Pentágono pesquisa o controle social
4 participantes
Página 1 de 1
Pentágono pesquisa o controle social
Em paralelo à espionagem da NSA, militares norte-americanos estimulam e financiam investigações sobre lógica da mobilização social, e como detê-la
Por Nafeez Ahmed, no The Guardian | Tradução: Pedro Lucas Dulci
Um programa de pesquisa do Departamento de Defesa dos EUA – o Pentágono – está financiando universidades para mapear a dinâmica, riscos e pontos críticos de agitação civil em grande escala por todo o mundo, sob a supervisão de várias agências militares norte-americanas. O programa de milhões de dólares é projetado para desenvolver “estratégias relevantes de batalha” a curto e médio prazo para oficiais superiores e responsáveis pelas decisões de uma “comunidade política de defesa”, bem como para informar as políticas implementadas por “comandos de combatente”.
Lançada em 2008 – o ano da crise bancária global – a “Iniciativa de Pesquisa Minerva” do Pentágono faz parcerias com as universidades para “melhorar a compreensão básica do Departamento de Defesa a respeito das forças sociais, culturais, comportamentais e políticas que configuram regiões do mundo de importância estratégica para o EUA”.
Entre os projetos premiados para o período 2014-2017 encontra-se um estudo liderado pela Universidade de Cornell e gerido pelo Serviço de Investigação Científica da Força Aérea dos EUA, que tem por objetivo desenvolver um modelo empírico “da dinâmica de mobilização do movimento social e contágios”. O projeto vai determinar “a massa crítica (o ponto de inflexão)” de contágio social, estudando seus “rastros digitais” nos casos da “Revolução Egípcia de 2011, das eleições de Duma na Rússia em 2011, da crise nigeriana de subsídio aos combustíveis de 2012 e 2013 e dos protestos no Parque Gazi na Turquia”.
Postagens no Twitter e conversas serão examinadas “para identificar identificar indivíduos mobilizados por contágio social e quando eles começaram se movimentar”.
Outro projeto premiado este ano na Universidade de Washington “pretende descobrir as condições em que se originam os movimentos sociais que visam a mudança política e econômica em grande escala”, juntamente com as suas “características e consequências”. O projeto, gerido pelo Serviço de Pesquisas do Exército dos EUA, concentra-se em “movimentos em grande escala, envolvendo mais de 1.000 participantes em atividade permanente”, e irá abranger 58 países no total.
No ano passado, a Iniciativa Minerva do Pentágono financiou um projeto para determinar “quem não se torna um terrorista, e por quê?” que, no entanto, confunde ativistas pacíficos com os “partidários da violência política”, diferenciando-os de terroristas apenas na medida em que não embarcam na “militância armada” por si mesma. O projeto aventa estudar explicitamente os ativistas não violentos:
“Em cada contexto, encontramos muitas pessoas que compartilham o mesmo pano de fundo demográfico, familiar, cultural e/ou nível socioeconômico daqueles que decidiram se engajar em terrorismo, mas se abstiveram de assumir a militância armada, mesmo que fossem simpáticos aos objetivos finais de grupos armados. O campo de estudos sobre o terrorismo não tem, até recentemente, lançado olhar para este grupo de controle. Esse projeto não é sobre os terroristas, mas acerca dos apoiadores da violência política”.
Os 14 estudos de caso do projeto “envolvem extensas entrevistas com dez ou mais ativistas e militantes de partidos ou de ONGs que, apesar de simpáticos a causas radicais, escolheram um caminho de não-violência”.
Entrei em contato com a investigadora principal do projeto, Profª. Maria Rasmussen da Pós-graduação da Escola Naval dos EUA, perguntando por que os ativistas não violentos que trabalham para ONGs devem ser equiparados aos partidários da violência política – e quais “os partidos e ONGs” estavam sendo investigados –, mas não recebi resposta.
Da mesma forma, a equipe do programa Minerva se recusou a responder uma série de perguntas semelhantes que lhes fiz, inclusive indagando como “causas radicais” promovidas por ONGs pacíficas podem constituir uma potencial ameaça para a segurança nacional e do interesse do Pentágono.
Entre as minhas questões, eu perguntei:
O Departamento de Defesa dos EUA, vê os movimentos de protesto e ativismo social em diferentes partes do mundo como uma ameaça à segurança nacional dos EUA, e em caso afirmativo, por quê? Será que o Departamento de Defesa dos EUA considera movimentos sociais, com o objetivo de mudança política e econômica em grande escala, como uma questão de segurança nacional, em caso afirmativo, por que? Ativismo, protesto, “movimentos políticos” e, claro, as ONGs, são um elemento vital de uma sociedade civil saudável e democracia – então por que é que o Pentágono está financiando pesquisas para investigar essas questões?
O diretor do programa de Minerva, Dr. Erin Fitzgerald, disse: “Eu aprecio as suas preocupações e estou contente que você estendeu a mão para nos dar a oportunidade de esclarecer”, antes de prometer uma resposta mais detalhada. Em vez disso, recebi a seguinte declaração insossa da assessoria de imprensa do Pentágono:
O Departamento de Defesa leva a sério o seu papel na segurança dos Estados Unidos, seus cidadãos, aliados e parceiros dos EUA. Embora nem todos os desafios de segurança causem conflito, e nem todos os conflitos envolvam os militares dos EUA, o Minerva ajuda a financiar investigação de base das ciências sociais que ajude a ampliar a compreensão do Departamento de Defesa sobre o que causa instabilidade e insegurança em todo o mundo. Através de uma melhor compreensão destes conflitos e suas causas de antemão, o Departamento de Defesa pode se preparar melhor para o dinâmico ambiente de segurança do futuro.
Em 2013, o Minerva financiou um projeto da Universidade de Maryland, em colaboração com o Departamento de Energia do Laboratório Nacional do Noroeste Pacífico dos EUA, para avaliar o risco de distúrbios civis, devido às mudanças climáticas. Nos três anos do projeto, 1,9 milhões de dólares são empregados no desenvolvimento de modelos para prever o que poderia acontecer às sociedades sob uma gama de potenciais cenários de mudanças climáticas.
Desde o início, o programa Minerva foi projetado para oferecer até 75 milhões de dólares em cinco anos para pesquisa em ciências sociais e comportamentais. Só este ano, o Congresso dos EUA atribuiu um orçamento total de 17,8 milhões de dólares ao Minerva.
Uma comunicação por e-mails pessoais internos do Minerva, referenciado em uma dissertação de mestrado 2012, revela que o programa é voltado para a produção de resultados rápidos, que são diretamente aplicáveis às operações de campo. A dissertação foi parte de um projeto financiado pela Minerva sobre “o discurso muçulmano anti-radical radicais” da Universidade Estadual do Arizona.
O e-mail interno do Prof. Steve Corman, o investigador principal do projeto, descreve uma reunião organizada pelo Programa de Modelagem do Comportamento Humano e Social do Pentágono (HSCB, em inglês), em que altos funcionários do Pentágono disseram que sua prioridade era “desenvolver capacidades que se tornam rapidamente disponíveis ” na forma de “modelos e ferramentas que podem ser integrados com as operações”.
Embora o supervisor do Escritório de Pesquisa Naval, Dr. Harold Hawkins, tenha assegurado aos pesquisadores da universidade desde o início que o projeto era apenas “um esforço de pesquisa básica, por isso não deve se preocupar em fazer coisas aplicáveis”, a reunião de fato mostrou que Pentágono está à procura de “fomentar resultados” em “aplicações”, disse Corman no email. Ele aconselhou os seus investigadores a “pensar sobre a formatação dos resultados, relatórios, etc, para que eles [Departamento de Defesa] possam ver claramente a sua aplicação para as ferramentas que poderão ser utilizadas em campo”.
Muitos estudiosos independentes criticam o que veem como os esforços do governo dos EUA para militarizar as ciências sociais e colocá-las a serviço da guerra. Em maio de 2008, a Associação Americana de Antropologia (AAA) escreveu para o governo norte-americano notificando que o Pentágono não tem “o tipo de infra-estrutura para a avaliação antropológica [e de outras ciências sociais] de investigação” de uma forma que envolve a “revisão rigorosa, equilibrada e objetiva dos seus pares”, conclamando, assim, para esse tipo de pesquisa venha ser gerida por agências civis como a Fundação Nacional de Ciência (NSF).
No mês seguinte, o Departamento de Defesa assinou um memorando de entendimento (MoU) com a NSF para que esse coopere na gestão da Minerva. Em resposta, o AAA alertou que, apesar das propostas de pesquisa passar a ser agora avaliadas por painéis de revisão por mérito da NSF, “funcionários do Pentágono ainda teriam o poder de decisão para escolher quem fica nos painéis”:
…ainda existem preocupações, na disciplina, de que pesquisa que só serão financiadas quando apoiarem a agenda do Pentágono. Outros críticos do programa, incluindo a Rede de Interesses de Antropólogos, levantaram preocupações de que o programa iria desencorajar a pesquisa em outras áreas importantes, prejudicando o papel da universidade como um lugar para a discussão independente e crítica dos militares.
Segundo o professor David Price, um antropólogo cultural na Universidade de St Martin, em Washington DC e autor de Weaponizing Anthropology: Social Science in Service of the Militarized State [Antropologia Armada: Ciências Sociais a Serviço do Estado militarizado], “quando você olha para as partes específicas de muitos desses projetos, elas parecem normais, ciências sociais, análise textual, pesquisa histórica, e assim por diante. Mas quando você soma estas partes, todas eles compartilharam temas de legibilidade, com todas as distorções oriundas da simplificação excessiva.
O professor Price já havia exposto como o programa de Sistemas de Terreno Humano (HTS) do Pentágono – projetado para incorporar os cientistas sociais em operações militares de campo – rotineiramente conduz cenários de treinamento em regiões “dentro dos Estados Unidos”.
Citando uma crítica resumida do programa enviada para os diretores do HTS por um ex-empregado, Price informou que os cenários de treinamento HTS “adaptaram COIN [contra-insurgência] do Afeganistão e Iraque” para situações domésticas “nos EUA, onde a população local foi vista a partir da perspectiva militar, enquanto ameaça ao equilíbrio estabelecido de poder e a influência, bem como desafiando a lei e a ordem”.
Em um jogo de guerra, disse Price, estavam envolvidos ativistas ambientais protestando contra a poluição de uma usina a carvão perto de Missouri, alguns dos quais eram membros da conhecida ONG ambientalista Sierra Club. Os participantes foram incumbidos de “identificar aqueles que eram ‘solucionadores de problemas’ e aqueles que eram ‘causadores problema’, bem como o resto da população. Esta seria o alvo das operações de informação, voltadas a mover o centro de gravidade dos cidadãos em direção ao conjunto de pontos de vista e valores que era o ‘estágio final desejado’ da estratégia dos militares”.
Tais jogos de guerra estão de acordo com uma série de documentos de planejamento do Pentágono que sugerem que a vigilância em massa da Agência de Segurança Nacional (NSA) é parcialmente motivada para se preparar para o impacto desestabilizador da vinda choques ambientais, energéticos e econômicos.
James Petras, Professor de Sociologia na Universidade de Binghamton, em Nova York, concorda com as preocupações de Price. Os cientistas sociais financiados pela Minerva e vinculados à operações de contra-insurreição do Pentágono, estão envolvidos no “estudo das emoções alimentadas ou reprimidas por movimentos ideologicamente conduzidos”, disse ele, incluindo como “neutralizar movimentos de base”.
Minerva é um excelente exemplo da natureza profundamente tacanha e auto-destrutiva da ideologia militar. Pior ainda, a falta de vontade dos funcionários do Departamento de Defesa para responder às perguntas mais básicas é sintoma de um fato simples. Em sua missão inabalável de defender um sistema global cada vez mais impopular e servir os interesses de uma pequena minoria, as agências de segurança não têm escrúpulos em pintar o resto nós todos como potenciais terroristas.
Dr. Nafeez Ahmed é um jornalista de segurança internacional e acadêmico. Ele é o autor do A User’s Guide to the Crisis of Civilization: And How to Save It [Guia do Usuário para a Crise de Civilização: e como salvá-la], e o próximo thriller de ficção científica, Zero Point [Ponto Zero]. Siga-o no Facebook e no Twitter @ nafeezahmed.
Original: [Tens de ter uma conta e sessão iniciada para poderes visualizar este link]
De: [Tens de ter uma conta e sessão iniciada para poderes visualizar este link]
Por Nafeez Ahmed, no The Guardian | Tradução: Pedro Lucas Dulci
Um programa de pesquisa do Departamento de Defesa dos EUA – o Pentágono – está financiando universidades para mapear a dinâmica, riscos e pontos críticos de agitação civil em grande escala por todo o mundo, sob a supervisão de várias agências militares norte-americanas. O programa de milhões de dólares é projetado para desenvolver “estratégias relevantes de batalha” a curto e médio prazo para oficiais superiores e responsáveis pelas decisões de uma “comunidade política de defesa”, bem como para informar as políticas implementadas por “comandos de combatente”.
Lançada em 2008 – o ano da crise bancária global – a “Iniciativa de Pesquisa Minerva” do Pentágono faz parcerias com as universidades para “melhorar a compreensão básica do Departamento de Defesa a respeito das forças sociais, culturais, comportamentais e políticas que configuram regiões do mundo de importância estratégica para o EUA”.
Entre os projetos premiados para o período 2014-2017 encontra-se um estudo liderado pela Universidade de Cornell e gerido pelo Serviço de Investigação Científica da Força Aérea dos EUA, que tem por objetivo desenvolver um modelo empírico “da dinâmica de mobilização do movimento social e contágios”. O projeto vai determinar “a massa crítica (o ponto de inflexão)” de contágio social, estudando seus “rastros digitais” nos casos da “Revolução Egípcia de 2011, das eleições de Duma na Rússia em 2011, da crise nigeriana de subsídio aos combustíveis de 2012 e 2013 e dos protestos no Parque Gazi na Turquia”.
Postagens no Twitter e conversas serão examinadas “para identificar identificar indivíduos mobilizados por contágio social e quando eles começaram se movimentar”.
Outro projeto premiado este ano na Universidade de Washington “pretende descobrir as condições em que se originam os movimentos sociais que visam a mudança política e econômica em grande escala”, juntamente com as suas “características e consequências”. O projeto, gerido pelo Serviço de Pesquisas do Exército dos EUA, concentra-se em “movimentos em grande escala, envolvendo mais de 1.000 participantes em atividade permanente”, e irá abranger 58 países no total.
No ano passado, a Iniciativa Minerva do Pentágono financiou um projeto para determinar “quem não se torna um terrorista, e por quê?” que, no entanto, confunde ativistas pacíficos com os “partidários da violência política”, diferenciando-os de terroristas apenas na medida em que não embarcam na “militância armada” por si mesma. O projeto aventa estudar explicitamente os ativistas não violentos:
“Em cada contexto, encontramos muitas pessoas que compartilham o mesmo pano de fundo demográfico, familiar, cultural e/ou nível socioeconômico daqueles que decidiram se engajar em terrorismo, mas se abstiveram de assumir a militância armada, mesmo que fossem simpáticos aos objetivos finais de grupos armados. O campo de estudos sobre o terrorismo não tem, até recentemente, lançado olhar para este grupo de controle. Esse projeto não é sobre os terroristas, mas acerca dos apoiadores da violência política”.
Os 14 estudos de caso do projeto “envolvem extensas entrevistas com dez ou mais ativistas e militantes de partidos ou de ONGs que, apesar de simpáticos a causas radicais, escolheram um caminho de não-violência”.
Entrei em contato com a investigadora principal do projeto, Profª. Maria Rasmussen da Pós-graduação da Escola Naval dos EUA, perguntando por que os ativistas não violentos que trabalham para ONGs devem ser equiparados aos partidários da violência política – e quais “os partidos e ONGs” estavam sendo investigados –, mas não recebi resposta.
Da mesma forma, a equipe do programa Minerva se recusou a responder uma série de perguntas semelhantes que lhes fiz, inclusive indagando como “causas radicais” promovidas por ONGs pacíficas podem constituir uma potencial ameaça para a segurança nacional e do interesse do Pentágono.
Entre as minhas questões, eu perguntei:
O Departamento de Defesa dos EUA, vê os movimentos de protesto e ativismo social em diferentes partes do mundo como uma ameaça à segurança nacional dos EUA, e em caso afirmativo, por quê? Será que o Departamento de Defesa dos EUA considera movimentos sociais, com o objetivo de mudança política e econômica em grande escala, como uma questão de segurança nacional, em caso afirmativo, por que? Ativismo, protesto, “movimentos políticos” e, claro, as ONGs, são um elemento vital de uma sociedade civil saudável e democracia – então por que é que o Pentágono está financiando pesquisas para investigar essas questões?
O diretor do programa de Minerva, Dr. Erin Fitzgerald, disse: “Eu aprecio as suas preocupações e estou contente que você estendeu a mão para nos dar a oportunidade de esclarecer”, antes de prometer uma resposta mais detalhada. Em vez disso, recebi a seguinte declaração insossa da assessoria de imprensa do Pentágono:
O Departamento de Defesa leva a sério o seu papel na segurança dos Estados Unidos, seus cidadãos, aliados e parceiros dos EUA. Embora nem todos os desafios de segurança causem conflito, e nem todos os conflitos envolvam os militares dos EUA, o Minerva ajuda a financiar investigação de base das ciências sociais que ajude a ampliar a compreensão do Departamento de Defesa sobre o que causa instabilidade e insegurança em todo o mundo. Através de uma melhor compreensão destes conflitos e suas causas de antemão, o Departamento de Defesa pode se preparar melhor para o dinâmico ambiente de segurança do futuro.
Em 2013, o Minerva financiou um projeto da Universidade de Maryland, em colaboração com o Departamento de Energia do Laboratório Nacional do Noroeste Pacífico dos EUA, para avaliar o risco de distúrbios civis, devido às mudanças climáticas. Nos três anos do projeto, 1,9 milhões de dólares são empregados no desenvolvimento de modelos para prever o que poderia acontecer às sociedades sob uma gama de potenciais cenários de mudanças climáticas.
Desde o início, o programa Minerva foi projetado para oferecer até 75 milhões de dólares em cinco anos para pesquisa em ciências sociais e comportamentais. Só este ano, o Congresso dos EUA atribuiu um orçamento total de 17,8 milhões de dólares ao Minerva.
Uma comunicação por e-mails pessoais internos do Minerva, referenciado em uma dissertação de mestrado 2012, revela que o programa é voltado para a produção de resultados rápidos, que são diretamente aplicáveis às operações de campo. A dissertação foi parte de um projeto financiado pela Minerva sobre “o discurso muçulmano anti-radical radicais” da Universidade Estadual do Arizona.
O e-mail interno do Prof. Steve Corman, o investigador principal do projeto, descreve uma reunião organizada pelo Programa de Modelagem do Comportamento Humano e Social do Pentágono (HSCB, em inglês), em que altos funcionários do Pentágono disseram que sua prioridade era “desenvolver capacidades que se tornam rapidamente disponíveis ” na forma de “modelos e ferramentas que podem ser integrados com as operações”.
Embora o supervisor do Escritório de Pesquisa Naval, Dr. Harold Hawkins, tenha assegurado aos pesquisadores da universidade desde o início que o projeto era apenas “um esforço de pesquisa básica, por isso não deve se preocupar em fazer coisas aplicáveis”, a reunião de fato mostrou que Pentágono está à procura de “fomentar resultados” em “aplicações”, disse Corman no email. Ele aconselhou os seus investigadores a “pensar sobre a formatação dos resultados, relatórios, etc, para que eles [Departamento de Defesa] possam ver claramente a sua aplicação para as ferramentas que poderão ser utilizadas em campo”.
Muitos estudiosos independentes criticam o que veem como os esforços do governo dos EUA para militarizar as ciências sociais e colocá-las a serviço da guerra. Em maio de 2008, a Associação Americana de Antropologia (AAA) escreveu para o governo norte-americano notificando que o Pentágono não tem “o tipo de infra-estrutura para a avaliação antropológica [e de outras ciências sociais] de investigação” de uma forma que envolve a “revisão rigorosa, equilibrada e objetiva dos seus pares”, conclamando, assim, para esse tipo de pesquisa venha ser gerida por agências civis como a Fundação Nacional de Ciência (NSF).
No mês seguinte, o Departamento de Defesa assinou um memorando de entendimento (MoU) com a NSF para que esse coopere na gestão da Minerva. Em resposta, o AAA alertou que, apesar das propostas de pesquisa passar a ser agora avaliadas por painéis de revisão por mérito da NSF, “funcionários do Pentágono ainda teriam o poder de decisão para escolher quem fica nos painéis”:
…ainda existem preocupações, na disciplina, de que pesquisa que só serão financiadas quando apoiarem a agenda do Pentágono. Outros críticos do programa, incluindo a Rede de Interesses de Antropólogos, levantaram preocupações de que o programa iria desencorajar a pesquisa em outras áreas importantes, prejudicando o papel da universidade como um lugar para a discussão independente e crítica dos militares.
Segundo o professor David Price, um antropólogo cultural na Universidade de St Martin, em Washington DC e autor de Weaponizing Anthropology: Social Science in Service of the Militarized State [Antropologia Armada: Ciências Sociais a Serviço do Estado militarizado], “quando você olha para as partes específicas de muitos desses projetos, elas parecem normais, ciências sociais, análise textual, pesquisa histórica, e assim por diante. Mas quando você soma estas partes, todas eles compartilharam temas de legibilidade, com todas as distorções oriundas da simplificação excessiva.
O professor Price já havia exposto como o programa de Sistemas de Terreno Humano (HTS) do Pentágono – projetado para incorporar os cientistas sociais em operações militares de campo – rotineiramente conduz cenários de treinamento em regiões “dentro dos Estados Unidos”.
Citando uma crítica resumida do programa enviada para os diretores do HTS por um ex-empregado, Price informou que os cenários de treinamento HTS “adaptaram COIN [contra-insurgência] do Afeganistão e Iraque” para situações domésticas “nos EUA, onde a população local foi vista a partir da perspectiva militar, enquanto ameaça ao equilíbrio estabelecido de poder e a influência, bem como desafiando a lei e a ordem”.
Em um jogo de guerra, disse Price, estavam envolvidos ativistas ambientais protestando contra a poluição de uma usina a carvão perto de Missouri, alguns dos quais eram membros da conhecida ONG ambientalista Sierra Club. Os participantes foram incumbidos de “identificar aqueles que eram ‘solucionadores de problemas’ e aqueles que eram ‘causadores problema’, bem como o resto da população. Esta seria o alvo das operações de informação, voltadas a mover o centro de gravidade dos cidadãos em direção ao conjunto de pontos de vista e valores que era o ‘estágio final desejado’ da estratégia dos militares”.
Tais jogos de guerra estão de acordo com uma série de documentos de planejamento do Pentágono que sugerem que a vigilância em massa da Agência de Segurança Nacional (NSA) é parcialmente motivada para se preparar para o impacto desestabilizador da vinda choques ambientais, energéticos e econômicos.
James Petras, Professor de Sociologia na Universidade de Binghamton, em Nova York, concorda com as preocupações de Price. Os cientistas sociais financiados pela Minerva e vinculados à operações de contra-insurreição do Pentágono, estão envolvidos no “estudo das emoções alimentadas ou reprimidas por movimentos ideologicamente conduzidos”, disse ele, incluindo como “neutralizar movimentos de base”.
Minerva é um excelente exemplo da natureza profundamente tacanha e auto-destrutiva da ideologia militar. Pior ainda, a falta de vontade dos funcionários do Departamento de Defesa para responder às perguntas mais básicas é sintoma de um fato simples. Em sua missão inabalável de defender um sistema global cada vez mais impopular e servir os interesses de uma pequena minoria, as agências de segurança não têm escrúpulos em pintar o resto nós todos como potenciais terroristas.
Dr. Nafeez Ahmed é um jornalista de segurança internacional e acadêmico. Ele é o autor do A User’s Guide to the Crisis of Civilization: And How to Save It [Guia do Usuário para a Crise de Civilização: e como salvá-la], e o próximo thriller de ficção científica, Zero Point [Ponto Zero]. Siga-o no Facebook e no Twitter @ nafeezahmed.
Original: [Tens de ter uma conta e sessão iniciada para poderes visualizar este link]
De: [Tens de ter uma conta e sessão iniciada para poderes visualizar este link]
ediv_diVad- Farrista além das fronteiras da sanidade
- Mensagens : 20441
Data de inscrição : 10/06/2010
Re: Pentágono pesquisa o controle social
Se procurar alguns dos links que posto lá no pdf sobre estabilidade política muitos trabalharam para pentagono, Cia ou Banco Mundial, entre eles o Jay Ulfelder, por sinal a utilização em larga escala de modelos estatísticos vieram de pesquisas relacionadas aos referidos.
Talvez uma das mais melhores a Barbara Walter tem um artigo para world bank Conflict Relapse and the Sustainability of Post-Conflict Peace que tem muito mais profundidade
[Tens de ter uma conta e sessão iniciada para poderes visualizar este link]
Se eles ficassem nas Universidades provavelmente teriam no modelo as estatísticas serem ilustração de ideias deles, e ter como "diex caché" alguma teoria da conspiração, e como a guerra civil ser algo estranho, anormal, fora do estado da natureza que estamos acostumados.
Talvez uma das mais melhores a Barbara Walter tem um artigo para world bank Conflict Relapse and the Sustainability of Post-Conflict Peace que tem muito mais profundidade
[Tens de ter uma conta e sessão iniciada para poderes visualizar este link]
Se eles ficassem nas Universidades provavelmente teriam no modelo as estatísticas serem ilustração de ideias deles, e ter como "diex caché" alguma teoria da conspiração, e como a guerra civil ser algo estranho, anormal, fora do estado da natureza que estamos acostumados.
marcelo l.- Farrista "We are the Champions"
- Mensagens : 6877
Data de inscrição : 15/06/2010
Re: Pentágono pesquisa o controle social
Cacildes.
Se esse tipo de coisa não for usada por pessoas muito éticas, preparadas e desapegadas, podem acontecer merdas gigantescas.
Fora que é um pequeno peasso para que uma coisa assim esteja a serviço do que é mais antidemocrático possível.
Se esse tipo de coisa não for usada por pessoas muito éticas, preparadas e desapegadas, podem acontecer merdas gigantescas.
Fora que é um pequeno peasso para que uma coisa assim esteja a serviço do que é mais antidemocrático possível.
Quero Café- Farrista "We are the Champions"
- Mensagens : 7858
Data de inscrição : 12/06/2010
Localização : Às vezes em Marte, às vezes no espaço sideral
Re: Pentágono pesquisa o controle social
Se você quer ser um líder autoritário, Bruce Bueno de Mesquita e Alastair Smith têm a receita: confie apenas num círculo reduzido de apoiadores essenciais, alimente-os apenas com os recursos econômicos necessários, tenha uma boa reserva de pessoas que possam ocupar o lugar da base aliada e forneça ao resto da população pouco acima do que for preciso para que não se rebelem. Mas “Dictator´s Handbook – why bad behavior is almost always good politics” vai bem além do título irônico. É um brilhante estudo sobre a natureza das lutas políticas, informado pela teoria dos jogos e por aplicações diversas e interessantes que incluem regimes democráticos, empresas privadas e organizações como FIFA e Comitê Olímpico Internacional.
Mesquita é conhecido por seu controverso modelo matemático que pretende explicar e prever resultados de inúmeros conflitos, mas este livro é menos polêmico. O que os autores fazem é construir uma teoria que procura explicar como líderes ascendem ao poder, mantêm ou perdem o controle. Ela é usada sobretudo para ditaduras, mas também explica muitos desdobramentos em democracia. A idéia-mestra é que líderes se sustentam em coalizões formadas por três grupos de pessoas ou instituições: essenciais, influentes e intercambiáveis. O primeiro é o núcleo duro do poder, os segundos são peças importantes e os terceiros, as camadas mais amplas envolvidas em menor grau na escolha de um dirigente – eleitores numa democracia, por exemplo. Para sobreviver, líderes têm que manter razoavelmente contente os essenciais e impedir a formação de uma coalizão rival com elementos rebeldes dos demais grupos.
A regra básica é dar aos essenciais recursos econômicos e poder político, mas numa escala em que eles fiquem sempre dependentes do líder e não possam formar uma base autônoma de onde desafiar o regime. Dissidentes podem e devem ser reprimidos com violência – como dizem os autores, ser ditador não é uma tarefa para pessoas de bom coração. Naturalmente, é contraproducente matar de fome seus súditos, mas Mesquita e Smith argumentam (a meu ver com razão) que autocratas bem-sucedidos raramente promovem desenvolvimento econômico, e que se mantém décadas no poder por uma mistura de ameaças, barganhas clientelistas e constante vigilância. De modo semelhante, os grupos essenciais a seu apoio funcionam melhor quando estão ligados ao ditador por vínculos pessoais fortes, como família, religião, origem étnica etc.
O livro é ilustrado com deliciosos estudos de caso que vão da Roma Antiga à Primavera Árabe, e uma ou outra discussão de política contemporânea dos EUA. Não há referências ao Brasil, mas o leitor brasileiro encontrará muitos pontos de identificação, sobretudo no debate a respeito da corrupção no esporte internacional. Em diversos casos há uma certa leitura simplificada das questões em jogo, mas os elementos básicos da teoria são expostos de maneira muito clara e interessante. Li o manual pensando bastante a respeito da Síria – Assad pai e filho são bons exemplos de autocratas que seguem com rigor as regras de sobrevivência no poder.
Contudo, os autores não escreveram o livro para ditadores, embora seja uma visão dura e algo cínica da política. Eles afirmam que o melhor modo de democratizar um país – ou uma empresa, em interessante análise da governança corporativa – é ampliar a base de essenciais, pois essa é a melhor maneira de incentivar o fornecimento de bens públicos à população. Há também defesas apaixonadas dos benefícios trazidos pelas liberdades civis e políticas ao desenvolvimento dos países.
Para o público mais interessado em relações internacionais do que em política comparada, o livro tem dois capítulos excelentes que discutem ajuda global e as teorias da paz democrática. Mesquita e Smith examinam como a cooperação internacional funciona para manter no poder regimes autoritários e corruptos, mas importantes para a política externa das grandes potências, e por que ditadores vão à guerra sem se importar tanto em ganhar ou perder, já que podem sobreviver a diversas derrotas, pela via da repressão e da concessão de benefícios a seus essenciais. Enfim, excelente livro, que certamente renderá muitos debates.
fonte: todos os fogos o Fogo
Na verdade já existe um modelo para autocratas, o problema do modelo bem sucedido, é que você leva-o para arena internacional. O país terá um discurso anti-ocidental até para mascarar seu falso "fracasso econômico", já que é isso que você procura.
Mesquita é conhecido por seu controverso modelo matemático que pretende explicar e prever resultados de inúmeros conflitos, mas este livro é menos polêmico. O que os autores fazem é construir uma teoria que procura explicar como líderes ascendem ao poder, mantêm ou perdem o controle. Ela é usada sobretudo para ditaduras, mas também explica muitos desdobramentos em democracia. A idéia-mestra é que líderes se sustentam em coalizões formadas por três grupos de pessoas ou instituições: essenciais, influentes e intercambiáveis. O primeiro é o núcleo duro do poder, os segundos são peças importantes e os terceiros, as camadas mais amplas envolvidas em menor grau na escolha de um dirigente – eleitores numa democracia, por exemplo. Para sobreviver, líderes têm que manter razoavelmente contente os essenciais e impedir a formação de uma coalizão rival com elementos rebeldes dos demais grupos.
A regra básica é dar aos essenciais recursos econômicos e poder político, mas numa escala em que eles fiquem sempre dependentes do líder e não possam formar uma base autônoma de onde desafiar o regime. Dissidentes podem e devem ser reprimidos com violência – como dizem os autores, ser ditador não é uma tarefa para pessoas de bom coração. Naturalmente, é contraproducente matar de fome seus súditos, mas Mesquita e Smith argumentam (a meu ver com razão) que autocratas bem-sucedidos raramente promovem desenvolvimento econômico, e que se mantém décadas no poder por uma mistura de ameaças, barganhas clientelistas e constante vigilância. De modo semelhante, os grupos essenciais a seu apoio funcionam melhor quando estão ligados ao ditador por vínculos pessoais fortes, como família, religião, origem étnica etc.
O livro é ilustrado com deliciosos estudos de caso que vão da Roma Antiga à Primavera Árabe, e uma ou outra discussão de política contemporânea dos EUA. Não há referências ao Brasil, mas o leitor brasileiro encontrará muitos pontos de identificação, sobretudo no debate a respeito da corrupção no esporte internacional. Em diversos casos há uma certa leitura simplificada das questões em jogo, mas os elementos básicos da teoria são expostos de maneira muito clara e interessante. Li o manual pensando bastante a respeito da Síria – Assad pai e filho são bons exemplos de autocratas que seguem com rigor as regras de sobrevivência no poder.
Contudo, os autores não escreveram o livro para ditadores, embora seja uma visão dura e algo cínica da política. Eles afirmam que o melhor modo de democratizar um país – ou uma empresa, em interessante análise da governança corporativa – é ampliar a base de essenciais, pois essa é a melhor maneira de incentivar o fornecimento de bens públicos à população. Há também defesas apaixonadas dos benefícios trazidos pelas liberdades civis e políticas ao desenvolvimento dos países.
Para o público mais interessado em relações internacionais do que em política comparada, o livro tem dois capítulos excelentes que discutem ajuda global e as teorias da paz democrática. Mesquita e Smith examinam como a cooperação internacional funciona para manter no poder regimes autoritários e corruptos, mas importantes para a política externa das grandes potências, e por que ditadores vão à guerra sem se importar tanto em ganhar ou perder, já que podem sobreviver a diversas derrotas, pela via da repressão e da concessão de benefícios a seus essenciais. Enfim, excelente livro, que certamente renderá muitos debates.
fonte: todos os fogos o Fogo
Na verdade já existe um modelo para autocratas, o problema do modelo bem sucedido, é que você leva-o para arena internacional. O país terá um discurso anti-ocidental até para mascarar seu falso "fracasso econômico", já que é isso que você procura.
marcelo l.- Farrista "We are the Champions"
- Mensagens : 6877
Data de inscrição : 15/06/2010
Re: Pentágono pesquisa o controle social
nenhuma surpresa acho que todos os governos fazem isso,inclusive o nosso logico que com suas restrições de recursos
_________________
[Tens de ter uma conta e sessão iniciada para poderes visualizar este link]
[Tens de ter uma conta e sessão iniciada para poderes visualizar esta imagem]
"Seu verdadeiro lar está dentro do seu coração e continua com você onde quer que você vá; mas um lugar legal e aconchegante é um motivo maravilhoso para voltar para casa!"
-J.R.R.Tolkien
Página 1 de 1
Permissões neste sub-fórum
Não podes responder a tópicos