Algum momento entre... 1959/2011
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Koppe
Brainiac
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Algum momento entre... 1959/2011
Cenário 1: João não fica quieto na sala de aula. Interrompe e perturba os colegas.
Ano 1959: É mandado à sala da diretoria, fica parado esperando 1 hora, vem o diretor, lhe dá uma bronca descomunal e até umas reguadas nas mãos e volta tranqüilo à classe. Esconde o fato dos pais com medo de apanhar mais. Pronto.
Ano 2011: É mandado ao departamento de psiquiatria, o diagnosticam como hiperativo, com transtornos de ansiedade e déficit de atenção em ADD, o psiquiatra receita Rivotril. Transforma-se num zumbi. Os pais reivindicam uma subvenção por ter um filho incapaz e processam o colégio.
Cenário 2: Luis, de sacanagem quebra o farol de um carro, no seu bairro.
Ano 1959: Seu pai tira a cinta e lhe aplica umas sonoras bordoadas no trazeiro. A Luis nem lhe passa pela cabeça fazer outra nova "cagada", cresce normalmente, vai à universidade e se transforma num profissional de sucesso.
Ano 2011: Prendem o pai de Luis por maus tratos. O condenam a 5 anos de reclusão e, por 15 anos deve abster-se de ver seu filho. Sem o guia de uma figura paterna, Luis se volta para a droga, delinqüe e fica preso num presídio especial para adolescentes.
Cenário 3: José cai enquanto corria no pátio do colégio, machuca o joelho. Sua professora Maria, o encontra chorando e o abraça para confortá-lo...
Ano 1959: Rapidamente, João se sente melhor e continua brincando.
Ano 2011: A professora Maria é acusada de não cuidar das crianças. José passa cinco anos em terapia pelo susto e seus pais processam o colégio por danos psicológicos e a professora por negligência, ganhando os dois juízos. Maria renuncia à docência, entra em aguda depressão e se suicida...
Cenário 4: Disciplina escolar
Ano 1959: Fazíamos bagunça na classe... O professor nos dava uma boa "mijada" e/ou encaminhava para a direção; chegando em casa, nosso velho nos castigava sem piedade e no resto da semana não incomodávamos mais ninguém.
Ano 2011: Fazemos bagunça na classe. O professor nos pede desculpas por repreender-nos e fica com a culpa por fazê-lo. Nosso velho vai até o colégio dar queixa do professor e para consolá-lo compra uma moto para o filhinho.
Cenário 5: Horário de Verão.
Ano 1959: Chega o dia de mudança de horário de inverno para horário de verão. Nada acontece.
Ano 2011: Chega o dia de mudança de horário de inverno para horário de verão. A gente sofre transtornos de sono, depressão, falta de apetite, nas mulheres aparece até celulite.
Cenário 6: Fim das férias.
Ano 1959: Depois de passar férias com toda a família enfiados num Gordini ou Fusca, é hora de voltar após 15 dias de sol na praia. No dia seguinte se trabalha e tudo bem.
Ano 2011: Depois de voltar de Cancun, numa viagem 'all inclusive', terminam as férias e a gente sofre da síndrome do abandono, "panic attack", seborréia, e ainda precisa de mais 15 dias de readaptação...
Cenário 7: Saúde.
Ano 1959: Quando ficávamos doentes, íamos ao INPS aguardávamos 2 horas para sermos atendidos, não pagávamos nada, tomávamos os remédios e melhorávamos.
Ano 2011: Pagamos uma fortuna por plano de saúde. Quando fazemos uma distensão muscular, conseguimos uma consulta VIP para daqui a 3 meses, o médico ortopedista vê uma pintinha no nosso nariz, acha que é câncer, nos indica um amigo dermatologista que pede uma biópsia, e nos indica um amigo oftalmologista porque acha que temos uma deficiência visual. Fazemos quimioterapia, usamos óculos e depois de dois anos e mais 15 consultas, melhoramos da distensão muscular.
Cenário 8: Trabalho.
Ano 1959: O funcionário era "pego" cera (fazendo nada). Tomava uma regada do chefe, ficava com vergonha e ia trabalhar.
Ano 2011: O funcionário pego "desestressando" é abordado gentilmente pelo chefe que pergunta se ele está passando bem. O funcionário acusa-o de bullying e assédio moral, processa a empresa que toma uma multa, o funcionário é indenizado e o chefe é demitido.
Cenário 9: Assédio.
Ano 1959: A colega gostosona recebe uma cantada de Ricardo. Ela reclama, faz charminho mas fica envaidecida, saem para jantar, namoram e se casam.
Ano 2011: Ricardo admira as pernas da colega gostosona quando ela nem está olhando, ela o processa por assédio sexual, ele é condenado a prestar serviços comunitários. Ela recebe indenização, terapia e proteção paga pelo estado.
Pergunta-se...
EM QUE MOMENTO FOI, ENTRE 1959 E 2011, QUE NOS TRANSFORMAMOS ESTE BANDO DE IDIOTAS?
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Dissertem.
Ano 1959: É mandado à sala da diretoria, fica parado esperando 1 hora, vem o diretor, lhe dá uma bronca descomunal e até umas reguadas nas mãos e volta tranqüilo à classe. Esconde o fato dos pais com medo de apanhar mais. Pronto.
Ano 2011: É mandado ao departamento de psiquiatria, o diagnosticam como hiperativo, com transtornos de ansiedade e déficit de atenção em ADD, o psiquiatra receita Rivotril. Transforma-se num zumbi. Os pais reivindicam uma subvenção por ter um filho incapaz e processam o colégio.
Cenário 2: Luis, de sacanagem quebra o farol de um carro, no seu bairro.
Ano 1959: Seu pai tira a cinta e lhe aplica umas sonoras bordoadas no trazeiro. A Luis nem lhe passa pela cabeça fazer outra nova "cagada", cresce normalmente, vai à universidade e se transforma num profissional de sucesso.
Ano 2011: Prendem o pai de Luis por maus tratos. O condenam a 5 anos de reclusão e, por 15 anos deve abster-se de ver seu filho. Sem o guia de uma figura paterna, Luis se volta para a droga, delinqüe e fica preso num presídio especial para adolescentes.
Cenário 3: José cai enquanto corria no pátio do colégio, machuca o joelho. Sua professora Maria, o encontra chorando e o abraça para confortá-lo...
Ano 1959: Rapidamente, João se sente melhor e continua brincando.
Ano 2011: A professora Maria é acusada de não cuidar das crianças. José passa cinco anos em terapia pelo susto e seus pais processam o colégio por danos psicológicos e a professora por negligência, ganhando os dois juízos. Maria renuncia à docência, entra em aguda depressão e se suicida...
Cenário 4: Disciplina escolar
Ano 1959: Fazíamos bagunça na classe... O professor nos dava uma boa "mijada" e/ou encaminhava para a direção; chegando em casa, nosso velho nos castigava sem piedade e no resto da semana não incomodávamos mais ninguém.
Ano 2011: Fazemos bagunça na classe. O professor nos pede desculpas por repreender-nos e fica com a culpa por fazê-lo. Nosso velho vai até o colégio dar queixa do professor e para consolá-lo compra uma moto para o filhinho.
Cenário 5: Horário de Verão.
Ano 1959: Chega o dia de mudança de horário de inverno para horário de verão. Nada acontece.
Ano 2011: Chega o dia de mudança de horário de inverno para horário de verão. A gente sofre transtornos de sono, depressão, falta de apetite, nas mulheres aparece até celulite.
Cenário 6: Fim das férias.
Ano 1959: Depois de passar férias com toda a família enfiados num Gordini ou Fusca, é hora de voltar após 15 dias de sol na praia. No dia seguinte se trabalha e tudo bem.
Ano 2011: Depois de voltar de Cancun, numa viagem 'all inclusive', terminam as férias e a gente sofre da síndrome do abandono, "panic attack", seborréia, e ainda precisa de mais 15 dias de readaptação...
Cenário 7: Saúde.
Ano 1959: Quando ficávamos doentes, íamos ao INPS aguardávamos 2 horas para sermos atendidos, não pagávamos nada, tomávamos os remédios e melhorávamos.
Ano 2011: Pagamos uma fortuna por plano de saúde. Quando fazemos uma distensão muscular, conseguimos uma consulta VIP para daqui a 3 meses, o médico ortopedista vê uma pintinha no nosso nariz, acha que é câncer, nos indica um amigo dermatologista que pede uma biópsia, e nos indica um amigo oftalmologista porque acha que temos uma deficiência visual. Fazemos quimioterapia, usamos óculos e depois de dois anos e mais 15 consultas, melhoramos da distensão muscular.
Cenário 8: Trabalho.
Ano 1959: O funcionário era "pego" cera (fazendo nada). Tomava uma regada do chefe, ficava com vergonha e ia trabalhar.
Ano 2011: O funcionário pego "desestressando" é abordado gentilmente pelo chefe que pergunta se ele está passando bem. O funcionário acusa-o de bullying e assédio moral, processa a empresa que toma uma multa, o funcionário é indenizado e o chefe é demitido.
Cenário 9: Assédio.
Ano 1959: A colega gostosona recebe uma cantada de Ricardo. Ela reclama, faz charminho mas fica envaidecida, saem para jantar, namoram e se casam.
Ano 2011: Ricardo admira as pernas da colega gostosona quando ela nem está olhando, ela o processa por assédio sexual, ele é condenado a prestar serviços comunitários. Ela recebe indenização, terapia e proteção paga pelo estado.
Pergunta-se...
EM QUE MOMENTO FOI, ENTRE 1959 E 2011, QUE NOS TRANSFORMAMOS ESTE BANDO DE IDIOTAS?
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Dissertem.
Brainiac- Farrista ninguém me alcança
- Mensagens : 15575
Data de inscrição : 29/11/2010
Idade : 35
Localização : Planeta Colu
Re: Algum momento entre... 1959/2011
Olha, muito cuidado com a idealização do passado. Eu gosto muito de conversar com pessoas mais velhas sobre como eram as coisas antigamente, e não eram lá essas maravilhas. Esse texto só mostra um lado.
Re: Algum momento entre... 1959/2011
Pergunta-se...
EM QUE MOMENTO FOI, ENTRE 1959 E 2011, QUE NOS TRANSFORMAMOS ESTE BANDO DE IDIOTAS?
como nosso amigo Koppe respondeu no post acima, 1959 não era esse mundo tão perfeito, e muito menos a sociedade não era tão disciplinada assim. então.......
resposta: as pessoas que viviam em 1959 tiveram filhos que também tiveram seus próprios filhos. então esses filhos de 1959 pensaram que se seus filhos tivessem uma criação mais frouxa, seriam cidadãos melhores com aquela utopia de sociedade perfeita e tal, não vamos cometer os mesmos erros que nossos pais....e então a partir deste momento a cagada foi feita aqui estamos...
será que vivíamos numa sociedade mais disciplinada ou numa ditadura?
ou será que o comportamento humano vem involuindo paralelo a evolução científica e tecnológica?
pqp, acho que confundi mais que expliquei....foi mal
EM QUE MOMENTO FOI, ENTRE 1959 E 2011, QUE NOS TRANSFORMAMOS ESTE BANDO DE IDIOTAS?
como nosso amigo Koppe respondeu no post acima, 1959 não era esse mundo tão perfeito, e muito menos a sociedade não era tão disciplinada assim. então.......
resposta: as pessoas que viviam em 1959 tiveram filhos que também tiveram seus próprios filhos. então esses filhos de 1959 pensaram que se seus filhos tivessem uma criação mais frouxa, seriam cidadãos melhores com aquela utopia de sociedade perfeita e tal, não vamos cometer os mesmos erros que nossos pais....e então a partir deste momento a cagada foi feita aqui estamos...
será que vivíamos numa sociedade mais disciplinada ou numa ditadura?
ou será que o comportamento humano vem involuindo paralelo a evolução científica e tecnológica?
pqp, acho que confundi mais que expliquei....foi mal
Re: Algum momento entre... 1959/2011
Cenário 1: Harmonia familiar
Ano 1959: Alfredo é casado com Laura. Um belo dia chega bêbado, não gosta do que ela fez pro jantar. Dá uma surra nela. Os vizinhos assustados não movem um dedo pra ajudar. A polícia não tem jurisdição sobre assuntos internos de uma famíilia.
Ano 2011: Laura vai numa delegacia, denuncia Alfredo. Os vizinhos servem de testemunha que ele é um cara violento e perigoso. Ele vai preso.
Cenário 2: Namoro
Ano 1959: Vera tem 25 anos. Começa a namorar com Julio, também 25. Cada saída deles é controlada pela mãe dela. Na maioria das vezes, são obrigados a levar os dois irmãos menores dela junto. O horário pra voltar pra casa é antes de escurecer, e se rolar um beijo Julio pode ir parar na delegacia.
Ano 2011: Vera e Julio são adultos. Ambos trabalham e pagam suas contas, e ninguém tem nada a ver com o namoro deles. Todo sábado, cinema, jantar e motel.
Cenário 3: Estudos
Ano 1959: Diego é filho de um trabalhador do campo. Ele já está com 8 anos, seu pai acha que já está na hora de ajudar. Começa trabalhando de tarde, após o almoço. Quando vem uma época de serviço mais pesado, seu pai faz ele trabalhar também de manhã. "Trabalhar é o que um guri tem que aprender pra ser homem, colégio é frescura." Pelas faltas ele reprova o ano. Pela reprovação, ele não tem a menor vontade de voltar a estudar ano que vem, vai parecer um mangolão maior que o resto da turma. Além do mais, a maioria dos amigos dele também estão saindo da escola pra trabalhar, orgulho de fazer coisa de adulto. Diego vai ser trabalhador do campo pelo resto da vida.
Ano 2011: O pai de Diego tem problema com a lei se tirar ele da escola. Ele pode não seguir adiante e nem tirar proveito dos estudos, mas a chance está ali. Quem sabe ele não consegue ir mais além e fazer um curso técnico, uma faculdade?
Cenário 4: Histórias em quadrinhos
Ano 1959: A histeria contra essa forma perniciosa de "subliteratura" estavam com força total. Poucos anos antes, multidões haviam organizado grandes queimas de gibis em praça pública nos Estados Unidos, e a paranóia ecoava no Brasil. A igreja tinha grande influência na sociedade, e também odiava os quadrinhos (boa parte dos padres eram italianos que rezavam pela cartilha de Mussolini).
Ano 2011: Quadrinhos reconhecidos como manifestação cultural válida, artistas recebem até incentivo do governo para lançar obras, são usados em questões do Enem, a diversidade nas bancas é incomparável a qualquer outra época e pouquíssimas pessoas acham ruim alguma criança estar lendo gibis.
Cenário 5: Violência doméstica 2
Ano 1959: Ninguém questionava a autoridade de um pai. Um vizinho da minha mãe chegou a quebrar o braço do filho em dois lugares, sem sofrer nenhuma represália. Era muito comum crianças com dentes quebrados.
Ano 2011: Violência contra crianças é combatida. É difícil porque ainda existe a cultura de espancar crianças, e é visto como normal um pai bater nos filhos. Mas existe a sensação de limites.
Cenário 6: Saúde
Ano 1959: Seu Euzébio vive com a família numa casa de pau a pique, com uma "casinha" nos fundos que serve de banheiro. Mas não foi atacado pela doença de Chagas, transmitida pelos barbeiros muito comuns nesse tipo de habitação, e nem a cólera muito mais fácil de pegar em ambientes contaminados como patentes, e sim "aquela doença". Sim, era tão terrível que as pessoas evitavam falar o nome. E muita gente evitava chegar perto de quem tinha, afinal se sabia muito pouco e a ignorância levava muitos a pensarem que era contagiosa. Seu Euzébio vive o resto de seus dias em cima da cama, com fortes dores, e muitas pessoas mantendo distância.
Ano 2011: A situação está longe de merecer comemorações (plano de saúde é privilégio de poucos), mas com certeza alguma coisa melhorou. Hoje em dia já não é mais fora da realidade levar uma pessoa doente até um lugar onde receba ajuda. A maioria das pessoas vive em cidades, diferente de 1959 quando o Brasil era predominantemente rural (e longe dos hospitais). E boa parte das superstições não mais existem, hoje o câncer de Seu Euzébio poderia até ser tratado e curado, ou talvez não, mas é bem provável que ele sofreria menos do que em 1959.
Cenário 7: Religião
Ano 1959: A igreja católica tem grande influência na sociedade. Em algumas comunidades, pessoas podem ser discriminadas simplesmente por não freqüentarem a igreja. Padres têm influência muito maior do que deviam, obviamente seria impossível denunciar algum que cometesse abuso, mesmo contra crianças, afinal eram uma classe VIP de cidadãos. As ordens da igreja pesavam tanto que não existia divórcio, só seria permitido por lei dali a 18 anos, em 1977.
Ano 2011: Algumas coisas mudaram. Ninguém mais é execrado por não freqüentar uma igreja. Padres não mandam e desmandam mais na maioria dos lugares, e o governo já não mais se ajoelha perante as decisões da igreja. Nas eleições do ano anterior, grande parte do povo cagou e andou para a opinião da igreja, ainda que o próprio Papa tenha dado palpite.
Cenário 8: Aparências
Ano 1959: Joana e Paulo são casados. Têm filhos. Família perfeita... exceto que Joana tem um amante. Ela tem que manter isso escondido, porque pode ser morta se Paulo descobrir. Por outro lado, Paulo também tem amantes. Ele não gosta mais de Joana mas é obrigado a continuar com ela, afinal casou... poderia desquitar, mas o que os vizinhos vão falar? Os filhos são obrigados a presenciarem constantes brigas do casal, mais de uma vez já viram sua mãe ser espancada. Mas não podem fazer nada, e nem comentarem com ninguém. Afinal, o que os vizinhos vão pensar?... E todo domingo é possível ver, no banco da igreja, a família feliz e perfeita. Manter as aparências é essencial.
Ano 2011: Paulo e Joana são divorciados. Cada um é feliz em seu novo casamento. São praticamente amigos. A guarda dos filhos é compartilhada. Mas os vizinhos estão falando... ora, quem se importa com o que os vizinhos dizem?
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Por fim, deixo uma pergunta: em algum momento nos tornamos idiotas, ou simplesmente paramos de esconder o que sempre fomos?
Ano 1959: Alfredo é casado com Laura. Um belo dia chega bêbado, não gosta do que ela fez pro jantar. Dá uma surra nela. Os vizinhos assustados não movem um dedo pra ajudar. A polícia não tem jurisdição sobre assuntos internos de uma famíilia.
Ano 2011: Laura vai numa delegacia, denuncia Alfredo. Os vizinhos servem de testemunha que ele é um cara violento e perigoso. Ele vai preso.
Cenário 2: Namoro
Ano 1959: Vera tem 25 anos. Começa a namorar com Julio, também 25. Cada saída deles é controlada pela mãe dela. Na maioria das vezes, são obrigados a levar os dois irmãos menores dela junto. O horário pra voltar pra casa é antes de escurecer, e se rolar um beijo Julio pode ir parar na delegacia.
Ano 2011: Vera e Julio são adultos. Ambos trabalham e pagam suas contas, e ninguém tem nada a ver com o namoro deles. Todo sábado, cinema, jantar e motel.
Cenário 3: Estudos
Ano 1959: Diego é filho de um trabalhador do campo. Ele já está com 8 anos, seu pai acha que já está na hora de ajudar. Começa trabalhando de tarde, após o almoço. Quando vem uma época de serviço mais pesado, seu pai faz ele trabalhar também de manhã. "Trabalhar é o que um guri tem que aprender pra ser homem, colégio é frescura." Pelas faltas ele reprova o ano. Pela reprovação, ele não tem a menor vontade de voltar a estudar ano que vem, vai parecer um mangolão maior que o resto da turma. Além do mais, a maioria dos amigos dele também estão saindo da escola pra trabalhar, orgulho de fazer coisa de adulto. Diego vai ser trabalhador do campo pelo resto da vida.
Ano 2011: O pai de Diego tem problema com a lei se tirar ele da escola. Ele pode não seguir adiante e nem tirar proveito dos estudos, mas a chance está ali. Quem sabe ele não consegue ir mais além e fazer um curso técnico, uma faculdade?
Cenário 4: Histórias em quadrinhos
Ano 1959: A histeria contra essa forma perniciosa de "subliteratura" estavam com força total. Poucos anos antes, multidões haviam organizado grandes queimas de gibis em praça pública nos Estados Unidos, e a paranóia ecoava no Brasil. A igreja tinha grande influência na sociedade, e também odiava os quadrinhos (boa parte dos padres eram italianos que rezavam pela cartilha de Mussolini).
Ano 2011: Quadrinhos reconhecidos como manifestação cultural válida, artistas recebem até incentivo do governo para lançar obras, são usados em questões do Enem, a diversidade nas bancas é incomparável a qualquer outra época e pouquíssimas pessoas acham ruim alguma criança estar lendo gibis.
Cenário 5: Violência doméstica 2
Ano 1959: Ninguém questionava a autoridade de um pai. Um vizinho da minha mãe chegou a quebrar o braço do filho em dois lugares, sem sofrer nenhuma represália. Era muito comum crianças com dentes quebrados.
Ano 2011: Violência contra crianças é combatida. É difícil porque ainda existe a cultura de espancar crianças, e é visto como normal um pai bater nos filhos. Mas existe a sensação de limites.
Cenário 6: Saúde
Ano 1959: Seu Euzébio vive com a família numa casa de pau a pique, com uma "casinha" nos fundos que serve de banheiro. Mas não foi atacado pela doença de Chagas, transmitida pelos barbeiros muito comuns nesse tipo de habitação, e nem a cólera muito mais fácil de pegar em ambientes contaminados como patentes, e sim "aquela doença". Sim, era tão terrível que as pessoas evitavam falar o nome. E muita gente evitava chegar perto de quem tinha, afinal se sabia muito pouco e a ignorância levava muitos a pensarem que era contagiosa. Seu Euzébio vive o resto de seus dias em cima da cama, com fortes dores, e muitas pessoas mantendo distância.
Ano 2011: A situação está longe de merecer comemorações (plano de saúde é privilégio de poucos), mas com certeza alguma coisa melhorou. Hoje em dia já não é mais fora da realidade levar uma pessoa doente até um lugar onde receba ajuda. A maioria das pessoas vive em cidades, diferente de 1959 quando o Brasil era predominantemente rural (e longe dos hospitais). E boa parte das superstições não mais existem, hoje o câncer de Seu Euzébio poderia até ser tratado e curado, ou talvez não, mas é bem provável que ele sofreria menos do que em 1959.
Cenário 7: Religião
Ano 1959: A igreja católica tem grande influência na sociedade. Em algumas comunidades, pessoas podem ser discriminadas simplesmente por não freqüentarem a igreja. Padres têm influência muito maior do que deviam, obviamente seria impossível denunciar algum que cometesse abuso, mesmo contra crianças, afinal eram uma classe VIP de cidadãos. As ordens da igreja pesavam tanto que não existia divórcio, só seria permitido por lei dali a 18 anos, em 1977.
Ano 2011: Algumas coisas mudaram. Ninguém mais é execrado por não freqüentar uma igreja. Padres não mandam e desmandam mais na maioria dos lugares, e o governo já não mais se ajoelha perante as decisões da igreja. Nas eleições do ano anterior, grande parte do povo cagou e andou para a opinião da igreja, ainda que o próprio Papa tenha dado palpite.
Cenário 8: Aparências
Ano 1959: Joana e Paulo são casados. Têm filhos. Família perfeita... exceto que Joana tem um amante. Ela tem que manter isso escondido, porque pode ser morta se Paulo descobrir. Por outro lado, Paulo também tem amantes. Ele não gosta mais de Joana mas é obrigado a continuar com ela, afinal casou... poderia desquitar, mas o que os vizinhos vão falar? Os filhos são obrigados a presenciarem constantes brigas do casal, mais de uma vez já viram sua mãe ser espancada. Mas não podem fazer nada, e nem comentarem com ninguém. Afinal, o que os vizinhos vão pensar?... E todo domingo é possível ver, no banco da igreja, a família feliz e perfeita. Manter as aparências é essencial.
Ano 2011: Paulo e Joana são divorciados. Cada um é feliz em seu novo casamento. São praticamente amigos. A guarda dos filhos é compartilhada. Mas os vizinhos estão falando... ora, quem se importa com o que os vizinhos dizem?
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Por fim, deixo uma pergunta: em algum momento nos tornamos idiotas, ou simplesmente paramos de esconder o que sempre fomos?
Re: Algum momento entre... 1959/2011
Adorei as colocações de ambos!
No cenário Religioso muita coisa mudou mesmo, no cenário escolar, é triste mas real (ou surreal)!
Parabéns pela criatividade meninos!
Respondendo ao Brainiac:
Quando nos rendemos a televisão!
Respondendo ao Koppe:
Quando nos tornamos zumbis, escondemos nosso verdadeiro sentido de vida e liberdade perante a mídia controladora do capital, porém, aos poucos, alguns insurgentes estão se levantando e se desplugando do controle midiático.
No cenário Religioso muita coisa mudou mesmo, no cenário escolar, é triste mas real (ou surreal)!
Parabéns pela criatividade meninos!
Respondendo ao Brainiac:
EM QUE MOMENTO FOI, ENTRE 1959 E 2011, QUE NOS TRANSFORMAMOS ESTE BANDO DE IDIOTAS?
Quando nos rendemos a televisão!
Respondendo ao Koppe:
em algum momento nos tornamos idiotas, ou simplesmente paramos de esconder o que sempre fomos?
Quando nos tornamos zumbis, escondemos nosso verdadeiro sentido de vida e liberdade perante a mídia controladora do capital, porém, aos poucos, alguns insurgentes estão se levantando e se desplugando do controle midiático.
Mononoke Hime- Farrista "We are the Champions"
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Data de inscrição : 09/06/2010
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Re: Algum momento entre... 1959/2011
a humanidade sempre foi e será idiota,só os detalhes que mudaram,continuamos fazendo as mesmas merdas e as que são proibidas hoje substitutimos por novas merdas e assim caminha a humanidade
_________________
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"Seu verdadeiro lar está dentro do seu coração e continua com você onde quer que você vá; mas um lugar legal e aconchegante é um motivo maravilhoso para voltar para casa!"
-J.R.R.Tolkien
Re: Algum momento entre... 1959/2011
Questao escreveu:a humanidade sempre foi e será idiota,só os detalhes que mudaram,continuamos fazendo as mesmas merdas e as que são proibidas hoje substitutimos por novas merdas e assim caminha a humanidade
nunca concordei tanto contigo quanto agora...
Re: Algum momento entre... 1959/2011
Entre a comparação do Brainiac e a do Koppe prefiro mais a segunda. Conversando com o povo mais velho dá pra notar que antigamente as coisas eram bem mais difíceis.
alancosme32- Farrista das "Árvores Somos Nozes"
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Re: Algum momento entre... 1959/2011
Prova cientifica de que o mundo está melhorando. Trabalho de Steven Pinker, 57, psicólogo evolucionista da Universidade Harvard.
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alancosme32- Farrista das "Árvores Somos Nozes"
- Mensagens : 788
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Re: Algum momento entre... 1959/2011
Não concordo com a comparação ambas são muito restritas e não permitem variações tão típicas da nossa cultura. Cada subcultura possui um desenrolar diferente para cada exemplo citado nas comparações acima. Não dá pra padronizar.
Convidad- Convidado
Re: Algum momento entre... 1959/2011
não tem mais tantos conflitos porque hoje tudo acaba se jogarem uma bomba nuclear na testa do inimigo,se os paises poderosos quisessem poderiam acabar com todas as guerras do mundo,mas o pior é que eles querem guerras para manipular a economia e politica locais,por isso acho o mundo atual muito mais sinistro que o mundo do passado,no passado um grupo de caras com espadas ou pedaços de madeira poderiam vencer exercitos e mudar a historia,hoje com misseis e armas atomicas nada muda ,tudo é estatico apenas os detalhes se modificam .tudo está sob controle deles
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"Seu verdadeiro lar está dentro do seu coração e continua com você onde quer que você vá; mas um lugar legal e aconchegante é um motivo maravilhoso para voltar para casa!"
-J.R.R.Tolkien
Re: Algum momento entre... 1959/2011
Koppe escreveu:Olha, muito cuidado com a idealização do passado. Eu gosto muito de conversar com pessoas mais velhas sobre como eram as coisas antigamente, e não eram lá essas maravilhas. Esse texto só mostra um lado.
Também acho.
Convidado- Convidado
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