Dica de Livro - Rei Rato

Conheci o trabalho de China Miéville em 2012 em uma exposição sobre ficção científica britânica que aconteceu no Salvador Shopping e foi bancada pelo curso Cultura Inglesa. Me lembro que na época fiquei curioso sobre seus livros, mas não sei o porquê não fui a frente e só comprei um de seus exemplares por agora, estimulado pelos pod-casts que ouvi sobre New Weird. O escritor é o mais popular do seu gênero e mesmo assim é pouco conhecido até mesmo entre os fãs de fantasia, ao menos aqui no Brasil. O romance Rei Rato conta uma história que me lembrou um pouco o seriado Grimm por mostrar personagens saídos de fábulas que ao mesmo tempo são animais e gente. O tipo da escrita que coloca os contos de fada em um ambiente moderno é muito interessante. Principalmente o jeito em que o autor os descreve, um tom bem poético, o livro chama o personagem principal de rato várias vezes. Você pode interpretar isso como sendo uma pessoa com apelido de animal ou como se o autor estivesse falando de um animal de fato.

Saul, o personagem principal da história, vive com o pai. Em uma noite qualquer ele acorda com a polícia invadindo sua casa e descobre que enquanto dormia seu pai havia sido assassinado. Acusado, ele vai parar na cadeia, mas surpreendentemente é resgatado por uma figura estranha que afirma ser seu tio. Um homem que se intitula como o Rei Rato. A medida que Saul vai convivendo com Rei Rato mais ele vai se transformando em um rato, não fisicamente, mas psicologicamente. Começa a comer alimento estragado tirado do lixo e a não se incomodar em viver nos esgotos. Tem uma cena interessante em que Saul lambe uma parede suja com gordura derretida e mostra bem isso.

O romance, como dito antes, mistura fábulas com um ambiente moderno. Saul no decorrer do livro vai investigando quem é o responsável pela morte do seu pai. A revelação do vilão é de se explodir a cabeça. Uma figura que é muito conhecida nas fábulas. O que é mais interessante é que no início do romance aparece um personagem que dá uma dica de quem seria o vilão e a gente junta as peças assim que recebe a informação lá para o meio do livro. Fora Rei Rato e o vilão há outros seres de fábulas que aparecem, dizer quais são pode ser um spoiler só digo para prestar atenção na capa do romance, nos desenhos que aparecem junto ao titulo, que dá uma dica de quem são.

Por ser um livro New Weird, Rei Rato dá muito destaque para a cidade. Apesar da gente pensar em Londres geralmente como sendo uma cidade de primeiro mundo no livro a cidade é descrita como suja, cheia de pobreza e injustiça. O romance é cheio de referências a cultura urbana de lá, principalmente as gírias cockney e a de imigrantes jamaicanos. Como isso é muito alienígena a nossa realidade o romance todo fim de capítulo traz notas de rodapé para explicar um fato curioso. Lendo o livro descobri várias gírias inglesas. É legal notar como o idioma tem facilidade em brincar com trocadilho, muito mais que o português. Rei Rato também faz muita referência a música underground eletrônica de Londres, principalmente o Drum and Bass. Quem gosta desse estilo deve se maravilhar com a enxurrada de referências a vários de seus subgêneros como raggamuffin e darkcore. Quem gosta de música eletrônica, ou mesmo quem é músico, deve se identificar muito com uma personagem chamada Natasha. Uma DJ que atua no underground da cidade e é meio que o interesse romântico de Saul.

Minha experiência com China Miéville começou com o pé direito. Agora é só esperar por Perdido Street Station que a editora Tarja prometeu que iria publicar desde 2011, mas que até agora nada. Falar nisso, se você curtiu o gênero você deve procurar o site da editora, pois ela é a especializada nele no Brasil.

Gostei de sua resenha e pagar 50taõ em 400 paginas otimo!
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