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Perseguição às bruxas no estilo século 21

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Perseguição às bruxas no estilo século 21 Empty Perseguição às bruxas no estilo século 21

Mensagem por Koppe Ter Jul 15, 2014 9:45 pm

Texto do New York Times
Por: Mitch Horowitz
Tradução: Emyrs (Saulo G.*.F.*.Ribeiro)
Crédito da Ilustração: Bill Bragg


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A maioria das pessoas acredita que a perseguição às "bruxas" atingiu seu auge no início dos anos 1690 com os julgamentos em Salem, Massachusetts, mas é um paradoxo cruel da vida do século 21 que a violência contra pessoas acusadas de feitiçaria é muito mais comum do que a gente pensa. Longe de desaparecer, graças à interligação digital e desenvolvimento econômico, a caça às bruxas tornou-se um problema global em crescimento.

Nos últimos anos, tem havido uma onda de ataques contra pessoas acusadas de bruxaria na África, nas Ilhas do Pacífico, na América Latina e mesmo entre as comunidades de imigrantes nos Estados Unidos e Europa Ocidental.
Pesquisadores de agências de refugiados e direitos humanos das Nações Unidas estimam que o assassinato de supostos bruxos está com a numeração na casa dos milhares a cada ano, enquanto a espancamentos e banimentos pode rondar na casa dos milhões. "Isso está se tornando um problema internacional – é uma forma de perseguição e violência que está se espalhando ao redor do globo", disse Jeff Crisp, funcionário do Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados, num painel em 2009, o último ano em que um organismo internacional estudou todas as dimensões do problema. Um relatório desse ano da mesma agência e um estudo da UNICEF em 2010 encontrou um aumento, especialmente na África, de violência e abuso infantil ligado às acusações de feitiçaria.

Relatórios recentes da mídia sugerem um padrão perturbador de mutilações e assassinatos. No ano passado, uma multidão em Papua Nova Guiné queimou viva uma jovem mãe, Kepari Leniata, 20, que era suspeita de praticar feitiçaria. Este caso altamente divulgado, depois de uma série de ocorrências nos últimos anos, de violência grupal letal contra mulheres e homens acusados de bruxaria
.
"Estes casos estão se tornando muito comuns em certas partes do país", disse o primeiro-ministro, Peter O'Neill. No ano passado, Papua Nova Guiné, finalmente revogou uma lei de 1971 que permitia aos atacantes citar a intenção do combate a bruxaria como uma defesa legal. Mas o progresso é lento. Embora a polícia acusasse um homem e uma mulher de conexão com o assassinato em 2013 de Sra. Leniata, ninguém enfrentou julgamento, um fato que chamou o protesto da Anistia Internacional em fevereiro.

Um dos aspectos mais horrendos nestes crimes é a sua brutalidade. As vítimas geralmente são queimadas vivas, como no caso da Sra. Leniata e em um caso de 2012 no Nepal; mulheres ou acusados às vezes são espancados até a morte, como ocorreu na cidade colombiana de Santa Bárbara em 2012; ou as vítimas podem ser apedrejadas ou decapitadas, como foi relatado na Indonésia e na África subsaariana.

É tentador apontar a pobreza dos países em desenvolvimento como bode expiatório e como as principais causas de ataques anti-bruxas - e essas forças são, sem dúvida, a idéia. Mas, enquanto a África e o sudoeste do Pacífico têm uma longa história de miséria econômica, grande parte desta violência, especialmente contra as crianças, se agravou desde 2000. A onda sugere diferentes forças: ressentimento econômico ou antigas superstições.

Em algumas comunidades são principalmente homens jovens que assumem o papel de caçadores de bruxas, sugerindo que eles podem perceber nisso uma forma de ganhar prestígio pela limpeza indesejável e de fazerem cumprir os costumes sociais. Muitos dos caçadores de bruxas autonomeados são homens, o que destaca outro aspecto sinistro do fenômeno: A maioria das vítimas são mulheres. O reverendo Jack Urame do Instituto da Melanésia, uma agência de direitos humanos em Papua Nova Guiné, estima que a violência relacionada com a bruxaria é dirigida de 5 a 1 contra as mulheres, sugerindo que as acusações de feitiçaria são usadas para encobrir a violência baseada no gênero.

Outro fator, particularmente na África Central e nas suas comunidades da diáspora, é o advento das igrejas revivalistas, em que autointitulados pastores-profetas são ferrenhos contra bruxaria e possessão demoníaca. Eles afirmam frequentemente que são especialistas na expulsão de espíritos malignos, às vezes cobrando pelo serviço. Muitas dessas congregações surgiram dos esforços ocidentais de evangelização.

Uma das pregadoras pentecostais mais populares da Nigéria, Helen Ukpabi, escreveu que "se uma criança com idade inferior a dois anos grita a noite, chora e sempre está febril com deterioração da saúde, ele ou ela é um servo de Satanás". Como isso implica, crianças nessas comunidades são especialmente susceptíveis de serem identificadas como “possuídas”. O Escritório do Alto Comissariado para os Direitos Humanos das Nações Unidas informou que a maioria das 25.000 a 50.000 crianças que vivem nas ruas de Kinshasa, capital da República Democrática do Congo, foram abandonados pelos familiares, que os acusaram de bruxaria ou possessão demoníaca.

A etiologia desta epidemia é complexa, mas observadores dos direitos humanos apontam para a superpopulação, a rápida urbanização, as dificuldades dos pais forçados a se mudar para procurar trabalho, bem como as tensões de criar os filhos em meio à extrema pobreza. Superstições são armadas por "curandeiros" locais que cobram aos pais para exorcizar os maus espíritos.

A caça às bruxas está longe de ser limitada, no entanto a atos de vigilantismo sádico ou especulações. Alguns sistemas jurídicos sancionam a matança de bruxas acusadas.

Em 2011, os tribunais na Arábia Saudita condenaram um homem e uma mulher, em casos separados, a decapitação após condenações por feitiçaria. Em 2013, os tribunais sauditas condenaram duas empregadas domésticas asiáticas a 1.000 chicotadas e 10 anos de prisão sob a acusação de terem lançando feitiços contra seus empregadores.

O médium da televisão libanesa, Ali Hussain Sibat, foi preso em 2008, enquanto fazia peregrinação a Medina pela polícia religiosa saudita, onde gravava um programa de televisão para o Líbano ("The Hidden"), onde ele fazia previsões e prescrevia poções do amor e feitiços. Depois de um protesto da Anistia Internacional e outros, os tribunais sauditas cancelaram a execução por decapitação do Sr. Sibat, mas sentenciou em 2010 para uma pena de prisão de 15 anos.

Como na África, a onda de atividades anti-bruxas na Arábia Saudita é recente. A polícia religiosa saudita criou em 2009 uma unidade anti-bruxaria, resultando na prisão de 215 supostos "mágicos" em 2012. Alguns observadores atribuem este súbito interesse na bruxaria às tentativas da família real para apaziguar seus inquisidores religiosos, mantendo-os ocupados visando um punhado de indivíduos vulneráveis.

Um motivo final acionando a caça às bruxas moderna pode ser mais venal do que espiritual: A polícia na Indonésia, onde havia cerca de 100 suspeitos de assassinatos de bruxas em 2000, aponta para a fraude e a corrupção dirigidas contra as mulheres vulneráveis, que, sem família ou proteção da comunidade, são vítimas de banimento ou assassinato em pretextos pequenos, enquanto suas casas e propriedades são apreendidas por seus acusadores.

A globalização significa que a paranoia sobre magia negra e possessão espiritual já não se limitam aos países em desenvolvimento. A migração em massa tornou este, um problema generalizado. Em janeiro, no bairro do Queens, NY, um homem foi preso por espancar até a morte com um martelo sua namorada, Estrella Castaneda, 56, e sua filha, Lina Castaneda, 25; Carlos Alberto Amarillo disse à polícia que as mulheres eram "bruxas", e que tinha sido realizando um “vodou e lançando feitiços" para ele. (Voodoo, mais propriamente conhecido como Vodou, é uma autêntica fé afro-caribenha baseada no culto a divindade e ritualísticas, praticado em Nova York e muitas cidades americanas. Outros sistemas de crenças que retêm ou reinventar práticas antigas de adoração da natureza e práticas mágicas são conhecidos com os nomes de Wicca ou neopaganismo).

Não foi confirmado se as vítimas do Queens tinham ligações com Vodou (nem elas nem o suspeito eram afro-caribenhos). Acusações como as feitas pelo Sr. Amarillo, que está sob avaliação psiquiátrica, muitas vezes se provam não confiáveis ou são deturpadas de forma sensacionalista. Mas o tema tem, no entanto, tornando-se assustadoramente familiar na cobertura de notícias ocidentais.

Em 2012, o The Guardian relatou que a polícia de Londres durante a última década investigou 81 casos de "abuso ritual" de crianças acusadas de possessão ou feitiçaria, um fenômeno que os órgãos sociais britânicos temem e está em ascensão, principalmente nas comunidades de imigrantes africanos. Em 2010, um rapaz de 15 anos de idade, Kristy Bamu, foi torturado e morto no leste de Londres por sua irmã mais velha e o namorado dela, ambos congoleses, que o acusaram de feitiçaria depois que ele molhou sua cama. Na sequência do caso, a polícia britânica começou a receber treinamento especial sobre abusos relacionados com a bruxaria.

Porque a violência anti-bruxas está enraizada nos sistemas de crenças das sociedades tradicionais, seria fácil escorregar para a visão fatalista de que esta crise é uma repetição trágica de agressões antigas. Mas onde superstições locais explodem em violência ou migram através de uma ampla gama de configurações e sociedades, podemos e devemos agir.

Ramos ocidentais de congregações cristãs pentecostais e carismáticas devem trabalhar em estreita colaboração com os ministérios mais fervorosos de suas denominações, nas comunidades africanas e de imigrantes, para promover uma compreensão de como "exorcismos" podem espiralar em abuso mortal. Nenhuma congregação africana quer se sentir ditada pelo Ocidente, mas não é um lugar para troca e pressão cultural. Entidades eclesiásticas ocidentais podem especificamente decretar proibições contra exorcismos com fins lucrativos.

As leis devem ser promulgadas contra acusações a crianças por bruxaria em todos os países da África e do sudoeste do Pacífico, como o estado nigeriano já o fez. E países como as Ilhas Salomão, que ainda criminalizam a feitiçaria devem derrubar esses estatutos.

A indiferença da polícia aos crimes de caça às bruxas também devem ser abordadas, especialmente em sociedades onde os próprios policiais podem compartilhar de crenças tradicionais sobre "magia negra". Um relatório do governo britânico em 2012 sobre o combate à violência baseada na fé contra crianças fornece um guia valioso para instruir o polícia sobre sinais de abuso, pedindo para líderes religiosos a condenar a violência e proteger testemunhas vulneráveis.

Esforços legais devem ser emparelhados com o aumento da consciência social. Em um modelo promissor, a Oxfam International em relatório de 2010, observou que algumas paróquias católicas em Papua Nova Guiné têm ensinado aos fiéis sobre as causas naturais de mortes e doenças (gatilhos comuns para a paranoia anti-bruxas), fornecendo abrigo para as bruxas acusadas e negando os sacramentos para aqueles que acusam os outros de feitiçaria.

Também é crucial que as Nações Unidas e organizações internacionais de direitos humanos, comecem a elaborar estatísticas anuais sobre esses crimes. Estamos severamente prejudicados em compreender a escala desta crise, quando os nossos dados globais mais recentes, já têm cinco anos vencidos.

Mais importante, a violência relacionada com a feitiçaria, deve ser marcada como crime de ódio por parte dos tribunais internacionais e por todas as jurisdições onde existem leis anti-ódio. Isso é vital para ganhar maior reconhecimento dessa criminalidade e sua prevenção.

Em muitos lugares, a acusação de bruxaria tornou-se uma incitação à violência da multidão. É hora de colocar os fantasmas de Salem para descansar.


Mitch Horowitz é o autor de:
"Occult America" e "One Simple Idea: How Positive Thinking Reshaped Modern Life.”
(“América Oculta” e “Uma idéia simples: Como o Pensamento Positivo Reforma a Vida Moderna.")



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Mensagem por marcelo l. Qua Jul 16, 2014 9:00 am

A coisa vem piorando no mundo.
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Mensagem por Koppe Ter Jul 22, 2014 11:11 pm

Indiana suspeita de ser bruxa é espancada até a morte
AFP – 11 horas atrás

Os habitantes de uma zona rural do leste da Índia lincharam até a morte uma mulher a quem acusavam de praticar bruxaria, informou a polícia nesta terça-feira.

Quatorze pessoas atacaram a mulher no sábado em Bihar, um dos estados mais subdesenvolvidos da Índia.

Os habitantes da localidade se reuniram para resolver uma disputa de terras com a família da mulher quando, de repente, começara a acusá-la de atrair doenças e má sorte para o povoado com a prática de bruxaria.

A mulher sofreu as agressões e ainda chegou a ser levada para um hospital, onde morreu.

As mulheres da região costumam ser acusadas de bruxaria para resolver disputas em zonas rurais remotas de um país que continua sendo profundamente supersticioso.

Em alguns casos, as mulheres são despidas como castigo, queimadas ou arrastadas até serem mortas.

Em março deste ano, um casal foi morto por linchamento dos vizinhos também por supostamente praticar bruxaria em um povoado do distrito de Gaya, em Bihar. Três pessoas foram presas neste caso.


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