Sugestões do amor perdido e a espada metalinguística em "Palavra Acesa"

Uma novela da globo que se chamava “Pedras sobre pedra”, salvo engano, tinha na sua trilha uma música muito interessante chamada “Palavra Acesa” do um conjunto musical “Quinteto Violado”.
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Palavra Acesa

Se o que nos consome fosse apenas fome
Cantaria o pão
Como o que sugere a fome
Para quem come
Como o que sugere a fala
Para quem cala
Como que sugere a tinta
Para quem pinta
Como que sugere a cama
Para quem ama

Palavra quando acesa
Não queima em vão
Deixa uma beleza posta em seu carvão
E se não lhe atinge como uma espada
Peço não me condene oh minha amada
Pois as palavras foram pra ti amada
Pra ti amada
Oh! pra ti amada
Palavra quando acesa
Não queima em vão
Deixa uma beleza posta em seu carvão
E se não lhe atinge como uma espada
Peço não me condene oh minha amada
Pois as palavras foram pra ti amada

Pra ti amada
Oh, pra ti amada
Pra ti amada
Pra ti amada
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Se o que nos consome fosse apenas fome;Cantaria o pão;Como o que sugere a fome;Para quem come

A música começa com uma reflexão sobre o desejo, mas não é qualquer um e sim desejo por algo que nos falta. Toda vez que não podemos possuir algo que desejamos profundamente, somos consumidos de alguma forma por essa ausência. A expressão máxima dessa dilapidação que sofremos é a sugestão que um objeto que se apresenta acessível pode nos fazer do objeto inacessível que está sendo alvo de nosso desejo não realizado.
Imagens de objetos alcançáveis que sugerem outros objetos desejados porém inalcansáveis, são apresentadas na sequência. Cada nova imagem tem importância na sua singularidade.O primeiro objeto que sugere algo desejado é o Pão. Quem olha o pão e tem fome lembra do que ele representa para a alimentação. Depois vem a fala que nos lembra de quando queremos dizer algo e não dizemos. Ainda tem a tinta que sugere ao pintor a inspiração para fazer suas obras.
Por último, aparece o objeto que é o mais importante para a música que é a cama. Ela sugere o amor que é o amor carnal, mas também é o amor em sua expressão pura. A cama sugere ao apaixonado o objeto de seu amor. O apaixonado em questão não é correspondido atualmente em seu amor, mas que um dia o foi. Ele foi abandonado por quem desejava. Supõe-se isso porque ele precisa ter partilhado a cama em algum momento com o objeto de amor para que a cama o sugira esse sentimento.
A cama sugere nele a lembrança dos tempos em que ele era correspondido em seu amor e isso acende o lamento pela perda.
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Palavra quando acesa; Não queima em vão; Deixa uma beleza posta em seu carvão; E se não lhe atinge como uma espada; Peço não me condene oh minha amada; Pois as palavras foram;pra ti amada

Nessa segunda estrofe, começa uma espécie de confissão do significado da reflexão sobre a dilapidação provocada pelo desejo não satisfeito. Esse significado é uma espécie de lamento que se utiliza de uma reflexão metaliguística.
O texto diz que palavra quando acesa não queima em vão. Essa reflexão sobre o poder da palavra no seio de sua expressão mesma é o mote da letra. A palavra, na sua singularidade, é uma brasa que se acende clamando pelo entendimento e pela comoção de quem ela foi direcionada. E a palavra em questão é a reflexão que o eu-lírico faz da dilapidação que o desejo não correspondido provoca nele. O sujeito direciona à amada que o rejeita essa reflexão para ver se ele consegue comovê-la. Por isso reflete em seguida sobre o poder da palavra acessa.
A palavra acesa é como uma espada metalinguística que ele direciona a ela para ver se a atinge. Ele espera que consiga, mas pede desculpas para ela se não conseguir seja porque seu golpe não foi certeiro, seja porque ela não consiga ou não seja dígna de perceber a força da palavra acesa. Por isso ele diz que essas palavras foram para a amada.
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(Inconcluso)