Sobre os objetivos do dumping do preço do petróleo
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Sobre os objetivos do dumping do preço do petróleo
A Arábia Saudita está destruindo o mercado de petróleo ao vender 11,8 milhões de barris (dois milhões a mais que sua cota) a um preço de 50-60 dólares o barril (d/B), ou seja, até 40 dólares menos do que alguns meses atrás. Se a baixa vai ser temporária, só Washington poderá saber, além de Riad, já que a fórmula oferta demanda não explica a situação: a elevada tensão e as guerras que estão esgotando o Oriente Próximo, junto das flutuações na oferta do Iraque, Líbia, Irã, Nigéria e Síria deveriam ter empurrado os preços para cima.
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O conjunto das explicações convencionais apontam para a necessidade de a Arábia Saudita conseguir grandes quantidades de dinheiro para realizar seus mega projetos de construção de infraestrutura; recompensar a redução de suas exportações para os Estados Unidos, país que aumentou sua própria produção; a desaceleração na China e o estancamento na zona do Euro; o fracasso da Abenomics, o projeto de reformas econômicas no Japão, lançadas pelo premiê Shi ao Abe; a queda da tensão entre Rússia e Ucrânia e inclusive a diminuição do avanço do Estado Islâmico no Iraque.
Parece que desta vez uma queda no preço do petróleo não impulsionará o crescimento econômico de seus compradores. Por sua vez, os analistas "não convencionais", divididos em dois principais apontam o seguinte:
(A) Um complô arquitetado pelos Estados Unidos e pela Arábia Saudita para afundar as economias da Rússia, principal produtor de petróleo no mundo, e do Irã. Desse modo, também castiga Moscou pela Ucrânia e Crimeia e pelo apoio a Bashar al Assad, forçando o Kremlin a reduzir seus gastos militares. No caso do Irã, serve para tirar vantagem de Teerã nas negociações nucleares em curso e tirar sua força na região. Lembra 1985, quando os sauditas quintuplicaram sua produção de 2 a 10 milhões de barris por dia e os vendeu a 10 dólares em vez dos 32, que era seu preço, obrigando a URSS a oferecer seu barril por 6 dólares, afundando a economia planificada.
(B) Que se trata de outro caso de dumping lançado pelos sauditas: fixar preços predatórios com a finalidade de atingir a Rússia e o Irã, mas também os EUA por sua "revolução do xisto". Assim, pretende conseguir contratos interessantes na Ásia e sabotar a petição das companhias norte-americanas ao Congresso para levantar a proibição sobre as exportações de petróleo.
O cenário, porém, é mais complexo: em um cartel como a Organização dos Países Exportadores de Petróleo (OPEP), um aumento da produção não tem por que acarretar uma queda nos preços.
O Irã, apesar de ser uma das principais reservas mundiais de petróleo, envia somente ao mercado 800 mil barris (comparados aos 4 milhões de 1977) e a política dos sauditas não pode lhe prejudicar mais do que as sanções da ONU, dos EUA e da União Europeia fazem.
Se Riad quisesse prejudicar os EUA, teria desvinculado o petróleo do dólar. Em vez disso, reduziu os preços para seu aliado estratégico, sendo consciente de seu status de ser “Estado cliente” e que sua existência e segurança continuam dependendo da proteção militar do Tio Sam, que controla os sauditas, entre outros mecanismos, mediante a venda de armas.
Que um preço abaixo de 75 dólares não é rentável para os EUA pelo alto custo da produção de xisto betaminoso. Seria dar como um tiro no pé.
Objetivos: desmantelar a OPEP e salvar o petrodólar
Em 1973, Henry Kissinger sugeriu que os EUA deveriam invadir o Oriente Próximo e dissolver a OPEP. Acabar com o controle da OPEP sobre os preços do petróleo, fazer com que cada sócio estabeleça de forma individual para reduzir as tarifas e impedir que utilizem outra moeda que não seja o dólar, são dois objetivos da guerra de preços. Dois líderes que tentaram substituir a moeda verde pelo Euro, Saddam e Kadafi, foram assassinados. Em setembro de 2000, o presidente iraquiano anunciou a venda de seu pretróleo em Euros e em 2002 transformou os 10 bilhões de dólares do fundo de reserva do país na ONU na moeda europeia, desvalorizando o dólar. Os EUA querem sancionar, encurralar ou atacar todos os produtores de petróleo para obrigá-los a usar o dólar? E o capitalismo de livre mercado?
Meses antes da invasão do Iraque, um barril custava 15,30 dólares. Meses depois, 40,42, preço que continuou subindo sem parar, enchendo a Reserva Federal de petrodólares. Hoje, esta situação se inverteu; o valor do dólar aumentou e o preço do óleo bruto reduziu. Assim, ressuscitaram um dólar martirizado – cuja fortaleza depende dos petrodólares – mais forte desde junho de 2010.
O petróleo saudita e o dólar são dois dos pilares do domínio de Washington sobre o mundo. Que sua moeda seja o patrão do petróleo é tão vital para os EUA que o país pode perder um punhado de dólares e a indústria de xisto, em troca da desestabilização da Rússia, Irã, Venezuela e Equador. Derrotar Bashar al Assad seria a cereja do bolo.
Em 2012, Barack Obama forçou a Europa a deixar de comprar petróleo iraniano, impedindo, entre outros fatores, a transação petróleo/euro. Guerra financeira entre as potências ocidentais que também se refletiu nas sanções aplicadas por Washington contra o Irã, incluindo seu Banco Central – que em 2005 tinha convertido a metade de suas reservas de dividas em Euros – e que em setembro de 2014 foram declaradas ilegais pelo Tribunal Geral da União Europeia.
Ganhadores e perdedores imediatos
Entre os beneficiários do petróleo barato está a China, que compra cinco milhões de barris por dia e é o maior cliente da Arábia Saudita. Também está aumentando suas compras da Rússia e, pela primeira vez, da Colômbia (30 mil toneladas). Índia e Europa também estão aproveitando do petróleo barato.
Moscou, que aumentou seu orçamento para o próximo ano pensando em um barril de 100 dólares, com 20 ou 40 dólares a menos, sofrerá um déficit orçamentário que se somará aos efeitos das sanções e à queda do preço do rublo. Por isso, vai atuar a partir dos BRICS para desbancar o petrodólar do sistema financeiro mundial, enquanto a China trabalhará para estabilizar o rublo: pedem que seus sócios comerciais usem euro e iene. O Irã, por sua vez, já está trocando o petróleo por bens acordados, eludindo as sanções dos EUA, pois já anunciou a criação de um banco de desenvolvimento com a Rússia, com a finalidade de elevar suas transações comerciais, a construção de novas usinas nucleares e aumentar a compra do petróleo iraniano para exportar para outros países.
Novos movimentos no tabuleiro
Apesar de a China ter diminuído a importação de petróleo iraniano até 30% para “melhorar suas refinarias” - e talvez porque o Irã rompera em maio do ano passado o contrato de 2.500 milhões de dólares com a Corporação Nacional de Petróleo da China por descumprir o mesmo (em seis anos deveria ter perfurado 185 poços), pelo primeira vez na história – os exércitos dos dois países realizaram em setembro uma manobra conjunta no Golfo Pérsico em que participaram Changchun e Changzhou, um destrutor e uma fragata de mísseis. O Irã é a peça fundamental na estratégia chinesa de Marcha para o Oeste” - Ásia central, Ásia do Sul, Oriente Médio e Oceano Índico – e em ampliar o cinturão econômico marítimo na velha Rota da Ceda.
Longe de isolar a Rússia, o Ocidente conseguiu a formação de novas e temíveis alianças: uma aproximação entre Pequim e Moscou sem precedentes após a morte de Stálin, enquanto aumenta cada vez mais a aberta inimizade entre os mandatários e xeques sauditas.
É o final da era do petróleo: estão sendo utilizados os últimos 25% da reserva aproveitável, cuja oferta, se prevê, se esgotará em 25-30 anos. Diante do auge do petróleo e dos cenários que não são possível de se antecipar, a única garantia são os novos conflitos nas regiões produtoras de petróleo.
(*) Nazanín Armanian é iraniana residente em Barcelona desde 1983, data em que se exilou de seu país. Leciona em cursos on-line da Universidade de Barcelona e é colunista do jornal on-line Publico.es.
Tradução: Daniella Cambaúva
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O conjunto das explicações convencionais apontam para a necessidade de a Arábia Saudita conseguir grandes quantidades de dinheiro para realizar seus mega projetos de construção de infraestrutura; recompensar a redução de suas exportações para os Estados Unidos, país que aumentou sua própria produção; a desaceleração na China e o estancamento na zona do Euro; o fracasso da Abenomics, o projeto de reformas econômicas no Japão, lançadas pelo premiê Shi ao Abe; a queda da tensão entre Rússia e Ucrânia e inclusive a diminuição do avanço do Estado Islâmico no Iraque.
Parece que desta vez uma queda no preço do petróleo não impulsionará o crescimento econômico de seus compradores. Por sua vez, os analistas "não convencionais", divididos em dois principais apontam o seguinte:
(A) Um complô arquitetado pelos Estados Unidos e pela Arábia Saudita para afundar as economias da Rússia, principal produtor de petróleo no mundo, e do Irã. Desse modo, também castiga Moscou pela Ucrânia e Crimeia e pelo apoio a Bashar al Assad, forçando o Kremlin a reduzir seus gastos militares. No caso do Irã, serve para tirar vantagem de Teerã nas negociações nucleares em curso e tirar sua força na região. Lembra 1985, quando os sauditas quintuplicaram sua produção de 2 a 10 milhões de barris por dia e os vendeu a 10 dólares em vez dos 32, que era seu preço, obrigando a URSS a oferecer seu barril por 6 dólares, afundando a economia planificada.
(B) Que se trata de outro caso de dumping lançado pelos sauditas: fixar preços predatórios com a finalidade de atingir a Rússia e o Irã, mas também os EUA por sua "revolução do xisto". Assim, pretende conseguir contratos interessantes na Ásia e sabotar a petição das companhias norte-americanas ao Congresso para levantar a proibição sobre as exportações de petróleo.
O cenário, porém, é mais complexo: em um cartel como a Organização dos Países Exportadores de Petróleo (OPEP), um aumento da produção não tem por que acarretar uma queda nos preços.
O Irã, apesar de ser uma das principais reservas mundiais de petróleo, envia somente ao mercado 800 mil barris (comparados aos 4 milhões de 1977) e a política dos sauditas não pode lhe prejudicar mais do que as sanções da ONU, dos EUA e da União Europeia fazem.
Se Riad quisesse prejudicar os EUA, teria desvinculado o petróleo do dólar. Em vez disso, reduziu os preços para seu aliado estratégico, sendo consciente de seu status de ser “Estado cliente” e que sua existência e segurança continuam dependendo da proteção militar do Tio Sam, que controla os sauditas, entre outros mecanismos, mediante a venda de armas.
Que um preço abaixo de 75 dólares não é rentável para os EUA pelo alto custo da produção de xisto betaminoso. Seria dar como um tiro no pé.
Objetivos: desmantelar a OPEP e salvar o petrodólar
Em 1973, Henry Kissinger sugeriu que os EUA deveriam invadir o Oriente Próximo e dissolver a OPEP. Acabar com o controle da OPEP sobre os preços do petróleo, fazer com que cada sócio estabeleça de forma individual para reduzir as tarifas e impedir que utilizem outra moeda que não seja o dólar, são dois objetivos da guerra de preços. Dois líderes que tentaram substituir a moeda verde pelo Euro, Saddam e Kadafi, foram assassinados. Em setembro de 2000, o presidente iraquiano anunciou a venda de seu pretróleo em Euros e em 2002 transformou os 10 bilhões de dólares do fundo de reserva do país na ONU na moeda europeia, desvalorizando o dólar. Os EUA querem sancionar, encurralar ou atacar todos os produtores de petróleo para obrigá-los a usar o dólar? E o capitalismo de livre mercado?
Meses antes da invasão do Iraque, um barril custava 15,30 dólares. Meses depois, 40,42, preço que continuou subindo sem parar, enchendo a Reserva Federal de petrodólares. Hoje, esta situação se inverteu; o valor do dólar aumentou e o preço do óleo bruto reduziu. Assim, ressuscitaram um dólar martirizado – cuja fortaleza depende dos petrodólares – mais forte desde junho de 2010.
O petróleo saudita e o dólar são dois dos pilares do domínio de Washington sobre o mundo. Que sua moeda seja o patrão do petróleo é tão vital para os EUA que o país pode perder um punhado de dólares e a indústria de xisto, em troca da desestabilização da Rússia, Irã, Venezuela e Equador. Derrotar Bashar al Assad seria a cereja do bolo.
Em 2012, Barack Obama forçou a Europa a deixar de comprar petróleo iraniano, impedindo, entre outros fatores, a transação petróleo/euro. Guerra financeira entre as potências ocidentais que também se refletiu nas sanções aplicadas por Washington contra o Irã, incluindo seu Banco Central – que em 2005 tinha convertido a metade de suas reservas de dividas em Euros – e que em setembro de 2014 foram declaradas ilegais pelo Tribunal Geral da União Europeia.
Ganhadores e perdedores imediatos
Entre os beneficiários do petróleo barato está a China, que compra cinco milhões de barris por dia e é o maior cliente da Arábia Saudita. Também está aumentando suas compras da Rússia e, pela primeira vez, da Colômbia (30 mil toneladas). Índia e Europa também estão aproveitando do petróleo barato.
Moscou, que aumentou seu orçamento para o próximo ano pensando em um barril de 100 dólares, com 20 ou 40 dólares a menos, sofrerá um déficit orçamentário que se somará aos efeitos das sanções e à queda do preço do rublo. Por isso, vai atuar a partir dos BRICS para desbancar o petrodólar do sistema financeiro mundial, enquanto a China trabalhará para estabilizar o rublo: pedem que seus sócios comerciais usem euro e iene. O Irã, por sua vez, já está trocando o petróleo por bens acordados, eludindo as sanções dos EUA, pois já anunciou a criação de um banco de desenvolvimento com a Rússia, com a finalidade de elevar suas transações comerciais, a construção de novas usinas nucleares e aumentar a compra do petróleo iraniano para exportar para outros países.
Novos movimentos no tabuleiro
Apesar de a China ter diminuído a importação de petróleo iraniano até 30% para “melhorar suas refinarias” - e talvez porque o Irã rompera em maio do ano passado o contrato de 2.500 milhões de dólares com a Corporação Nacional de Petróleo da China por descumprir o mesmo (em seis anos deveria ter perfurado 185 poços), pelo primeira vez na história – os exércitos dos dois países realizaram em setembro uma manobra conjunta no Golfo Pérsico em que participaram Changchun e Changzhou, um destrutor e uma fragata de mísseis. O Irã é a peça fundamental na estratégia chinesa de Marcha para o Oeste” - Ásia central, Ásia do Sul, Oriente Médio e Oceano Índico – e em ampliar o cinturão econômico marítimo na velha Rota da Ceda.
Longe de isolar a Rússia, o Ocidente conseguiu a formação de novas e temíveis alianças: uma aproximação entre Pequim e Moscou sem precedentes após a morte de Stálin, enquanto aumenta cada vez mais a aberta inimizade entre os mandatários e xeques sauditas.
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(*) Nazanín Armanian é iraniana residente em Barcelona desde 1983, data em que se exilou de seu país. Leciona em cursos on-line da Universidade de Barcelona e é colunista do jornal on-line Publico.es.
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Porque um homem que foge do seu medo pode descobrir que, afinal, apenas enveredou por um atalho para ir ao seu encontro. (J. R. R. Tolkien, em Os filhos de Húrin)
Mogur- Não tenho mais vida fora daqui
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Re: Sobre os objetivos do dumping do preço do petróleo
Em busca de cota de mercado, Arábia Saudita reduz preços de petróleo para clientes de Ásia e EUA
Cotação volta a cair e se aproxima de US$ 68 o barril em Londres e US$ 66, na Bolsa de NY.
LONDRES - A Arábia Saudita reduziu abruptamente nesta quinta-feira seus preços de petróleo para entrega em janeiro a seus clientes de Ásia e Estados Unidos. A decisão foi vista por analistas de mercado como uma intensificação da estratégia do reino para assegurar cotas de mercado. Segundo esses analistas, ela se soma à posição do país na reunião anual da Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep), na semana passada, contrária à redução do nível de produção de petróleo, como queriam alguns países para pressionar os preços.
O mercado vem acompanhando atentamente os chamados Preços Oficiais de Venda (OSP, na sigla em inglês) do petróleo do maior produtor e exportador da Opep. Para os analistas, esses números são um indicador importante não só das políticas de preços da Arábia Saudita, mas por extensão de suas estratégias comerciais, num momento em que o mercado passa por mudanças estruturais, provocadas pelo início da produção de gás não convencional pelos Estados Unidos.
Para alguns analistas, as fortes reduções dos OSP nos últimos dois meses indicam que o reino está disputando com outros produtores a cota do mercado. Já outros especialistas afirmam, por outro lado, que os OSP só refletem o mercado e são mais um retrato retrospectivo do que o indicador de tendência futura.
— Os sauditas estão deixando claro que não querem perder cota de mercado — disse Richard Mallinson, analista da consultora Energy Aspects, durante o Global Oil Forum, promovido pela agência de notícias Reuters.
PRESSÃO SAUDITA
Na semana passada, durante a reunião anual da Opep, a Arábia Saudita e outros produtores ricos do Golfo impediram que fosse adiante a proposta dos membros mais pobres do cartel, como Venezuela e Argélia, de reduzir a produção para estimular o aumento de preços do petróleo. Desde junho, o barril da commodity já perdeu mais de um terço de seu valor.
Fontes da Opep disseram que o ministro do Petróleo da Arábia Saudita, Ali al-Naimi, afirmou durante a reunião de ministros que o cartel deveria defender sua cota de mercado, uma vez que apenas reduzir os níveis de produção só ajudaria os produtores rivais, inclusive os que produzem gás não convencional nos Estados Unidos.
Segundo fontes, al-Naimi tampouco deu alguma indicação de quanto teriam que cair os preços do petróleo no mercado internacional para que a Arábia Saudita considere reduzir sua produção. Na quarta-feira, o presidente da Venezuela, Nicolás Maduro, disse que o “preço justo” do petróleo deveria ser ao redor de US$ 110 por barril. Desde a decisão da Opep, os preços do petróleo vivem uma forte oscilação.
Nesta quinta-feira, o preço do Brent (referência internacional) caiu 0,85%, para US$ 69,32, depois de ter tocado a mínima de US$ 68,81 o barril. Já a cotação do petróleo do tipo leve negociado nos Estados Unidos (WTI) caiu 1,34%, para US$ 66,48 o barril. Na mínima do dia chegou a ser negociado a US$ 66,09.
A empresa petrolífera estatal Saudi Aramco reduziu seu preço de seu petróleo bruto para entrega em janeiro para seus clientes asiáticos em US$ 1,90 por barril a partir de dezembro. Já os OSP para o petróleo leve árabe aos Estados Unidos, foi fixado um desconto de US$ 0,70 por barril.
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Re: Sobre os objetivos do dumping do preço do petróleo
O petróleo despenca, e a Arábia Saudita sorri
O governo de Riad perde com a queda de preços, mas celebra instabilidade no Irã e teste à nova indústria petrolífera norte-americana
por José Antonio Lima — publicado 07/01/2015 06:27
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Na terça-feira 6, o preço do petróleo nos mercados de Londres e Nova York, referências para o resto do mundo, ficou abaixo dos 52 dólares, menor valor desde 2009. A brusca queda recente, de 55% desde a metade de 2014, é resultado de uma oferta elevada, marcada por picos de produção na Rússia, no Iraque e nos Estados Unidos, e demanda comprimida pela lentidão das economias de China, Japão e países europeus. O cenário deveria provocar preocupação na Arábia Saudita, maior exportadora e dona da maior capacidade de produção de petróleo do mundo, mas a monarquia se mostra tranquila. A queda de preços é ruim para o governo saudita, mas pior para seu maior inimigo, o Irã, e serve para testar a força da crescente produção norte-americana, que causa apreensão em Riad por minimizar a dependência que Washington tem do petróleo saudita.
Em 21 de dezembro, em reunião da Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep) na Áustria, a Arábia Saudita revelou sua serenidade com o tombo do preço do petróleo. Sem conseguir um acordo com países de fora do cartel, como a Rússia e o México, a Opep decidiu não reduzir suas metas de produção, o que faria a cotação do barril crescer. A opção pela regulação do preço a partir da lógica do mercado foi um afastamento da tradição da Opep, comandada pelos sauditas. Ao longo das últimas quatro décadas, o cartel petrolífero tirou e injetou barris no mercado sempre que os preços escaparam aos limites desejados, para cima ou para baixo. Desta vez, sem a mesma capacidade de influenciar o mercado, os sauditas aceitaram pagar para ver até onde a queda vai. O governo de Riad nega estar conspirando para prejudicar determinadas nações, mas parece óbvio que a família real observa o resultado de sua aposta com a expectativa de obter dividendos políticos.
Não há dúvidas de que o petróleo em baixa prejudica a Arábia Saudita. A economia do país é pouco diversificada e muito dependente do setor petrolífero, responsável por 85% das exportações e 50% do PIB. Entre 2014 e 2015, a receita do petróleo deve cair 88%, sendo responsável por um déficit de 39 bilhões de dólares no orçamento saudita, o maior da história, o que acarretará cortes de gastos públicos e, possivelmente, alguma instabilidade política. Ainda assim, a Arábia Saudita pode suportar o baque – além de reservas monetárias de 750 bilhões de dólares, o País tem o menor custo de produção de petróleo no mundo, de cerca de cinco dólares por barril. Se cortasse sua produção sem uma combinação prévia com países de fora da Opep e promovesse a elevação do preço do petróleo, a Arábia Saudita poderia perder cotas de mercado. Foi isso o que ocorreu nos anos 1980, quando o barril foi vendido a menos de 10 dólares e os sauditas perderam clientes ao cortar sua própria produção, enquanto outros países mantiveram-na, vendendo seu petróleo por um preço mais baixo.
Em um cenário de disputa por mercado, a Arábia Saudita poderia perder espaço para aliados, como os Emirados Árabes Unidos e o Kuwait, mas também para países que vê como rivais. Um deles é a Rússia, que segue apoiando o ditador sírio Bashar al-Assad, o qual os sauditas tentam derrubar. Outro é o Irã, visto como o maior inimigo da Arábia Saudita. Além de apoiar Assad, o regime iraniano, visto como ameaça existencial, contrapõe os interesses sauditas em quase todos os pontos nevrálgicos do Oriente Médio.
O Irã como alvo
A queda atual do preço do petróleo atinge duramente as ambições de Teerã em um momento sensível. No próximo dia 15, negociadores iranianos vão se encontrar novamente com emissários de Alemanha, China, EUA, França, Reino Unido e Rússia para tentar chegar a um acordo sobre o programa nuclear. A Arábia Saudita jamais apoiou o diálogo com o Irã – ao contrário, o país árabe faz lobby para que os Estados Unidos resolvam a questão por meios militares, bombardeando as instalações nucleares iranianas para “cortar a cabeça da cobra”. Sem condições de direcionar a política externa dos EUA, a Arábia Saudita trabalha para desestabilizar o Irã.
O ímpeto pelo acordo nuclear é comandado por Hassan Rouhani, presidente do Irã. Rouhani trava uma batalha interna com setores linha-dura, contrários ao diálogo com os EUA, e tem vendido a ideia de que a solução para os graves problemas econômicos do país é o acordo nuclear e o fim das sanções impostas por EUA e Europa. Para manter o impulso pelo diálogo, Rouhani precisa de apoio popular e este depende significativamente da situação da economia. Após um acerto provisório com as potências em novembro de 2013, algumas sanções contra o Irã foram aliviadas. Isso facilitou a recuperação econômica do país, marcada pela reversão da recessão e pelo fim da alta da inflação, mas a diminuição do lucro do petróleo provocará um duro impacto nas contas iranianas. Metade das receitas do país é oriunda do setor petrolífero, e Teerã precisaria, segundo o FMI, de um barril cotado a 136 dólares para ter um orçamento balanceado. Com o petróleo vendido perto dos 50 dólares, as dificuldades serão tremendas. Por isso, a partir de março, entrará em vigor no Irã um orçamento bastante austero, com aumento de impostos e redução de subsídios para alimentos e combustível. São medidas impopulares, que podem erodir o apoio a Rouhani e dificultar o diálogo, exatamente o que os sauditas desejam.
Os EUA como alvo
Além de ver o sofrimento do Irã, a Arábia Saudita espera obter um segundo dividendo político-econômico com a brusca queda do preço do petróleo: testar a resiliência da produção norte-americana do petróleo de folhelho (shale oil, em inglês), uma rocha sedimentar que é explorada por meio de técnicas conhecidas como fratura hidráulica e perfuração horizontal. Nos últimos anos, essa indústria se desenvolveu de forma impressionante nos EUA.
A revolução do folhelho é um fenômeno que dificilmente ocorreria em outro país que não os Estados Unidos. Graças a um sistema regulatório que permite um investimento rápido e a uma legislação que dá ao dono da terra (e não ao governo) os direitos de mineração, a produção nas formações de folhelho foi acelerada e hoje envolve 6 mil companhias diferentes disputando e aquecendo um mercado abastecido por 4 milhões de poços nos EUA. Neste cenário, a produção norte-americana de petróleo cresceu 60% desde 2008 e, até 2016, o país pode se tornar o maior produtor do mundo, ultrapassando a Arábia Saudita. Há tanto petróleo no mercado dos EUA que o país se tornou autossuficiente e, em junho, pela primeira vez em quatro décadas, o governo autorizou exportações de petróleo cru.
O folhelho colocou Washington na rota de uma independência energética que preocupa os sauditas, pois poderia minar a antiga parceria entre os dois países, baseada na troca de segurança militar pela segurança energética. Para a Arábia Saudita, o preço baixo do petróleo pode ser um obstáculo para a novata indústria norte-americana, uma vez que a maioria dos milhares de empresários envolvidos na produção tem grandes dívidas, feitas para financiar o início da exploração.
Está claro que a Arábia Saudita resolveu deixar arder um mercado em chamas. Encastelados em reservas gigantescas de petróleo e dólares e com a produção mais barata do mundo, os sauditas vão perder, mas menos do que seus rivais e até aliados. De quebra, vão ver alguns possíveis concorrentes saírem do mercado ou adiarem explorações consideradas demasiado caras, como no Ártico ou em águas profundas – caso do pré-sal da Petrobras, o que ajudar a explicar a queda nas ações da estatal brasileira.
O conforto saudita com a depreciação acelerada do petróleo é tão grande que, em 22 de dezembro, o ministro saudita do Petróleo, Ali al-Naimi, não colocou prazo para acabar com a estratégia de não interferir no mercado. Questionado pela CNN até quando seu governo manteria a produção constante, foi conciso: “para sempre”.
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Mogur- Não tenho mais vida fora daqui
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Re: Sobre os objetivos do dumping do preço do petróleo
Tenho algumas dúvidas se dumping, existe correlações de preços que explicam até por que a Rússia nos últimos anos também vinha subindo a produção (tanto que bateu o record em 2014)...mas, um país como a Rússia deveria estar trabalhando no orçamento com preço médio de 5 anos.
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A linha vermelha tudo acima deveria ter sido economizado, no caso é o modelo venezuelano do fundo do país, que é uma nacionalização do país do famoso modelo da Noruega. Claro que o FIEM, hoje, não tem um bolivar, mas aí são outros quinhentos.
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A linha vermelha tudo acima deveria ter sido economizado, no caso é o modelo venezuelano do fundo do país, que é uma nacionalização do país do famoso modelo da Noruega. Claro que o FIEM, hoje, não tem um bolivar, mas aí são outros quinhentos.
marcelo l.- Farrista "We are the Champions"
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Re: Sobre os objetivos do dumping do preço do petróleo
marcelo l. escreveu:Tenho algumas dúvidas se dumping, existe correlações de preços que explicam até por que a Rússia nos últimos anos também vinha subindo a produção (tanto que bateu o record em 2014)...mas, um país como a Rússia deveria estar trabalhando no orçamento com preço médio de 5 anos.
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A linha vermelha tudo acima deveria ter sido economizado, no caso é o modelo venezuelano do fundo do país, que é uma nacionalização do país do famoso modelo da Noruega. Claro que o FIEM, hoje, não tem um bolivar, mas aí são outros quinhentos.
bem explicado
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-J.R.R.Tolkien
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