Abdul Al Lily, primeiro blogger saudita a escrever sobre sexo
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Abdul Al Lily, primeiro blogger saudita a escrever sobre sexo
O Dr. Abdul Al Lily é o primeiro blogger saudita a escrever sobre sexo em inglês. Ainda que o blogue não seja para rir, o Abdul garante que “sempre que quiseres fazer feliz um saudita, faz piadas sobre sexo”. Banido na Arábia Saudita, o blogue Sex and Beyond — Para Lá do Sexo tem sido lido em 168 países e traduzido para ucraniano, alemão, português, espanhol e francês (mas não para árabe).
O Abdul não é o típico blogger. Nativo saudita, estudou em Oxford, trabalha actualmente como professor assistente de sociologia, educação e tecnologia na Universidade King Faisal na Arábia Saudita, divide o seu tempo entre Al-Hassa e Oxford. No blogue fala de tudo, desde coisas como a “ejaculação precoce dos sauditas” e “sexo e a maneira saudita de defecar”, passando por pequenas publicações etnográficas. Estes posts falam não só das experiências de homens e mulheres que vivem na Arábia Saudita mas também de sauditas que vivem no estrangeiro e se confrontam com a sexualidade ocidental. Assim, o blogue tem-se tornado mais do que uma enciclopédia das observações do Dr. Abdul — o Sex and Beyond também funciona como uma comunidade para os sauditas e para os seus amantes espalhados pelo mundo. A partir do seu escritório em Al-Hasa, o Abdul falou com a VICE sobre a inspiração por detrás do blogue, a falta de educação sexual na Arábia Saudita, e sobre O Sexo e a Cidade.
Olá Abdul. O que te inspirou a começares o Para Lá do Sexo?
Abdul: Quis ajudar os parceiros não-sauditas dos sauditas, que devem ter pouca informação sobre os hábitos sexuais dos sauditas, normalmente pouco discutidos nos media ocidentais ou mesmo nos media sauditas. Uma das pesquisas mais comuns que leva ao meu blogue é “O Meu Namorado Saudita”. Eu quis ajudar os sauditas que estão no estrangeiro que, como qualquer outro saudita, terão tido pouca educação sexual, uma vez que não existe nas escolas sauditas ou nas universidades. Para ser honesto, aprendi com O Sexo e a Cidade. Inspirei-me na série: escreves as tuas frustrações e as tuas observações e é como se tivesses uma voz.
No início deste ano, um blogger saudita, Raif Badawi, foi preso por escrever sobre religião. Estás de alguma forma preocupado por teres um blogue e assumires a tua identidade?
Penso que hoje em dia, na Arábia Saudita, criticares a cultura não é assim tão mal visto. Desde que não te metas em assuntos políticos, está tudo bem. É por isso que estou a tentar, de certa forma, não entrar pelo campo da política.
Mas achas que o teu blogue não é político? Escreves sobre sexo num país em que não há educação sexual.
Não há um objectivo político explícito. O meu único objectivo é melhorar as intercâmbios culturais. Há falta de informação sobre este tema na comunidade internacional, por isso estou a tentar espalhar a palavra. Faço entrevistas e observo constantemente. Vejo todos os sauditas como se fossem informação. Por exemplo, um dia conheci uma senhora que se casou aos 14 anos. Era a minha mãe. Entrevistei-a e ela disse-me “és a primeira pessoa a perguntar-me sobre a minha experiência de ter casado aos 14 anos”. Disse-lhe, “mãe, a tua voz vai ser ouvida pelo mundo”. E ela ficou muito contente. Disse-me, “a minha experiência de ter casado aos 14 anos é como fogo no meu coração. Não estarei morta enquanto não tiver morrido. Isto ficará comigo até morrer”. É assustador ouvir esta voz. Ninguém ouve esta voz.
Como tem sido o feedback na Arábia Saudita?
Não tive grande feedback, isto é, a sociedade saudita não tem criticado o meu blogue nem me tem atacado a nível pessoal. O blogue é escrito em inglês e, por isso, é lido pelos sauditas que sabem ler inglês, geralmente são aqueles que têm mais estudos e que são mais tolerantes. Ainda assim, devo dizer que tenho recebido alguns comentários impróprios. Vou-te dar um exemplo, uma vez, um desses críticos disse a uma amigo meu: “se vir o Abdul, mijo-lhe para cima.” Outro exemplo, um dia escrevi um post chamado “Sexo e as partes privadas de um homem saudita”. Um colega meu saudita escreveu-me: “posso perguntar-lhe uma coisa Dr. Al Lily? Qual é a vantagem que deste post? Está a falar a sério ou a brincar connosco? Por favor, da próxima vez tente discutir temas que reflitam o seu conhecimento e estatuto como doutor”.
Viver no Reino-Unido alterou as tuas ideias em relação ao sexo?
Acredito que a sexualidade é uma imitação da humanidade. É algo que temos de fazer. Independentemente do quão forte somos, quando falamos de sexo, tornamo-nos fracos. Até o maior homem de todos os tempos, quando chega ao sexo, se torna patético e estúpido, não achas?
Quais são as tuas ambições para o blogue?
Gostava de tornar o blogue num livro. Mostrar estas vozes ao mundo e poder dizer: “a Arábia Saudita tem mais problemas do que a questão de as mulheres poderem guiar ou não”. O que é preciso na Arábia Saudita são vozes. Há tantas vozes que devem ser ouvidas. Como académicos e jornalistas, devíamos começar a ouvi-las. Mas há um problema com acessibilidade: não tenho acesso às mulheres. As minhas irmãs e tias têm trabalhado muito para mim. Posso fazer-lhes perguntas e recolher informação da comunidade delas. Para ser honesto, sei tanto sobre as mulheres sauditas quanto tu, que é zero.
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O Abdul não é o típico blogger. Nativo saudita, estudou em Oxford, trabalha actualmente como professor assistente de sociologia, educação e tecnologia na Universidade King Faisal na Arábia Saudita, divide o seu tempo entre Al-Hassa e Oxford. No blogue fala de tudo, desde coisas como a “ejaculação precoce dos sauditas” e “sexo e a maneira saudita de defecar”, passando por pequenas publicações etnográficas. Estes posts falam não só das experiências de homens e mulheres que vivem na Arábia Saudita mas também de sauditas que vivem no estrangeiro e se confrontam com a sexualidade ocidental. Assim, o blogue tem-se tornado mais do que uma enciclopédia das observações do Dr. Abdul — o Sex and Beyond também funciona como uma comunidade para os sauditas e para os seus amantes espalhados pelo mundo. A partir do seu escritório em Al-Hasa, o Abdul falou com a VICE sobre a inspiração por detrás do blogue, a falta de educação sexual na Arábia Saudita, e sobre O Sexo e a Cidade.
Olá Abdul. O que te inspirou a começares o Para Lá do Sexo?
Abdul: Quis ajudar os parceiros não-sauditas dos sauditas, que devem ter pouca informação sobre os hábitos sexuais dos sauditas, normalmente pouco discutidos nos media ocidentais ou mesmo nos media sauditas. Uma das pesquisas mais comuns que leva ao meu blogue é “O Meu Namorado Saudita”. Eu quis ajudar os sauditas que estão no estrangeiro que, como qualquer outro saudita, terão tido pouca educação sexual, uma vez que não existe nas escolas sauditas ou nas universidades. Para ser honesto, aprendi com O Sexo e a Cidade. Inspirei-me na série: escreves as tuas frustrações e as tuas observações e é como se tivesses uma voz.
No início deste ano, um blogger saudita, Raif Badawi, foi preso por escrever sobre religião. Estás de alguma forma preocupado por teres um blogue e assumires a tua identidade?
Penso que hoje em dia, na Arábia Saudita, criticares a cultura não é assim tão mal visto. Desde que não te metas em assuntos políticos, está tudo bem. É por isso que estou a tentar, de certa forma, não entrar pelo campo da política.
Mas achas que o teu blogue não é político? Escreves sobre sexo num país em que não há educação sexual.
Não há um objectivo político explícito. O meu único objectivo é melhorar as intercâmbios culturais. Há falta de informação sobre este tema na comunidade internacional, por isso estou a tentar espalhar a palavra. Faço entrevistas e observo constantemente. Vejo todos os sauditas como se fossem informação. Por exemplo, um dia conheci uma senhora que se casou aos 14 anos. Era a minha mãe. Entrevistei-a e ela disse-me “és a primeira pessoa a perguntar-me sobre a minha experiência de ter casado aos 14 anos”. Disse-lhe, “mãe, a tua voz vai ser ouvida pelo mundo”. E ela ficou muito contente. Disse-me, “a minha experiência de ter casado aos 14 anos é como fogo no meu coração. Não estarei morta enquanto não tiver morrido. Isto ficará comigo até morrer”. É assustador ouvir esta voz. Ninguém ouve esta voz.
Como tem sido o feedback na Arábia Saudita?
Não tive grande feedback, isto é, a sociedade saudita não tem criticado o meu blogue nem me tem atacado a nível pessoal. O blogue é escrito em inglês e, por isso, é lido pelos sauditas que sabem ler inglês, geralmente são aqueles que têm mais estudos e que são mais tolerantes. Ainda assim, devo dizer que tenho recebido alguns comentários impróprios. Vou-te dar um exemplo, uma vez, um desses críticos disse a uma amigo meu: “se vir o Abdul, mijo-lhe para cima.” Outro exemplo, um dia escrevi um post chamado “Sexo e as partes privadas de um homem saudita”. Um colega meu saudita escreveu-me: “posso perguntar-lhe uma coisa Dr. Al Lily? Qual é a vantagem que deste post? Está a falar a sério ou a brincar connosco? Por favor, da próxima vez tente discutir temas que reflitam o seu conhecimento e estatuto como doutor”.
Viver no Reino-Unido alterou as tuas ideias em relação ao sexo?
Acredito que a sexualidade é uma imitação da humanidade. É algo que temos de fazer. Independentemente do quão forte somos, quando falamos de sexo, tornamo-nos fracos. Até o maior homem de todos os tempos, quando chega ao sexo, se torna patético e estúpido, não achas?
Quais são as tuas ambições para o blogue?
Gostava de tornar o blogue num livro. Mostrar estas vozes ao mundo e poder dizer: “a Arábia Saudita tem mais problemas do que a questão de as mulheres poderem guiar ou não”. O que é preciso na Arábia Saudita são vozes. Há tantas vozes que devem ser ouvidas. Como académicos e jornalistas, devíamos começar a ouvi-las. Mas há um problema com acessibilidade: não tenho acesso às mulheres. As minhas irmãs e tias têm trabalhado muito para mim. Posso fazer-lhes perguntas e recolher informação da comunidade delas. Para ser honesto, sei tanto sobre as mulheres sauditas quanto tu, que é zero.
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marcelo l.- Farrista "We are the Champions"
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