Watchmen: O Deus da Mente

WATCHMEN: O DEUS DA MENTE

"Meu nome é Ozymandias, rei dos reis:
Contemplem minhas obras, ó poderosos, e desesperai-vos!"

[O TEXTO A SEGUIR CONTÉM SPOILERS]

O capítulo final de Watchmen abre com uma cena chocante de puro horror: uma criatura alienígena, gigantesca e monstruosa, com o cérebro exposto, um único olho, aspecto similar a uma vulva e repleta de tentáculos se materializa no centro da cidade de Nova York e explode, matando metade da cidade com uma onda de choque psíquico, causando pesadelos em milhares de habitantes e trazendo o profundo temor de uma invasão alienígena à Terra.

Essa é a solução arquitetada por Adrian Veidt, o homem mais inteligente do mundo. Inspirado pela ficção de terror enraizada na cultura popular, ele elabora um plano ao longo de anos, desenvolve uma tecnologia e leva o terror às pessoas para impedir que a humanidade se autodestrua, forçando todos à paz.

A solução de Ozymandias, análoga ao desfecho do Nó Górdio de Alexandre, o Grande, ocorre precisamente na encruzilhada de ruas, no ponto X de NY, em que os dramas e conflitos pessoais que pontilharam diversas subtramas de personagens secundários ao longo Watchmen são encerrados. É onde morrem os detetives que investigavam a morte do Comediante, o psiquiatra de Rorschach e sua mulher, o casal de lésbicas, o jornaleiro e o rapaz que lia quadrinhos. A mesma encruzilhada onde se encontra o Instituto de Estudos Extraespaciais, a lanchonete Gunga Diner, a banca de jornais e o cinema Utopia...

O trágico clímax de Watchmen, resumido na imagem de um monstro no centro de uma cidade devastada, é repleto de dados cifrados que remetem ao Smiley manchado de sangue, ao Cargueiro Negro, à noção de guerra, às mensagens subliminares que Veidt transmitia em suas publicidades e à natureza da criatura.

Mas desde o princípio de Watchmen surgem pistas de que a obra é sobre o poder de alterar o pensamento das pessoas e sobre os meios de se realizar isso. Ao longo de toda a graphic novel vemos publicidades de "mmeltdowns!", os jornais, propagandas eleitorais, cartazes com anúncios, televisões, um publicitário atuando como relações públicas dos Minutemen, propagandas de perfumes, cartazes de filmes e graphiti de protestos pela cidade.

A principal mídia abordada em Watchmen são as Histórias em Quadrinhos, na forma do gibi "Os Contos do Cargueiro Negro". Através dessa metalinguagem, Alan Moore promove uma reflexão sobre questões políticas e traça paralelos com Rorschach e Ozymandias.

Também é possível descobrir que o escritor do "Cargueiro Negro", Max Shea, desaparece misteriosamente segundo uma notícia do New Frontiersman, nos apêndices de Watchmen. Shea é um escritor de Quadrinhos que admirava Brecht e possuia um ego enorme, havia brigado com desenhistas, rompido com a DC Comics e passado a escrever obras pornográficas, livros e roteiros para filmes (uma autoprofecia de Moore). Junto com Shea, a pintora surrealista Hira Manish e outras personalidades, incluindo arquitetos, cientistas e geneticistas também se encontram sumidos.

A certo ponto da história é revelado que todas essas pessoas trabalhavam em um projeto "cinematográfico" secreto numa ilha no Pacífico. No entanto, na festa de encerramento todos morrem quando o navio cargueiro em que comemoravam é explodido.

Apenas no penúltimo capítulo é revelado que todos, sem saber, trabalhavam para Veidt e conceberam um “monstro alienígena”. Veidt explica que o hoax do alienígena com a aparência de uma vulva tentacular é parte de seu plano para dar luz a uma nova era e assegurar a paz mundial, e que havia teleportado a criatura para o centro de NY há 35 minutos.

Alguns anos após escrever Watchmen, Alan Moore revelou que passaria a se dedicar à Magia e declarou: "acredito que Magia é Arte e Arte é a ciência de manipular símbolos, palavras e imagens com o propósito de modificar a consciência". Mas em Watchmen, Veidt já havia realizado um ato de Magia: manipulando símbolos, fez todos acreditarem que a Terra estava sob risco de um ataque alienígena, modificando assim a consciência de um planeta inteiro. A artista indiana Manish, que em hindu significa "o Deus da Mente", juntamente com o quadrinista Max Shea e toda uma equipe foram fundamentais para a concepção do “monstro alienígena” e o grande ato mágico de Veidt.

Os novos tempos se tornariam ideais para Veidt lançar o perfume Millenium. Apesar de tudo, o "Cargueiro Negro", uma simples História em Quadrinhos de um escritor morto, continuaria a assombrar Veidt em seus sonhos...

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