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Grandes Nomes da Ciência

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Mensagem por Brainiac Seg Out 10, 2011 4:41 pm

Começo hoje uma série de tópicos sobre os grandes nomes da ciência, alguns famosos, outros não, mas todos contribuíram do seu jeito para a evolução da humanidade.


Grandes Nomes da Ciência 1 : Báskara


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Os olhos curiosos da menina estão impacientes. Ela olha a água se esvaindo e tenta conter a sua natureza, mas é inútil. O que ela fará em seguida selará o seu destino, mas não sabemos o quanto podemos interferir nele e o quanto esse nosso destino é fatídico para que não escapemos dele. Ela não se contém mais e o que a menina de doces olhos faz lançou seu nome na imortalidade e sagrou seu pai como um dos maiores matemáticos da história… E tudo por causa de uma pérola.

Esta é a história de Báskara, o sábio.


Num mundo onde uma tola ideia que a sabedoria do Ocidente foi acarretada pela Igreja Católica, muito já tinha sido descoberto durante os 1001 anos da Ciência Islâmica. Nesse ínterim, outro país se destacou na disseminação e pesquisa de novos saberes, onde o conhecimento era algo levado a sério, a despeito dos ritos religiosos, onde sacerdotes não diziam aos cientistas o que eles tinham que estudar e como tinham que estudar. O país responsável por uma revolução na matemática foi a Índia. Sem ela não teríamos os algarismos hindu-arábicos e, o mais importante de tudo: não teríamos o zero e nem a numeração posicional.

Um dos maiores expoentes da Índia foi um homem chamado de Báskara II, também conhecido como Bhaskaracharya (Báskara, o Sábio), também conhecido simplesmente como Báskara. Ele nasceu pelos idos de 1114 E.C., em Karnataka, Índia. Ele era de uma família pertencente à casta Brâmane, e desde cedo seu intelecto tendia para a ciência dos números, a qual foi ampliada pelos estudos, porque brâmanes estudam muita matemática. Assim, Báskara se tornou um matemático e astrólogo, pois aquele era um tempo em que a astronomia ainda não se dissociara da pseudociência astrológica.

Entre muitos dos trabalhos espetaculares de Báskara, está o desenvolvimento no “Método das Fluxões”, como teria chamado um certo inglês temperamental. Hoje, nós conhecemos isso por Cálculo Diferencial e Integral. Em outras palavras, o que a Europa passou a saber no século XVIII, a Índia já tinha no século XII. De qualquer forma, Báskara não teve esta brilhante ideia do zero, também. Ela toma seus primeiros contornos com os estudos de Aryabhata, matemático e astrônomo indiano nascido em 476 e falecido em 550 E.C.). Neste meio tempo, o Império Romano estava em colapso, a ICAR nem de longe sonhava com o que seria hoje e aqueles rincões lá da Palestina continuavam sendo o que sempre foram: uma terra desolada com um monte de tribos saindo na porrada entre si. Ainda demoraria mais de 100 anos até que surgisse o Islã e os judeus estavam levando porrada por todo lado, mas os chineses mandaram um abraço.

É atribuído a Báskara, também, a solução para a equação do segundo grau [Tens de ter uma conta e sessão iniciada para poderes visualizar esta imagem]cuja raiz pode ser obtida pelo método abaixo:


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Ou, mais simplesmente:

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Coloca-se em dúvida se Báskara realmente foi o inventor desta técnica, já que em alguns tabletes de argila da antiga Babilônia (de cerca de uns 4 mil anos) já traziam métodos para resolver problemas similares. O que faltou aos babilônios foi o refinamento de criar fórmulas mais simples, já que tudo para eles era na base da "receita de bolo" (faça isso, faça aquilo), ao invés de ter uma fórmula, um algoritmo.

Báskara, entre uma continha e outra, ainda espiava o belíssimo céu da sua terra, perscrutando a miríade de estrelas que embelezavam o firmamento. Infelizmente, professores não eram tão bem remunerados quanto videntes, coisa que não mudou muito até hoje. Então, nasceu a primeira de suas preciosidades; e foi desta primeira que vieram as outras. Seu nome era Lilaváti, a filha de Báskara.

O que se segue é uma história que tem algo de fantasiosa, mas que é bela assim mesmo.

Diz-se que, ao nascer Lilaváti, Báskara ficou muito feliz e correu para os astrólogos, de forma que soubesse o que o futuro guardaria para a belíssima menina que viera ao mundo. Os astrólogos predisseram que sua linda Lilaváti teria uma vida feliz e que seria conhecida por todo o mundo, mas que, infelizmente, ela não se casaria. Um golpe difícil, mas se ela vivesse feliz, qual é o problema? O problema surgiu quando Lilaváti completou 18 anos e disse ao pai que ela queria se casar. Que fazer?

Báskara correu para seus cálculos e observou com muito cuidado o que os astros tinham a lhe dizer. Com sua perícia, Báskara descobriu que, sim, sua amada filha lograria um casamento feliz, desde que ela se casasse num dia bem definido e numa hora exata! Como Báskara era famoso, não teve problemas de arrumar um pretendente, já que a menina era muito bonita também (pelo menos, é o que disseram pro noivo, já que só podia ver o rosto da menina DEPOIS do casório), e ter Báskara como sogro não seria nada mal.

Casamento marcado, faltava só esperar o momento exato. Báskara montou uma clepsidra, um relógio de água, de forma que indicasse o momento exato no qual o casamento deveria começar. Lilaváti estava mais enfeitada que jumento de cigano e com um véu espesso, pois o casamento ainda não se consumara. Como a curiosidade é um grande problema, e a vaca da Pandora não me deixa mentir, Lilaváti resolveu dar uma "espiadinha" como o relógio funcionava. Ao se debruçar para ver o mecanismo, uma das pérolas de seu vestido se desprende e cai dentro do relógio. A pérola entope a saída de água e o relógio fica sem funcionar direito.

Aqui temos uma divergência no modo como esta história é contada. Em uma das versões, o tempo passa e, óbvio, a garota não fala nada do que aconteceu. O relógio está parado e o noivo desiste do casamento, largando todo mundo lá e meteu o pé no mundo. Em outra versão, o casamento acontece, mas não na hora indicada. Pouco tempo depois, o noivo morre e como na época garotas viúvas não podiam se casar novamente, Lilaváti ficou solteira!

De uma forma ou de outra, Báskara pensa que a culpa foi dele, por ter arrumado um relógio que não estava funcionando. Assim, ele resolveu imortalizar o nome da filha e, para isso, batizou sua maior obra com o nome da própria filha: Lilaváti, um dos mais importantes livros de matemática da Índia, reconhecido até hoje pela sua magnificência!

Abaixo, vemos uma cópia do Lilaváti num manuscrito do século XVII:

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Mais tarde, Báskara publicaria o Bijaganita, mais um de álgebra, Coladhyaya, o estudo das esferas e o Grahaganita, que discute movimentos planetários, dá indicações de dias do ano e prepara o alicerce matemático para o cálculo de calendários que ainda hoje é usado. Mas foi a forma de poemas que o Lilaváti se tornou a obra-prima de Báskara. O livro educou muitas pessoas, ensinou como resolver problemas, abriu nossa mente para a ciência dos números, deslumbrou, fascinou e serviu de base para grandes mentes como Euler, Gauss, Pascal, Newton e tantos outros. Grandes mentes que reconheceram em Báskara, o Sábio, um dos Grandes Nomes da Ciência.

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Para saber mais

[Tens de ter uma conta e sessão iniciada para poderes visualizar este link] (101 uses of a quadratic equation)

[Tens de ter uma conta e sessão iniciada para poderes visualizar este link] (Matemática babilônia)

[Tens de ter uma conta e sessão iniciada para poderes visualizar este link] (Mathematical Treasures)

[Tens de ter uma conta e sessão iniciada para poderes visualizar este link] (The Pre-History of Calculus and Celestial Mechanics in Medieval Kerala)

[Tens de ter uma conta e sessão iniciada para poderes visualizar este link] (Use of Calculus in Hindu Mathematics)

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Última edição por Brainiac em Qui Out 13, 2011 9:41 am, editado 4 vez(es)
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Grandes Nomes da Ciência Empty Re: Grandes Nomes da Ciência

Mensagem por Goris Ter Out 11, 2011 9:09 pm

Bem, tirando seu lirismo impressionate ao contar a lenda da filha de Bascara, um tema fora do comum mesmo pro ARRAF e muito interessante.

Aliás, embora a matemática em si possa ser meio complicada, ler a história por trás da mesma é sempre divertido.

Valeu!
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Grandes Nomes da Ciência Empty Grandes Nomes da Ciência 2 : Wallace Carothers

Mensagem por Brainiac Ter Out 11, 2011 11:12 pm

Grandes Nomes da Ciência 2 : Wallace Carothers



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O homem com 10 segundos de vida está decidido para o que vai fazer. Sua vida foi estudar e aplicar os conhecimentos de Química, mas a Química não se importa com as pessoas. 9 segundos: o homem olha para copo que tem na mão. A Química se baseia apenas nas propriedades das substâncias e como elas interagem entre si, e como todos os elementos são capazes de originar bilhões de compostos diferentes. 8 segundos: o homem olha para frente, mas não pensa em nada; ele fecha os olhos. A Química e suas leis são inflexíveis e amorais, pouco se importando com o bem ou o mal que farão. 7 segundos: o homem leva o copo à boca. As mesmas propriedades que ajudaram as construir impérios são as mesmas que causaram a destruição destes mesmos impérios. 6 segundos: o homem sente um leve gosto de amêndoas misturado ao sabor do suco de limão e sabe o que acontecerá em seguida, pois fora planejado. Nossa arrogância acha que tudo o que existe no Universo está lá para nos servir, mas nem de longe é isso que acontece. 5 segundos: o suco é bebido até a última gota, e nos 5 segundos a seguir, a solução ingerida chegará ao estômago e as leis da Química farão o que sempre fizeram: regular como uma reação química se processa, sendo os produtos resultantes absorvidos pelo organismo do homem e farão parte do metabolismo, onde outras reações químicas decretarão a morte de Wallace Hume Carothers, o homem responsável por uma revolução têxtil.


Bilhões de anos de evolução biológica acarretaram no aparecimento de uma larva. À primeira vista, seria algo seboso e nojento, que espatifaríamos com nosso sapato; mas se você o fizesse — justamente com esta larva –, você seria condenado à morte… a uma morte MUITO dolorosa. Ninguém podia sequer chegar perto dessa larva, salvo se fosse indicado para isso. Tal larva é o Bombyx mori, e o que ela tem de especial é o que ela produz: fios longos, brilhantes e de toque agradável, conhecido há milênios e que ajudou a dar poder e dinheiro ao Império do Centro: a China. Pois o Bombyx mori é o famoso bicho-da-seda.

O problema do bicho-da-seda é a sua fragilidade, necessitando temperatura e condições especiais para que sobreviva. Isso sem falar que ele só se alimenta de folhas da amoreira branca. A borboleta deposita cerca de 500 ovos, mas nem todos eles eclodem, e as larvas que nascem começam a devorar de forma voraz as folhas, enquanto que seus guardiões têm o cuidado para que a temperatura não suba para maios de 25 °C. O bicho-da-seda constrói um casulo no qual se envolve, formado por um longo fio de proteína, com estrutura firme e resistente, tendo um aspecto límpido e brilhante, capaz de ser tecido nos mais diferentes tipos de vestimenta. O casulo é feito por um único fio de seda, que fora expelida pela boca da larva, isto é, o fio de seda é praticamente vômito da larva do Bombyx mori.

O fio pode ter mais de 2 km de extensão e na época de ser usado, os responsáveis pelo cuidado mergulham os casulos em água fervente, de forma a desgrudar o fio que está unido por uma cola natural, o que acaba mantando a larva também. Por causa de todo este procedimento artesanal, a seda sempre foi cara e, de início, apenas os imperadores podiam usar, até que o capitalismo fez a sua parte e a China aproveitou-se desse mercado bastante lucrativo. Era uma época em que as coisas vindas da China eram consideradas como de extrema qualidade mas, infelizmente, ainda não havia a DealExtreme.

Por causa do alto preço da seda, vários pesquisadores buscaram algum substituto para ela. No século XIX, o conde Louis-Marie Hilaire Bernigaud de Chardonnet produziu o que poderia chamar-se de “seda artificial”,só que ao invés de um longo fio de proteína, Chardonnet usou nitrocelulose (apesar de ser um carboidrato que sofreu nitração, e não uma proteína). Chardonnet preparou uma solução coloidal de nitrocelulose e injetava esta solução em outra através de pequenos furos. A nitrocelulose se recristalizava e os fios eram, assim, formados. Entretanto, este composto tinha um pequeno probleminha: sua inflamabilidade. Isso causou muitos acidentes e até mesmo matou uma pessoa. Mais tarde, em 1890, Jean Marie Adrian Despeissis conseguiu dissolver algodão velho, cavacos de madeira etc. em uma solução de sulfato de cuproso amoniacal, Cu(NH3)4SO4 ; a solução resultante, despejada em uma solução ácida, produziu fios de “celulose regenerada”, que recebeu o nome de “raiom cuproamoniacal”. Em 1892, Charles Frederick Cross, Edward John Bevan e Clayton Beadle patentearam um processo um tanto diferente, mas com o mesmo princípio usado por Despeissis. Eles dissolveram algodão velho e cavacos de madeira em uma mistura de dissulfeto de carbono (CS2) e hidróxido de sódio (NaOH). Ao tratar a mistura com uma solução fracamente alcalina, obtiveram o chamado “raiom viscose”.

Todos esses processos baseavam-se em usar as propriedades da celulose, mas quimicamente não tinham nada a ver com a seda. Assim, não eram um tecido sintético, produzido com substâncias que reagem entre si dando uma terceira substância. Simplesmente usa-se a celulose em estado natural e faz-se um processo de modo a obtê-la em forma mais pura. Por isso é chamada “celulose regenerada”.

Indústrias em todo o mundo buscavam uma alternativa para a seda, cuja qualidade ainda era imbatível, o que acarretava em seu alto preço. Tecidos à base de celulose tinham o problema de absorver água e esgarçarem como tempo, enquanto a seda ainda estava em perfeito estado. Vários químicos se debruçaram no problema, até que a Du Pont de Nemours entrou na jogada.

A empresa buscava um substituto de boa qualidade para a seda, de forma que não se esgarçasse com facilidade, não inflamável, que não ficasse quebradiça nos dias muito frios e comercialmente viável, com custo (relativamente) baixo e preço competitivo. Foi então que eles contrataram a sua estrela: um jovem professor de química orgânica da Universidade de Harvard chamado Wallace Carothers.

Wallace Hume Carothers nasceu em Burlington, Iowa, em 27 de abril de 1896. Sua importância no cenário da Química é tão grande que a [URL="http://pt.wikipedia.org/wiki/Wallace_Carothers"]Wikipédia tem um amplo acervo sobre sua vida e obra.[/URL] O antes pretendente à carreira em literatura inglesa acabou se doutorando em Química Orgânica, e se antes houve a perda de mais um acadêmico chato sobre as obras de Shakespeare ou Chaucer, ganhou-se com seu brilhantismo na ciência das misturas e combinações.

Carothers assumiu a chefia dos laboratórios da Du Pont e começou a pesquisa para o substituto da seda. Diferente dos seus antecessores, Carothers não se preocupou no modo de tentativa e erro até algo que parecesse funcionar como seda. Na época, ele era conhecido nos meios científicos americanos por suas investigações sobre as ligações químicas das moléculas orgânicas e preferiu investigar como a seda era em sua estrutura. Levando em conta que proteínas são polímeros, tendo várias unidades de aminoácidos, Carothers e seus colaboradores começaram estudar o que seria semelhante a isso. Logo, apesar da celulose ser um polímero também não era a melhor substituinte para a proteína formadora da seda. Assim, a saída era sintetizar um novo polímero, cujas propriedades físicas e químicas fossem semelhantes às da seda, tendo, portanto, que se pesquisar quais as estruturas moleculares seriam semelhantes.

Nos quatro anos seguintes, o laboratório de Carothers ensaiou milhares de combinações químicas. Cada uma, um pequeno fracasso, mas também um desafio para tentar vencer. Durante toda a pesquisa, Carothers e sua equipe descobriram outros polímeros, como o neoprene, hoje usado desde a capa protetora de um notebook até roupas de mergulho. Até que um belo dia no ano de 1934 a reação duas substâncias mudaria o mundo têxtil. Estas substâncias entraram para a História da Química; são elas a hexametilenodiamina e ácido adípico.

O polímero resultante revelou-se um oponente à altura da hegemonia da seda, mas diferente desta, seus nomes são complicados e de difícil memorização. Entrou aí o departamento de marketing que promoveu um concurso para a nova fibra, cujas regras estipulavam que o nome deveria ser agradável de se ouvir e fácil de se memorizar. Surgiu aí o Nylon 66 ou simplesmente Nylon (ou, aportuguesadamente, “náilon”).

Lançado com uma grande campanha de marketing, o nylon mostrou o seu poderio. Em 27 de outubro de 1938, Charles Stine, vice-presidente da Du Pont de Nemours, Inc., anunciou que o nylon fora inventado. Ele revelou primeira fibra sintética do mundo não a uma sociedade científica, mas para q2uem realmente define o mercado: consumidores; na verdade, consumidoras. A apresentação foi feita para três mil mulheres de um clube onde se reuniram na Feira Mundial de Nova York. Ele falou em uma sessão intitulada “Entramos no mundo de amanhã”, que foi introduzido o tema da feira próxima, o mundo de amanhã.


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A corrida para comprar as novíssimas meias de nylon fez com que os estoques se esgotassem rapidamente. Mas a Du Pont era (e ainda é) esperta o suficiente para não usar sua nova maravilha num único mercado apenas. Surgiram roupas, paraquedas, linhas de pesca, escovas de dentes etc. O nylon foi uma revolução na indústria química. Quando os japoneses tiveram a estúpida ideia de bombardear Pearl Harbor, os EUA começou seu esforço de guerra. Todo o nylon foi confiscado pelo governo Roosevelt, de forma que pudesse ser usado em trajes militares, barracas de campanha etc. Com o fim da guerra, lojas começaram a oferecer meias de nylon. Em 1946, uma loja de Filadélfia contou como auxílio de cinquenta guardas para conter as afogueadas consumidoras que estavam literalmente saindo no tapa ao disputar seu objeto de desejo.

Mas Carothers não viu nada disso.

Wallace Carothers sofria de uma severa depressão. Ele tinha uma natureza retraída, odiava falar em público e muitas vezes tinha que recorrer a belas doses de whisky para poder trabalhar e acalmar seus nervos. Ele sentiu um certo baque quando a Du Pont direcionou o desenvolvimento do que seria o nylon para o ramo comercial — mesmo porque, a Du Pont É uma empresa e visa lucros –, coisa que Carothers não estava acostumado e solicitou que outros o ajudassem.

Em 21 de fevereiro de 1936, Carothers casou com Helen Sweetman, uma química que também trabalhava para a DuPont. Em 30 de abril de 1936, Carothers foi eleito para a Academia Nacional de Ciências, o primeiro químico industrial que recebeu esta honra. Ainda assim, a depressão de Carothers se agravava. Ele passou um tempo internado, mas cerca de 1 mês depois ele teve alta.

Em 08 de janeiro de 1937, a irmã de Carothers morreu de pneumonia, e Carothers e sua esposa viajaram para Chicago para participar de seu funeral. Carothers ainda viajou para Filadélfia para visitar o seu psiquiatra, Dr. Appel, que disse a um amigo Carothers que ele pensou que o suicídio foi o resultado mais provável do caso Carothers.

A Química é bela, mas trágica em sua indiferença. As mesmas leis que definiram uma deficiência que gerou um desequilíbrio na química do cérebro de Carothers, fazendo-o optar pelo suicídio, determinaram que um pouco de cianeto de potássio misturado em suco de limão (onde a acidez aumenta a velocidade da reação e, por conseguinte, sua letalidade) cessaria a vida de um dos revolucionários da Química do século XX. As mesmas leis que definiram que uma certa larva construísse a fortuna de um império foram responsáveis pela síntese do subsituto para uma das mais admiráveis proteínas produzidas no reino animal. A Química não se importa, ela é o que é.

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A história trágica de Carothers leva-nos a refletir como somos efêmeros perante o mundo, pouco importando o quanto (ou se) fomos importantes e/ou especiais. Um simples composto com somente 3 elementos químicos determinou o fim da vida de um renomado cientista, num anônimo quarto de hotel, em 29 de abril de 1937. Por causa da disposição espacial de 4 elementos, formando uma longa cadeia, a Química garantiu a Wallace Hume Carothers o respeito devido e seu lugar entre os Grandes Nomes da Ciência.



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Para saber mais

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Última edição por Brainiac em Qui Out 13, 2011 9:40 am, editado 1 vez(es)
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Grandes Nomes da Ciência Empty Re: Grandes Nomes da Ciência

Mensagem por Convidado Qua Out 12, 2011 1:38 pm

AH gostei da idéia!!!Smile Alguma chance da Ada Lovelace aparecer por aqui? Wink

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Grandes Nomes da Ciência Empty Grandes Nomes da Ciência 3 : Florence Nightingale

Mensagem por Brainiac Qua Out 12, 2011 2:08 pm

Grandes Nomes da Ciência 3 : Florence Nightingale


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O soldado exausto repousa numa maca improvisada, abrigada sob uma tenda de lona. Lá fora, o vento gelado da Criméia urra como um monstro e a dor e a exaustão estão prestes a reclamar mais uma alma. O vulto silencioso chega à entrada da imensa barraca e sua vestimenta farfalha ao vento. O medo nos olhos daqueles pobres diabos era palpável e o vulto com a mão levantada traz consigo uma lâmpada. O vulto aproxima-se do soldado e este percebe que chegou seu fim, que a Morte chegara… Não, não foi a morte quem entrou na barraca, mas a Vida.

O vulto deixa a lâmpada a óleo de lado e coloca compressas sobre a testa do soldado e dá-lhe palavras de conforto. O soldado agradecido vê, à luz tênue da lâmpada, traços firmes, mas ao mesmo tempo delicados; o que ele vê é a mãe de todas as enfermeiras, ganhadora de duas medalhas de guerra, responsável pelo uso sistemático da Estatística e uma referência no atendimento médico-hospitalar. O nome do anjo que carregava a lâmpada era Florence Nightingale.


Ser patricinha não é algo inventado por filhinhas-de-papai no século XX. Tal coisa sempre existiu, onde meninas mimadas não lavavam nem as calcinhas (isso as que usavam calcinhas). Num mundo onde o politicamente correto e o sofativismo ainda não existiam, o grau de preocupação com os pobres tendia a zero; mesmo porque, não havia twitter para espalhar aos quatro ventos como são pessoas legais, nem havia YouTube para gravar um vlog.

Enquanto o Império Britânico ia de vento em popa, com suas trocentas colônias espalhando-se pelo mundo, a aristocracia tinha grandes preocupações, como o vencedor do campeonato de Cricket, um jogo idiota e sem o menor sentido. Era um mundo menos hipócrita, onde ninguém fingia se preocupar com nada para pagar de bonzão.

Florence Nightingale não era de família pobre, pelo contrário. Sua família era bem abastada, com direito a castelos e tudo mais. Florence nasceu em 12 de maio de 1820, em Villa Colombaia, em Florença, Itália, daí a origem de seu nome. Ela teve uma educação à altura de sua posição social, apesar de não freqüentar uma escola regularmente, já que meninas não costumavam freqüentar colégios. De certa maneira, é estranho perceber que ela não se casara antes do seu “chamado”.

Tia Florence era anglicana e, segundo seu próprio relato, Deus deu-lhe inspiração para a carreira que deveria seguir. Enquanto idiotas recebem mensagens de Jesus que informam que eu irei ao joelho e dobrarei meu inferno para louvá-lo (ou algo nesse sentido), a missão divina de Florence era o de servir aqueles que mais necessitassem. Era o ano de 1845.

Florence faz um comunicado à família, dizendo que cansou daquele negócio de ficar bordando em casa e resolveu ser enfermeira. A mãe teve um ataque de pelanca e rompeu relações com a filha. A questão é que não havia a profissão de enfermeira como temos hoje. As “enfermeiras” existentes era um bando de mulher vadia desempregada e sem atributos suficientes para trabalhar na mais velha das profissões ou as que eram presas e punidas para dar (ops) serviço nos hospitais militares. Talvez seja daí o fetiche de roupinhas de enfermeiras, mas estou me dispersando.

Florence começa a demonstrar preocupação com os pobres e a família se preocupa com sua sanidade, já que este tipo de preocupação não é coisa que uma dama da alta sociedade tivesse que se preocupar, o que deixava muita gente preocupada. Shame!

Em 1846, um mendigo morreu numa enfermaria esquecida em Londres. A morte do mendigo também seria esquecida, mas dessa vez a coisa foi diferente. Isso se tornou praticamente um escândalo público! Novas exigências com relação ao tratamento de pacientes começou a varrer a Inglaterra (que nunca deu tanta bola assim a quem não era da aristocracia). Não necessariamente, o Rouxinol participou dessa revolução hospitalar, pois sua contribuição maior se daria mais pra adiante.

Em 1854 explodiu de vez a Guerra da Criméia, próximo ao Mar Negro, na Ucrânia. As tropas da Aliança Anglo-Franco-Sarda cercaram Sevastopol e o frio, ferimentos e doença cobriram a região com o manto da morte.

O Rouxinol reuniu uma equipe de 38 enfermeiras voluntárias treinadas por ela, inclusive sua tia Mai Smith, servindo nos Campos de Scutari, na Turquia Otomana. Ou isso é prova de imensa coragem ou grande burrice. De um jeito ou de outro, o trabalho de Florence começou a florescer, pois uma série de cartas começaram a chegar na Inglaterra, de forma que as pessoas pudessem saber o que realmente andava acontecendo naqueles cantos onde Judas perdera as cuecas.

Florence sabia que não bastava criar os doentes. Era preciso saber quantos se feriram, quantos tinham condições de sobrevivência, quantos podiam voltar pra casa, quantos teriam condições de voltar a lutar.

Tia Florence sempre teve um dom nato para matemática. Ela usou seus conhecimentos e seu brilhantismo para um levantamento estatístico de tudo que estava acontecendo durante a guerra. Ela transformou os números frios em informações gráficas, usando o famoso gráfico setorial criado por William Playfair, que mais tarde passou a ser conhecido como Gráfico de Pizza.

Ninguém pensara, até então, usar Estatística para estudar o que se passava durante as guerras O lance era “Aponte pro inimigo e mande-o pro inferno!”. Juntamente com o gráfico sob a forma de área polar, Florence conseguiu tabular muitas informações, principalmente sobre quantos soldados morriam nas frentes de batalha, coisa que ninguém dava a menor bola até então.

Em 1856, Florence, o Rouxinol, contraiu febre tifoide e por muito pouco ela não foi visitar os Céus Amigos de Javé. Ela regressa à Inglaterra como heroína, sendo conhecida pela alcunha A Dama da Lâmpada, pois sempre visitava os enfermos à noite, com uma lâmpada na mão. Chegando em casa, ela luta pela melhoria dos hospitais e as enfermeiras treinadas por ela se tornaram uma referência no atendimento médico-hospitalar.

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Florence não sabia ainda sobre bactérias e outros microorganismos. Pasteur ainda não concluíra seu trabalho sobre isso e ia demorar um pouquinho. No entanto, o Rouxinol sabia que a higiene era ponto principal na luta contra doenças. Nas escolas de enfermagem de tia Florence, eram ensinadas 4 coisas básicas:

O dinheiro público deveria manter o treinamento de enfermeiras e este, deveria ser considerado tão importante quanto qualquer outra forma de ensino.
Deveria existir uma estreita associação entre hospitais e escolas de treinamento, sem estas dependerem financeira e administrativamente.
O ensino de enfermagem deveria ser feito por enfermeiras profissionais, e não por qualquer pessoa não envolvida com a enfermagem.
Deveria ser oferecida às estudantes, durante todo o período de treinamento, residência com ambiente confortável e agradável, próximo ao local.
Florence fez ainda um estudo estatístico global de saneamento na vida rural da Índia e foi a principal figura na introdução de melhores cuidados médicos e serviços de saúde pública na Índia, possessão inglesa até que um pedófilo careca viesse com uma novidade chamada revolta pacífica. Em 1859, Florence Nightingale foi eleita como o primeiro membro feminino da Royal Statistical Society, e ela mais tarde se tornou membro honorário da Associação Americana de Estatística.


A enfermagem não é o que temos hoje se não fosse por Florence Nightingale. Os levantamentos estatísticos não seriam o que são hoje a não ser por seu trabalho. Muitos soldados conseguiram voltar pra casa graças aos seus cuidados e se hoje enfermeiras fazem besteira nos hospitais, é porque não foram treinadas pessoalmente por Florence Nightingale.

O mundo ficou um pouco pior em 13 de agosto de 1910, quando a voz do Rouxinol calou-se, aos 90 anos de idade. Seu legado, entretanto, permanece em cada sala de operações, em cada corredor, em cada homem ou mulher que corre para salvar a vida de um paciente. Em cada paciente que vive graças aos cuidados médicos, saneamento e higiene, o canto dos rouxinóis veneram Florence Nightingale, ganhadora da medalha da Royal Red Cross, das mãos da própria Rainha Vitória, e da Ordem do Mérito, comenda criada pelo rei Eduardo VII.

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Para saber mais



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Última edição por Brainiac em Qui Out 13, 2011 9:40 am, editado 1 vez(es)
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Grandes Nomes da Ciência Empty Grandes Nomes da Ciência 4 : Benjamin Franklin

Mensagem por Brainiac Qui Out 13, 2011 9:39 am

Grandes Nomes da Ciência 4 : Benjamin Franklin


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Eu uso óculos com lentes multifocais. Uma maravilha da tecnologia, onde eu posso enxergar longe e perto sem precisar trocar de óculos. Melhor do que isso, só ficando em casa, tranquilamente, mesmo sob uma forte tempestade, com raios ribombando por todos os lados e mesmo assim me sentir seguro. Essas são as mais famosas invenções de um grande inventor. Ele não foi um grande inventor porque inventou invenções que ninguém inventara. Ele inventou invenções que ninguém pensaria até então inventar, inventando até mesmo um modo novo de inventar novas invenções. As invenções de Benjamin Franklin eram tão abrangentes que iam desde um simples móvel de escritório até culminar na invenção de um país totalmente do zero.

Todos nós sabemos que Thomas Edison era um grande inventor, que influenciou e influencia o nosso dia-a-dia. Ao meu ver, só mesmo Benjamin Franklin pode se comparar a ele, com a diferença que seu temperamento era muito mais tranquilo. Mas ninguém espera que as pessoas sejam exatamente iguais.

Benjamin Franklin nasceu na cidade de Boston, em 17 de janeiro de 1706. Não era de uma família rica, seria mais como hoje em dia chamamos de “classe média”. Ben Franklin era de uma inteligência afiada e tinha atos bem moderados. Para ele, não fazia sentido ter coisas supérfluas em casa. Além do gasto desnecessário, segundo ele, atrapalhava quando se tentava encontrar coisas das quais estaria necessitando no momento. Para ele, um centavo poupado era um centavo ganho e foi com esta visão que ele dirigiria sua vida e seu trabalho.

Chegando à cidade de Filadélfia, aos 17 anos, Franklin enveredou para a carreira que o faria um homem rico: tipografia. A Gazeta da Filadélfia era o jornal mais lido em todas as colônias britânicas em solo norte-americano nessa época. Aos 45 anos, já com uma situação financeira bem confortável, Benjamin Franklin pôde dar vazão à sua mente criativa. Um dos seus principais interesses era a eletricidade, que então era tida mais como uma curiosidade para entreter pessoas idiotas e totalmente analfabetas em ciência do que para fins práticos. Na mente de Benjamin Franklin, a ciência deve sim, ter um fim prático e procurou estudar a respeito.

De acordo com a pesquisa de Franklin, qualquer corpo podia ser eletrizado. Bastava conduzir a eletricidade de um ponto ao outro e que, na verdade, aquele “fluido elétrico”, como ele chamava, não desaparecia. A isso, hoje em dia, chamamos de Lei da Conservação da Energia. Franklin enfurnou-se no seu laboratório e não só pesquisou sobre os geradores eletrostáticos que haviam naquela época, como criou um motor eletrostático bem mais eficiente. Vocês podem ver com maiores detalhes sobre tal motor no site Feira de Ciências.

A pesquisa do tio Benjamin mudou quando ele parou para pensar ao ver uma tempestade elétrica.Para ele, não havia diferença entre a eletricidade estática produzida em seu laboratório dos raios que caíam e destruíam tudo. Era hora de mais uma experiência. A famosa experiência da pipa.

Tio Ben pegou uma pipa, usou tiras de seda para fazer uma rabiola e prendeu uma chave na linha. A eletricidade estática produzida no alto das nuvens foi conduzida pelo fio e Franklin pôde ver que saíam faíscas da chave. Uma descoberta e tanto. Aliás, não só foi uma descoberta soberba como demonstração da incrível sorte de Benjamin Franklin. Quando o eminente físico russo Georg Wilhelm Richmann tentou fazer este experimento, acabou fulminado por um raio. Shit happens.


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Franklin, ao contrário do que dizem, não era ateu. Pelo contrário, ele chegou até mesmo a ser ministro, posto que era cristão calvinista. Mas isso não o impediu de ver a diferença entre ser religioso e impor religião. Sendo co-autor da Declaração de Independência dos EUA, Ben Franklin pegou a pena e fez correções na carta redigida por Thomas Jefferson. Franklin riscou todas as menções a Deus, religião e fé que ele encontrou. Um exemplo é o trecho onde Jefferson escrevera “estas verdades são para nós sagradas e inegáveis”; Benjamin Franklin riscou a palavra “verdade sagrada” e escreveu por cima “verdades que dispensam explicações”. Isso demonstra bem que um Estado pode ser laico, sem que seus governantes ou povo passem a ser ateus, pois o Estado, segundo Franklin, tinha que zelar por todos, independente de cor ou credo. Esta foi uma das maiores invenções de Benjamin Franklin, abolicionista ferrenho e um dos ícones do Iluminismo.

Com os Estados Unidos reconhecido como nação livre e independente, Franklin é nomeado Diretor Geral dos Correios e melhora a eficiência do sistema postal. Como ele não era bobo nem nada, vincula suas gráficas ao sistema de correio, o que garante bons frutos em seu rendimento. Ele ainda ficou intrigado sobre como produzir um modo que falsificadores pudessem ser apanhados e notas falsas mais facilmente identificáveis, ele criou um sistema d impressão onde se imprimia folhas de algumas árvores com padrões bem distintos e difíceis de reproduzir.

O tempo, no entanto, cobra seus tributos e com Benjamin Franklin não seria diferente. Com o passar do tempo, ele já não tinha mais a perfeita visão de outrora e era necessário usar óculos. Só que ele dependia de óculos para ler e de outro para ver pessoas mais distante, de forma a reconhecê-las, o que é crucial para um diplomata. Assim, Franklin teve a ideia de simplesmente cortar as lente ao meio. Colocou a lente para ver de longe na parte superior e a de ver objetos próximos na parte debaixo. Estava inventado o bifocal, que duraria mais de 200 anos até que chegassem as lentes multifocais.

Em 17 de abril de 1790, na cidade de Filadélfia morreu serenamente Benjamin Franklin. Gênio, inventor, criador do sistema voluntário de bombeiros, precursor da meteorologia moderna, músico, poeta, filósofo, diplomata, político, economista… Benjamin Franklin foi muito mais do que isso tudo. Foi um verdadeiro sábio, um homem à frente de seu tempo e um exemplo para os políticos de hoje, que nunca seriam capazes de chegar aos pés do homem que escreveu seu próprio epitáfio:



Aqui repousa, entregue aos vermes, o corpo de Benjamin Franklin, impressor, como a capa de um velho livro cujas folhas foram arrancadas, e cujo título e douração se apagaram. Mas nem por isto a obra ficará perdida, pois, como acredito, reaparecerá em nova e melhor edição, revista e corrigida pelo autor.



Benjamin Franklin, o homem que tirou o relâmpago dos céus e o cetro dos tiranos, é um dos Grandes Nomes da Ciência.


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Grandes Nomes da Ciência Empty Grandes Nomes da Ciência 5:Rosalind Franklin

Mensagem por Brainiac Qua Out 19, 2011 8:09 am

Grandes Nomes da Ciência 5:Rosalind Franklin


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Se existe uma cervejaria famosa na Inglaterra é a cervejaria Green King, em St. Edmunds, perto do laboratório Cavendish e em frente a Escola de Medicina em Downing Street, cujos moradores mais ilustres vivem no número 10. Dois rapazes entram lá; um é tipicamente inglês e o outro é americano. Ambos soltam a bomba: "Nós desvendamos o segredo da Vida!". James Watson e Francis Crick ficam imortalizados por uma das maiores descobertas do século XX: a estrutura da hélice dupla do DNA. O que pouca gente sabe é que a história não é bem assim. Uma história de competição que, por muito pouco, não conferiu mais um prêmio Nobel a um americano pacifista, de sorriso simpático, com mania de se encher de vitamina C: Linus Pauling, e por pura desonestidade não foi conferido no devido tempo à pessoa certa. Esta é a história de quem realmente descobriu o segredo escondido no DNA: Rosalind Franklin.


A Ciência é uma aventura tipicamente humana. Não basta criarmos ferramentas. Isso até mesmo chimpanzés usam ferramentas, chegando até mesmo a criar "varas de pescar". O que nos faz diferentes de outros animais é que nós estudamos o ambiente e tentamos traduzir o que vemos em informação, de forma que possamos repetir os fenômenos e, no mais das vezes, tentarmos controlá-los ou, quando muito, entender porque tal fenômeno aconteceu. Isso é fazer Ciência.
Em 25 de julho de 1920, um dia depois das tropas francesas invadirem Damasco, afim de deporem o rei Faisal I e um dia antes de Pancho Vila tomar Sabina durante a Revolução Mexicana, nascia um lindo bebezinho rosado e com bochechinhas cuti-cuti-cuti. O que seus pais não sabiam era que aquele lindo bebezinho seria uma peça primordial no avanço científico. O lindo bebê recebeu o nome de Rosalind Elsie Franklin.

Miss Franklin estudou na Escola Saint Paul para Meninas, onde ela se destacou em Ciência. Seu próprio pai ensinava Eletricidade, Magnetismo e 1ª Guerra Mundial. A família de Rosalind ajudou até mesmo a instalar refugiados judeus que fugiam de um certo austríaco com problemas comportamentais e não sabia fazer amigos. Só influenciava pessoas. Em 1938, um ano antes da Blitzkrieg invadir a Polônia, Rosalind Franklin vai para Cambridge, onde sairia com um diploma em Físico-Química. Ela especializou-se em metais e minerais, fazendo uso de uma técnica chamada Difração de Raio-X, técnica que usou para investigar como era formado o DNA. A saber, os cientistas sabiam como eram as substâncias que se combinavam e estabeleciam ligações para formar a imensa molécula do ácido desoxirribonucleico, DNA (ou ADN, se tu falas português lusitano, ó gajo!). O problema é que não sabiam como diabos era essa estrutura.

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Difração de Raio-X é uma técnica em que se usa raios-X (d’oh!) para mapear como é a estrutura de uma substância. Pense num lenço de linho. Olhando em sua mão você vê o tecido, sente sua textura e percebe seus desenhos. Mas, ao colocá-lo contra a luz, você percebe nitidamente como são formadas as tramas do tecido, como as linhas se cruzam. Quando se faz passar um feixe de raios-X por uma substância, ele cria "sombras" do outro lado. Os feixes que não são impedidos de passar atingem uma chapa fotográfica, trazendo até nós uma fotografia da molécula, da mesma forma que uma radiografia mostra como está a integridade de seus ossos, por exemplo. O princípio é o mesmo.

Enquanto Rosalind fazia seus testes, Maurice Wilkins (biofísico no King’s College) — solteirão e tão aberto à tolerância na permanência de mulheres no laboratório como um senhor de engenho era tolerante com escravos em seu escritório — vê com mal-disfarçado desgosto Miss Franklin (não, era não era parente de Benjamin) adejar pelo recinto, o que fazia outros homens ficarem bem… como direi, "felizes" com sua presença. James Watson era um deles, que odiava os vestidos cafonas (pelo menos, na opinião dele), juntamente com seus penteados e maquiagem, além de achá-la arrogante, mal-humorada, rabugenta e ficar provocando-a a todo momento chamando-a de "Rosy", sabendo que isso a irritava profundamente, mas por trás a chamava algo como "aquela maldita feminista".

Rosalind Franklin passou a usar a técnica de difração de Raio-X para estudar moléculas poliméricas (e é exatamente isso que o DNA é). É muito engraçado pensar que o segredo da sua vida está num punhado de "plástico". Piadas de químicos, compreendam). Ela estudou as estruturas do DNA, RNA e até de alguns vírus (uma PFDP). Não se sabe ao certo se Rosalind estava realmente atrás da estrutura do DNA. O que se sabe é que Linus Pauling estava em dúvida se a estrutura do DNA era formada por uma espiral dupla ou tripla. Ele foi informado que Rosalind estava fazendo testes usando raios-X e tentou correr para a Inglaterra para trocar informações. Infelizmente, um certo senador chamado Joseph MacCarthy cismou que ele era comunista (era), além de ser possível espião dos russos (não era) sem falar que Pauling cometera o pecado de ser pacifista e ser contra a Bomba Atômica. O resultado é que o passaporte do bom dr. Pauling foi confiscado e ele não podia viajar.

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Nesse ínterim, Watson, que não era inglês de verdade, não era escocês e nem comia mingau ao que se sabia, rouba pega emprestado uma das chapas reveladas por Miss Franklin com a estrutura do DNA. Até aí não se sabe se Rosalind prestou atenção ao que obteve ou deixou para analisar as imagens mais tarde. Watson corre com a chapa para Crick e diz algo como "Veja, aqui está hélice, e aquela maldita mulher não a vê". Eles tratam de pegar a chapa e fizeram um artigo com 900 palavras para a revista Nature, em 25 de abril de 1953 (PDF). Nenhum crédito a Rosalind Franklin foi dado, o que a fez ter um ataque de fúria e se não fosse por Maurice Wilkins, Watson estaria em seu estado elementar. Watson e Crick ganharam o prêmio Nobel por sua "descoberta", sem mencionar aquela que foi a genuína responsável pelo "êxito" da dupla.

Ainda com sabor amargo por ter sido roubada, Rosalind mudou-se para o laboratório de cristalografia J. D. Bernal, do Birkbeck College, em Londres, onde continuou fazendo o que sabia fazer melhor, onde estudou desde o vírus que ataca o tabaco até o que causa a poliomielite, chegando a estudar até mesmo sobre as estrutura do carvão.

A mulher que desvendara o segredo da vida não viveu muito. O mesmo DNA que ela estudou foi o seu algoz, pois nele estava sua sentença de morte. Rosalind Franklin morreu por uma simples codificação de proteína, expressada por gene, que determinou que seu destino era sofrer de câncer no ovário. Os olhos brilhantes da Mãe do DNA fecharam-se para o mundo em 16 de abril de 1958, aos 37 anos de idade. O comitê para o prêmio Nobel deu a ela um prêmio de consolação, mas nada consola quem não está mais aqui para ser consolado.

Poucas pessoas do mundo não-científico se lembram ou mesmo sabem dos trabalhos de Rosalind. Nem mesmo o Google a homenageou hoje. A Nature, em seu obituário, disse que suas imagens estão entre "as mais belas fotografias de substâncias jamais tiradas".

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O sorriso de Miss Franklin não era para qualquer um, mas sua paixão para com a Ciência, assim como sua visão de mundo, é algo de tão modo sentimental que não se pode deixar de colocar uma citação dela mesma:


"Ciência, para mim, dá uma explicação parcial da vida. É baseada em fatos, na experiência e em experimentos. Suas teorias são aquelas que você e muitas outras pessoas acham mais fácil e mais agradável de acreditar, mas, até onde eu posso ver, não têm nenhum outro fundamento que não levam a uma visão agradável da vida… Concordo que a fé é essencial para o sucesso na vida… mas eu não aceito a sua definição de fé, crença ou seja, em vida após a morte. Na minha opinião, tudo que é necessário para a fé é a crença de que, ao fazer o nosso melhor vamos chegar mais perto do sucesso e que o sucesso em nossos objetivos (o aperfeiçoamento do destino da humanidade, presente e futuro) vale a pena alcançar… Afirmo que a fé neste mundo é perfeitamente possível sem a fé em outro mundo."

Rosalind Elsie Franklin, um dos Grandes Nomes da Ciência

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Última edição por Brainiac em Dom Out 23, 2011 1:57 am, editado 1 vez(es)
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Mensagem por Mononoke Hime Qua Out 19, 2011 8:43 am

NOssa, muito bom!

Vou ficar quietinha até meu ídolo chegar! Surprised Surprised

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Mensagem por Goris Qua Out 19, 2011 8:44 am

Adoro seu jeito cínico de se expressar, Brainy.

Smile

Quanto à ciência, triste mesmo ver que mesmo na ciência temos o melhor e o pior do ser humano tal qual em qualquer área.
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Mensagem por Convidado Qua Out 19, 2011 5:08 pm

Opa Tópico nota 10!

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Mensagem por Brainiac Dom Out 23, 2011 2:09 am

Grandes Nomes da Ciência 6:Harry Harlow


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Dois arregalados olhos castanhos circulam pelo ambiente, aterrorizados. O medo chega até a garganta, mas nenhum som sai dela. Uma cabeça gira e vasculha todos os pontos do ambiente, até que uma porta desliza suavemente para cima. Silêncio. O ser monstruoso do outro lado da porta começa a se agitar; o movimento de suas garras e ruído horrível aterroriza o dono dos doces olhos castanhos, e este correrá em busca da única coisa que sua mente acha que garantirá a segurança: sua mãe. O macaquinho corre e se agarra a uma boneca feita de arame e com "pele" felpuda e é tudo isso que o coitado precisa para se sentir seguro.

Esta é a história do dr. Harry Harlow, que com dois bonecos de arame e alguns macacos rhesus estudou os mecanismos psicológicos do amor e do afeto.


Os sentimentos mais enigmáticos são o amor e o afeto, ainda mais por estarem entrelaçados, a ponto de considerarmos como sendo (quase) a mesma coisa. Por séculos, especulou-se a que ele era devido, se por causa de almas gêmeas, círculos cármicos, reencarnação ou outras manifestações pseudocientíficas.

O amor é algo tão sublime e belo que os cientistas tinham uma certa reserva em estudá-lo do ponto de vista científico. Como resumir tal sentimento em linhas de um artigo científico? Como estudá-lo? A resposta é muito simples: sem paixão alguma (o trocadilho é inevitável). Basta focar o que se quer estudar e executar experimentos, mas até meados da década de 1940, ninguém estudou o amor de forma experimental.

Harry Frederick Israel nasceu em 31 de outubro de 1905 em Fairfield, Iowa, o segundo mais novo de quatro irmãos. Ele se graduou em Psicologia pela Universidade de Stanford, doutorando-se em 1930. Após conseguir seu doutorado, ele muda seu nome para Harlow e aceita cátedra na Universidade de Wisconsin-Madison. Ele era bom com as palavras e conseguiu convencer a reitoria a construir um laboratório para estudar o comportamento de primatas. Foi um dos primeiros laboratórios do tipo no mundo todo.

Harlow era um sujeito… digamos, peculiar. Ele se casou com uma de suas alunas: Clara Mears em 1932 – com quem teve 2 filhos –, divorciou-se, casou-se meio que logo em seguida com Margaret Kuenne, em cujo enlace teve mais dois filhos (um menino e uma menina). Depois de um tempo, Harlow divorciou-se de Kuenne e casou de novo com Clara Mears e eu fico pensando qual era o problema dele com relação a decisões.

Bem, não foi em termos de relacionamento entre humanos que Harlow ficaria famoso. O foco do estudo dele era laços afetivos entre macacos, mais especificamente os da espécie rhesus (sim, aqueles mesmos que deram origem ao termo "Fator Rh").

Harlow estudava como se dava os laços afetivos e o que acontecia com os voluntários forçados (aka, cobaias) quando eram deixados em total isolamento. Para isso, Harlow pegou filhotes de rhesus recém-desmamados e os deixou em total isolamento por cerca de 2 anos. O que ele obteve foram animais perturbados e à beira da psicose. Em um artigo, Harlow escreveu:



No monkey has died during isolation. When initially removed from total social isolation, however, they usually go into a state of emotional shock, characterized by the autistic self-clutching and rocking illustrated in Figure 4 [abaixo]. One of six monkeys isolated for 3 months refused to eat after release and died 5 days later. The autopsy report attributed death to emotional anorexia. A second animal in the same group also refused to eat and would probably have died had we not been prepared to resort to forced feeding. This phenomenon of extreme emotional anorexia has not appeared in the 6- or 12- month groups.

Our data indicate that the debilitating effects of 3 months of social isolation are dramatic but reversible. If there is long-term social or intellectual damage, it eludes our measurements. Given the opportunity soon after release to associate with controls of the same age, these short-term isolates start slowly during the first week and then adapt and show the normal sequence of social behaviors. In human terms they are the children salvaged from the orphanage.

The performance of both the 3-month isolate group and their controls is indistinguishable from that of equal-aged monkeys tested in other experiments utilizing learning-set problems.

Harlow HF, Dodsworth RO, Harlow MK. Total social isolation in monkeys. Proc Natl Acad Sci U S A. 1965 disponível em [Tens de ter uma conta e sessão iniciada para poderes visualizar este link] Acesso em out. 2011


TRADUÇÃO LIVRE

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Nenhum macaco morreu durante o isolamento. Quando inicialmente removido do isolamento total, entretanto, eles usualmente indicaram um estado de choque emocional, caracterizado pelo autismo e catatonia [nessa época, não se sabia que a causa do autismo tem base genética], ilustrado na figura ao lado. Um dos macacos isolados por três meses se recusou a comer depois de liberto e morreu em 5 dias. A autópsia atribuiu o óbito a anorexia emocional. Os efeitos do isolamento total foram tão devastadores e debilitantes que concluímos que um isolamento completo de 12 meses não produziria nenhum prejuízo complementar. Essa conclusão mostrou-se falsa. 12 meses de isolamento quase obliteraram os animais socialmente

Nossos dados indicam que os efeitos debilitantes de 3 meses de isolamento social são dramáticos, mas reversíveis. Se houver danos a longo prazo, social ou intelectual, ele escapa às nossas medições. Dada a oportunidade logo após o lançamento para associar com controles da mesma idade, esses grupos isolados de curto prazo começa, lentamente — durante a primeira semana e depois — a se adaptar e mostrar a sequência normal de comportamentos sociais. Em termos humanos, eles são os filhos recuperados de um orfanato.

O desempenho de ambos os grupos isolados por 3 meses e seus controles é indistinguível dos macacos de mesma idade testados em outros experimentos utilizando situações de problematização para aprendizagem.




Um monte de gente acha que isso é puro terrorismo psicológico, que Harlow não passava de um maníaco torturador. Só que isso não impede que a pesquisa continue, pois chegamos ao ponto que realmente interessa: o que é o amor?

John Bowlby desenvolveu uma teoria denominada Vinculação, a qual é definida pela necessidade de criar e manter relações de proximidade e afetividade com os outros. É a chamada Teoria do Apego, que descreve a dinâmica de relacionamentos de longo prazo entre os seres humanos. Seu princípio mais importante é que uma criança precisa desenvolver uma relação com pelo menos um cuidador primário para o desenvolvimento social e emocional a ocorrer normalmente. O problema é: como estudar isso em seres humanos de forma a realizar experimentos. Por isso os macacos rhesus de Harlow são tão importantes e se você tem melindres com certas coisas, sugiro que saia agora e vá ver desenhos do Meu Querido Pônei.

Harlow se perguntava se a natureza do amor estava no sentimento de proteção ou na fonte de comida. Em sua época, cientistas debatiam se a criança criava laços afetivos com a mãe porque ela servia de McDonald’s ou porque servia de leoa de chácara. Sendo assim, Harlow construiu duas "mães alternativas". Uma era apenas um boneco feito de arame e pedaço de madeira, com um bico de mamadeira que servia leite quando se precisava. A outra "mãe" era um boneco de arame também, só que revestida de uma manta felpuda e fofinha. Isso foi posto numa caixa, onde era solto um filhote de rhesus. Let the experiment begins!

O macaquinho reconheceu bem sua fonte de alimento e, sempre que estava com fome, ia em direção à sua "ama de leite" para se alimentar. Quando estava alimentado, ele se dirigia para a "mãe felpuda"; mesmo porque, ela era macia, quentinha e aconchegante. Mas, e se o filhote estivesse em situação de perigo? Harlow criou um monstrengo feio que doía, que tinha dentes pontudos, se sacudia e fazia um barulho horrível. Em suma: o pesadelo de qualquer criança materializado. No vídeo abaixo, vemos o próprio Harlow demonstrando o experimento:





Em todos os experimentos, o macaquinho corre para a mãe felpuda. Quando ele está sozinho, abandonado, ele fica encolhido num canto. Basta ter sua mãe fofinha que ele se sente seguro o bastante para explorar o ambiente, sem medo ou terror. Sua confiança é aumentada e ele passa a se sentir mais "dono da situação". A ama de leite é apenas um supermercado e ninguém dá muito valor ao mercadinho da esquina. É a própria Teoria do Apego ilustrada.

Ei, espere um instante! Este porco especista usou pobres macaquinhos indefesos! Este torturador sádico deixou-os com traumas severos e ganhou muita notoriedade com isso. Você acha que isso é certo?

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Deixe-me pensar… Sim, acho! A visão restrita dos tolos que têm mania de defender animais — mas que não hesitam em pisar na primeira barata que encontrarem ou usam inseticidas para aniquilar com mosquitos — se baseia apenas nos macacos, mas não conseguem ver o quadro mais amplo: como nossas crianças são cuidadas.

Com a pesquisa de Harlow, muito sobre os cuidados com nossos filhos mudou. Vemos que eles dependem profundamente de contato físico, da presença de outros de sua espécie (adultos, é claro). Sendo a pele o maior órgão de nosso corpo, repleto de corpúsculos que traduzem as informações sensoriais do tato e as levam pro cérebro, ela é o principal órgão do corpo e peça de fundamental importância do desenvolvimento cognitivo. A isso alia-se a estabilidade emocional da criança. Deixá-las sozinhas deixou de ser uma opção. pais que fazem isso são, no mínimo, criminosos. O cuidado em creches, orfanatos, berçários etc. mudou graças às pesquisas de Harry Harlow.

Se eu acho que uma criança humana vale mais que todos os macaquinhos rhesus que serviram de cobaias para Harlow? A resposta é um sonoro SIM! Nenhum de vocês abandonaria seu filho numa casa em chamas para salvar o cachorrinho fofinho. A Seleção Natural nos programou para cuidarmos dos de nossa espécie e isso é visto em TODAS as espécies, mais ainda nas espécies que estabelecem vínculos sociais. Não reclame comigo, reclame com o mundo natural. Nem eu nem Darwin temos algo a ver com isso.

Quando um pai ou mãe brinca com seus filhos, rola com eles no tapete, abraça, afaga e beija seus filhos, é produzida neles muita serotonina, substância que ativa as zonas de prazer no cérebro. Sei que é triste saber que nossos sentimentos são puramente reações químicas e descargas elétricas no cérebro, mas ninguém precisa se focar que somos apenas uma imensa indústria química para nos sentirmos bem, sem precisar de injetarmos, inalarmos, fumarmos ou inserir em algum orifício substâncias que nos deem satisfação por algumas horas. Enquanto isso, aquela bobajada freudiana em que queremos transar com nossas mães é, tão somente, reflexo de uma mente perturbada. Reconhecemos em nossas mães uma aura protetora, mais do que self-service de leite (sem, os biscoitos).

Fico contente em haver cientistas como Harry Harlow, um dos Grandes Nomes da Ciência. Hoje, grupos idiotas de defesa animal jamais permitiria que ele fizesse experimentos assim, acarretando num atraso científico sobre como devemos cuidar de nossa própria prole. Deve ser por isso que eu vejo muita "madame" andando com um poodle no colo (um cachorro imprestável, ao meu ver) enquanto a criança é deixada a cargo da babá, pessoa que a criança reconhece como verdadeira mãe (canso de ver isso. Muitas vezes, despejam as crianças no colégio bem cedinho, antes da coitada acordar e só vão buscar já de noite, quando ela já dormiu).

Os olhos do dr. Harry Harlow se fecharam para o mundo em 6 de dezembro de 1981. Talvez um gênio perverso, talvez um maníaco. Possuinte do mesmo senso maníaco que fez de Andreas Vesalivs roubar cadáveres para poder estudar anatomia humana, desmistificando séculos de conhecimento errôneo, porque roubar defuntos não era ético. Descanse em paz, dr. Harlow, e obrigado por sua pesquisa, pois sabemos que o terror causado aos pobres animais não foi em vão.


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Mensagem por Goris Qui Out 27, 2011 6:10 pm

Triste um tópico tão bom ser tão pouco comentado.
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Mensagem por Convidad Qui Out 27, 2011 8:50 pm

Acho até melhor não ter comentários, desse jeito os textos sobre cada personalidade ficam mais próximos e evita perder o foco. Igual à uma enciclopédia virtual.

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Mensagem por Goris Sex Out 28, 2011 7:48 am

Bem, mas um tópico com comentários mostra sua popularidade, não só incentivando o autor a continuar postando, quanto gerando curiosidade em mebros que, por si sós, não se interessariam pelo assunto.

Pô, o Brainy escreve muito bem, não vejo por que deixar esse post de lado só esperando o Brainiac postar. Melhor darmos um feedback (maldita palavra) através dos comentários.
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Mensagem por Quero Café Sex Out 28, 2011 8:39 am

Goris escreveu:Triste um tópico tão bom ser tão pouco comentado.

Ciência não é meu forte, por isso acompanho sem postar.
Também gosto do tópico, apesar de não ter lido todas as biografias.
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Grandes Nomes da Ciência Empty Grandes Nomes da Ciência 7 : Jane Goodall

Mensagem por Brainiac Seg Out 31, 2011 2:38 pm

Grandes Nomes da Ciência 7 : Jane Goodall

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Há 50 anos, uma jovem de 23 anos e com belos cabelos dourados, presos num rabo de cavalo, estava embrenhada nas selvas da Tanzânia, África. Ela não tinha formação acadêmica ainda, estava apenas acompanhando uma expedição liderada pelo antropólogo Louis Leakey, da Universidade de Cambridge.

Aquela moça de cabelos levemente desgrenhados, cujo rabo de cavalo se tornou como uma marca pessoal, acabou, mais tarde, se tornando par do reino e uma das mais importantes (senão A mais importante) primatologista do mundo. Seu nome é Lady Jane Goodall, DBE.


Valerie Jane Morris Goodall nasceu em Londres, Inglaterra, em 3 de abril de 1934. Ela começou seus estudos com chimpanzés sob a orientação do Dr. Louis Seymour Bazett Leakey, arqueólogo e naturalista queniano, especializado na evolução humana, reforçando a nossa origem africana. Leakey afirmava que a Teoria da Evolução era inabalável, e começou a coletar provas que a hipótese de Darwin sugerindo que o homem surgiu na África; e antes que toscos começcem falando besteira, Leakey era cristão, mas de certo dirão que ele não era cristão nem escocês de verdade. Bem, se propusessem isso estariam 50% certos.

Goodall se tornou a primeira das “Angels Leakey” (os Anjos de Leakey), quando ela começou a estudar primeiro campo da cultura chimpanzé no Parque Nacional Gombe Stream, na Tanzânia. Lady Jane sempre foi apaixonada por animais, o quais sempre trazia para a fazenda de um amigo nas terras altas do Quênia, em 1957. De lá, ela encontrou trabalho como secretária, mas a conselho de seu amigo, ela telefonou para Leakey sem outro pensamento que para fazer uma reunião para discutir os animais. O convite foi o maior passo que Goodall deu em sua carreira. Leakey, acreditando que o estudo dos grandes símios existentes poderia fornecer indicações sobre o comportamento dos primeiros hominídeos, procurava por um pesquisador de chimpanzés. Entretanto, ele propôs a Goodall o trabalho de secretária, para só mais tarde oferecer o cargo de pesquisador de chimpanzés.

Assim, a moça que saiu da Inglaterra para a Tanzânia encontrou um mundo diferente, misterioso; e ela se empenhou em conhecer os mistérios do mundo dos chimps, somente com um bloco de notas e um binóculo. Mais nada. Goodall conseguiu a confiança dos animais e passou muito tempo estudando seus hábitos, tomando notas meticulosas.

Por seu trabalho e relevância de suas pesquisas Lady Valerie Jane Morris Goodall recebeu uma das mais altas honrarias do Império Britânico, sendo conhecida como Dame Commander of the Order of the British Empire (DBE). Do então secretário-geral da ONU, Kofi Annan entregou à Drª Jane Goodall a comenda de Mensageiro da Paz das Nações Unidas.

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Hoje, o trabalho da Drª Goodall se direciona para a mobilização de esforços para a preservação da floresta dos chimpanzés. O Jane Goodall Institute trabalha para proteger os chimpanzés famoso do Parque Nacional Gombe, dedicando esforços para a conservação, os quais incluem programas de desenvolvimento sustentável que envolvem as comunidades como verdadeiros parceiros. Esses programas começaram em torno de Gombe, mas agora se espalhou por todo o continente. Ela já alertou para a perda da biodiversidade na área e luta por sua conservação.

Algumas pessoas confundem-se dizendo que Sigourney Weaver interpretou Jane Goodall no filme Na Montanha dos Gorilas. Na verdade, Weaver interpretou Dian Fossey, outro grande nome da ciência, e que também era primatologista, mas estudava gorilas nas Montanhas Virunga, em Ruanda.

No cinquentenário da expedição pioneira de Goodall, a pesquisadora faz um alerta sério, mediante um artigo publicado na revista Nature: “Precisamos mudar drasticamente nossa maneira de lidar com a natureza e buscar avanços na ciência e na tecnologia se ainda quisermos salvar [essa espécie]“.

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Lay Valerie Jane Morris Goodall, DBE, é um perfeito exemplo de pessoas sérias que lutam para a conservação ambiental sem se preocupar com atitudes idiotas dos PETA da vida, colocando tags no Twitter. Pesquisadores sérios não têm tempo para idiotices de Dia Internacional sem Carne ou outras amostras de retardo mental. É por causa disso que Jane Goodall, e não seu priminho vegan, é um dos Grandes Nomes da Ciência.


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Grandes Nomes da Ciência Empty Grandes Nomes da Ciência Parte 8 : Emily Rosa

Mensagem por Brainiac Qua Nov 30, 2011 8:39 pm

Grandes Nomes da Ciência 8 : Emily Rosa


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Todos nós conhecemos pessoas que escreveram seus nomes no grande livro da história da ciência. Nomes como Copérnico, Newton, Darwin, Faraday, Lavoisier, Mendeleyev, Galileu, Einstein, Linus Pauling entre tantos outros que não dá para citar. No entanto, estes são os mais famosos, com uma produção científica de inegável importância; mas existem aqueles que contribuíram, contribuem e contribuirão muito para o avanço de nosso conhecimento, mas não necessariamente serão famosos e/ou conhecidos dos leigos. Sabemos que Stephen Hawkings é uma das maiores mentes científicas da atualidade, assim como sabemos que a pesquisa de Richard Dawkins na Biologia Evolutiva também é fenomenal. Contudo, abordarei nomes que 90% das pessoas não conhecem. Nomes de pessoas que deram grandes contribuições ou que se destacaram muito, mas que a publicidade não chegou a iluminá-los por completo. Quando a publicidade veio, foi embora e muitos não se lembram mais.

Pode-se pensar que para ser um bem cotado cientista, com trabalhos publicados e reputação entre seus pares demanda anos de preparação e estudo. Na larga maioria das vezes é verdade, mas também há aqueles que surpreendem e se destacam ainda bem jovens, muito jovens, muito jovens mesmo! Um perfeito exemplo disso foi uma menina que usou as bases do Método Científico e teve seu nome num artigo científico, ganhando notoriedade por ser a pessoa mais jovem a ter seu nome num artigo publicado num periódico científico com revisão por pares, chegando até mesmo a constar no livro Guinness, o livro dos recordes. O nome dessa menina é Emily Rosa (hoje com 23 anos) e ela foi capaz de desmascarar a pseudociência do Toque Terapêutico, ganhando admiração de cientistas e de pessoas que defendem que a pseudociência esteja bem longe das pessoas.


De início, vamos explicar o que é Toque Terapêutico e o porque dessa besteira ser considerada pseudociência.

Toque Terapêutico, ou TT – ou práticas semelhantes, como o Reike – baseia-se no uso de um “campo de energia humana”, já que este “campo” flui em padrões equilibrados na saúde mas é desviado e/ou desequilibrado quando na doença ou ferida. Assim, o especialista em TT (como é o nome desse “profissional”? Tocador Terapeuta?) usa seus, digamos, poderes energéticos para restabelecer o equilíbrio energético da pessoa, ajudando na sua recuperação e cura. Isto significa dizer que você, caro (seja doente ou hipocondríaco) paga uma grana para o “especialista”, ele ficaa uma sessão passando a mão sobre você para lá e pra cá e pronto! Seu equilíbrio energético está perfeito e você estará curado dentro em pouco. Se não curar, você volta para mais uma sessão, e outra, e outra, e outra… ad aeternum.

O Reike é um pouco diferente, mas está no mesmo juízo de valor (falcatrua, pseudociência, safadeza, charlatanismo etc). No Reike, o “especialista” conflui a energia do Universo através de suas mãos e aplica sobre determinada região a ser tratada. A mesma coisa podemos ver nos “passes” que centros kardecistas aplicam através de médiuns com espíritos incorporados ou outras bobagens nesse sentido. Tudo isso baseia-se na mesma coisa: má fé de quem aplica, ingenuidade de quem se submete ao “tratamento”.

Se você é uma das pessoas que pagou por isso e acha que se deu bem, você foi lesado. Se você acredita e defende, é burro. Se você acredita, defende e é um dos “especialistas”, você é um safado e deveria ser preso por estelionato e charlatanismo. Nao gostou? Azar, ninguém mandou vir num site cético, manezão!

Na Revista Brasileira de Enfermagem, publicaram um artigo descrevendo os efeitos gradativos do toque terapêutico na redução da ansiedade de estudantes universitários. Estaria o TT provando sua eficácia? Com certeza, não!

Richard Dawkins fez uma série chamada Inimigos da Razão, onde ele coloca diversos pseudocientistas sobre o escrutínio da Ciência (preciso dizer que todos eles falharam?). O mais interessante foi o depoimento de um médico do que seria o SUS da Inglaterra. Ele diz que devido à grande quantidade de pessoas nos hospitais diariamente, os médicos tinham pouco tempo para atender cada paciente. Já esses “terapeutas alternativos” ofereciam mais tempo, atenção e conforto durante as sessões. As pessoas se sentiam mais confortáveis e seguras e isso influía no quadro de saúde. No caso do artigo da Revista Brasileira de Enfermagem, os universitários estavam com ansiedade; logo, um tempo para relaxar somado ao fator psicológico baseado naquele passar de mãos ajudaria em algo atuam como efeito placebo. O mesmo não aconteceria com um paciente do Instituto Nacional do Câncer. O TT não passa de uma bobagem repleta de hipóteses ad hoc que afirma ter efeitos de causalidade sobre o mundo natural, onde seus proponentes alegam que pode sentir a energia corporal das pessoas e determinar como podem canalizar esta energia.

Depois de tudo isso esclarecido, fica a pergunta: O que uma menina de 10 anos tem a ver com isso?

Emily Rosa nasceu em Loveland, Colorado, em 6 de fevereiro de 1987. Em 1996, ela viu um vídeo com “profissionais” de Toque Terapêutico, os quais alegavam que podiam sentir um Campo de Energia Humana (ou HEF, na sigla em inglês). Emily ainda ouviu a ouviu a co-inventora deste “método medicinal”, Dolores Krieger, dizendo que todos tinham a capacidade de sentir o HEF, bem como o depoimento de outras enfermeiras que diziam que o HEF sentido por elas era quentinho e com a textura de caramelo. Que fofo, não? Mas é aí que entra a mola-mestra da Ciência: A curiosidade!

Emily estava impressionada pela forma como alguns destes enfermeiros sobre suas habilidades, e quis pagar pra ver se eles realmente podiam sentir alguma coisa. Assim, ela bolou um teste simples, mas tão simples, que a gente pergunta: Como diabos ninguém pensou nisso antes? Bem, muitos meninos viram lustres balançando, mas foi o jovem Galileu quem resolveu fazer testes e descobriu que o período de oscilação de um pêndulo é sempre o mesmo (e olhem que ele mediu o tempo com as batidas do coração e ainda hoje podemos usar cronômetros precisos para constatar que ele tinha razão).

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O teste de Emily baseava-se no seguinte (vou colocar em um raciocínio mais formal para vocês perceberem melhor):

Premissa nº 1 - Especialistas em TT (assegurados pela própria criadora do método) afirmam que podem ser capazes de sentir o campo energético de qualquer um e “rearrumá-lo” afim de proceder o processo de cura.

Premissa nº 2 - De acordo com o princípio da Falseabilidade, deve-se estipular um método de análise que demonstre a viabilidade da alegação, mostrando que sim, os especialistas podem realmente sentir o chamado HEF de qualquer pessoa. Assim, mediante o ensaio, os especialistas deverão determinar o campo energético e, caso consigam, terão um ponto positivo que poderá (nada na ciência é 100% certo) dar credibilidade ao tratamento.

Análise - Qualquer experiência que demonstre que o TT falha, colocará em xeque a premissa nº 1. Dessa forma, se os “especialistas” falharem ao detectar o campo energético, ficará demonstrado que há um sério problema no postulado (TT baseia-se em manipular as energias emanadas pelo paciente e o terapeuta pode identificar e manipular estas energias). Assim, o método escolhido será o simples-cego, onde a parte analisada não sabe o que está acontecendo, baseando-se apenas nas instruções do pesquisador (no caso, Emily).

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Emily solicitou a vinte e um genuí­nos praticantes de TT (devidamente checados por uma fonte imparcial) que colocassem as mãos, de palmas viradas para cima, através de buracos numa divisória opaca, conforme ilustração ao lado (clique para ampliar). Do outro lado da divisória estava Emily colocava sua mão, com a palma virada para baixo, alguns centímetros acima de uma das mãos do “especialista”, escolhida esta ao acaso atirando uma moeda ao ar, usando assim de um fator aleatório para a escolha de qual mão ela a sua sobre. Pedia-se então ao terapeuta que se concentrasse e dissesse sobre qual das suas mãos estava a de Emily. Abaixo, uma foto de Emily fazendo o teste com uma das praticantes do TT.

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Os resultados foram muito… interessantes. Em cerca de 300 testes, os terapeutas acertaram em apenas 44% dos casos – resultado que está abaixo do nível do acaso; foi chute puro, mesmo!

Emily ganhou notoriedade pois publicou os resultados do ensaio, juntamente com sua mãe e mais dois médicos, na Journal of the American Medical Association , uma das mais prestigiadas publicações médicas americanas, co direito a revisão por pares, conferindo a Emily Rosa o direito de dizer que possui publicação científica indexada num periódico respeitável, coisa que é pra poucos! Ela foi matéria da Time em 13 de abril de 1998, e foi entrevistada pela seção Ask The Scientists da PBS, emissora educativa dos EUA. Recomendo a leitura do depoimento de vários médicos e pacientessobre o uso de terapias alternativas, também da PBS. Infelizmente, não encontrei os vídeos desse programa no YouTube. Quem achar, por favor, compartilhe. A ABC fez uma reportagem sobre o efeito placebo em contraposição ao tal Toque Terapêutico :



Emily deu várias entrevistas e sentiu na pele o que acontece quando alguém sopra com força sobre o castelinho de cartas da frágil credulidade das pessoas: Ela começou a ser atacada pelos defensores desta bobagem, a começar pelo #mimimimi dizendo que se ela podia colocar um artigo científico na JAMA, então uma criança que defende o TT também poderia. O que as bestas não entendem (ou se fazem de idiotas) é que o artigo de Emily tinha respaldo científico, pois obedeceu às sagradas regras que regem a Ciência: O Método Científico. Se alguém quiser postar algum artigo provando que o TT funciona, faça o favor de fazer testes cegos, com supervisão independente. Eu até me predisponho a ser avaliador na hora (só não prometo não rir caso o negócio dê errado, e fatalmente vai dar). Não obstante, o cravo foi fincado: Quando uma criança de nove anos prova que sua pseudociência é tão digna de confiança quando ver as entranhas de um pato pra saber se vai chover amanhã, então, meus amigos, aceitem o fato: seu Toque Terapêutico é inútil e vocês não passam de exploradores da credulidade alheia. Cadeia é pouco pra gente assim.

Prêmios que Emily ganhou:

1998 – “Cética do Ano”, Prêmio James Randi da Skeptics Society.
1998 – Prêmio de US$1000,00 pela Fundação Educacional James Randi.
1999 – Reconhecimento do Guiness Book of World Records, como a pessoa mais jovem a ter uma pesquisa original num periódico científico indexado.
2000 – 1º Lugar na Feira de Ciência do Colorado (categoria Ciências da Terra e Espaço).
2003 – Prêmio “Futuro do Livre Pensamento”, pela Aliança Internacional Ateísta.


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Emily ganhou seu espaço e será reconhecida como um dos Grandes Nomes da Ciência.


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Grandes Nomes da Ciência Empty Grandes Nomes da Ciência Parte 9 : Aidan Dwyer

Mensagem por Brainiac Qui Dez 01, 2011 9:18 am

Grandes Nomes da Ciência 9 : Aidan Dwyer


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O menino que não gostava de inverno sempre pensou que esta era uma das piores estações do ano. Ele sempre o imaginou como sendo algo lúgubre, escuro… Os dias curtos e as longas e frias noites causam arrepios, não só pela baixa temperatura, mas pelo medo ancestral. Ainda assim, os fantasmas só existem em nossas mentes e quando o jovem visitou as montanhas Caskill, a noroeste da cidade de Nova York, ele viu algo nas árvores que seria a chave para o aumento da eficiência de células solares.


Aidan Dwyer tem apenas 13 anos de idade, mas isso não o impede de observar o mundo que está à sua volta. Ele sabe relacionar o que vê e procura a chave para matematizar o que seu cérebro encontra pela frente. Foi assim quando ele visitou as montanhas Catskills. Ao chegar lá, ele observou bem a disposição dos galhos das árvores, e eu imagino como o passeio devia estar chato para ele se dar a este trabalho. Aidan ficou intrigado com os galhos e, na falta de coisa melhor para fazer, contou os galhos. Isso seria a principal engrenagem de sua ideia.

Pequeno mestre Dwyer percebeu que as árvores não crescem ao acaso. A evolução biológica (mal aí, gente!) preferiu dar um prêmio às plantas que possuíssem as melhores adaptações. O prêmio é simplesmente continuar a existir. Sendo assim, plantas que possuíssem a melhor adaptação que lhe desse vantagem sobre as demais estaria em franca dianteira na corrida pela continuação da espécie. Para tanto, sua eficiência em gerar energia, através da síntese de seu próprio alimento (você sabe que seres vivos fotossintetizantes são autótrofos, não sabe?), estaria sempre em maior vantagem. Dessa forma – e levando em consideração que na fotossíntese aproveita-se a energia luminosa –, seres que possuam uma melhor forma de captação de energia luminosa.

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Pessoas comuns olham para as árvores e as admiram. Pessoas com um toque especial (e eu não uso a palavra "especial" para servir de sinônimo a pessoas com alguma deficiência) olham tudo de outra maneira. Não que deixem de admirar as árvores, por exemplo, mas as admiram pelo que é visível aos olhos, mas passa desapercebido. Aidan é um garoto assim. Ele reparou que os galhos não crescem de maneira aleatória, e sim de uma forma matematicamente elegante. Os ramos crescem de acordo com a sequência de Fibonacci. Como estou com preguiça de fazer um resumo sobre isso, leia AQUI que eu espero.

Leu? Então vá lá e leia. Não tenho todo o tempo do mundo.



Agora foi? Ótimo!

Aidan viu que os galhos crescem numa maneira que as folhas possam captar melhor a luz do Sol, porque foi para isso que se desenvolveram (não, as folhas não são o "pulmão da planta", como a tia Teteca lhe ensinou no colégio). Assim, crescendo numa sequência crescente (sim, saiu estranho) e de forma espiralada.


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"Ok, e daí?"

E daí? Você quer mais do que descobrir isso por si só, sem precisar que algum botânico dissesse?

"Sim, quero."

My pleasure! Aidan é bom em matemática e em pesquisa. Logo, soube juntar 2 mais 2. Ele construiu uma ferramenta de teste para medir o padrão espiral de diferentes espécies de árvores. Usou um tubo de plástico transparente preso a dois transferidores circulares. Com o auxílio de uma bússola, Aidan mediu a angulação de cada galho, sem nem precisar medir NO galho. Isto é. Ele usou o tubo de plástico como se fosse uma maquete da árvore, e montou os galhos mediante o padrão que encontrava ao olhar para cima, orientando-se pela bússola. Fico imaginando se eu não visitei a mãe desse menino em alguma aventura passada. Como minha vida pregressa não é de interesse mundial, ficamos com o caso de Aidan, que ao medir a sua maquete de árvore, verificou a disposição dos galhos mediante a sequência de Fibonacci. Hipótese comprovada.

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Agora, vem o melhor. Se ao pensar sobre a disposição dos galhos, Aidan viu que isso trazia vantagem às plantas, que tal aplicar esta vantagem em outro sistema que se aproveite de luz solar? Exemplos não faltam e o melhor deles são os painéis solares, para conversão em eletricidade. Hipótese estabelecida, hora dos testes. Aidan construiu outra "réplica" de árvore, com angulações variando em 137°, só que ao invés de usar papelão ou cartolina, ele usou painéis como "folhas". O pico de produção do modelo foi de 5 volts, onde o projeto inteiro copiou o padrão de um carvalho, tanto quanto possível.

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Os pais desse menino devem estar super-orgulhosos, e dane-se se isso é pecado! Um garoto de 13 anos deu um salto em termos de pesquisa científica, que nossos alunos no Brasil dificilmente conseguirão. Claro que nem todos os alunos dos EUA têm um desempenho assim, mas lá é diferente daqui, pois jovem mestre Dwyer foi reconhecido pelo American Museum of Natural History com o Prêmio Jovem Naturalista.No Brasil não temos essa cultura de premiar jovens cientistas. Preferimos desalojar cientistas adultos e despejá-los na rua que nem lixo.

Enquanto Aidan estava fazendo seus estudos, igrejas lotadas de grupos jovens estavam… bem, estavam fazendo o que sempre fazem. O problema não é ter sempre um livro na mão. É ter o livro certo. Nas palavras de jovem mestre Aidan Dwyer, um dos Grandes Nomes da Ciência: "a melhor parte do que eu aprendi foi que, mesmo nos dias mais sombrios do inverno, a natureza é ainda a tentar dizer-nos os seus segredos!"


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Grandes Nomes da Ciência Empty Re: Grandes Nomes da Ciência

Mensagem por Brainiac Ter Dez 20, 2011 5:05 pm

Grandes Nomes da Ciência 10 : Ray Solomonoff

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Para larga maioria das pessoas, computadores se resumem em acessar a Internet e postar besteiras nos Orkuts da vida, servindo de modelo para a imbecilidade humana, virando vedete dos sites que mostram as tosqueiras que andam naquele ninho de aborrecentes acéfalos.

Este não foi o caso de Ray Solomonoff, o homem que desenvolveu uma paixão pelos teoremas matemáticos que duraria toda a vida. O homem que estudou como transformar um tema da Ficção Científica em realidade, pois ele fez parte de um certo projeto do Dartmouth College que seria amplamente conhecido com o nome de Inteligência Artificial.

Ray Solomonoff nasce no dia 25 de julho de 1926, em Cleveland, Ohio. Desde cedo uma coisa o intrigava: Por que máquinas não podem pensar? Com o passar do tempo, este pensamento mudou para: Por que não podemos fazer com que máquinas possam aprender e desenvolver pensamentos? Em 1952 ele foi apresentado a Marvin Minsky, cientista cognitivo que também estava explorando a idéia de máquinas aprendizes, e ao jovem matemático John McCarthy. Juntamente com outros 7 pesquisadores, eles se tornaram os precursores da Inteligência Artificial, servindo de inspiração a Isaac Asimov.


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Solomonoff foi o criador da Teoria da Probabilidade Algorítmica – um conceito em Ciência da Teoria da Computação que quantifica a idéia de teorias e prognósticos, com referência aos programas curtos e sua produção. Algo simples, que se pode aprender em qualquer Ensino Fundamental. Ele ainda foi o pai da distribuição de probabilidade universal, criador da Teoria Universal das Inferências Indutivas e o primeiro a descrever o conceito fundamental de informação ou da Complexidade Algorítmica de Kolmogorov.

Em 1985, ele escreveu um estudo que especulava sobre o custo e o tempo que seriam necessários para desenvolver uma máquina com inteligência muitas vezes superior à de um grupo de seres humanos. Ele definia essa questão como o “ponto infinito”. A idéia antecede a precisão do cientista da computação Vernor Vinge, que em 1993 especulou sobre uma evolução semelhante na inteligência mecânica, que ele definiu como “a singularidade”.

Esqueci alguma coisa? Provavelmente, sim. O cara era um gênio!

Era? Sim, era. Ray Solomonoff faleceu dia 7 de dezembro de 2009, em Boston, aos 83 anos, mas sua morte não foi divulgada publicamente. Usando as palavras da sua página, no Istituto Dalle Molle di Studi sull’Intelligenza Artificiale – IDSI, Ray viverá em muitas mentes moldadas por suas idéias revolucionárias.

Enquanto idiotinhas brincam de ser “ráquer”, colando ridículos comandos javascript no navegador, só para ter milhares de “amigos” no Orkut, as pesquisas de Solomonoff estavam a anos-luz, havia mais de 40 anos! Ray Solomonoff, o pai da Inteligência Artificial, é um dos Grandes Nomes da Ciência.


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Mensagem por W_Shade Seg Jan 02, 2012 1:54 am

Alguma chance de Nikola Tesla aparecer...se num fosse ele num teria a vida moderna como temos hoje, foi muito injustiçado em vida e morreu com muito pouco um cara muito a frente do seu tempo imcompreendido. Thomas Edison que num gostava de Tesla queria implantar corrente continua nas transmissões de Energia se num fosse o Tesla num seria corrente alternada muito melhor e mais barata. Meio maluco o Tesla mas é o preço que se paga por uma mente brilhante...
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Mensagem por Brainiac Sex Jan 06, 2012 11:10 pm

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Mensagem por Brainiac Dom maio 20, 2012 5:13 pm

Grandes Nomes da Ciência 11 : Phineas Gage


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O operário está pronto para entrar para a história. Mas ele não sabe disso. Ele olha o caminho que será feito ali e é muito pouco provável que ele sequer imagine o quanto aquela obra será importante para seu país, bem como um acontecimento fortuito escreverá seu nome em livros de medicina. O homem caminha calmamente até o rochedo de forma um tanto displicente. Em sua mão não há nada mais que um punhado de pólvora e uma barra de ferro. O homem não esboça medo, pois não havia nada a temer, em sua opinião. Mas acontece um acidente e uma explosão faz com que Phineas Gage seja um dos nomes mais conhecidos da neurociência.


Phineas P. Gage nasceu em algum dia em 1823, que se supõe ser 9 de julho, em Lebanon, New Hampshire. Sabe-se muito pouco sobre ele, a não ser que era um simples operário, um "peão" por assim dizer. A obra na qual ele trabalhava era uma estrada de ferro que passava pela cidadezinha de Cavendish, no estado norte-americano de Vermont.

A data que mudaria a vida de Phineas Gage é 13 de setembro de 1848. às 4h30min de uma madrugada fria, os operários estavam parados pois a linha férrea não podia ir adiante. tinha uma enorme rocha impedindo a continuação e ela tinha que ser removida dali. Obviamente, isso não podia ser feito com um monte de gente empurrando, então os geniais engenheiros disseram que aquilo tinha que ir pelos ares. Obviamente, engenheiro não coloca a mão na massa… seja em qual sentido for, sobrou pra peãozada ir lá resolver o problema.

Gage foi até lá com um punhado de pólvora e uma barra de ferro.EPI é uma coisa que praticamente não existia, ninguém se importava e como era "apenas" aumento de custo, ninguém dava a menor bola se o peão ia pras cucuias junto com as pedras. Eu fico até imaginando como eles deviam estar com pressa a ponto de não mandarem o pessoal quebrar a rocha na base da marretada. Ela realmente devia ser muito grande!

A rocha já estava com um buraco em cima. Phineas Gage inteligente que só, colocou a pólvora negra (negra ou afro-americana?) e socou-a com a barra de ferro. sim, ele era muito esperto e Darwin estava com um bloquinho na mão. Aconteceu o que qualquer pessoa com um mínimo de neurônios imaginaria que ia acontecer. Sendo a pólvora negra um explosivo de ação mecânica (isto é, se você der uma porrada nela, ela explode), ela detonou quando Gage socou-a com a barra de ferro com toda a força. A explosão fez com que a barra fosse cuspida de volta a uma velocidade e orça tão grande que entrou pela cara adentro de Phineas Gage.

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A barra entrou pela bochecha esquerda, destruiu o olho que estava bem em seu caminho e saiu pelo topo da cabeça de Phineas, levando parte da massa encefálica junto (clique na imagem ao lado para ampliar). Todo mundo correu para ver o que estava acontecendo, enquanto outros já estavam encomendando o caixão. Só que Gage estava vivo, do contrário seria estranho ver um defunto tendo convulsões. Dentro de minutos, ele estava sentado num carro de bois, indo para a pensão onde estava hospedado. Lá, ele ficou aos cuidados do dr. John Martin Harlow. Dr. Harlow limpou todos os ferimentos de Gage, removendo pequenos fragmentos de osso; então, fechou a maior ferida no topo da cabeça com tiras adesivas, e cobriu a abertura com uma compressa úmida. Gage não foi pra sala de cirurgia, o que não fazia muita diferença naquela época.

Poucas horas depois, para espanto de todos, Gage estava bem (se é que ter um metro de barra de ferro atravessando sua cara é "estar bem") e sem apresentar algum problema mais sério. Claro que ele teve uns probleminhas em termos de infecções, mas nada que lhe prejudicasse muito. Só uma espécie de "fungo" que fez com que Phineas Gage caísse em um estado semi-comatoso. A família tratou de encomendar o caixão, mas parece que Gage era tiro na queda e conseguiu se recuperar (relembrando: isso foi em 1848!) . Até 1 de janeiro de 1849, Gage estava levando uma vida aparentemente normal.

Entretanto, coisas estranhas começaram a acontecer com Gage. Ele mudou completamente; sua personalidade ficara alterada. Sendo um homem previdente (mas não muito) e cuidadoso, ele passou a ser um irresponsável, intempestivo, mau-caráter, mentiroso, mau-humorado, respondão, agressivo e outras coisas tão lindas quanto. Ele não era mais o mesmo homem. O que poderia ter acontecido?

Desde essa data, Phineas Gage é um dos casos clássicos da neurociência. Como uma lesão cerebral pode mudar totalmente o comportamento de uma pessoa. Como partes do cérebro afetadas oferecem um imenso impacto em quem você é. Ainda hoje, Gage é estudado por vários cientistas. No entanto, muitos dados estão se perdendo. Para começar, nunca foi feito uma autópsia quando da morte de Gage. Somente seu crânio foi preservado, mas como todos tecidos que outrora foram vivos, ele está se deteriorando. Em 2001, foram feitos os últimos trabalhos com tomografia do crânio de Phineas Gage, mas os resultados desapareceram na mixórdia burocrática.

Agora, alguns pesquisadores estão trabalhando para reaver estes dados. Alguns dos arquivos da tomografia computadorizada foram encontrados e esses dados foram passados por tratamento digital, modelando-os mediante o crânio de outro homem de idade e compleição semelhantes. O dr. Jack Van Horn foi um dos que participaram dessa pesquisa, publicando um artigo no ano passado no periódico PLoS One.

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No trabalho, Van Horn, professor assistente da Universidade da Califórnia, estuda a arquitetura do cérebro de Phineas Gage, estabelecendo como aconteceu o acidente em nível neurológico e quais as partes afetadas têm relação com o comportamento. Os pesquisadores da UCLA descobriram que os seus modelos mostram que quase 11% da substância branca de Gage fora danificada, bem como 4% do córtex cerebral.

Os resultados sugerem que as perturbações da conectividade do cérebro de Gage, através da lesão da substância branca, reverberou por todo o cérebro, cortando as ligações entre os lobos frontal esquerdo, frontal direito e as estruturas límbicas do cérebro. Essa lesão que Phineas Gage sofreu acontece em muitos outros casos, não necessariamente por barras de ferro pontiagudas. Algumas doenças degenerativas também afetam o cérebro de maneira similar e estudando as lesões sofridas por um operário do século XIX pode trazer informações úteis sobre tratamentos que deverão ser feitos no século XXI.

Phineas Gage não viveu muito. Ele faleceu em 21 de maio de 1860, aos 36 anos de idade. Pode-se até dizer que naquela época já não se vivia muito e o fato de escapar de um acidente com uma barra de ferro enterrada na sua cabeça merece servir de crédito. Não obstante, Gage não terminou saudável. Morreu pobre, quase esquecido e epilético. Seu acidente ainda é estudado hoje e seu nome consta em muitos livros e publicações. Um homem humilde que se tornou famoso no ramo científico e se tornou um dos Grandes Nomes da Ciência.

Descanse em paz, Mr. Gage. O senhor já fez muito por nós, mesmo tendo o péssimo humor no final de sua vida.



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Grandes Nomes da Ciência Empty Grandes Nomes da Ciência 12 :Alan Turing

Mensagem por Brainiac Dom Set 02, 2012 10:08 pm

Grandes Nomes da Ciência 12 :Alan Turing



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O heroi está em seus últimos momentos. A guerra que ele ajudou a vencer está terminada, assim como terminada estará a sua vida. A mão cai indolente a uma aceleração de 9,8 m/s². A maçã toca o colchão e a 3ª lei de Newton faz ela quicar, cair de novo e rolar. O fruto estava envenenado e era esta a vontade daquele que a mordeu. Um dos maiores heróis da Segunda Guerra Mundial, o homem que desvendou os segredos da inexpugnável máquina de encriptação da Alemanha Nazista, conhecida como ENIGMA, já não está mais entre nós.

Hoje é dia 23 de junho e comemoramos o 100º aniversário dele, Alan Turing, que por causa de sua opção sexual saiu dos píncaros da Glória para cair nas profundezas do Inferno do preconceito.


Alan Mathison Turing nasceu na data de hoje (23/06) do ano de 1912, coisa que você pôde deduzir se prestou atenção. Seu nascimento teve lugar na província de Chatrapur, no estado indiano de Orissa. Nessa época, o Império Britânico ia de vento em popa e esse estado pertencia, então, à chamada Índia Britânica. O pai de Turing se chamava Julius Mathison Turing, e era um membro do Serviço Civil Indiano, prestando serviços à coroa do coroa George V. Só que a mãe de Turing, nascida Ethel Sara Stoney, achava que aqueles rincões de Deus-me-livre não era um bom lugar para ter uma família. Considerando que ela não era hipster, mrs. Turing correu para o que achavam ser muito mainstream, mesmo.

Aos 6 anos, Turing foi matriculado no colégio St. Michaels, um colégio seguindo a boa e velha cartilha inglesa, onde a diretora achou que Turing era brilhante em sua tenra idade. Claro, não estamos falando de gênios, como Pascal ou Gauss, mas mesmo assim Turing aprendia rápido.

Aos 14 anos, Turing estava matriculado na Sherborne School e suas habilidades matemáticas começaram a aflorar. Infelizmente, as pollyanas de lá achavam que isso era besteira, pois conhecimento mesmo eram os clássicos da literatura. A única diferença pras pollys daqui é que a Inglaterra tem clássicos de verdade e a Ana Maria Machado sequer chega perto de um Robert Louis Stevenson. Ainda assim, não dar valor às ciências exatas era um severo erro.

Turing não estava nem aí. Ele conheceu e firmou amizade com Christopher Morcom. Não se tem notícia que isso apenas passasse de amizade, mas no íntimo de Turing havia algo mais. Morcom faleceu em fevereiro de 1930 por causa de complicações advindas de tuberculose bovina. Turing ficou arrasado e, por causa disso alega-se que ele passou a rejeitar as religiões, tornando-se ateu. Na Inglaterra da década de 1930 isso não era bem visto e Turing sabia muito bem, mantendo seus pensamentos para si. O garoto que era reservado desde a infância passou a ficar mais retraído.

Entretanto, há algo peculiar nisso, pois Turing não abandonou totalmente o pensamento religioso. Pelo menos, a religião confessional foi pro saco, mas Turing ainda reservou para si a crença numa vida após a morte, coisa que não é tão absurda assim, posto que budistas creem firmemente nisso. Apesar de ter morado na Índia, ele saiu de lá novo demais para ter contato com outras religiões, já que os pernósticos ingleses não se misturavam com o que eles achavam ser selvagens. Não obstante, Turing passou a observar o mundo de outra maneira. Ele passou a achar que todos os fenômenos, desde o funcionamento do cérebro humano até processos de evolução biológica deviam ter origem de ordem materialista, isto é, sem serem afetados por nenhuma entidade sobre ou supranatural. E o trabalho de Turing futuramente haveria de indicar isso.

Morcom também se interessava muito por matemática e isso fez com que Turing quisesse seguir a carreira de sua paquera; porque, sim, lá pelas tantas Turing já sabia que era homossexual, o que era pior do que se dizer ateu naquela época e naquele lugar. De qualquer forma, Alan Turing ingressou em Cambridge em 1931, aos 19 anos, e se graduou em Matemática em 1934 com um Summa Cum Laude na mochila.

Em 1937, aconteceu algo que mudaria o dia de hoje. Muito provavelmente, sem este dia, eu não estaria escrevendo aqui e agora e você não estaria lendo este texto da forma que você está lendo.

Turing publicou um artigo Sobre as Máquinas Computáveis que teve uma importância enorme para a matemática pura: A prova que existiam cálculos impossíveis de serem feitos. Isso pode parecer besteira, ainda mais quando nossos alunos de Ensino Médio “esquecem” o que foi ensinado no dia anterior. A prova de Turing dizia que havia problemas matemáticos que nenhum ser humano poderia solucionar. Só que não era só isso. Neste mesmo trabalho, Turing defendeu a ideia de uma máquina capaz de fazer todos os cálculos possíveis, desde que lhe dessem as instruções adequadas. Esta máquina é puramente teórica e essa nem é a questão. A questão é como ele a definiu: com dados e instruções adequadas.

Essa máquina era capaz de calcular uma função matemática, mediante um conjunto de instruções, conforme foi dito, e se eu tiver as instruções corretas, para qualquer sistema formal haveria uma máquina de Turing. Relembrando: é uma máquina teórica, Turing jamais imaginou engrenagens, polias e muito menos microprocessadores, pois transístores ainda seriam inventados décadas dali.

Poderíamos definir a Máquina de Turing como sendo uma fita infinita (é TE-Ó-RI-CA), dividida em células adjacentes, um cabeçote de leitora, um registrador de estados, que armazena o estado e uma tabela com as funções de transmissão. Para se definir a máquina de Turing, deve-se usar a Tupla, que assume o lindo formato MT = (∑, Q, δ, q0, F, V, β, ->) Complicado? Para mim é; boa parte disso não faz o menor sentido pra mim. Como não sou profissional da área, deixo isso a cargo dos meus amigos garotos de programa programadores.

A questão aqui é que Turing criou um modelo teórico de como máquinas calculadoras (ou como eu costumava ler em antigas revistas, "cérebros eletrônicos") trabalhavam com os dados. Isso não gerou o computador da Enterprise, enquanto computador da Enterprise. Mas sem este trabalho, a ciência da computação não existiria nos moldes de hoje. Computação tem muito mais a ver com símbolos matemáticos arcanos, sacrificando virgens em noite de lua cheia, largando os coitados em frente a toneladas de formulário contínuo, do que clicar no "E" do Internet Explorer e baixar filme pirata.

Neste momento, uma horda de programadores quer comer meu fígado e outras partes de minha anatomia por causa dessa descrição porca. Pombas, isso é um artigo de aniversário, não um TTC! Sintam-se à vontade de explicar melhor os parágrafos anteriores. Eu é que não vou (não sei nem pra mim!).

Enquanto o tempo está rodando, o mundo continua girando e a Lusitânia está voando… ou algo assim. Em 1º de setembro de 1939, a Wehrmacht começou a invasão da Polônia, enquanto Hitler chegava na sacada e dizia que adorava o cheiro de Blitzkrieg pela manhã. O parlamento inglês olhou torto para Neville Chamberlain que foi simplesmente humilhado por fazer papel de palhaço ao assinar o Acordo de Munique em 1938 e os outros dando um "que se dane" pro papel.

Saem de cena os políticos, entram os técnicos. E se algo é necessário numa guerra é que as mensagens cheguem sem serem lidas pelo inimigo. É como ligar pra sua namorada e ela correr pra atender no banheiro, pro pai dela não ouvir. A Alemanha desenvolveu a máquina de codificação Enigma, que achavam ser inexpugnável (e até de certa forma era). Só que no jogo da espionagem há aqueles enxeridos que querem saber o que você está tramando, e assim como papai escuta atrás da porta, a Inglaterra resolveu que tinha que saber o que diabos os krauts estavam fazendo. Isso ajudou aos aliados, ainda mais quando um certo avô irlandês ajudava a levar mantimentos para os soldados, tendo que enfrentar os chucrutes do inferno.

O exército recrutou Turing para tentar decodificar as mensagens alemãs. Chefiando uma equipe de matemáticos de Bletchley Park, cujos nerds projetaram uma das maiores belezas computacionais da época: o Colossus.

Hitler jamais teve conhecimento de quem era Alan Turing, dada a altíssima segurança envolvida (segurança essa que seria fatal para o próprio Turing), mas é extremamente engraçado que enquanto homossexuais eram perseguidos pelos nazistas (os prisioneiros usavam uniformes com num triângulo rosa enquanto aguardavam um fim ignominioso em algum infame campo de concentração) o maior dos matemáticos da época, o cara que fez o Reich de 1000 anos ficar de 4 sem KY, era gay. Nazistas não ficaram nada alegres, num lindo trocadilho que só tem graça em inglês.

Guerra ganha, os americanos se ferrando com os japas no Pacífico nada pacífico na época, Turing volta à sua vidinha. Foi chamado para trabalhar no National Physical Laboratory de Londres, a fim de trabalhar no projeto de um computador eletrônico que podia armazenar programas, coisa que o Colossus não conseguia fazer; este trabalhava com conectores e plugues, meio que semelhante aos sistemas telefônicos do início do século, onde as telefonistas é que ligavam você à outra pessoa com quem se queria falar.

Fora isso, Turing também se dedicou aos processos biológicos, sendo um dos precursores do que mais tarde seria os estudos de vida artificial. Estudando padrões de morfogênese Turing escreveu um artigo científico demonstrando matematicamente como entidades responsáveis por isso, chamados morfogenes, atuam. O artigo pode ser lido em PDF AQUI.


Em 1951, a Royal Society nomeou Alan Turing como membro.e nessa época ele já era Sir Turing, pois fora sagrado cavaleiro do Império Britânico.

Só que mesmo os mais bravos dos herois enfrentam as mais infames derrotas, da forma mais tola possível, da forma mais criminosa possível. Em 1952, Turing fez uso dos serviços profissionais de um garoto de programa. Só que estezinho resolveu voltar à casa de Turing em companhia de um comparsa e assaltou a residência do heroi que encurtara a guerra em, pelo menos, 2 anos. Turing deu queixa à polícia, mas acabou selando seu destino com este ato. Ao ser interrogado sobre a sua relação com o meliante, Turing acabou confessando e acabou indo parar no xilindró, pois homossexualismo era crime naquela época.

Todo o trabalho de Turing não adiantou de nada. Todo ele tinha as mais altas classificações de segredo. Nem sua própria mãe sabia no que ele trabalhava, e não seria os meganhas de Elizabeth II que saberiam. O Ministério do Interior sequer foi acionado, e Alan Turing foi julgado. Julgado e condenado. Condenado a "tratar" sua perversão, segundo a moral inglesa. Como condenado pela Justiça (coloque quantas aspas quiser), Turing perdeu todas as suas credenciais secretas, aliás, demitiram ele logo de uma vez e foi aberta uma investigação interna, já que a paranoia dizia que agentes secretos recrutavam homossexuais, a fim de passarem informações sigilosas. Enquanto isso, ninguém desconfiava dos que viriam a ser conhecidos como os Cambridge Five. Longe de serem astros da música, Kim Philby, Donald Maclean, Guy Burgess, Anthony Blunt e John Cairncross eram o que o melhor da nata da sociedade inglesa poderia oferecer; talvez não exatamente para a própria sociedade inglesa e sim para o Comitê para Segurança do Estado, o KGB, da então União Soviética.

Para controlar sua "libido" e apetite pernicioso, Turing foi condenado a tomar doses excessivas de estrogênio, hormônio feminino. Qual a lógica disso, eu não faço ideia. Se ainda enchessem o cara de hormônio masculino "pra virar hômi", até que teria certa lógica, mas onde está a lógica num comportamento preconceituoso? Isso mexeu severamente com o organismo de Turing, a ponto de crescerem-lhe seios.

O homem que ajudou a vencer a guerra foi vitimado pela insânia dos seus algozes. Não o SS, mas outros preconceituosos. Jesse Owen continuou como o heroi que esfregou na cara do austríaco com problemas comportamentais uma medalha de ouro na Olimpíada de Munique. Mas Owen não era homossexual ao que se sabe. Não que isso tenha realmente melhorado o tratamento dado aos negros nos EUA, obviamente, pois somente os outros são preconceituosos. De qualquer forma, nem mesmo assim Owen seria preso e submetido a um tratamento criminoso só por ser negro. E, cá pra nós, tem diferença em ganhar uma disputa esportiva e ser pai da computação moderna, não é?

O juiz que julgou o caso de Turing falhou no teste proposto pelo próprio Turing, por não ter conseguido distinguir um ser humano de um pedaço de metal que faz contas. Turing, desgostoso, fez a única coisa que uma pessoa normal faria. No dia 7 de junho de 1954 em sua casa em Wilmslow, no condado de Cheshire, o Pai da Computação Moderna, ativo colaborador das pesquisas em Inteligência Artificial, biologia evolutiva, criptoanálise, lógica, filosofia e vida artificial deu fim à sua própria existência. Fã que era de Walt Disney, Turing resolveu suicidar-se comendo uma maçã que ele tinha mergulhado numa solução de cianeto de potássio. A Lei dos Homens é falha; as Leis da Química são implacáveis. Turing foi encontrado morto, pela manhã, pela sua governanta e assim acabou-se a história da vida de um dos maiores Nomes da Ciência de nossa época.

Em 2009, 70 anos depois do fim da Segunda Grande Guerra, o então primeiro-ministro britânico, Gordon Brown, ofereceu um pedido póstumo de desculpas a Alan Turing, pelo tratamento "desumano" que recebeu das autoridades britânicas.

Brown disse que Turing foi julgado e condenado por ser gay, já que homossexualismo só deixou de ser ilegal no Reino Unido em 1967. Ele ainda relatou que o maior estrela dos aliados merecia algo melhor do que a gratidão que batera à sua porta por causa de um degradante tratamento feito de modo tão desumano.

Turing não era melhor do que ninguém por ser gay, nem era melhor por ser um heroi. Não era melhor por ter fundado uma nova área do conhecimento, bem como ter se destacado em áreas meio que diversas, em princípio, de sua especialidade. Turing não era melhor por nenhum motivo. As legislações inglesas de sua época é que eram preconceituosas, racistas, chauvinistas e totalmente disparatadas. Muitos sofreram como Turing. talvez não por serem gays, ou asiáticos ou simplesmente estando na hora e no local errado, como foi o caso de Gerry Conlon, Paul Hill, Paddy Armstrong e Carole Richardson, os Quatro de Guilford.


No caso dos jovens irlandeses, eles estavam vivos para receberem o pedido de desculpas, mas Turing, não. Isso é lamentável e mais não pode ser dito, pois soa vazio e repetitivo.

Hoje, Alan Turing comemoraria seu centenário,e todos temos uma dívida para com ele. Meu avô conseguiu se desviar dos U-Boats para conseguir chegar em casa após o inferno que passou em alto mar, sem GPS, satélites ou o Google Mapas. Ele chegou em casa e gerou minha mãe, cujo único erro que pode ter cometido na vida foi ter dado à luz alguém como eu.

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Fico pensando o quão admirado Turing ficaria ao ver o mundo da Informática que ele ajudou a criar! O Museu da Ciência na Inglaterra está com uma exposição comemorando os 100 anos de Turing. E mais informações poderão ser obtidas no [Tens de ter uma conta e sessão iniciada para poderes visualizar este link] e [Tens de ter uma conta e sessão iniciada para poderes visualizar este link] onde vocês podem encontrar os trabalhos dele.


Enquanto isso, você poderá brincar com o doodle homenageando Alan Turing, em que você deverá decodificar a mensagem em binário para o alfabeto tradicional, bastando compreender a lógica dos símbolos e das diferentes funções existentes para chegar a um padrão que dará origem à palavra “Google”.

Se houver um Céu, há uma imensa certeza que Turing repreendeu o bom e justo deus Jeová pelo modo porco como programou as coisas, mostrando como tudo deveria ter sido feito. De repente, na próxima tentativa…

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Mensagem por Mononoke Hime Dom Set 02, 2012 10:33 pm

Que bom que você vai continuar Brainy! cheers

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Mensagem por Brainiac Seg Set 03, 2012 12:49 am

Os maiores matemáticos :


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Última edição por Brainiac em Ter Out 02, 2012 11:01 pm, editado 1 vez(es)
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