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Prédios e carros de órgãos ambientais em Humaitá, no Amazonas, são incendiados por garimpeiros

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Prédios e carros de órgãos ambientais em Humaitá, no Amazonas, são incendiados por garimpeiros Empty Prédios e carros de órgãos ambientais em Humaitá, no Amazonas, são incendiados por garimpeiros

Mensagem por Koppe Sáb Out 28, 2017 8:08 pm

Elaíze Farias e Fabio Pontes, da Amazônia Real
27/10/2017 às 23:11


Não há registro de vítimas; servidores buscaram refúgio em quartéis do Exército e da Marinha. Investigação do caso será conduzida pela Polícia Federal.

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Em retaliação a uma operação de combate a garimpo ilegal de ouro no rio Madeira, uma multidão liderada por garimpeiros incendiou nesta sexta-feira (27) os prédios onde ficavam os escritórios do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) e do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio) no município de Humaitá, no sul do Amazonas. O ataque começou por volta de 17h (hora local, 19h no fuso horário de Brasília).

Três carros do Ibama comprados recentemente também foram destruídos. Não há registro de mortos ou feridos.

Conforme a Amazônia Real apurou, os agressores tentaram atacar até mesmo a Agência Fluvial da Marinha em Humaitá, para onde correram primeiro os fiscais do Ibama em busca de salvar suas vidas. Em vídeos que circulam pelas redes sociais é possível ver o momento do ataque ao prédio. Em menor número, policiais militares fazem disparos para cima na tentativa de dispersar a multidão.

O superintendente do Ibama no Amazonas, José Leland, disse à Amazônia Real que cerca de 500 pessoas participaram do ataque. A casa de um dos cinco funcionários do Ibama que residem em Humaitá também foi incendiada, segundo José Leland.

Para escapar do ataque da multidão, os servidores do Ibama e do ICMbio se refugiaram no quartel do Exército. Um grupo também buscou abrigo na base da Marinha. Há relatos de funcionários que chegaram a se esconder em embarcações ancoradas no rio.

“Perdemos prédios, documentos, arquivos, equipamentos, processos. Felizmente nossos servidores estão a salvo”, disse Leland.

José Leland disse que cerca de 10 militares da Força Nacional estão em Humaitá fazendo a proteção dos servidores dos dois órgãos ambientais, mas que vai solicitar ao Ministério da Justiça reforço no contingente. Ele também espera apoio do Ministério da Defesa. A investigação será feita pela Polícia Federal.

Além dos cinco servidores do Ibama que moram no município, outros 12 que moram em outras cidades, incluindo Manaus, participavam da operação de combate ao garimpo, segundo José Leland. Ele disse que a ação começou na última terça-feira (24), resultando na destruição e apreensão de de 35 balsas de garimpo ilegal de ouro. Além do Ibama, participavam da operação o ICMBio, a Marinha e a Força Nacional.

“Apesar desse ataque, não vamos nos curvar a esse crime. Vamos continuar com a operação e destruir as balsas que sobraram. O garimpo no Madeira é um ultraje. Os garimpeiros estavam sem licença, em uma área embargada, sem nenhum mecanismo de controle de mercúrio, alterando o leito da navegação do rio e tudo isso em frente da cidade, perto do porto. Eles atuavam como se não tivesse autoridade ambiental no estado, uma coisa de barbárie”, disse José Leland.

O superintendente do Ibama afirmou à Amazônia Real que o ataque foi organizado de forma estratégica, escolhendo o melhor horário e dia. “Eles fizeram isso no final da tarde, próximo do fim de semana, para dificultar tudo, em um momento em que os órgãos estavam sem expediente.”

A funcionária do ICMbio e coordenadora das unidades de conservação federais localizadas no sul do Amazonas, Keuris Silva, reiterou que o ataque foi um revide dos garimpeiros. Ela conta que nunca tinha testemunhado uma ação dessa magnitude e chamou o ataque de “covarde”.

“Foi uma retaliação. Centenas de pessoas participaram, provavelmente incentivadas não apenas por garimpeiros, mas por grupos políticos da cidade. Tacaram fogo no prédio do ICMBio. Perdemos tudo. Toda a estrutura física ficou destruída”, disse ela.

Conforme Keuris Silva, a unidade de conservação mais afetada pelo garimpo é a Floresta Nacional de Humaitá, que tem seus cursos d´água impactados pelo mercúrio usado no garimpo.

Os agressores não se inibiram e tentaram atacar a base da Marinha na cidade na tentativa de agredir os servidores do Ibama que buscavam proteção. A segurança da Agência Fluvial de Humaitá e nas casas dos militares foi reforçada. No momento em que os fiscais do Ibama realizavam a operação de combate ao garimpo, os militares também faziam ações de fiscalização de embarcações.

Os servidores do Ibama chegaram a ficar por um tempo nas instalações militares, sendo levados depois para o quartel do Exército. “Nossa tarefa agora é resguardar a base e proteger os nossos parentes”, disse um militar da Marinha que pediu para não ser identificado.

A agência fluvial de Humaitá está próxima à margem do rio Madeira. Ela é subordinada ao 9º Comando Naval, sediado em Manaus. Entre as suas atribuições está a fiscalização das embarcações civis que navegam pela região, combatendo, sobretudo, a superlotação.

Além das licenças emitidas pelos órgãos ambientais e o Departamento Nacional de Produção Mineral (DNPM), embarcações tipo dragas, que fazem o serviço de garimpo, devem estar autorizadas pela Marinha.

Localizado no sul do Amazonas, na divisa com Rondônia, Humaitá é uma das regiões mais tensas na questão ambiental. Além do garimpo ilegal, o município também convive com a extração ilegal de madeira e conflitos entre indígenas e não-indígenas.

Ataques ao patrimônio dos órgãos ambientais se tornaram freqüentes na Amazônia esse ano. Em julho, carros do Ibama foram incendiados no sudoeste do Pará como retaliação às operações de combate ao desmatamento.

Em dezembro de 2013, no feriado do Natal, cerca de 3 mil pessoas promoveram um caos na cidade de Humaitá. A multidão incendiou o prédio da Funai (Fundação Nacional do Índio) e atacou indígenas que estavam na cidade, entre eles os Tenharim. Aldeias à margem da BR-230 (Transamazônica) foram incendiadas, em uma onda de protestos contra o desaparecimento de três homens não-indígenas. A morte deles acabou sendo confirmada pela Polícia Federal. Cinco indígenas da etnia Tenharim foram acusados e tornaram-se réus (ainda não foram julgados), mas sempre negaram envolvimento nas mortes dos três homens. Como conseqüência, um clima de tensão e preconceito contra as populações indígenas da região de Humaitá se instalou, situação que permanece até hoje.





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