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Politicamente Correto em Excesso

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Mensagem por Quero Café Sex Fev 12, 2016 7:19 am

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04/02/2016 10h35 - Atualizado em 04/02/2016 13h42
Bebê com algema e cassetete em post da PM gera polêmica em rede social
Imagem foi publicada em Twitter e Facebook da PM de São Paulo.
Para advogado, foto coloca bebê em situação constrangedora e viola ECA.


Cíntia Acayaba
Do G1 São Paulo

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A foto de uma bebê fardada com algemas e cassetete publicada na noite de terça-feira (2) no Facebook e no Twitter oficial da Polícia Militar de São Paulo gerou polêmica nas redes sociais. Em nota, PM diz que a "farda simboliza valores fundamentais para a comunidade". (leia mais abaixo)
A imagem publicada com a mensagem “Boa Noite” e a hashtag #podeconfiarpmesp recebeu críticas de seguidores do Twitter, como “se ela soubesse o que vocês fazem, choraria de medo dessa farda”, “só faltou colocar um revólver na mão da criança. #semnocao”, “já vem com minispray de pimenta e bombinha de gás lacrimogêneo?”, “banalização e culto à repressão, deveria ser crime”, “que absurdo, quem foi o irresponsável que aprovou isso? Isso é uma vergonha”, entre outros.
Já na página do Facebook, a maioria dos comentários foi favorável à publicação da foto: “A essa pode me prender kkkkk linda foto parabéns”, “Boa noite Guerreiros!!! Muito bacana essa pequena PM, já tem perfil de policial !!! Ótimo trabalho à toda Corporação !!!”, “Boa noite. Quero fazer uma roupa assim pra minha neta. Linda essa princesa”, entre outros.
Estatuto
Para Ariel de Castro Alves, coordenador estadual do Movimento Nacional de Direitos Humanos e um dos fundadores da Comissão da Criança e do Adolescente do Conselho Federal da OAB, a exibição da imagem viola o artigo 232 do Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA): “Submeter criança ou adolescente sob sua autoridade, guarda ou vigilância a vexame ou a constrangimento”, com pena de seis meses a dois anos.
“A criança é colocada em uma situação constrangedora, vexatória. Foi exposta com uma arma, ainda que não seja uma arma de fogo, mas armas usadas para reprimir, como o cassetete e a algema para prender”.
“Não são brinquedos. Fazem parte dos instrumentos de trabalho da corporação. Houve uma utilização indevida. Foi claramente entregue por um adulto que faz parte da corporação”, completou.
Para Ariel, a foto pode gerar problemas para a criança no futuro. “Por ela ter sido colocada com símbolos de repressão e violência de uma polícia vista como repressiva, ela pode passar por situações de constrangimento na escola”.
O coordenador acredita que a polícia deva retirar a foto ou se retratar. Castro também afirmou que vai pedir ao setor de Direitos Humanos do Ministério Público de São Paulo que analise o caso.
A Polícia Militar, por meio de sua assessoria de imprensa, informou que as fotos publicadas nas redes sociais são enviadas por internautas. Além disso, afirmou em nota, que a farda simboliza, entre outras coisas, "honra" e "civismo".
Leia a nota da PM na íntegra:
A Polícia Militar informa que as fotos são enviadas, como em inúmeras outras situações anteriores publicadas, por internautas ou selecionadas por outras mídias sociais, de caráter público. A farda simboliza valores fundamentais para a comunidade, tais como: o patriotismo, a proteção, o civismo, a honestidade, a honra, a coragem e a dignidade humana.
Também simboliza o juramento, o sacrifício, muitas vezes da própria vida, representado pelos 7 policiais militares assassinados em 35 dias nesse ano, em prol do bem comum, ato nobre nos países mais desenvolvidos, pois é símbolo de orgulho para tais sociedades.


Fonte: [Tens de ter uma conta e sessão iniciada para poderes visualizar este link]

2


11/02/2016 17h40 - Atualizado em 11/02/2016 20h13
Pais publicam fotos de crianças com farda após PM retirar post polêmico
PM publicou imagem de menina com cassetete em site oficial.
Corporação retirou post e militares passaram a publicar fotografias.


Kleber Tomaz
Do G1 São Paulo

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Após a foto de uma bebê fardada com algemas e cassetete gerar polêmica nas redes sociais, campanhas surgiram na internet para que pais divulguem mais fotografias de seus filhos menores com uniformes. A imagem da menina foi publicada nos sites oficiais da Polícia Militar (PM) de São Paulo e, posteriormente, foi retirada pela corporação.
Além de fotos de crianças fardadas, internautas militares ou simpatizantes de todo o país postaram vídeos em repúdio àquelas pessoas que criticaram a foto da bebê fardada com armamento.

Entre as fotos quer circulam na web em apoio à divulgação da imagem da bebê fardada estão algumas com crianças segurando ou portando na cintura o que parecem ser armas -pela imagens não é possível saber se são verdadeiras ou de brinquedo.
Outras também posam com equipamentos militares. Há até uma foto antiga, atribuída ao ano de 1932, com crianças usando uniformes ao lado de um canhão. (Em 1932, o estado de São Paulo estava mobilizado em um conflito armado, a Revolução Constitucionalista.)

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Essas imagens estão sendo publicadas e compartilhadas em comunidades ligadas a militares no Facebook.
“Vai ter criança fardada sim seus imbecis vagabundos!”, informa trecho de um texto numa das páginas de um dos grupos que mostra um recém-nascido vestido com uma camiseta em alusão a uma das tropas da PM.
“Preocupem-se em cuidar das Crianças desamparadas, use seu poder e dinheiro em favor dos pequenos oprimidos e para de se incomodar com aqueles que seguem princípios e tradições”, escreveu um internauta sobre uma foto que mostra quatro crianças fardadas, com boinas e cintos.
"Eu prefiro ver crianças fardadas do que vê-las entregue ao crime [SIC]", informava a frase sobre a fotomontagem que exibe crianças vestidas como policiais ao lado de outra com um garoto armado representando um bandido.

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A foto da bebê uniformizada, com algemas e cassetete, que desencadeou essa avalanche de novas imagens de crianças uniformizadas havia sido divulgada no último dia 2 no Facebook e Twitter da PM de São Paulo. Mas ela acabou retirada pela própria corporação, dois dias depois que o G1 publicou reportagem sobre o debate na web por causa da imagem.

Por meio de sua assessoria de imprensa, a Polícia Militar havia informado que a decisão de retirar a foto ocorreu por causa do "mal-entendido". A publicação da fotografia da bebê estava recebendo críticas e elogios na ocasião.
Naquela oportunidade, Ariel de Castro Alves, coordenador estadual do Movimento Nacional de Direitos Humanos e um dos fundadores da Comissão da Criança e do Adolescente do Conselho Federal da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), tinha dito à equipe de reportagem que a exibição da foto violava o artigo 232 do Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA).
“Submeter criança ou adolescente sob sua autoridade, guarda ou vigilância a vexame ou a constrangimento”, com pena de seis meses a dois anos, segundo afirmou Alves. “A criança é colocada em uma situação constrangedora, vexatória. Foi exposta com uma arma, ainda que não seja uma arma de fogo, mas armas usadas para reprimir, como o cassetete e a algema para prender".
O coordenador pedia a retirada da foto ou a retratação da corporação por entender que ela poderia gerar problemas para a criança no futuro. “Por ela ter sido colocada com símbolos de repressão e violência de uma polícia vista como repressiva, ela pode passar por situações de constrangimento na escola”, disse.
Castro também afirmou nesta quinta-feira (11) que já pediu ao setor de Direitos Humanos do Ministério Público (MP) de São Paulo que analise o caso.
A Polícia Militar, por meio de sua assessoria, tinha rebatido as críticas na internet, informando que as fotos publicadas nas redes sociais são enviadas por internautas. Além disso, informou em nota, que a farda simboliza, entre outras coisas, "honra" e "civismo".
Ainda na semana passada, em nota à equipe de reportagem, a Polícia Militar informou que a mãe da criança havia interagido com a publicação, agradecendo a corporação pela divulgação da foto num comentário. Procurada pela TV Globo, a mulher afirmou, no entanto, que não autorizou a publicação. Disse ainda que a imagem foi feita em um ensaio fotográfico com a criança.

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Mensagem por Quero Café Sex Fev 12, 2016 7:21 am



Gostaria de ter achado vídeos com o outro lado, ou seja, vídeo em que haja manifestações contrárias à postagem do bebê fardado, mas não encontrei ainda.
Se alguém quiser postar, que o faça.
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Mensagem por Quero Café Sex Fev 12, 2016 7:23 am

Estou ficando com a impressão de que nossa sociedade está dividida
e em crise de identidade.
Só não sei ainda a extensão dessa divisão.
(Não que essa seja uma tese originalíssima, mas nem tenho a vontade de fazer isso.)
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Mensagem por Jamm Dom Fev 14, 2016 6:20 pm

Diógenes Laércio escreveu:
O que você está chamando de câncer, Jamm?
Diga-o explicitamente se você julgar que com isso não lhe advirá nenhum tipo de situação adversa seja legal ou seja qualquer outra.
Dê-nos a oportunidade de saber coisas que não saberíamos de outro modo.

Há,algumas ocasiões em que, por falta e/ou pouco  conhecimento, de temas históricos ou, até em outros caso, na posse do conhecimento, uma outra interpretação é feita, normal. Algo inerente a todos nós.

Contribui para o certame.

Em todo caso, chancelo a opinião dessa moça em relação ao episódio da família:

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Mariana Emiliano
11 de fevereiro às 15:18 ·
Carta aberta a meu amigo Fernando Bustamante

Passou o carnaval, passaram as cinzas, mas as marcas do fogo que nos queimou nos últimos dias ficarão por muito tempo. Tenho estado muito incomodada, como muitos, com a situação envolvendo meu amigo Fernando Bustamante e sua família. Sim, ele é meu amigo. O que me deixa em lugar muito desconfortável, pois tenho dedicado os últimos anos da minha vida a estudar a arte e as culturas negras no Brasil. Mas é isso, o racismo é desconfortável, e por isso não posso me abster de declarar o que penso; tenho sido solicitada tanto pelos nossos amigos em comum quanto pelos meus amigos que lutam pela causa nos movimentos sociais. Então, trago aqui algumas reflexões, que já enviei individualmente ao Fernando, para que possamos refletir juntos sobre tudo isso que nos transtorna. Escreverei diretamente à pessoa dele, pois me sinto, como amiga, à vontade para falar o que precisa ser dito, mesmo que doa, com respeito e carinho, acreditando que os erros nos fazem crescer. Vamos lá.

Caro amigo,
uma vez, quando trabalhamos juntos, você me corrigiu bruscamente por um erro que cometi, lembra? Para dois virginianos que somos, a correção é o melhor caminho para a perfeição. Nunca mais cometi aquele erro. E devolvo agora o mesmo ato, corrigindo um erro grave que você cometeu, no desejo de que não cometa mais o mesmo. No estilo “senta lá, Cláudia” que certa apresentadora falou pra uma participante de seu programa de TV, e escute o que vou dizer.

Durante todo nosso percurso na faculdade de Teatro, nunca, em nenhum segundo, ouvi falar de Abdias do Nascimento, do Teatro Experimental do Negro, de Mercedes Batista…nem você, não é?! Tivemos uma formação que julguei excelente, mas que logo que saí percebi uma lacuna enorme: não aprendemos nada sobre arte, teatro, cultura negra. Um ou outro professor que tivemos citou o nome de um ou outro escritor negro, mas isso passou batido…

Avancemos no tempo. Você trilhou um caminho bacana, casou e teve um filho negro. Decidiu sair fantasiado no carnaval e recorreu aos seus figurinos de personagens da Disney para cair na folia. E o que tinha no acervo que mais se aproximava da imagem do seu filho? (Pausa, música de surpresa) tcharaaaaammmm! Um macaco! Pois é, Fê, no mundo encantado da Disney, nós, negros e negras não existimos, não temos personagens que nos representem como queremos ser representados, no muito, uma princesa que vira sapo! No mundo encantado das histórias infantis, os príncipes e reis e princesas e rainhas são loiros de olhos azuis, iguaizinhos aos europeus. Os negros ficam nos papéis subalternos, pequenos, sem muito destaque, são as bruxas más, o vilões que morrem no final. Talvez porque no imaginário coletivo a morte ainda é o melhor que desejam para nós, ainda que inconscientemente. Se você não sabia disso, fique sabendo.

Quando seu filho sai vestido de macaco e uma multidão grita, acredite, estamos prezando pelo Matheus. Essas pessoas todas que parecem exageradas, dramáticas, canastronas, são, na verdade, uma massa que saiu do silêncio e, depois de anos de luta e de organização, de debates, estudos e experiências, se une para proteger esse menino que poderia (caso não estivesse com um casal bacana como vocês) estar fadado a ser agredido e oprimido pelos próprios pais. Foi-se o tempo em que um ato racista passava impune no Brasil. Foi-se o tempo em que suportávamos nossas dores sozinhos. As coisas mudaram muito! E por isso tanto barulho.

Na história da sociedade brasileira, houve um esforço dos colonizadores em fazer os negros se dividirem e para isso fomos “separados” entre pretos, mulatos, moreno claro, moreno escuro,moreninha, marronzinho, etc. Isso dificultou muito o processo de reconhecimento da identidade negra. Nos últimos anos, graças à facilidade de comunicação e ao acesso ao conhecimento que nos foi negado ( falei da ausência de informações sobre teatro negro na Faculdade, um exemplo) nós estamos cada vez mais conscientes de nossa memória e isso afeta diretamente o que somos. Tiramos a venda dos nossos olhos, descolonizamos nossa mentalidade e não deixamos mais que outros contem nossas histórias, não deixamos que falem sobre nós de forma equivocada, não deixamos que usem nossos símbolos de modo desrespeitoso, pegamos o microfone, escrevemos nossos roteiros, dirigimos e produzimos nossa Arte, escrevemos teses sobre aquilo que antes era “objeto” de curiosidade de brancos descobridores. Cresce entre nós o sentido da filosofia africana UBUNTU, que significa “eu sou porque nós somos”. Assim, a vida de Matheus e, consequentemente a de seus pais, nos interessa, porque se Matheus não estiver bem, também não estaremos. Se Matheus for mais um menino negro a ser ofendido e exposto, nós não vamos suportar. Se Matheus sofrer, na sua real inocência, sofreremos com ele. Ele é um dos nossos e nós fazemos parte dele, queiram ou não. Temos uma história em comum e ninguém pode tirar isso de nós.

Outro pensamento presente em sociedades africanas e indígenas diz que “é preciso uma aldeia inteira para educar uma criança”. Hoje mais do que nunca compreendo essa verdade. O papel dado aos pais de cuidar e formar um cidadão se estende a todos e todas que estejam ao redor da família. Em tempos de Facebook, Instagram, falamos de uma comunidade de milhões. Pois é. É esse povo todo que lhe esbofeteia no seu erro. E vai ser esse povo todo que vai apoiar o Matheus quando ele for espancado injustamente pela polícia, quando o professor da escola de elite menosprezá-lo só por ser negro, quando ele for barrado na porta de um teatro por ter cara de “suspeito”, quando o colega de faculdade chamá-lo de macaco e mostrar, heroicamente, uma foto de quando ele era criança. Não sei se vocês estão preparados para isso. Nós estamos.

Outra coisa muito cruel: vendo as falas de defesa (compreendo tanto carinho dedicado a vocês, assim como o fiz) muito me afligem as falas rasas, sem conhecimento, que desvalorizam a experiência de quem vive a realidade do racismo todos os dias. Sinceramente, me incomoda ainda mais o discurso de que “vocês não são racistas, adotaram um menino negro abandonado por uma mãe…” Ai! Não sei se você percebe, mas a maioria dessas pessoas repetem uma coisa: “ Matheus é um menino que foi abandonado, foi adotado, coitado, que sorte a dele de ter o amor de vocês.” Essas pessoas fazem, e sempre farão questão de colocar o Matheus “no lugar dele”, pelo menos no lugar em que a elite branca belorizontina não vai deixá-lo sair: a de um menino negro adotado! Dói saber, mas é assim. Para esses negros e negras que rugiram como leão bravo em defesa do Matheus, ele é um ser humano que precisa ser respeitado em sua identidade, que precisa de apoio e conforto contra a as armadilhas racistas desse país de falsa democracia racial. Ele é um de nós que por alguma razão, que não conhecemos, será cuidado por outra família que não a de sangue. Se soubermos que as mulheres negras, como eu, são as que mais morrem nos hospitais, que mais sofrem violência do médicos quando vão parir, as que mais enlouquecem ou entram em depressão, as que mais sofrem violência doméstica, aumentam as chances de que seu filho tenha escapado de algumas dessas situações acima. Uma realidade nada agradável para se contar nos musicais. Mas é a vida por trás do véu da invisibilidade social do negro no Brasil. Caiu o pano, os bastidores se revelam: Sim, somos todos racistas na nossa estrutura e estamos desconstruindo as barreiras que nos impuseram. E vamos rugir como leões e leoas cada vez que um dos nossos for oprimido.

Dizem que quando nasce um filho, nasce também uma mãe. A Cynthia, digo que seu caminho, uma vez retirado o véu da ignorância que a separa da história de Matheus, será muito mais difícil. Bem-vinda ao clã das mães de meninos negros, onde os corações não dormem enquanto seu filho não entra em casa, onde os narizes tortos são diários e as ofensas se disfarçam de brincadeiras sem maldade. Minha filha, se prepara! Será impossível embranquecer o Matheus, então, enegreça, compreenda a poesia do ato de denegrir e reconheça bem quem são seus aliados. Aquela amiga de condomínio que enche a boca pra falar que tem uma empregada negra que é quase da família não será a melhor companhia. Acredite, para ela, seu filho é um eterno menor abandonado. E não é isso que ele é, não é mesmo?! Sabemos, você e eu, o quanto ele é especial e o quanto é digno do carinho e amor que recebe. E digo mais: ele lhes presenteia com a possibilidade de acessar um universo que talvez vocês nunca conhecessem.

Há muita coisa a dizer, são séculos de experiências que transbordam por uma fresta como essa e será impossível dar conta de tudo em um texto. Fico com a fala de uma artista que disse que é hora de dar a mão ao colega de profissão e dizer que se erra. Todo mundo erra e você errou feio! Mas essa é a grande a oportunidade de virar a chave, de descolonizar seu pensamento, compreender que seu ato foi, sim, racista, pois o racismo está entranhando na sua forma de pensar e ver a vida. Agora, o que farão daqui pra frente é de total responsabilidade de vocês, pais de uma indivíduo negro. Vai ter que ler, vai ter que mostrar pro Matheus “Kirikou e a Feiticeira”, os livros de contos afro-brasileiros, histórias africanas; vai ter que falar sobre Zumbi dos Palmares, Chico Rei, Chica da Silva, Dandara, Aqualtune, Martin Luther King, Mandela; vai ter que ler sobre Abdias do Nascimento, ver os filmes de Joel Zito Araújo, ler Kabengele Munanga, Julio Tavares, Liv Sovik; ver as peças do Denilson Tourinho, João das Neves, Aldri Anunciação; vai ter que ouvir o Alexandre De Sena, a Grace Passô, a Larissa Borges, ouvir o Evandro Nunes de Lima falar de Teatro Negro, o Juliano Gonçalves Pereira falar de juventude negra; vai ter que colocar um Rei Leão preto, produzir musicais sobre os bantos, os malês, os Yorubas, saber falar de umbanda e candomblé e congado, pegar a ginga da capoeira, cantar samba, dançar maracatu, jongo; vai ter que saber falar pro seu filho que ele não é descendente de escravo e sim, de reinos e civilizações destruídos pela fúria da colonização; vai ter que explicar que África não é um país e que Egito, uma das civilizações mais incríveis do mundo, é um país africano; vai ter que ver a tia Mari dançando, vai ter que procurar ajuda com quem vive isso há mais tempo, conversar com a Priscilla Celeste, mãe de uma menino negro que lhe mostrou o mundo que vocês descobrem agora; vai ter que ver filme sobre os Panteras Negras, sobre Besouro, sobre os orixás, sobre o racismo na infância, assistir “a negação do Brasil”… Tanta coisa…

E se quiser apoio pra isso, meu amigo, pra se enegrecer no pensamento e dar ao Matheus todo o suporte necessário para que ele cresça consciente e empoderado, eu estarei aqui! Eu e milhares de nós. Mas se for pra se fechar nessa redoma de um mundo encantado onde não se fala em racismo, sinto muito. Sinto muito mesmo! Quando Matheus crescer e puder buscar, por ele mesmo, suas referências, nós ainda estaremos aqui.

Por Matheus, por todas as crianças negras para quem queremos deixar um mundo melhor.

Ubuntu! Axe! Namastê!
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Mensagem por Quero Café Dom Fev 14, 2016 6:57 pm

Obrigado.
Li o texto.
Achei-o como um todo interessante, mas não posso deixar de dizer que tenho divergências tanto pontuais quanto de espírito por assim dizer.
Tenho algumas ideias a respeito da coisa toda que posso até estar disposto a mudar se achar que vem ao caso.
Vamos lá. Reflitamos de forma não organizada.
Não existe racismo não intencional.
O ato que o casal praticou foi um ato de amor, embora de tremendo mau gosto.
O que eles fizeram cheira mais a ingenuidade que ofensa deliberada.
Chamar-se-á o que eles fizeram de racismo?
Prefiro esperar para responder à questão.
Fico pensando se a desproporção entre as reações e o ato praticado não fazem com que as reações caminhem para além da justiça.
Acho que esses movimentos são muito virtuosos em muitos sentidos, mas acho que às vezes falta-lhes uma certa auto-crítica.
Vê-se vez por outra interpretações pouco plausíveis, exageros e muitas vezes enganos mesmo.
Isso pode trabalhar contra o movimento.
É o que penso.
Expressei-o com respeito e parcimônia.
Podem discordar de mim se quiserem, mas não podem me proibir de expressar ou me fazer acusações descabidas.
Escreveria mais, porém talvez não seja a hora.
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Mensagem por Quero Café Dom Fev 14, 2016 8:03 pm

O cara respondeu ao texto da Mariana Emiliano.
Eis a resposta.

Fernando Bustamante escreveu:Fernando Bustamante
11 de fevereiro às 16:46 · Belo Horizonte ·

Minha amiga Mariana Emiliano. Como você mesma disse, estou numa posição que, infelizmente, o silêncio parece a melhor maneira de tentar preservar a minha família neste momento. Entretanto, me sinto confortável em dizer que as suas palavras foram tão carinhosas e inteligentes, que devem ser lidas por todas as pessoas que têm acessado meu perfil nos últimos dias. Mateus já assistiu “Kirikou e a Feiticeira”, estamos ansiosos para ver o seu cabelo Black (descobrimos o salão maravilhoso da Dora através da amiga Jai Baptista). Ele ainda não tem muita paciência de sentar para ouvir e ler histórias, mas com certeza em breve estaremos contando outros contos de fadas da Disney, contos afro-brasileiros, histórias africanas e toda a lista maravilhosa de referências que você enviou. Também estamos enlouquecidos pelo encontro dele com o Maurício Tizumba no Tambor Mineiro!
Não ignoro a etnia do meu filho, mas é importante salientar que o exercício de educar trás erros e acertos diários. Quando viramos pai e mãe deixamos de criticar tanto a criação das outras crianças porque só passando por essa experiência para saber como é um trabalho de formiguinha... Como você mesma disse, na minha condição, onde a diferença racial é evidente e suscita a curiosidade das pessoas, cada vez mais invasivas... o exercício diário de ser pai é ainda mais desafiador porque não envolve só amor e carinho. Envolve consciência e imersão num universo de possibilidades, a maioria até então desconhecida (jamais ignorada) por mim.
Me entristece ver negros e brancos se digladiando, com discursos e acusações que não chegam a lugar nenhum. Me entristece quando os ativistas exigem a declaração: Foi racismo e eu queria expor meu filho! (não, isso não aconteceu!), que eu casei com uma afrodescendente e adotei um filho negro para humilhá-lo no Carnaval! Me entristece receber mensagens que milhões de negros estão vomitando por minha causa, sem falar nas ameaças de morte pelo ocorrido! Me entristece a incapacidade dessas pessoas de aceitarem um pedido de desculpas. Me entristece as pessoas dizerem que "O racismo está no olho de quem vê!" Claro que não! Dá uma olhada no meu facebook. Nos primeiros dias de facebook uma criança disse que meu filho era feio porque era sujo! E disse isso inúmeras vezes num vestiário infantil!
Por fim, tudo que eu quero é sossego e paz para a minha família. Todos os conselhos relevantes serão bem-vindos... inbox, por favor!

Repare em algumas partes.

Fernando Bustamante escreveu:Me entristece ver negros e brancos se digladiando, com discursos e acusações que não chegam a lugar nenhum.

Como não lembrar dos grandes Nelson Mandela e Morgan Freeman (grandes mesmo) nesse momento?

Fernando Bustamante escreveu:Me entristece quando os ativistas exigem a declaração: Foi racismo e eu queria expor meu filho! (não, isso não aconteceu!)

Talvez fosse conveniente traçar algumas diferenciações.

Fernando Bustamante escreveu:que eu casei com uma afrodescendente e adotei um filho negro para humilhá-lo no Carnaval!

Que loucura!

Fernando Bustamante escreveu:Me entristece receber mensagens que milhões de negros estão vomitando por minha causa, sem falar nas ameaças de morte pelo ocorrido!

Às vezes parece que pessoas dizem essas coisas sem imaginar que isso causa efeito.

Fernando Bustamante escreveu:Me entristece a incapacidade dessas pessoas de aceitarem um pedido de desculpas.

Olha como esse cara é legal.

Fernando Bustamante escreveu:Me entristece as pessoas dizerem que "O racismo está no olho de quem vê!"


Olha como esse cara é legal.

Fernando Bustamante escreveu:Claro que não! Dá uma olhada no meu facebook. Nos primeiros dias de facebook uma criança disse que meu filho era feio porque era sujo! E disse isso inúmeras vezes num vestiário infantil!

Foda! PQP.


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Mensagem por Quero Café Dom Fev 14, 2016 8:07 pm

Eu não estou propondo que as pessoas não se sintam ofendidas com o que acham que as ofende.
Proponho sim que se deem significados corretos às ofensas.
Qual foi a intenção do autor? O que ele quis dizer, apesar do que disse de fato? Qual é o significado real do que ele disse para além das possíveis interpretações que lhe escaparam?
Proponho também que a reprimenda seja proporcional à ofensa. Nem inferior e nem superior.
Proponho também que a reprimenda tenha, quando pertinente, caráter mais educativo que punitivo.
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Mensagem por ediv_diVad Qua Fev 17, 2016 10:35 am

Artigo interessante que coloca a história do tópico no meio:

O Aladdin, a vendedora de água de Salvador e o risco das histórias pela metade
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Mensagem por ediv_diVad Qui Fev 18, 2016 5:59 pm

Dois artigos que achei pertinentes ao tópico:

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Mensagem por Quero Café Qui Fev 18, 2016 6:09 pm

Li o artigo que fala sobre o Aladin.
Sobre a história da mulher e as garrafinhas de água. Pelamor.
Depois, vou ver se lembro de ler esses dois.
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