explorada há muito tempo, mas o que temos testemunhado na última década é um aumento do volume de drogas passando pela região enquanto cartéis transnacionais colaboram com criminosos locais, redes de contrabando, oficiais corruptos e terroristas para transportar seus bens para Europa e América do Norte. As rotas tradicionais estão sendo policiadas mais pesadamente, então, os traficantes acham alternativas.

Isso tem um efeito de bola de neve no uso de cocaína na área?
Sim, o consumo de cocaína e outras drogas pesadas na área está aumentando. Isso afeta a maioria dos países dentro da região, do Mali ao Cabo Verde, da Nigéria a Serra Leoa, de Gana até a Guiné-Bissau. O Relatório Mundial das Drogas de 2013 mostra a Nigéria no topo da lista de consumidores de drogas pesadas na África, com um alto nível no uso de cocaína.

E esse aumento é realmente devido ao tráfico? Você está dizendo que há mercados de “vazamento”?
Sim. Quando as drogas são traficadas através dos países, parte do produto inevitavelmente vira suprimento local. De acordo com a ONU, cerca de 30% das drogas traficadas são consumidas localmente. Por causa do aumento na disponibilidade, as drogas estão se tornando mais baratas e acessíveis. Por exemplo, a pedra de crack custa US$2 ou US$3 — um preço muito mais adequado para a área.

Isso tem criado todo tipo de problemas, incluindo um aumento no número de pessoas viciadas e no número de usuários de drogas injetáveis. E pessoas cada vez mais jovens estão sendo afetadas.

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Mensagem de conscientização sobreo HIV no vilarejo de Simonga, Zâmbia. (Foto via)


Se você tem mais pessoas injetando drogas, terá mais problemas com a transmissão de HIV e AIDS através de agulhas contaminadas. Você acha que a África Ocidental tem instalações para lidar com qualquer aumento no número de viciados causado pelas novas rotas do tráfico?
Isso é um grande desafio no momento, já que não há infraestrutura e serviços de redução de danos são quase inexistentes. A aplicação da lei na região ainda utiliza uma abordagem punitiva. Houve um caso recente em Gana, que também foi relatado pela mídia impressa, no qual um jovemfoi pego fumando maconha. A polícia acabou matando esse jovem enquanto tentava prendê-lo.

Nossa. Quem são os responsáveis pelo tráfico?
Não posso lhe fornecer uma lista de todas as pessoas envolvidas, mas temos informações sobre o envolvimento de pessoas da Colômbia, Bolívia e Brasil. Cartéis desses países fazem contatos locais queconhecem bem a área nos países da África Ocidental.

Quando você vê toda a violência que ocorre no México — cartéis de drogas lutando entre si, civis feridos e mortos e o processo político sendo minado – você se preocupa com o que pode acontecer com a África Ocidental?
Claro. Você pode ver a situação na América Latina como guia; todos lutam pelo controle das regiões e competem por posições de poder em razão da grande quantidade de dinheiro que conseguem com o tráfico. Uma situação assim pode se desdobrar na África Ocidental se as medidas necessárias não forem tomadas. Tenha em mente que o valor da cocaína que passa pela região é muito maior do que os orçamentos nacionais de alguns dos próprios países de trânsito.

Você, como Yury Fedotov, acha que organizações como a sua precisam de mais investimento?
Com certeza. Mas não é só isso. Enquanto muitas pessoas aludem ao desafio crescente do tráfico e do consumo de drogas na região, isso ainda está para entrar nas principais preocupações de muitos governos e instituições dentro da África Ocidental. Poucas pessoas sabem a gravidade da situação; como isso está prejudicando a segurança, o governo e o desenvolvimento como um todo — ninguém está falando sobre isso.

Então você precisa de dinheiro para levantar uma conscientização?
Sim, e a abordagem correta para o controle das drogas no geral. No momento, nos atemos a táticas tradicionais, os indicadores de quais são os números de detidos, o número de apreensão de drogas, etc. Nosso progresso deve ser medido pelo número de pessoas que procuram por tratamento e conseguem acessá-lo sem medo de prisão ou coerção; o número de novos casos de HIV relacionados a drogas deve ser evitado — coisas relacionadas à saúde em vez do crime.

Então, as drogas não são a principalpreocupação, mas sim, as leisque estão desencadeando problemas piores?
Pode-se dizer que sim. As leis em si estão causando problemas por todo o mundo. Quando você leva a população de usuários de drogas para a clandestinidade, tornando seu hábito ilegal e colocando o comércio completamente nas mãos dos grupos criminosos, o dano social produzido é muito maior que o dano das drogas em si.

Obrigado, Adelou.

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