Após boato em rede social, ‘justiceiros’ matam pessoa inocente no Guarujá
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Após boato em rede social, ‘justiceiros’ matam pessoa inocente no Guarujá
Fabiane foi acusada, em uma página do Facebook, de sequestrar crianças para prática de magia negra. Segundo o seu companheiro, o porteiro Jaílson Alves das Neves, houve um equívoco.
“Começou com um boato na internet. Eles colocaram uma foto de uma pessoa parecida e todo mundo achou que era ela. Quando ela voltou para o bairro, a cercaram e começaram as agressões”, afirmou Jaílson.
Pela internet, moradores da região se manifestaram afirmando que Fabiane sofria de transtorno bipolar e era inocente. Jaílson confirmou que a companheira enfrentava um tratamento por conta da doença.
A página responsável pela acusação é a “Guarujá Alerta”. No perfil, diversas pessoas se manifestam contrarias à acusação feita contra Fabiane. “Boatos não podem ser propagados, pois podem gerar exatamente o que aconteceu, a morte de uma inocente. Pelo jeito, o jurídico de vocês vai ter bastante trabalho, pois indubitavelmente essa página está suja com o sangue de uma pessoa inocente…”, afirma Fernando Gomes Camacho.
A imagem divulgada pelo “Guarujá Alerta” já foi removida da página e os administradores reconheceram que era um boato e que “orientaram” a população de que havia apenas uma suspeita.
Até o momento, nenhum morador foi preso por causa das agressões. Nos vídeos, é possível identificar dezenas de “justiceiros” envolvidos nos ataques a Fabiane.
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foto da vítima.
“Começou com um boato na internet. Eles colocaram uma foto de uma pessoa parecida e todo mundo achou que era ela. Quando ela voltou para o bairro, a cercaram e começaram as agressões”, afirmou Jaílson.
Pela internet, moradores da região se manifestaram afirmando que Fabiane sofria de transtorno bipolar e era inocente. Jaílson confirmou que a companheira enfrentava um tratamento por conta da doença.
A página responsável pela acusação é a “Guarujá Alerta”. No perfil, diversas pessoas se manifestam contrarias à acusação feita contra Fabiane. “Boatos não podem ser propagados, pois podem gerar exatamente o que aconteceu, a morte de uma inocente. Pelo jeito, o jurídico de vocês vai ter bastante trabalho, pois indubitavelmente essa página está suja com o sangue de uma pessoa inocente…”, afirma Fernando Gomes Camacho.
A imagem divulgada pelo “Guarujá Alerta” já foi removida da página e os administradores reconheceram que era um boato e que “orientaram” a população de que havia apenas uma suspeita.
Até o momento, nenhum morador foi preso por causa das agressões. Nos vídeos, é possível identificar dezenas de “justiceiros” envolvidos nos ataques a Fabiane.
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foto da vítima.
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marcelo l.- Farrista "We are the Champions"
- Mensagens : 6877
Data de inscrição : 15/06/2010
Re: Após boato em rede social, ‘justiceiros’ matam pessoa inocente no Guarujá
Que bosta, será que alguém será preso?
ediv_diVad- Farrista além das fronteiras da sanidade
- Mensagens : 20441
Data de inscrição : 10/06/2010
Re: Após boato em rede social, ‘justiceiros’ matam pessoa inocente no Guarujá
Acho que ninguém vai ser preso.
Até entrei na página do "guarujá alerta", lá diz que ela está viva, mas em estado crítico.
Até entrei na página do "guarujá alerta", lá diz que ela está viva, mas em estado crítico.
marcelo l.- Farrista "We are the Champions"
- Mensagens : 6877
Data de inscrição : 15/06/2010
Re: Após boato em rede social, ‘justiceiros’ matam pessoa inocente no Guarujá
Morreu.
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Victor Pax- Farrista já viciei...
- Mensagens : 4157
Data de inscrição : 05/07/2010
Re: Após boato em rede social, ‘justiceiros’ matam pessoa inocente no Guarujá
Lamentável.
Bem, mas pões na conta da Sherazade, como muitos estão fazendo. Afinal, ela é a grande inventora do linchamento no Brasil. Fora a "rede social", uma arma para essas pessoas.
Bem, mas pões na conta da Sherazade, como muitos estão fazendo. Afinal, ela é a grande inventora do linchamento no Brasil. Fora a "rede social", uma arma para essas pessoas.
Chusma- Farrista Cheguei até aqui. Problem?
- Mensagens : 4701
Data de inscrição : 25/07/2010
Re: Após boato em rede social, ‘justiceiros’ matam pessoa inocente no Guarujá
fico desconfiado com noticias assim,faz algum tempo tinha saido uma noticia falsa pelo facebook que saiu nos principais jornais que os justiceiros haviam matado o jovem adolescente infrator quando tinham espancado e amarrado,mais uma vez sai uma noticia desse tipo,então eu penso duas vezes antes de acreditar
como o titulo diz "podem ter matado",engraçado que a noticia falsa que eles teriam assassinado o menor infrator tinha sido vinculada nesse site também,então veremos
como o titulo diz "podem ter matado",engraçado que a noticia falsa que eles teriam assassinado o menor infrator tinha sido vinculada nesse site também,então veremos
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"Seu verdadeiro lar está dentro do seu coração e continua com você onde quer que você vá; mas um lugar legal e aconchegante é um motivo maravilhoso para voltar para casa!"
-J.R.R.Tolkien
Re: Após boato em rede social, ‘justiceiros’ matam pessoa inocente no Guarujá
Chusma escreveu:Lamentável.
Bem, mas pões na conta da Sherazade, como muitos estão fazendo. Afinal, ela é a grande inventora do linchamento no Brasil. Fora a "rede social", uma arma para essas pessoas.
pois é foi ela que inventou vamos fingir que não existe isso dês de antes de nos nascermos,eu por exemplo já vi linchamentos dês do tempo em que eu era criança onde o pessoal do bairro fazia isso com quem assaltava alguma casa local,sem falar nas favelas onde esses caras são mortos sem pensar duas vezes
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"Seu verdadeiro lar está dentro do seu coração e continua com você onde quer que você vá; mas um lugar legal e aconchegante é um motivo maravilhoso para voltar para casa!"
-J.R.R.Tolkien
Re: Após boato em rede social, ‘justiceiros’ matam pessoa inocente no Guarujá
Imaginei que o chusma tava sendo irônico...
ediv_diVad- Farrista além das fronteiras da sanidade
- Mensagens : 20441
Data de inscrição : 10/06/2010
Re: Após boato em rede social, ‘justiceiros’ matam pessoa inocente no Guarujá
como moradora do local, vou contar o que vi no facebook nessas últimas semanas.
Eu comecei a acompanhar a Guarujá Alerta ano passado, pra ver a rota dos protestos contra o aumento das taxas de ônibus na cidade e continuei acompanhando.
De umas semanas pra cá começaram a aparecer no facebook boatos de uma sequestradora de crianças na cidade. Essa página (não estou defendendo, nem acusando, apenas o que vi) sempre desmentiu esse boato dizendo que não havia casos de sequestro na cidade, nenhum pai/mãe havia dado queixa de desaparecimento nem nada do tipo, mas as pessoas continuavam a espalhar o boato. Uns diziam que ela tinha matado 30 crianças, e outras coisas sem prova alguma.
Uns poucos dias depois aconteceu o linchamento.
No dia do acontecido, várias pessoas diziam que ela tinha mesmo de morrer, que ia fazer magia negra pro capeta no inferno, etc. Tinha gente falando que encontraram nomes de crianças no barraco dela, coisa que nunca existiu também, é só disse-que-me-disse-que-disse.
Agora que descobriram que era inocente e morreu, tá todo mundo acusando a página. Uns até dizem que os administradores é que mereciam ser linchados, como se não tivesse sangue o suficiente derramado.
Esse incidente só mostra a podridão da nossa sociedade.
As pessoas acreditam em tudo que lêem no facebook, seja sobre sequestradora de criancinhas ou sorteio de Galaxy S5. E saem repassando como verdade, sem discernir falso de verdadeiro.
E infelizmente vivemos em um país sob inclusão digital, onde pessoas que mal sabem ler tem um smartphone com acesso a internet, interpretam textos de maneira errada e saem repassando aumentando um ponto.
Um detalhe da história toda é que o boato começou no rio de janeiro, e adaptaram o texto pro Guarujá. Inclusive a pessoa cuja foto usaram na corrente é de uma mulher que mora em S.P., e não vem pro Guarujá há tempos.
Eu comecei a acompanhar a Guarujá Alerta ano passado, pra ver a rota dos protestos contra o aumento das taxas de ônibus na cidade e continuei acompanhando.
De umas semanas pra cá começaram a aparecer no facebook boatos de uma sequestradora de crianças na cidade. Essa página (não estou defendendo, nem acusando, apenas o que vi) sempre desmentiu esse boato dizendo que não havia casos de sequestro na cidade, nenhum pai/mãe havia dado queixa de desaparecimento nem nada do tipo, mas as pessoas continuavam a espalhar o boato. Uns diziam que ela tinha matado 30 crianças, e outras coisas sem prova alguma.
Uns poucos dias depois aconteceu o linchamento.
No dia do acontecido, várias pessoas diziam que ela tinha mesmo de morrer, que ia fazer magia negra pro capeta no inferno, etc. Tinha gente falando que encontraram nomes de crianças no barraco dela, coisa que nunca existiu também, é só disse-que-me-disse-que-disse.
Agora que descobriram que era inocente e morreu, tá todo mundo acusando a página. Uns até dizem que os administradores é que mereciam ser linchados, como se não tivesse sangue o suficiente derramado.
Esse incidente só mostra a podridão da nossa sociedade.
As pessoas acreditam em tudo que lêem no facebook, seja sobre sequestradora de criancinhas ou sorteio de Galaxy S5. E saem repassando como verdade, sem discernir falso de verdadeiro.
E infelizmente vivemos em um país sob inclusão digital, onde pessoas que mal sabem ler tem um smartphone com acesso a internet, interpretam textos de maneira errada e saem repassando aumentando um ponto.
Um detalhe da história toda é que o boato começou no rio de janeiro, e adaptaram o texto pro Guarujá. Inclusive a pessoa cuja foto usaram na corrente é de uma mulher que mora em S.P., e não vem pro Guarujá há tempos.
L.Anne- Farrista já viciei...
- Mensagens : 4404
Data de inscrição : 11/06/2010
Idade : 39
Localização : Mares do Sul
Re: Após boato em rede social, ‘justiceiros’ matam pessoa inocente no Guarujá
eu seiediv_diVad escreveu:Imaginei que o chusma tava sendo irônico...
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-J.R.R.Tolkien
Re: Após boato em rede social, ‘justiceiros’ matam pessoa inocente no Guarujá
Chusma, realmente ela não inventou, mas defendeu e justificou que deve-se fazer justiça com as próprias mãos sem precisar de justiça, provas e outras coisas "menores".
E os reaças de plantão logo elegeram ela a "pensadora moderna" (para mim tem o mesmo "peso" da Valesca) e ela mesmo se postou de "dona da cocada preta", então nada mais normal em identifica-la com um ato que ela glorifica e indica publicamente.
E os reaças de plantão logo elegeram ela a "pensadora moderna" (para mim tem o mesmo "peso" da Valesca) e ela mesmo se postou de "dona da cocada preta", então nada mais normal em identifica-la com um ato que ela glorifica e indica publicamente.
Victor Pax- Farrista já viciei...
- Mensagens : 4157
Data de inscrição : 05/07/2010
Re: Após boato em rede social, ‘justiceiros’ matam pessoa inocente no Guarujá
Certamente que a Sherazeda ajudou bastante a justificar/perpetuar essa ideia.
Mas a L. Anne apareceu, mesmo através da desgraça, é uma boa notícia!
Mas a L. Anne apareceu, mesmo através da desgraça, é uma boa notícia!
ediv_diVad- Farrista além das fronteiras da sanidade
- Mensagens : 20441
Data de inscrição : 10/06/2010
Re: Após boato em rede social, ‘justiceiros’ matam pessoa inocente no Guarujá
ediv_diVad escreveu:Certamente que a Sherazeda ajudou bastante a justificar/perpetuar essa ideia.
Mas a L. Anne apareceu, mesmo através da desgraça, é uma boa notícia!
o.O
Bem, podem esperar, depois disso é provável que venham leis mais severas para controle do que é publicado pela internet.
L.Anne- Farrista já viciei...
- Mensagens : 4404
Data de inscrição : 11/06/2010
Idade : 39
Localização : Mares do Sul
Re: Após boato em rede social, ‘justiceiros’ matam pessoa inocente no Guarujá
É sempre reconfortante encontrar alguém mais paranoico do que eu!L.Anne escreveu:é provável que venham leis mais severas para controle do que é publicado pela internet.
ediv_diVad- Farrista além das fronteiras da sanidade
- Mensagens : 20441
Data de inscrição : 10/06/2010
Re: Após boato em rede social, ‘justiceiros’ matam pessoa inocente no Guarujá
ediv_diVad escreveu:É sempre reconfortante encontrar alguém mais paranoico do que eu!L.Anne escreveu:é provável que venham leis mais severas para controle do que é publicado pela internet.
na verdade é uma realidade vide o marco civil da internet que já foi aprovado
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"Seu verdadeiro lar está dentro do seu coração e continua com você onde quer que você vá; mas um lugar legal e aconchegante é um motivo maravilhoso para voltar para casa!"
-J.R.R.Tolkien
Re: Após boato em rede social, ‘justiceiros’ matam pessoa inocente no Guarujá
Isso me lembra de um vídeo de uma campanha na Nigéria contra a justiça popular... o vídeo é sobre um menino que foi queimado vivo por supostamente sequestrar uma criança. Aviso: Contém cenas fortes.
Acho que essa campanha devia abranger o Brasil também :/
Acho que essa campanha devia abranger o Brasil também :/
Dona Sancha- Farrista Ribombando nas Galáxias
- Mensagens : 332
Data de inscrição : 14/06/2010
Idade : 35
Re: Após boato em rede social, ‘justiceiros’ matam pessoa inocente no Guarujá
Tragicamente foda! fico chocado que inocentes são linchados e os verdadeiros culpados saem dando risada!
Aqui no Brasil não me importaria de lixar uns vagabundos, mas vagabundos de verdade não é só papo é fato provado.
Ja disse uma vez as pessoas dão gloria aos malditos e massacram os inocentes.
Aqui no Brasil não me importaria de lixar uns vagabundos, mas vagabundos de verdade não é só papo é fato provado.
Ja disse uma vez as pessoas dão gloria aos malditos e massacram os inocentes.
elcioch- Estou chegando lá
- Mensagens : 5875
Data de inscrição : 14/06/2010
Mononoke Hime- Farrista "We are the Champions"
- Mensagens : 7009
Data de inscrição : 09/06/2010
Idade : 46
Localização : Floresta do Shishi-Gami
Re: Após boato em rede social, ‘justiceiros’ matam pessoa inocente no Guarujá
Elcioch e como você saberia quem é culpado?
Pois nos EUA (que tem uma perícia, uma polícia e um judiciário muito melhores que o nosso) de 1/3 a 1/4 dos condenados a morte se descobriu depois serem inocentes.
Na boa não estou de ironia ou outra coisa contigo, só quero mostrar que "soluções finais" estão longe e serem ideais.
Pois nos EUA (que tem uma perícia, uma polícia e um judiciário muito melhores que o nosso) de 1/3 a 1/4 dos condenados a morte se descobriu depois serem inocentes.
Na boa não estou de ironia ou outra coisa contigo, só quero mostrar que "soluções finais" estão longe e serem ideais.
Victor Pax- Farrista já viciei...
- Mensagens : 4157
Data de inscrição : 05/07/2010
Re: Após boato em rede social, ‘justiceiros’ matam pessoa inocente no Guarujá
Antes de mais nada, pode citar fontes fidedignas de sua afirmação, Pax?
Goris- Farrista Cheguei até aqui. Problem?
- Mensagens : 4591
Data de inscrição : 15/06/2010
Idade : 49
Localização : Volta Redonda / RJ
Re: Após boato em rede social, ‘justiceiros’ matam pessoa inocente no Guarujá
Putz, de 1/4 li esses dias no yahoo e no ig, mas de 1/3 eu já havia lido uma pesquisa em 2013.
Vou ver se acho a reportagem.
Alias vi hoje:
Vou ver se acho a reportagem.
Alias vi hoje:
[Tens de ter uma conta e sessão iniciada para poderes visualizar este link] escreveu:Confundido com irmão, homem é linchado em Araraquara
Um homem sofreu um linchamento e quase morreu ao ser confundido com o irmão na noite deste domingo (11), no Jardim Maria Luiza, bairro de Araraquara, no interior de São Paulo.
Segundo a Polícia Militar, tudo começou após uma briga de casal em que a esposa acabou atingida com uma paulada na cabeça. Ela foi socorrida desacordada até uma UPA (Unidade de Pronto Atendimento).
Vizinhos e parentes foram até a casa do sogro da mulher procurar pelo agressor. Quando chegavam ao local, na rua Vicenzo Spoto, se depararam com o servente de pedreiro Mauro Rodrigo Muniz, de 37 anos, que é irmão do suposto autor. Ele levou pauladas e pedradas e ficou desacordado no chão com fraturas principalmente na face.
A irmã, de 31 anos, tentou avisar sobre o equívoco, mas acabou agredida. A polícia teve de intervir por que os populares teriam impedido o trabalho do SAMU (Serviço de Atendimento Móvel de Urgência).
O homem foi internado em estado grave na Santa Casa local, enquanto a mulher foi medicada e liberada.
A ocorrência foi registrada como tentativa de homicídio. O servente segue internado em estado grave até o início desta segunda-feira (12), correndo risco de morrer.
Victor Pax- Farrista já viciei...
- Mensagens : 4157
Data de inscrição : 05/07/2010
Re: Após boato em rede social, ‘justiceiros’ matam pessoa inocente no Guarujá
Bom, cuidado com informações de terceira mão, elas normalmente não são livres de exageros ideológicos (tipo o Brasil ser o vilão na famosa guerra do Paraguai).Victor Pax escreveu:Putz, de 1/4 li esses dias no yahoo e no ig, mas de 1/3 eu já havia lido uma pesquisa em 2013.
Vou ver se acho a reportagem.
Dados mais atualizados.
4% de Erros Prováveis
Se 1/3 de cada condenado fosse inocente, mesmo os EUA acabariam com a pena.
Goris- Farrista Cheguei até aqui. Problem?
- Mensagens : 4591
Data de inscrição : 15/06/2010
Idade : 49
Localização : Volta Redonda / RJ
Re: Após boato em rede social, ‘justiceiros’ matam pessoa inocente no Guarujá
De: [Tens de ter uma conta e sessão iniciada para poderes visualizar este link]Linchamento no Guarujá revela sintoma do retrofascismo
Para além do horror diante da barbárie do linchamento de uma dona de casa por vizinhos e até crianças em Guarujá/SP, o mais perturbador nesse episódio é a ambígua declaração do governador do Estado de São Paulo Geraldo Alckmin, sugerindo que o ato bárbaro era injustificável porque, afinal, “tudo não passou de boato”- então, se os boatos fossem verdadeiros o linchamento seria justificado? Essa surpreendente declaração para um governador confirmaria as sinistras previsões de Arthur Kroker e Michael Weinstein nos anos 1990: uma integração entre Estado, pan-capitalismo e violência sacrificial. O impulso primitivo amplificado pelas redes digitais seria a fase “interativa” dos rituais de sacrifício cotidianamente praticados pelos linchamentos midiáticos de reputações ou dos refugos sociais (desempregados, velhos e pobres) oferecidos como objeto sacrificial e bodes expiatórios em programas diários de TV. É o retrofascismo à espera de uma tradução política para, mais uma vez na História, ocupar o Estado.
“O homem preferirá ainda querer o nada ao nada querer” (Nietzsche)
O trágico episódio do linchamento da dona de casa Fabiane de Jesus por vizinhos, amigos e até crianças na cidade do Guarujá/SP provocado por um boato amplificado pela rede social Facebook poderia ter passado despercebido como mais um caso num cotidiano de chacinas e violências em bairros pobres e periféricos se não fosse por duas características e um sintoma importante:
(a) Uma explosão primitiva de violência motivada por um boato através de uma rede social produto da alta tecnologia de comunicação digital desse início de século. Tecnologia digital e primitivismo coexistindo como fossem dois lados de uma mesma moeda;
(b) O boato a partir de um suposto retrato falado publicado em página do Facebook dava conta de que Fabiane seria sequestradora de crianças para rituais de magia negra. Se na sua origem primitiva o linchamento é um impulso sacrificial para esconjurar o mal em uma comunidade, o episódio tem um quê de estranha ironia: um linchamento (ritual de sacrifício) para punir uma pessoa que supostamente sequestrava crianças para rituais que também visam esconjurar o mal ou/e compactuar como ele;
c) E finalmente, o sintoma que partiu do Estado na figura do governador do Estado de São Paulo Geraldo Alckmin que fez a seguinte declaração sobre a tragédia: “É inadmissível um ato de barbaridade como esse, tirando a vida de uma pessoa que não tinha nada a ver com a desconfiança da população, até porque tudo não passou de um boato”. Se ela não fosse inocente e se os boatos fossem verdadeiros, então seria justificável o linchamento? Estranha declaração de um representante de uma instituição que, ao lado da Justiça, teria a função civilizatória de ser o guardião da tendência humana de destruir uns aos outros e a si mesmos.
Se um representante do Estado dá uma declaração pública assim tão ambígua, abrindo uma sinistra possibilidade de haverem linchamentos justificáveis, somente podemos interpretá-lo como um sintoma de algo que os pesquisadores canadenses Arthur Kroker e Michael Weinstein chamam de pan-capitalismo, regime político-econômico sem opositores que conviveria funcionalmente com o seu duplo homicida: o retrofascismo - Leia KROKER, A. e WEINSTEIN, M. Data Trash, New York: St. Martin Press, 1994.
O retrofascismo seria o velho fascismo histórico em sua nova roupagem ao mesmo tempo virtual e nostálgica (a ressurreição como farsa de antigos referenciais) que combina os impulsos primitivos e mágicos por esconjuração do mal com alta tecnologia de informação e comunicação associado ao mal estar individual de um sistema baseado na luta pela sobrevivência em uma sociedade competitiva cada vez mais indiferente com o destino de seus cidadãos.
Em outras palavras: Estado e sistema econômico e tecnológico (virtualização da economia, financeirização, fim dos direitos trabalhistas etc.) se unem na promoção de um sistema que, segundo Kroker e Weinstein, teria uma contradição interna: a hiperliquidez e a livre circulação acelerada de informação e especulação financeira versus estagnação comportamental dos indivíduos pelo mal estar produzido por um sistema indiferente aos destinos dos cidadãos que necessitam ser continuamente duros consigo mesmos – a violência contra si mesmo através da autodisciplina motivacional como forma de continuar a ter esperança em continuar vivendo.
“Quem é duro consigo mesmo, também é com os demais”, dizia o filósofo Theodor Adorno para sintetizar o mecanismo psíquico do fascismo – intolerância, ódio, racismo e a irresistível sedução pelas “soluções finais”. O fascismo esconderia um profundo ódio pela existência: se eu não sou feliz, ninguém tem direito a sê-lo.
Para entendermos essa estranha combinação entre Estado, alta tecnologia informacional e violência sacrificial como sugerida pela dupla de pesquisadores canadenses, temos que compreender esse conceito de sacrifício ritual.
Sacrifício e bode expiatório
As diversas formas de sacrifício ritual perpassam as mais variadas religiões, culturas e épocas, usando sejam animais ou seres humanos para serem mortos de forma sistemática por terceiros ou instituições.
Em geral os deuses ocupam a razão central do sacrifício, seja para a manutenção do poder divino, como moeda de troca para conseguir favores divinos em retribuição, como oferta de vida e sangue que conteriam o mana para o alimento dos deuses, ou ainda como função de “bode expiatório”: para que no objeto de sacrifício recaia a ira dos deuses ou do destino que, caso contrário, poderia recair indiscriminadamente sobre todos os homens ou comunidades inteiras.
Sob um ponto de vista antropológico, os rituais de sacrifício funcionariam como um mecanismo de purificação e renovação de uma comunidade, assim como uma estratégia de sociabilidade onde as tensões, conflitos e medos coletivos são expiados: alguém morre no lugar de todos ao oferecer-se como sacrifício expiatório. Dessa forma, o mal estar coletivo é aplacado e a comunidade pode iniciar um novo ciclo de existência.
Psicólogos e psiquiatras especializados em terapia familiar sob o enfoque sistêmico já localizaram há muito tempo um mecanismo análogo de elaboração do ritual de bode expiatório em dinâmicas familiares onde sempre um membro é eleito como a “ovelha negra”, isto é, como o doente ou pessoa disfuncional que atrai a atenção de todos (raiva, preocupação, escárnio etc.) proporcionando equilíbrio ao sistema familiar que ressurge como “puro” diante de um membro “doente”.
O sacrifício ritual sem deuses
Porém essa liquidação de segregados societais assumiria um novo aspecto em sociedades industrializadas, tecnológicas e laicas onde os deuses não mais existem como justificativa de manutenção de um ritual tão primitivo.
O sacrifício ritual é renovado e adaptado à nova exigência trazida pela depressão econômica e o pan-capitalismo: imposição da disciplina punitiva cotidiana. O nazifascismo, por exemplo, foi a resposta à depressão econômica combinando a férrea disciplina voltada à produção (pleno emprego voltado à indústria bélica) e à vida cotidiana (médicos da SS realizavam intenso controle pública de hábitos – antitabagismo e alimentação saudável – e pesquisas biométricas sobre a “pureza” racial do alemão).
Combinado com a violência sacrificial do holocausto, através de um Estado bunker o nazifascismo conseguiu combinar o primitivismo do bode expiatório com uma sociedade voltada para a indústria bélica renovada pelo ritual de purificação pelo ódio e intolerância.
Sob a nova forma atual de capitalismo telemático (o pan-capitalismo) a produção e finanças se virtualizam, assim como o trabalho por meio da automação, terceirização, crise dos direitos trabalhistas, flexibilização das relações de trabalho e a precarização das profissões.
Nessa nova forma de sociabilidade cria o terror econômico do abandono: a indiferença da sociedade e o Estado sobre o destino dos cidadãos, forma neodarwinista de uma nova ideologia de competição social onde os refugos, desempregados, subempregados, perdedores, velhos e pobres devem ser oferecidos como objeto sacrificial, em primeiro lugar para a mídia: linchamentos midiáticos cotidianos em programas ao estilo Brasil Urgente ou Polícia 24 Horas onde diariamente vítimas são sacrificadas não mais para a glória dos deuses como no passado, mas agora pelo ódio niilista contra a existência: se eu não sou feliz, ninguém pode sê-lo. Bodes expiatórios oferecidos como descarga para expiar o mal estar do sofrimento cotidiano.
Sem os deuses antigos que davam um sentido transcendente ou religioso aos rituais de sacrifício, agora o impulso primitivo ressurge como tragédia, isto é, como vontade niilista do nada, como alertava Nietzsche.
Da combinação do primitivismo com a eletrônica (a TV) agora testemunhamos o hibridismo do primitivismo com o digital. O linchamento de Fabiane de Jesus partiu de um boato amplificado por uma página do Facebook chamada “Guarujá Alerta”, título em si com um sabor proto-fascista que inspira a urgência diante de fatos consumados que exigem “soluções finais”. Dos antigos “vigilantes” dos bairros (esquadrões da morte, por exemplo) agora vemos a irrupção brutal da vontade por purificação estimulada por uma rede social, sem mediações, através de uma simulação de comunidade (a virtualização das relações sociais pelo Facebook) que contagiou as relações reais.
Para além da barbárie do linchamento, o mais perturbador nesse episódio é a ambígua declaração do governador do Estado de São Paulo Geraldo Alckmin que poderia confirmar as sinistras previsões de Kroker e Weinstein nos anos 1990: uma integração entre Estado, pan-capitalismo e violência sacrificial. O impulso primitivo amplificado pelas redes digitais sob as vista grossas do Estado que, ao invés de cumprir sua função civilizatória de proteger a sociedade de si mesma, anula-se diante violência sacrificial necessária para a disciplina punitiva das organizações corporativas – a dor no trabalho é descontada na destruição do outro pela seguinte lógica: pelo menos sei que tem gente com uma vida pior do que a minha!
O episódio do linchamento no Guarujá é um alerta da possibilidade de o retrofascismo estar à espera de uma tradução política que conquiste o poder criando, mais uma vez na História, o Estado bunker.
ediv_diVad- Farrista além das fronteiras da sanidade
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Data de inscrição : 10/06/2010
Re: Após boato em rede social, ‘justiceiros’ matam pessoa inocente no Guarujá
L.Anne escreveu:como moradora do local, vou contar o que vi no facebook nessas últimas semanas.
Eu comecei a acompanhar a Guarujá Alerta ano passado, pra ver a rota dos protestos contra o aumento das taxas de ônibus na cidade e continuei acompanhando.
De umas semanas pra cá começaram a aparecer no facebook boatos de uma sequestradora de crianças na cidade. Essa página (não estou defendendo, nem acusando, apenas o que vi) sempre desmentiu esse boato dizendo que não havia casos de sequestro na cidade, nenhum pai/mãe havia dado queixa de desaparecimento nem nada do tipo, mas as pessoas continuavam a espalhar o boato. Uns diziam que ela tinha matado 30 crianças, e outras coisas sem prova alguma.
Uns poucos dias depois aconteceu o linchamento.
No dia do acontecido, várias pessoas diziam que ela tinha mesmo de morrer, que ia fazer magia negra pro capeta no inferno, etc. Tinha gente falando que encontraram nomes de crianças no barraco dela, coisa que nunca existiu também, é só disse-que-me-disse-que-disse.
Agora que descobriram que era inocente e morreu, tá todo mundo acusando a página. Uns até dizem que os administradores é que mereciam ser linchados, como se não tivesse sangue o suficiente derramado.
Esse incidente só mostra a podridão da nossa sociedade.
As pessoas acreditam em tudo que lêem no facebook, seja sobre sequestradora de criancinhas ou sorteio de Galaxy S5. E saem repassando como verdade, sem discernir falso de verdadeiro.
E infelizmente vivemos em um país sob inclusão digital, onde pessoas que mal sabem ler tem um smartphone com acesso a internet, interpretam textos de maneira errada e saem repassando aumentando um ponto.
Um detalhe da história toda é que o boato começou no rio de janeiro, e adaptaram o texto pro Guarujá. Inclusive a pessoa cuja foto usaram na corrente é de uma mulher que mora em S.P., e não vem pro Guarujá há tempos.
Muito interessante esse lado da história!
Mononoke Hime- Farrista "We are the Champions"
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Re: Após boato em rede social, ‘justiceiros’ matam pessoa inocente no Guarujá
Marjorie Rodrigues escreveu:
Pensamentos soltos (e meio desorganizados) sobre a barbárie
Eu acho que a onda de "justiceiros" no Brasil vai além da "descrença nas instituições" à qual tem sido atribuída. Não se trata apenas de fazer justiça com as próprias mãos porque muitos criminosos saem impunes pelas vias oficiais. Acho que isso é um traço cultural do brasileiro. Essa coisa punitivista. Pegue uma notícia sobre pedofilia. A maioria dos comentários vai ser sobre cortar o pinto do cara. Notícia de roubo: tinha que cortar a mão. Notícia de estupro: tem que "virar menininha" na cadeia. A vilã da novela quase sempre leva uma surra da mocinha no final. A babá que supostamente batia em crianças toma uma voadora do Subzero brasileiro. Enfim. O brasileiro médio fetichiza a punição física, violenta. A violência não só é tolerada, ela é fetichizada. É quase uma catarse, um orgasmo coletivo quando a violência chega à pessoa que "fez por merecer".
Lembro de quando eu estagiava na Reuters. Foi bem na época do crime da menina Isabella. A redação tinha quatro TVs ligadas em canais diferentes 24 horas por dia, pra gente não perder nenhum plantão caso algo extraordinário acontecesse. Eu trabalhava com as TVs falando na minha orelha o dia todo. Então posso afirmar, com toda a convicção, que eu acompanhei TUDO, mas tudo mesmo, o que passou na TV sobre este caso. Era bizarro. Durante mais ou menos um mês, toda a programação ~parou~. Diversos programas, tipo aqueles de culinária que passam à tarde, foram cancelados para falar só de menina Isabella. Como se nada de mais importante estivesse acontecendo no país. Os Nardoni foram condenados antes mesmo de serem julgados. Aliás, desde o começo. Desde que começou a ser noticiado. Para mim, o caso Nardoni é um revival da Escola Base. Só não é reconhecido como tal. Pois na Escola Base, os caras eram inocentes. Como Fabiane. Aí, putz, foi mal. Mas se os caras são mesmo culpados, como os Nardoni, então tá beleza o linchamento midiático, eles "mereciam". E fica tudo por isso mesmo.
Sim: acho que o caso Isabella foi um linchamento midiático. Que poderia ter se tornado um linchamento real. Depois dessa verdadeira lavagem cerebral de menina Isabella que a imprensa fez na cabeça das pessoas, começaram as notícias de que a casa dos Nardoni estava cercada de populares.
(O foda era ver a imprensa entrevistando essas pessoas como se nada tivesse a ver com isso, como se as pessoas tivessem brotado lá do nada, por livre e espontânea vontade, em vez de serem estimuladas pela repetição exaustiva do caso na TV).
Lembro de ter pensado: "essas pessoas não têm mais o que fazer, não? Não têm trabalho, estudos, amigos, filhos? Não têm uma trepadinha pra dar, um bolo pra bater? Ok se chocar com a notícia de um pai que joga uma menina de três anos pela janela, mas o que leva essas pessoas a se dar ao trabalho de: 1) pesquisar o endereço do cara; 2)pegar um busão e ir até lá; 3) ficar plantado o dia inteiro na frente da casa dele?"
Veja bem. Este era um Brasil antes de junho de 2013. Então, eu pensei: "essa galera não sai na rua pra nada. É fodida diretamente pelo transporte público, salários baixos, educação de bosta, mil coisas. Nada disso as motiva a sair de casa e pedir justiça. Aí morre uma criança que elas nem conhecem e a resolução do caso em nada vai afetar as suas vidas... E de repente parece ok se dar ao trabalho de ir até lá tentar linchar o cara". Me diz: isso é descrença nas instituições, por causa da impunidade? A imprensa estava empenhada em garantir a punição do cara, que já estava sendo investigado e julgado de uma forma que poucos crimes no Brasil chegam a ser. Então não tem nada a ver com isso. O que rolou ali foi a fetichização da punição. O prazer de ver o sangue do "culpado" jorrar.
As pessoas querem a punição institucional MAIS o olho por olho, dente por dente. Quer outro exemplo? Mensalão. Não basta que o Dirceu e o Genoino tenham sua liberdade de ir e vir cortada. O jornalista vai lá na Papuda para se certificar de que, além de presos, eles também estejam sofrendo. Tem que comer mal. Tem que dormir no chão. Não tem que ter acesso a tratamento médico. No caso dos mensaleiros, houve a desculpinha de que não se pode dar "regalias" a presos famosos, o tratamento tem de ser igual ao de todos. Mas é curioso que, em vez de defender que TODOS os presos recebam o que Dirceu e Genoino supostamente recebiam - oi, acesso a tratamento médico é o mínimo! -, as pessoas nivelavam por baixo. Querem, na verdade, é que todos os detentos sejam tratados como lixo. Porque o detento (em sua maioria, negro e pobre) faz parte da categoria da sociedade que é "lixo" e a quem está liberada a violência. Daí que eu acho sintomática a situação das cadeias no Brasil. Não são ruins só por falta de verba, má gestão, corrupção, superlotação, etc. São ruins (e superlotadas) justamente porque a sociedade quer que sejam o inferno na terra.
Este não é um país com tradição de direitos humanos. A tortura da ditadura encontrava respaldo cultural e até hoje encontra. Este é um país onde a maioria acredita que quem "merece" pode e deve ser torturado. E aí a barbárie está mesmo na esquina: como se define quem merece? O que faz alguém merecer? Quem define quando e quem merece? Estamos livres de erros nesse julgamento sobre o merecimento? A história da Fabiane demonstrou que não. Óbvio que não.
A Daniela e eu conversamos um bom bocado sobre a pesquisa do IPEA, aquela que gerou o movimento #nãomereçoserestuprada. Resumindo, ela achava a frase do movimento equivocada por usar este verbo, "merecer". Ninguém merece. E soa como uma súplica: eu não mereço isso, por favor tenha piedade de mim. Então o poder, o sujeito ativo, continua sendo esse outro, que pode ou não escolher te estuprar - mesmo que você não mereça. A Dani notou que a frase da campanha da Pitty, "eu sou minha", denotava muito mais autonomia. Mas aí eu lembrei que foi a própria pesquisa do IPEA que tinha colocado as coisas nesses termos, de merecimento. Aí o nome do movimento foi só uma resposta: não, eu não mereço. Acho que ninguém se ligou na passividade da frase. Mas enfim. Por mais erros que tenha a pesquisa, acho interessante que ela tenha usado o verbo merecer. Acho inclusive acertado. Porque essa é justamente uma cultura para quem a violência está diretamente atrelada a uma ideia de merecer ou não merecer.
Mais um exemplo recente que me ocorre aqui (porque eu não canso de ser redundante): lei da palmada. Se a criança merece ser punida/educada, então merece uma palmada. End of story. As pessoas têm um pensamento tão limitado, tão acondicionado nessa fetichização da punição física, que sequer conseguem conceber que existem outras formas possíveis de punir uma criança quando ela se comporta mal. Nope, o raciocínio dessa galera funciona num binário: se não há palmada, há ausência total de limites.
Então, desde que somos pequenos, estabelece-se isso: que a única forma possível de punição e reeducação é através da violência física. Você pode até encher o peito e dizer que você não se traumatizou, que não teve efeito negativo a porrada que seu pai deu em você. Pois eu digo que a porrada que seu pai te deu e a porrada que você dará no seu filho e a porrada que seu filho dará no seu neto formam o alicerce de uma sociedade que mata Fabianes.
Fonte: [Tens de ter uma conta e sessão iniciada para poderes visualizar este link]
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