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Dia a dia dos super-executivos presos...

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Mensagem por marcelo l. Qui Nov 20, 2014 3:12 pm

Os milionários executivos acusados de organização criminosa, corrupção, fraude na Lei de Licitações e lavagem de dinheiro no caso Petrobras lavam sua roupa sob o sol e têm a permissão de caminhar pelo recinto penitenciário até o começo da noite. As celas são humildes. São apenas seis: precisam dividir, e as duchas são públicas. Não podem receber alimentos de fora, mas almoçam e jantam dignamente. Alguns têm direito a uma ligação telefônica diária. As celas estão menos saturadas desde a noite de terça-feira, quando 11 dos 23 detidos foram liberados, com a proibição, no entanto, de sair do país.

Saíram da prisão em silêncio, alguns deles escondendo o rosto, em companhia de seus advogados. O restante teve a prisão preventiva ampliada por um prazo de um mês, o que irritou alguns advogados. Entre eles, Celso Vilardi, advogado de João Auler e Dalton Avancini, máximos responsáveis da construtora Camargo Corrêa: “Meus clientes estão perturbados com o fato de que quatro dias depois de ser ditada a prisão temporária, sem nenhum elemento novo, a prisão preventiva tenha sido ampliada e sejam comparados ao grau de periculosidade dos outros presos”.

Entre os presos havia presidentes e ex-presidentes das maiores construtoras do Brasil, oficialmente acusados de terem organizado junto à petroleira estatal um esquema de subornos, corrupção e lavagem de dinheiro que, entre 2004 e 2012, pode ter desviado bilhões de dólares e financiou irregularmente durante anos os principais partidos políticos (em maior quantidade o governante PT, mas também o PMDB e o PP).

Um dos primeiros a ser tirado de sua residência, no Rio de Janeiro, foi Renato Duque, ex-diretor de Serviços da Petrobras. Seu destino já estava traçado desde o dia em que foram descobertas suas contas bancárias na Suíça. Ao longo do dia foram caindo nomes aparentemente intocáveis: diretores da OAS, Camargo Corrêa, Mendes Júnior, Queiroz Galvão, UTC, Engevix, Iesa e Galvão Engenharia, responsáveis por quase todas as grandes obras do país nos últimos anos. De todas as grandes empresas de construção brasileiras, só duas (Odebrecht e Andrade Gutierrez) se livraram, até o momento, de ter um dirigente na prisão. Suas sedes, no entanto, também sofreram buscas na sexta-feira.

Outro dos detidos, Ricardo Pessoa, presidente do grupo UTC/Constran, era, segundo as revelações da operação Lava Jato, o 'chefe do clube', o coordenador do cartel formado por 13 empresas construtoras. Esses presidentes e diretores-gerais dividiam as obras, calculavam preços, superfaturamentos e subornos, realizavam reuniões periódicas no que terminou sendo uma reinterpretação muito particular da política “Compre Nacional”, que, estimulada pela hoje presidente Dilma Rousseff quando era ministra de Minas e Energia, tinha o objetivo de desenvolver a indústria naval brasileira tendo como base a imposição de uma porcentagem de mão de obra, recursos e maquinário local nos projetos da petroleira.

O que deveria ser um fator de estímulo ao desenvolvimento nacional abriu brecha para negócios escusos. Os pagamentos ilícitos eram feitos em dinheiro ou através de transferências maquiadas com a etiqueta de “serviços de consultoria”, em contas brasileiras ou em paraísos fiscais. No seleto clube havia inclusive um subgrupo de eleitos “VIP”, formado pelas empresas ‘gigantes’, Camargo Corrêa, UTC, OAS, Odebrecht e Andrade Gutierrez, que algumas vezes se reuniam separadamente.

Na última sexta-feira, dia 14, esses Vips só tiveram tempo de encher uma maleta pequena com mudas de roupas, livros e uma necessaire. Os rumores sobre possíveis detenções de executivos estavam crescendo, mas só alguns dos suspeitos se anteciparam e ligaram para a Justiça com o objetivo de chegar a um acordo e evitar a prisão. Estupefatos, os brasileiros ficaram sabendo por toda a imprensa que 300 agentes da Polícia Federal tinham detido, logo na primeira hora, em 6 estados, 23 dos profissionais mais ricos e poderosos do país. Depois, tinham sido colocados em vários aviões e enviados a Curitiba, centro nevrálgico da já famosa Operação Lava Jato contra a corrupção que envolve a Petrobras, atendendo à sétima etapa da investigação, chamada de “Dia do Juízo Final”.

Nessa noite, e nas três seguintes, dividiram celas em uma delegacia repentinamente saturada e tiveram até que jogar alguns colchões no chão, já que em uma das dependências continua completamente isolado o doleiro “arrependido” Alberto Youssef, cujo testemunho na Justiça, junto com o de um ex-diretor da Petrobras, Paulo Roberto Costa, e um executivo da empresa Toyo Setal Júlio Camargo, levou a algumas das detenções e mudaram para sempre o rumo do maior escândalo de corrupção da história brasileira.

Tamanhos são os valores supostamente desviados no esquema descoberto, tão volumoso é o processo judicial, e tão inesperadas são as revelações dos últimos delatores que ninguém parece estar muito certo de nada nos escritórios da Superintendência da Polícia Federal em Curitiba, em cuja carceragem estão os acusados. Os agentes cortaram a comunicação com os jornalistas até que sejam concluídos os depoimentos dos detidos. A entrada do local, com várias câmeras de televisão localizadas na porta, é um ninho de fofocas. Os rumores sobre novas delações entre os detidos são constantes, ameaçando quebrar definitivamente o futuro de alguns acusados e a tranquilidade de muitas pessoas cujos nomes ainda não apareceram diretamente ligados à investigação (políticos, empresários e intermediários).

“É impossível saber onde isso vai terminar”, reconhece em particular um dos advogados presentes, que acaba de assessorar seu clientes durante meia hora antes de um depoimento ao juiz. Até o momento, o juiz Sergio Moro, que comanda a investigação, ordenou a quebra do sigilo bancário dos presos e o Senado aprovou fazer o mesmo com um homem cujo nome tem aparecido com frequência na imprensa: João Vaccari, tesoureiro nacional do PT, acusado de ser um “operador do esquema” por Costa, que afirmou à Justiça que 3% dos contratos era destinado integralmente aos cofres do PT.

Não menos decisiva foi a delação premiada, no mês de outubro, de Julio Camargo, da Toyo Setal: não só rompeu a estratégia de negação ferrenha das acusações por parte das empresas corruptoras, como também eliminou qualquer dúvida sobre a detenção de Renato Duque e induziu o arrependimento de outros acusados relevantes: Augusto Ribeiro de Mendonça, também executivo da Toyo Setal e presidente da Associação Brasileira de Empresas de Construção Naval e Offshore (Abenav); e o ex-gerente de Engenharia da Petrobras Pedro Barusco, que se antecipou à ação do dia 14 e propôs proativamente à Polícia um acordo de delação premiada similar aos de Costa e Camargo, mas com muito mais dinheiro para devolver. Além de fornecer informação relevante, entregaria 100 milhões de dólares em troca de uma eventual redução de pena e direito à prisão domiciliar. O valor é o maior na história do Brasil a ser devolvido por um delator arrependido e equivale aproximadamente à quantidade gasta pela presidente Dilma Rousseff ou por seu adversário Aécio Neves na recente campanha eleitoral. Até o momento, cinco delatores premiados devolveram 423 milhões de reais aos cofres públicos.

Enquanto isso, a Petrobras cai na Bolsa (com um raro respiro nesta quarta-feira, de alta de 2,65%) e adia a publicação de seus resultados trimestrais em meio a uma assustadora crise de imagem, as construtoras interrogadas buscam fechar acordos com as autoridades para que as obras em andamento não sejam paralisadas pela investigação, e a oposição acumula munição para atacar o segundo mandato de Dilma Rousseff. As 23 prisões decretadas na ação de sexta-feira talvez sejam consideradas no futuro um ponto de virada na evolução institucional do país. Nesse sentido se manifestou o procurador Carlos Fernando dos Santos Lima na tarde da própria sexta: “Hoje é um dia republicano. Todos somos iguais, e aqueles que cometem um crime devem ser punidos da mesma forma”.

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