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Como é a midia ninja

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Mensagem por marcelo l. Qua Jul 31, 2013 2:23 pm

Autor(es): Por Cláudia Schüffner e Guilherme Serodio | Do Rio
Valor Econômico - 31/07/2013






Na transmissão das manifestações do Rio eles mobilizaram 300 mil expectadores, mas pautaram o trabalho de colegas que falam e escrevem para milhões. Revolucionários, ativistas e alegadamente apartidários os integrantes do grupo de mídia alternativa Narrativas Independentes Jornalismo e Ação (Ninja) transmitem ao vivo, sem grande preocupação com a qualidade da imagem e edição. O público parece não se importar e o Ninja chegou a contabilizar 200 horas ao vivo transmitindo a ocupação da Prefeitura Belo Horizonte.

Na noite de 22 de julho, durante a visita do papa Francisco ao Rio, o Mídia Ninja cobriu a manifestação que concentrou mais de mil pessoas próximo ao Palácio Guanabara. Da rua do palácio, onde polícia e manifestantes entraram em confronto no começo da noite, à porta da 9ª DP, no Catete, madrugada a dentro, foram horas de transmissão em tempo real que registraram as bombas de gás e o fogo dos coquetéis molotov até a detenção arbitrária de dois integrantes do Ninja, também transmitida ao vivo. Um deles era Filipe Peçanha, um mineiro apelidado de Carioca. Na noite seguinte, sua detenção por suposta incitação à violência tornou-se tema do "Jornal Nacional", da TV Globo. Eles ganharam também as páginas do "The New York Times" e "The Guardian".

Naquela semana, o Ninja ainda contribuiu para a libertação de Bruno Ferreira Teles, manifestante preso em Laranjeiras acusado de atirar coquetel molotov na PM e libertado graças a vídeos reunidos na internet. Como diz o próprio grupo em postagem no Facebook, "a cobertura cidadã de diversos indivíduos e grupos de mídia livre, inclusive a Mídia Ninja, estraçalhou a narrativa oficial da Polícia Militar do Rio de Janeiro". Na mesma madrugada do dia 23, a página do grupo já denunciava vídeos que mostravam a ação de policiais infiltrados, P2, na manifestação.

Os ninjas carregam iPhones, laptops, baterias, câmeras e equipamentos de internet 3G em mochilas. Transmitem as imagens ao vivo usando várias contas no TwistCasting ou no site da Pós TV, projeto que começou em junho de 2011 a partir das transmissões das marchas da Maconha e da Liberdade, em São Paulo.

A próxima etapa é captar recursos diretamente dos expectadores transferindo a atual hospedagem do Ninja no Facebook para um site próprio - o da Pós TV cai quando aumenta o número de acesso - que permitirá financiamento por "crowdfunding", o que deve acontecer logo.

É difícil explicar o que é a autoproclamada Mídia Ninja sem deixar de lado conceitos como patrão, salário e carga horária de trabalho. O produtor cultural Pablo Capilé, um dos fundadores do Fora do Eixo, rebate a alcunha de "rebelde". Corrige-a por "autônomo".

Contra as acusações de vinculação política - uma foto sua com o ex-deputado José Dirceu retirada da página de Capilé no Facebook circulou na internet em forma de denúncia da ligação do grupo com o PT - Capilé diz que há fotos dele com a atriz Mariana Ximenes, Lula, Marina Silva, FHC, João Pedro Stédile além de Gilberto Gil e Caetano Veloso, enumera.

"A esquerda fala que a gente é o novo capitalismo, a direita fala que a gente é o novo comunismo. Ninguém sabe direito onde a gente está porque a gente não é organizado por nenhum deles", diz Capilé.

Bruno Torturra, Filipe Peçanha, Capilé e Felipe Altenfelder receberam o Valor em um apartamento comunitário na zona sul do Rio antes de saírem em duplas para acompanhar manifestações no Leblon e na Rocinha, em pleno feriado da visita do papa Francisco à cidade.

Explicam que o grupo é parte de uma cadeia muito maior de grupos em rede que reúne cerca de 2,4 mil pessoas em 250 cidades do país, além de um banco colaborativo. O grupo cresceu da costela do Fora do Eixo, que surgiu há cerca de 10 a 12 anos para produzir festivais de música durante a crise do mercado fonográfico.

Altenfelder conta que uma das ferramentas mais fortes do grupo era sua capacidade de produzir conteúdo e alcance. "Em 2011 e 2012 a gente começa a dar suporte a lutas contra a homofobia, por uma nova política de drogas, meio ambiente, terra, cultura digital, de hackers e midialivristas".

Foi quando o grupo percebeu o potencial em mãos e criou o Ninja. "Refletindo sobre isso a gente chega à ideia do Ninja e ao conceito explicado pela sigla".

Hoje o Ninja conta com cerca de 50 integrantes, mas o cadastro de colaboradores, que coleta emails e telefones em reuniões pelas cidades onde passam, soma milhares. "As pautas e coberturas nas ruas vão aproximando novas pessoas e mantemos diálogo com outros coletivos de comunicação", diz Altenfelder.

Quando questionados se o fato de morarem juntos, sem receber pagamento individual está relacionado à economia de custos, Capilé explica que morar juntos não é uma condição.

Bruno Torturra, um ex-editor da revista "Trip" e um dos mais articulados do grupo mora sozinho, mas reconhece que é uma exceção. Capilé explica que a relação com dinheiro também é comunitária.

"Ninguém tem salário mas todo mundo tem a senha do cartão. Então todo mundo está o tempo inteiro colaborando um com o outro e somando os esforços para que aquele R$ 1 se transforme em dez", afirma Capilé, que continua explicando que em vez de pagarem aluguel de 40 apartamentos eles concentram os recursos. "Para a gente multiplicar esse recurso, a gente desmonetariza as relações", diz.

O modelo garante as necessidades básicas de todos, incluindo comida, plano de saúde, roupas, equipamentos, celulares e computadores (que todos têm), além das contas de luz e internet sempre pagas, enumera Capilé. "Se o cara estiver fazendo sem tesão, não rola. E morando coletivamente o cara também se sente mais seguro pra enfrentar o novo", diz. "A gente não trabalha, a gente vive. O nosso ativismo é 24 horas", afirma.

O jornalismo Ninja é engajado mas o grupo faz questão de frisar que só 3% a 7% dos recursos vêm de licitações de empresas públicas. "A maior parte do recurso é nosso. Por exemplo, a gente aprova um edital da Petrobras para a Universidade Fora do Eixo, mas no cômputo total, a soma dos recursos públicos dão 3% a 7%. Somos autogestionários. Isso nos dá, por exemplo, a autonomia de montar o núcleo de comunicação".

A sensação das redes sociais na cobertura das manifestações, no entanto, não está imune a críticas, mesmo dos 140.682 fãs da Ninja no Facebook. Na entrevista de uma hora e meia com o prefeito do Rio, Eduardo Paes (PMDB) há duas semanas, a postura dos entrevistadores foi criticada na rede e classificada como despreparada. Para o grupo, a experiência foi um aprendizado tanto no enfrentamento com um político experiente, quanto na de abrir ao público a possibilidade de propor perguntas. "Quando você é muito novo e se coloca face a um desafio desses, há um valor pedagógico", diz Altenfelder.

O Ninja atribui a violência nos protestos do Rio à polícia. "Os manifestantes, as pessoas que saem de casa e estão criando o hábito de ir nos protestos, são extremamente conscientes do papel delas e da responsabilidade delas de não serem violentas", diz Torturra.

"Existem alguns grupos como o Black Bloc, que está sendo muito discutido e é especialmente bom de a polícia se infiltrar, já que usam máscaras. Eles têm técnicas um pouco mais duras de lidar com a manifestação. Mas têm uma teoria por trás disso. Não é vandalismo, quebra-quebra e desordem. Eles têm alvos específicos", observa.

No cenário que se desenha para a mídia com as possibilidades da rede e equipamentos de transmissão online, até o público é cobrado sobre informações compartilhadas. "Estamos vendo emergir o pós-expectador. Começamos a entender que ele não é passivo, que tem uma responsabilidade na hora que replica, que comenta, que dá um "like" [curtir], que usa algo de uma fonte. Ele tem responsabilidade também", teoriza Torturra.
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Mensagem por zkrk Qua Jul 31, 2013 2:26 pm

Eu acompanho o trabalho deles. Os caras são muito bons mesmo e realmente desancaram as "versões oficiais" fornecidas pela polícia. Se tiver crawfunding, vou colaborar.
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Mensagem por marcelo l. Qua Jul 31, 2013 2:48 pm

No observatório saiu uma matéria também boa sobre eles e o vídeo tutorial de como fazer...sobre o crawfunding tem a página do face deles: [Tens de ter uma conta e sessão iniciada para poderes visualizar este link]

Os protestos de rua no Brasil continuam. Estão cada vez mais frequentes e violentos. Mas se você, assim como eu, não está satisfeito com a cobertura televisiva, aquela que preferiu subir no telhado e se afastou dos fatos e do público, os seus problemas acabaram: já existe um manual para produzir e divulgar vídeos de manifestações populares disponível na internet: ver aqui.

O manual no formato de vídeo online foi produzido pelo movimento Occupy Wall Street. Eles foram os pioneiros nas recentes mobilizações nos Estados Unidos. Sabem fazer grandes protestos e conhecem tudo de mídia.

O manual é muito bom, útil e didático. Pode evitar muitos problemas para os guerrilheiros televisivos, aqueles jovens que, em vez de atirar paus e pedras, tomaram seus celulares para enfrentar a polícia durante manifestações e transmitir tudo ao vivo pela internet.

A grande crítica às coberturas guerrilheiras na internet é a qualidade técnica da imagem, som e transmissão.

As questões referentes ao “jornalismo” ou a falta dele, são inerentes à própria inexperiência dos guerrilheiros ou jovens jornalistas. Nada que o tempo, a vida e algum aprendizado não resolvam. Nem sempre fomos tão “geniais” quanto gostamos de demonstrar.

Integridade física

Assim como todo jornalista já foi “foca”, quem começa a produzir televisão digital ao vivo pela internet deve ser antes de tudo corajoso e “guerrilheiro”. Deve lutar com as armas disponíveis. Elas são poderosas e estão disponíveis para todos.

Para isso, o manual revela algumas questões fundamentais para produzir um bom vídeo sobre os protestos de rua.

Primeiro, há dois tipos de manifestações ou protestos a serem cobertos pela mídia alternativa: os pacíficos e os violentos. Enquanto for pacífico, não há maiores problemas. Faça do jeito que achar melhor. Mantenha a câmera firme, atenção com o áudio, utilize um fone de ouvido, não faça muitos movimentos e mantenha o olhar na câmera e no entorno. Procure gravar planos gerais, mas são os detalhes que contam uma história. Jamais grave de forma vertical. Não serve para edição.

Antes de produzir sua “obra prima”, procure postar o vídeo bruto sem edição e em baixa resolução o mais rápido possível. Com comentários breves e inteligentes, isto é jornalismo, a primeira versão da História.

Mas logo a violência tomará conta das manifestações. Você, então, deve gravar de forma segura e estratégica. Mantenha distância dos riscos e procure se proteger. Não seja herói ou mais uma vítima dos eventos da História. O melhor jornalista ou guerrilheiro digital é aquele que sobrevive aos fatos. Viver para contar é o segredo.

Utilize a estratégia da matilha de lobos. Eles sempre atacam em conjunto para vencer e sobreviver. Não seja solitário – alvo fácil para a violência da polícia e dos próprios manifestantes.

Muitas câmeras trabalhando em conjunto com estratégia única de cobertura televisiva garantem melhores imagens e a integridade física dos jornalistas digitais. Antes da cobertura televisiva, temos que pensar na segurança dos companheiros.

Ao vivo

A câmera é a sua arma. Ela garante os seus direitos e o contato com o público é a sua sobrevivência. Boas imagens que não tremem com áudio claro mostram tudo ao vivo e a cores. Busque audiência, mas não menospreze a sua integridade física.

Para fazer TV de guerrilha ao vivo e de qualidade é preciso antes de tudo se manter... vivo.

***

Ninjas presos no Rio

>> No YouTube: [Tens de ter uma conta e sessão iniciada para poderes visualizar este link]

>> Informações do Estadão.com (22/7/2013):

Dois jornalistas do grupo Mídia Ninja que acompanhavam os protestos em frente ao Palácio Guanabara foram detidos. Um deles estava em frente à 9ª DP (Catete), apurando por que motivo o colega foi detido, quando foi abordado pelo tenente Puga. Ele disse que o jornalista era suspeito de incitar as manifestações e queria levá-lo para averiguações.

Uma advogada interveio e o tenente chegou a dizer que o repórter não estava detido e que poderia sair da delegacia se quisesse. Logo em seguida, o policial recebeu uma ligação e anunciou a prisão do repórter. "O major Nunes mandou levar ele", afirmou. A detenção foi transmitida ao vivo. O telefone usado na transmissão foi apreendido. Em seguida, o policial anunciou: "Quem passar mensagem pelo celular será preso".

>> Informações de O Globo (23/7/2013):

Filipe Peçanha, repórter da Mídia Ninja, foi detido pelos policiais da PM para averiguação. "Perguntei averiguação de que, mas eles não responderam. Me colocaram à força na viatura. Eu estava filmando tudo com dois celulares, que foram arrancados de mim dentro do carro", diz Filipe Peçanha, que não teve de pagar fiança para ser liberado.

Houve protestos na frente da delegacia com centenas de pessoas.

Os dois integrantes da Mídia Ninja assinaram um Termo Circunstanciado por incitação à violência. Eles terão de comparecer ao 3º Juizado Especial Criminal (Jecrim).

***

Antonio Brasil é jornalista, professor da Universidade Federal de Santa Catarina, pesquisador do Grupo Interinstitucional de Pesquisas em Telejornalismo (GIPTELE) e autor do livro Telejornalismo Imaginário (Editora Insular).




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