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Grandes Nomes da Ciência

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Grandes Nomes da Ciência - Página 2 Empty Grandes Nomes da Ciência 13 : Geoffrey Pyke

Mensagem por Brainiac Qui Set 06, 2012 10:41 pm

Grandes Nomes da Ciência 13 : Geoffrey Pyke

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Algumas pessoas são ímpares. Difícil rotulá-las como cientistas, mas sem poder dizer que eram perfeitos idiotas, mesmo quando suas ideias causem estranheza em determinado momento, seja vista como funcional em certo momento e abandonado já fim da implementação. Uma figura pitoresca desse calibre foi Geoffrey Pyke, o intelectual que idealizou novos materiais de construção, novas técnicas, novos veículos e, pasmem, um porta-aviões totalmente de gelo!


Geoffrey Nathaniel Joseph Pyke era uma figura estranha. Era jornalista e pedagogo, duas profissões que estão fadadas a terem tanto sucesso em Ciência & Tecnologia, quanto o mito da tartaruga que queria ir na festa do Céu. Ele nasceu em 9 de novembro de 1893 e sua aparência mais estava relacionada com cientistas de gibi que com pedagogo metido a inventor. Se você é velho como eu, você vai se lembrar do dr. Zarkov. Se é mais novo, será mais fácil você se lembrar do dr. Gordon Freeman.

Pyke não devia ser adepto de violência, não caçava aliens, nem saía dando tiro por aí. Logo, a melhor associação dele é com o dr. Zarkov mesmo (sim, eu gosto de Flash Gordon. Não, aquele filme de 1980 não era bom. Sim, a música do filme era do Queen, e Queen manda bem em qualquer filme. Não, não continuarei desviando de assunto).

Pyke era um bom inventor e criou o chamado "Pykrete". O pykrete era algo muito complicado, que só gente muitíssimo especializada seria capaz de fazer em seus caríssimos laboratórios: gelo misturado com serragem. Bem, para falar a verdade, não era gelo, gelo. A mistura era de água e serragem (14% de serragem e o restante de água líquida). Esta mistura era homogeneizada e congelada o mais rápido possível, para evitar que a serragem ficasse sobrenadante. Daí resultava um compósito duro e com baixa taxa de fusão. Por quê? Porque água é péssimo condutor de calor, assim como a própria madeira.

Mas isso só aconteceria bem depois. Pyke ficou órfão aos 5 anos, com uma mãe surtada que o chutou para um colégio público em Wellington, o que não é tão ruim quanto você possa imaginar, pois estamos falando da Inglaterra, onde filhos de nobres estudam em escolas públicas. O colégio para onde o menino Geoffrey fora era frequentado por filhos de oficiais do Exército. Ah, sim! Ia esquecendo! O jovem menino Pyke era judeu ortodoxom, com direito a peyots e roupa preta fechada. Obviamente, ele não fez sucesso entre os outros meninos (nem mesmo para a direção da escola). Saiu de lá 2 anos depois, ficou tendo aulas particulares e depois foi parar na Universidade de Pembroke, para estudar Advocacia.

Durante a Primeira Guerra Mundial, Pyke deu um cano nos estudos e ralou peito para ser correspondente de guerra. Ele convenceu o editor do Daily Chronicle para mandá-lo a Berlim, com o passaporte obtido a partir de um marinheiro americano. Eu fico imaginando duas possibilidades para este êxito: 1) Pyke era muito bom de lábia ; 2) Ninguém queria ir se arriscar lá, só ele. Na Alemanha, Pyke conversava com os alemães e viu que a vida lá não era tão sinistra quanto a imprensa britânica pintava. Ele começou a desenvolver antipatia pelo Capitalismo.

Pyke podia ser muito bom de conversa para os ingleses, mas os chucrutes não caíram tão fácil assim. Depois de 6 dias ficando de trololó na Alemanha, o exército alemão prendeu-o, recolheu cartas nada abonadoras sobre sua conduta e ele foi jogado numa cela pequena. Tão pequena que não deu nem pra ver a Rainha Vitória nascer quadrada (como se isso fosse possível, dado seu diâmetro).

Pyke já estava em dúvida quando iam trazê-lo pra fora e mandá-lo ir conversar com Henrique VIII. Enquanto isso não acontecia, Pyke continuava no xilindró, não muito bem tratado, já que ninguém condenado por espionagem ganha simpatias. Ele só pensava e pensava. Pensava na fome que sentia enquanto outros se banqueteavam. Pensava na liberdade que ele não tinha mais e na liberdade dos outros que era ceifada por um sistema. Pyke começava a tender mais para o lado vermelho da Força.

Pyke foi mantido solitário. Era proibido para ele falar com outras pessoas, seja preso ou guarda. Ele pediu livros e foi atendido, onde ele os recitava em voz alta à noite. Cada vez mais, o comportamento de Pyke estava estranho e as pessoas preferiram ignorá-lo, em que ele percebeu que a única chance dele seria bancar o maluco (não que faltasse muito pra isso, é claro).

Geoffrey Pyke passou as semanas seguintes pulando de prisão em prisão. Conseguiu trocar ideias com outros presos, soube das histórias que circulavam sobre as prisões onde esteve e acabou indo parar num campo de internamento em Ruhleben, onde tinha outros prisioneiros graduados em Oxford e Cambridge, de quem ele ganhou novas roupas. Mesmo porque, ali funcionava um muito eficiente mercado negro. Entretanto, na primeira oportunidade ele conseguiu fugir. Pyke foi ver seu editor e, decepcionado, disse que sua missão falhara, mas o editor estava radiante. As histórias da fuga de Pyke impressionaram muita gente. Pyke largou o jornalismo e passou a viver de palestras contando as suas aventuras.

Como ele ainda estava apto para o serviço militar, ele teve que se apresentar a uma junta de alistamento, mas conseguiu escapar de ser convocado. Assim, ele se dedicou a escrever um livro: To Ruhleben – And Back.

Durante a 2ª Guerra Mundial, Pyke voltou sua mente para problemas de uma guerra moderna (moderna para sua época, claro). Ele idealizou uma rede de balões fixos, com microfones presos a fim de captar aeronaves inimigas. Infelizmente, um sistema de defesa baseado em radares, tendo um técnico que gostava de escrever ficção científica, acabou deixando a ideia de Pyke obsoleta antes mesmo de sair do papel.

Com a invasão da Noruega, Pyke pensou em como resolver o problema de transporte de soldados rapidamente sobre a neve. Dessa forma, ele propôs o desenvolvimento de um veículo que se movimentava com uma base com a forma de um parafuso e não rodas, que foi rejeitado inicialmente, mas quando Louis Mountbatten assumiu o cargo de Chefe de Operações Combinadas, ele lotou o departamento com jovens criativos e com talentos e ideias incomuns. Mountbatten aprovou o veículo desenhado por Pyke, mas depois o respectivo veículo foi substituído por outro, canadense, baseado em lagartas.

Pelos idos de 1942, os aliados tinham o problema de navios que circulavam no Ártico, por causa da quantidade de gelo rolando pra lá e pra cá. Pyke, pelo visto, adorava escrever e vivia atulhando Mountbatten com memorandos e mais memorandos com suas ideias. Um deles era exatamente o uso do pykrete, descrito lá pra cima, para a construção de um navio, mas não era um navio qualquer, e sim um porta-aviões colossal, pronto para chegar, caçar, esmigalhar, destruir! Além disso, ele pensou em outras coisas, como a sensação de claustrofobia dos tripulantes, que Pyke pretendeu resolver candidamente com o uso de drogas barbitúricas. Lá pelas tantas, o pessoal estava duvidando da sanidade de Pyke.

Bom, a história seguiu seu rumo. O Projeto Habbakuk, o projeto de usar um porta-aviões feito de gelo, não foi pra frente. Os russos chutaram a bunda dos nazis e os EUA jogou duas bombas atômicas no quengo dos japoneses. Pyke foi esquecido. Os Myth Busters tentaram fazer um barco de gelo, só que usaram jornais e não serragem. Bem, o barco até que funcionou, embora eles tenham criticado que ele não se daria bem em águas tropicais, quando o planejamento original de Pyke era que o porta-aviões navegaria em águas polares. Ainda assim vale a pena ver o teste.





O fim de vida de Geoffrey Pyke não foi um mar de rosas. Mergulhado em depressão, Pyke resolveu que só tinha uma coisa a se fazer. No dia 22 de fevereiro de 1948, sua senhoria bateu à sua porta. Ninguém atendeu. Tentou mais uma vez. Nada. Ao usar sua chave para entrar no apartamento, ela viu Pyke já morto, ao lado de um frasco de pílulas para dormir vazia e um bilhete de Pyke relatando que ele tivera a intenção de tirar a sua própria vida.

Geoffrey Pyke não inventou nada revolucionário que fosse arma definitiva contra o Eixo. Ele não foi sagrado cavaleiro, nem ganhou medalhas. Se ele é um grande nome da Ciência? Creio que sim, pois, antes de tudo, um cientista tem que pensar fora da caixa e ousar com ideias que parecem loucura para a maioria das pessoas. As ideias de Pyke eram plausíveis e muitas vezes perfeitamente executadas, mas sempre e necessário um pouco de sorte, coisa que não aconteceu no caminho de Geoffrey Pyke, o homem que viu além dos horizontes.

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Grandes Nomes da Ciência - Página 2 Empty Grandes Nomes da Ciência 14 : Jack Andraka

Mensagem por Brainiac Sex Set 07, 2012 9:49 pm

Grandes Nomes da Ciência 14 : Jack Andraka



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Indo direto ao assunto, Jack Andraka é um burguesinho que, ao invés de estudar a moderna conjuntura sociológica e discutir o papel dos trabalhadores no processo produtivo e xingar a elite neo-liberal, fez algo um tantinho diferente: criou um método de detecção de tumores no pâncreas, melhor do que se tem atualmente. Ah, sim. Ia me esquecendo! O jovem cientista tem apenas 15 anos.


Como vocês devem ter notado, aqui não é um antro de Pollyanas, viúvas de Paulo Freire. Se fosse, acharíamos um ABSURDO que um garoto de 15 anos ganhe um prêmio numa feira de ciências, ao invés de discutir a racionalidade problematizada, estudando vieses do ponto de vista da massa laboral, exortando o confronto das massas contra o capitalismo selvagem. Como aqui damos mais valor ao ENSINO e à CIÊNCIA, estamos pouco nos importando com quem não estuda, ganhando bolsa-esmola.

Pollyanas de uma maneira geral ODEIAM qualquer tipo de competição, pois devemos ter penas dos pobres coitados que não foram capazes de ganhar nada na vida e pouco se interessam em vencer até mesmo em bongo de igreja. Como não somos Pollyanas aqui, eu só posso parabenizar o jovem Jack Andraka, que do alto dos seus 15 anos já mostrou que fez (e fará) mais pelas pessoas doentes que quaisquer receitinhas esquerdistas vagabundas e seus MST da vida.

Jack Andraka mora em Crownsville, condado fica no estado norte-americano de Maryland. Ele estuda no North County High School, e pelo visto já mostrou seu poder Jedi, pois quem é bom já nasce feito.

Participando da Feira de Ciências e Engenharia da Intel, que usa o sloagan "Inspirando Inovadores do Amanhã". Porque um inovador não é um mané que faz um MBA e mal sbe gerenciar uma carrocinha de cachorro-quente. Inovador é aquele que trabalha e… bem, inova. Jack é um deles. E a lanterna que ele usou foi a Ciência.

Jack já conviveu com familiares que foram vítimas de câncer de pancreático e resolveu que alguém tinha que melhorar o que se já tinha. Arrogância? Com certeza! Como um moleque de 15 anos pode sequer imaginar que passaria à frente de milhares de pesquisadores do mundo inteiro? Só que Jack não achava que isso era arrogante e foi por isso que ele conseguiu.

Feiras de Ciência deveriam ser obrigatórias em cada País, em cada estado, pois somente a Ciência foi capaz de nos tirar da barbárie. E a altíssima tecnologia que Jack usou foi um sensor… de papel.

De acordo com o Jovem Mestre Jack, o sensor pode detectar câncer de pâncreas, de ovário e até de pulmão. O que fazer então senão mandar esta ideia para alguns dos mais renomados médicos do mundo? Foi o que Jack fez, ao enviar uma descrição pormenorizada do seu teste a 200 médicos do Instituto Johns Hopkins. 197 deles não deram atenção a um moleque de apenas 15 anos, mal saído dos cueiros. Mas o 198º médico, sabendo que de Gauss a Aidan Dwyer, de Mozart a Emily Rosa, de Isaac Newton a Erasto Mpemba, jovens brilhantes não são tão pouco comuns assim e merecem uma chance. O sensor também pode dizer o que as drogas que o câncer é resistente e pode ser usado com sangue, urina etc.

Por causa de sua invenção, Jack Andraka meteu no bolso o Gordon E. Moore Award, no valor módico de 75 mil dólares. Abaixo, um vídeo da entrega do prêmio




Enquanto um monte de gente se assombra com uma menina pequena que resolveu brincar de "Lego molecular", montando uma molécula sem nem entender direito o que era aquilo, Jack Andraka, um dos GRANDES NOMES DA CIÊNCIA mostra que não basta uma palhaçada psicopedagogicacoportamentoanarquista para melhorar o mundo. CIÊNCIA, seus idiotas, CIÊNCIA é que faz a diferença.

Enquanto isso, um monte de coleginho vagabundo acha que tirar foto de criancinha plantando feijão no copo por causa do Rio+20 e postando besteiras no Facebook melhorará o mundo. Lembrem-se: quando vocês estiverem precisando de auxílio médico, com o fiofó que não passa uma agulha, morrendo de medo para saber se tem um câncer no pâncreas ou não, o trabalho de um guri de 15, apenas 15 anos é que foi responsável por facilitar a sua vida, porque ele não estava lendo Pedagogia da Autonomia.

Jack já foi contatado por uma empresa que se interessou pelo seu invento e pretende executar testes de modo que possa ser autorizado pela FDA, a ANVISA dos EUA. O que Jack pretende fazer agora? Ser patologista, é claro!

Obviamente, como dizem que o Ensino no Brasil está MA-RA-VI-LHO-SO, em breve teremos muitos desses gênios aqui e.. ops, desculpem. Concorrência e competição não são pedagogicamente aceitáveis. Teremos que nos conformar com garotos brilhantes do outro lado do mundo sendo premiados enquanto os nossos precisam do ENEM para entrar em faculdades, pois mal sabem ler direito.

Don’t take the road, Jack. Você fez muito por merecer este prêmio.´

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Grandes Nomes da Ciência - Página 2 Empty Grandes Nomes da Ciência 15 : Ötzi the Iceman

Mensagem por Brainiac Dom Set 09, 2012 11:32 pm

Grandes Nomes da Ciência 15 : Ötzi the Iceman



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O homem exausto dá seus passos cambaleantes. Ele só tem minutos de vida. A dor e a exaustão cobrarão caro e sua vida estará acabada dali a instantes. Ele senta-se em frente ao monte Similaun, inala o ar enregelante e dorme, para nunca mais acordar. Muito, muito tempo depois seu corpo é descoberto e para espanto de todos, era o cadáver de um homem muito, muito velho. Mais velho que a Grande Muralha da China, mais velho que os mais fabulosos anfiteatros romanos, mais velho até que as grandes pirâmides do Egito. O homem batizado como Ötzi viveu quando grandes mamíferos ainda pisavam sobre a terra e dadas as condições em que fora encontrado, ele ficou cognominado O Homem do Gelo.


Em qualquer artigo, diriam que sabe-se muito pouco sobre Ötzi, mas eu discordo. Sabemos MUITO sobre ele. No tempo em que o tataravô do Bob Drake viveu, seu povo ainda não tinha inventado a escrita. Ele praticamente viveu e morreu na pré-história. Era praticamente um João Ninguém (ou, no caso, Ötzi Ninguém da Silva); ele não foi general, imperador, aventureiro ou cientista. Ele não descobriu nada de importante, não projetou palácios e nem se juntou a mais 299 e chamou um império pra sair na mão. Ötzi era um anônimo, nasceu anônimo e morreu anônimo. Não sabemos até hoje como ele se chamava. O nome "Ötzi" vem de ötztal (oriundo do vale de Ötz), afinal tínhamos que chamar o defunto de alguma coisa. Se quem descobriu o corpo de Ötzi fosse norte-americano, provavelmente estariam chamando-o de John Doe até hoje. Se fosse um brasileiro, seria Magrelo. Se fosse um carioca, provavelmente seria Corno, Puto ou Cabeção. Um povo que chama a sede da Prefeitura – o Centro Administrativo São Sebastião – de "Piranhão" é capaz de qualquer coisa.


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O corpo de Ötzi foi encontrado por dois turistas alemães a 3210 m de altitude, no monte Fineilspitze. Como encontrar múmias de mais de 5 mil anos não é algo corriqueiro, os dois turistas pensaram que era algum alpinista azarado que morreu ali. Quando o corpo foi resgatado e enviado pros médicos-legais (eu não vejo nada de legal em dissecar defunto, mas ninguém pede a minha opinião nas nomenclaturas), sua idade acabou sendo estimada em 5300 anos. Se eu estivesse na sexta-série, diria que a mãe de algum desafeto meu é tão velha que foi ama de leite de Ötzi.

Sobre Ötzi, sabemos que tinha cerca de 1,60 m de altura, isto é, era nanico, mas deve-se levar em conta o estilo de vida nessa época e a dieta das populações locais. Sabemos também (mais ou menos) como ele estava vestido e seu sapato era tido como o calçado mais antigo do mundo, até que em 2010 foi descoberto um sapato mais velho ainda. Suas roupas estavam espalhadas, algumas bem longe dele, o que é intrigante. Sua idade estimada era de cerca de 46 anos e já não andava muito bem de saúde, já que seu cabelo e unhas não estavam mais fazendo parte de seus apetrechos de fábrica. Ötzi era um camarada bem doente. Ele apresentava resquícios de tatuagens, mas longe de ser por mera decoração, acredita-se que era com objetivos medicinais. É muita coincidência que os pontos tatuados assentam-se próximo aos pontos usados na acupuntura chinesa. Isso pode até ter ficado meio hardcore, mas não parece que ajudou nosso amigo tampinha.

Se você acha que o Jack Nicholson, apesar de bom ator, deve ter muito pouco a ver com defuntos enregelados do período calcolítico, abaixo temos uma foto de Ötxi. Diga "X", garotão!

atenção, imagens fortes!
Spoiler:


Infelizmente, não se faz omeletes sem quebrar ovos. Ao ser removido de seu leito de morte, muitos registros arqueológicos se perderam. A área do sítio foi afetado e a própria múmia foi danificada, mas era preciso. Boa quantidade de material orgânico estava no local, entre folhas, sementes, restos de madeira e até mesmo musgo pré-histórico estavam lá, muito bem conservados. Os intestinos de Ötzi foram estudados e pesquisadores puderam ter uma ideia de qual foi a sua última refeição.

O Homem do Gelo não era mané e sabia que o frio era um grande inimigo. As roupas encontradas mostraram-se bem adequadas (na época, claro) para enfrentar o clima, sendo composta de 3 camadas grossas de pele. Como nessa época nem todo mundo era tão bonzinho quanto os brasileiros da Kate Lyra, Ötzi, el malvadón, estava armado com um machado de cobre e um punhal de sílex. Não por acaso aquela era chamada de Idade do Cobre, oque demandava uma boa metalurgia, já que fundir cobre é muito complicado.

A dieta de Ötzi era bem diversificada. Foram encontrados traços de trigo, vestígios de carnes de veado e cabra montanhesa, e junto dele foi encontrado uma fruta seca. Há mais de 5 mil anos, Ötzi se alimentava melhor que você (se bem que isso não impediu de ele morrer cedo. A vida tem dessas coisas).

Quem era Ötzi? Andarilho, bandido ou feiticeiro? Não sabemos. Ninguém sabe. Sabemos que morreu provavelmente nos fins do outono, início do inverno, mas isso diz muito? Acho que diz, pois estamos levantando a biografia de alguém que morreu há 5300 anos. Saber que o Homem do Gelo tinha os pares de costelas número 7 e 8 com uma forma um tanto quanto peculiar é muita coisa, ao meu ver. Exames indicam que eles tinham sido quebrados, mas cicatrizaram-se, ficando as costelas do par número 7 coladas com as costelas de par número 8. Ötzi tinha uma anomalia genética: faltavam-lhe o último par de costelas. Hoje, passando-se mais de 20 anos de sua descoberta, todas as informações genéticas que sobreviveram de Ötzi foram mapeadas. O sequenciamento de DNA imortalizou de vez o nosso amigo que entrou numa fria.

Em 2008, cientistas conseguiram sequenciar completamente o DNA mitocondrial de Öetzi. Ele continha mutações que não são encontrados em populações atuais, e levou a especulações se o Homem de Gelo não pertencia a um povo que desapareceu da Europa. Para obter uma melhor imagem da ascendência Ötzi, o DNA do núcleo das células retiradas de uma lasca de osso pélvico de Ötzi foi sequenciado e esta serie de "letrinhas" (eu sei, eu sei) é, simplesmente, responsável por cerca de 96% de seu genoma.

Ötzi, um homem simples, que simplesmente viveu e morreu em regiões frias da Europa deixou seu legado, mais que vários filhos deixariam. Sabemos do seu dia-a-dia, o que ele comia e o que vestia. Intuímos mais ou menos como era a sua aparência e como foi a forma trágica que ele morreu, pois toda morte é uma tragédia para alguém. A análise de seu código genético nos deu muitas informações, como por exemplo a tendência à calcificação do coração e como ele sofria de infecções bacterianas.

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O cientista coloca o que sobrou do homem que viveu há mais de 5 mil anos, com todo o respeito, cuidado e reverência para com os mais velhos, quando estes se assentam para contar-nos suas histórias. Todos os dias, Ötzi conta um pouco sobre si mesmo, e é uma história que não terá fim tão cedo, pois a cada linha de sua história, escrevemos mais uma linha na nossa própria história. E Ötzi, o viajante do tempo que veio do passado falar de si mesmo, e são estas histórias que fazem do Homem de Gelo um dos Grandes Nomes da Ciência.


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Grandes Nomes da Ciência - Página 2 Empty Re: Grandes Nomes da Ciência

Mensagem por Brainiac Dom Set 16, 2012 3:07 pm

Grandes Nomes da Ciência 16:Steve Wozniak

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O rapaz está sentado à frente do homem poderoso. O homem o olha de alto a baixo, sem falar muito. O rapaz tem à sua frente uma quinquilharia, e o homem poderoso o olha com desdém. O rapaz olha pra quinquilharia com amor, pois fora ele quem o criou, era seu filho. E o Filho daria mais filhos até povoar todo o planeta e até outros planetas. O que o homem poderoso falaria a seguir selaria o destino de bilhões de pessoas em todo mundo, e sua resposta foi um "não". Algo a se comemorar. O rapaz pegou seu filho e foi embora e se você está lendo este texto aí em casa, foi por causa deste "Não", pois o rapaz era Steve Wozniak, o Pai da Microcomputação e a quinquilharia seria o pai de todos os computadores pessoais.


Na Era do Byte Lascado, quando o máximo que as pessoas pensavam sobre computadores era nas histórias de Flash Gordon, Perry Rhodan e a Santíssima Trindade FC: Asimov-Clarke-Bradbury (com eles, a Oração e a Paz). Computadores eram coisas complicadas, gigantes e incompreendidas (hoje as pessoas em geral não os veem mais como coisas gigantes).

John Draper era filho de um engenheiro da Força Aérea dos Estados Unidos. Assim como seu pai, Draper também ingressou para a Força Aérea e foi enviado para o Alasca, o que deve deixar muita gente feliz. Lá, ele descobriu que os apitos que vinha no cereal Cap’n Crunch emitiam um tom a a 2600 Hz, que era a frequência que era usado pela operadora telefônica AT&T usava para indicar que uma linha telefônica estava pronta e disponível para dirigir uma nova chamada. Assim, podia-se fazer uma chamada para qualquer lugar, sem gastar nenhum centavo. Draper ficou conhecido como Capitão Crunch por causa disso e criou dispositivos que imitavam o som com esta mesma frequência, e este dispositivo ficou conhecido como caixas azuis (blue box).

Só que Draper não faria história nesse sentido. Ele foi pego em 1972, pois nos EUA o conceito de dar uma volta no capitalismo é coisa séria, e ele teve que ficar 5 anos de molho. Sua façanha saiu na revista Esquire, que foi lida por Steve Wozniak.

Stephen Gary Wozniak nasceu em 11 de agosto (sim, é "niver" dele hoje) de 1950. Ele não era, digamos, o que pode ser chamado de "inteligente", já que com 11 anos ele construiria sua própria estação de radio-amador e com 13 anos era presidente do clube de eletrônica de seu colégio, para depois construir o que seria o embrião de um computador pessoal. Isso não é ser inteligente. Eu sou inteligente. Woz, como normalmente ele é chamado, mostrou que ali estava o alvorecer de um gênio.

Dar peças eletrônicas para Woz era o mesmo que dar ao jovem Vivaldi um violino. E Woz fez a sua sinfonia.

Woz ajudou Draper a construir as caixas azuis e ganhou um dinheirinho legal com elas, até que conheceu, em 1975, Steve Jobs. Juntos eles tiveram a ideia (mas a realização foi de Woz) de um computador pessoal. Havia o Altair, que era uma caixa esquisita com luzinhas acendendo e apagando. O que havia ali era algo mais. Enquanto Steve Jobs vendeu seu volks, Woz vendeu sua calculadora HP, para juntos se lançarem num projeto. Que projeto era esse? Bem, deem uma olhadinha nele:


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Esta tranqueira é o Apple 1. Só tinha um detalhe: na época, Woz trabalhava na Hewlett-Packard, e seu contrato deixava explícito que qualquer invenção dele deveria ser mostrado aos executivos da HP. Jobs teve um ataque de pelanca, mas contrato é contrato. Quando Woz estava de frente para um executivo e este viu… bem, viu o que tem aí na foto, ele soltou a memorável frase "Steve, you say that this… gadget… of yours is for ordinary people. What on earth would ordinary people want with computers?" (Steve, você diz que este… aparelho… é para pessoas comuns. O que diabos uma pessoa comum iria querer com computadores?).

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É… praticamente nada. Desde acessar praticamente todo o conteúdo das bibliotecas do mundo, falar com pessoas como se estivessem na sua frente, estando a milhares de quilômetros de distância, poder acompanhar sondas da NASA, ver como está o tempo em Dehli, trocar mensagens com cientistas do mundo todo, reencontrar amigos há muito tempo distantes, ver em tempo real o que está se desenrolando no outro lado do mundo, escrever, refletir, jogar, e xingar muito no Twitter (acho que Woz não pensou em todas essas coisas), o microcomputador veio como amigo, companheiro de trabalho, calculador, desenhista etc. Não estamos mais sozinhos, como a própria Susan Calvin poderia se referir, apesar de ela estar pensando nos robôs, mas até estes têm que ser encarados como máquina calculadora ou, como era dito na década de 70: cérebro eletrônico, mesmo quando seus processadores eram bem mais simples e não de uma liga de platinirídio.

Steve Wozniak não inventou o computador. Antigos gregos já tinham. Não inventou o compilador, Ada Lovelace já tinha. Não quebrou códigos, Alan Turing fazia isso enquanto tomava chá e lia o London Times. Ele simplesmente fez tudo ser mais fácil. Os Computadores Pessoais (Personal Computers, PC) vieram nos trazer a luz; a mesma luz fornecida pelo fogo, que foi-nos dado de presente por Prometeu. Woz é o Prometeu dos tempos modernos, e assim como este foi punido por Zeus, Woz teve seus dissabores com o próprio Steve Jobs.

A História mudou quando uma caixa de madeira, recheada por entranhas estranhas, foi posta numa mesa com ar-condicionado. a recusa mudou o mundo, se para melhor ou pior, é difícil dizer. Só se sabe que o que temos hoje é graças a Steve Wozniak, um sujeito boa praça, com cara de tio de churrasco.

Amanhã, silenciosamente, todos os computadores, seja o melhor PC feito para games, até o seu positivão aí, desde uma calculadora até um mainframe, enviarão um bit de parabéns em homenagem pelo Dia dos Pais a Steve Wozniak, um dos Grandes Nomes da Ciência.
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Grandes Nomes da Ciência - Página 2 Empty Re: Grandes Nomes da Ciência

Mensagem por Brainiac Ter Out 02, 2012 11:00 pm

Grandes Nomes da Ciência 17 :Wernher von Braun


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O homem que trabalhou para os nazistas tem seu tempo praticamente esgotado. Ele está sendo caçado e é uma questão de horas que o peguem. O homem responsável por milhares de mortes está com o seu tempo de vida contado em minutos, a menos que ele consiga seguir com o plano. O homem dali teria uma vida diferente e seria referenciado nos livros de História, não como o infame Adolf Eichmann, mas como o principal responsável pela conquista do Espaço; lançando o mundo numa nova era.

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O nome de Wernher von Braun inspira sentimentos conflitantes. Ingleses não o veem com muita simpatia, americanos o reverenciam e alemães sentem orgulho (ok, não muito, mas sentem) por suas proezas (não todas, obviamente). Wernher Magnus Maximilian von Braun não só tem um nome de nobre como seu pai era realmente um nobre, um barão prussiano que, muito provavelmente, ostentava um daqueles clássicos bigodões. Von Braun nasceu no dia, 23 de março, no longínquo ano de 1912, 23 dias antes do Titanic fazer o favor de levar o Leonardo DiCaprio consigo. E, não. Não tenho problemas com o número 23, pois não sou o Jim Carey.

Von Braun era um menino de extremo bom gosto literário, pois era fã de H. G. Wells e Julio Verne. Isso é até muito interessante do ponto de vista que a literatura de ficção científica de H. G. Wells foi muito pequena, mas o que ele escreveu neste tema encantou milhões de pessoas ao longo do tempo. Eu, inclusive. Só que autores mortos não bastavam para alguém como Von Braun e o estopim para a sua ideia de seguir uma carreira para ir audaciosamente aonde nenhum alemão jamais esteve foi os escritos e palestras do eminente físico Hermann Oberth, que já sonhava em vencer a temível (e fraquíssima) força da gravidade terrestre em busca da liberdade do frio espaço. Ainda que fraca, a gravidade é poderosa o suficiente para dar úlcera em qualquer um que planeje sair do solo por seus próprio meios. Oberth viu em Von Braun a sincera devoção e anseio por chegar ao espaço e o encorajou dizendo que ele deveria dominar Cálculo e Geometria. O jovem Wernher não era como nossos estudantes de hoje e não largou seus estudos para ficar pendurado na Internet acessando Facebook ou escrevendo besteiras no Twitter. O jovem Wernher não tinha duas coisas que nossos adolescentes de hoje têm aos montes: preguiça e computadores com acesso à Internet (mesmo porque, computador era coisa de ficção científica em sua época, mas isso não quer dizer muita coisa).

Wernher von Braun se graduou em Engenharia Mecânica e concluiu seu doutorado em Física em 27 de julho de 1934. Há uma coisa sutil aí. A tese defendida por von Braun teve dois lados: um público e um secreto. Nessa época, ele já tinha sido convidado pelo Nationalsozialistische Deutsche Arbeiterpartei , o NSDAP, o Partido Nazista. Em 2 de agosto deste ano, um austríaco com problemas comportamentais ascenderia ao poder e isso mudaria a vida de Von Braun, com mudou a vida de milhões de pessoas, de ambos os lados da equação.

O lado público do doutorado de tio Wernher recebera o título Sobre Testes de Combustão. Não quer dizer muito. Combustão já vinha sendo estudada desde antes de Lavoisier (apesar deste ter feito um trabalho mais acurado). Mas o nome completo da tese de Von Braun era Konstruktive, theoretische und experimentelle Beiträge zu dem Problem der Flüssigkeitsrakete. Raketentechnik und Raumfahrtforschung (Solução de construção, teórica e experimental para o problema do foguete por propelente líquido).

O regime nazista determina o fim de qualquer pesquisa civil no âmbito de foguetes, apenas militares poderiam se dedicar a isso e eu penso que eles já não estavam com boas ideias. Churchill também achava que Hitler não era flor que se cheirasse, mas o ingênuo Neville Chamberlain pensou que não era nada disso. A história nos mostra quem estava com a razão.

Wernher Von Braun foi peça chave no desenvolvimento da tecnologia de foguetes da Alemanha. Ele parou de usar combustíveis sólidos e passou a usar combustíveis líquidos. Com isso, ele chegou às Vergeltungswaffe, a "arma da vingança", sendo as primeiras bombas voadoras. A primeira foi chamada V-1 e a que se seguiu mudou totalmente o que se conhecia por armamento bélico: as bombas V-2, que na verdade não são bombas, "bombas", como aquelas de São João ou a Fat Man que caiu no quengo dos japoneses. A bomba V-2 era um míssil e mesmo assim não era um míssil comum. Era um míssil balístico.

O problema da V-1 era que a distinta deveria seguir em linha reta, só que isso é impossível. Nada segue em linha reta, nem mesmo um tiro de revólver. Eles seguem trajetórias balísticas. Trajetórias balísticas eram conhecidas por Galileu Galilei. Na época de Galileu, achava-se que Aristóteles era o cara, e ele afirmava que quando você joga qualquer objeto para cima, ele sobe em linha reta, independente do ângulo de lançamento. Ao chegar no ponto mais alto, o móvel cai, também em linha reta. Bom, Aristóteles, para variar, estava errado e Galileu provou que qualquer projétil subia e descia mediante uma trajetória que pode ser representada por uma parábola.

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Quando um atirador de elite (sniper, para os gamers e fãs de filmes de guerra) mira a cabeça de alguém, ele tem que calcular variantes como umidade do ar, direção do vendo, arraste aerodinâmico e gravidade. Tudo isso influencia e a gravidade puxa a bala pra baixo enquanto o atirador tenta compensar todos estes fatores. Com um míssil a coisa fica pior, já que a força gravitacional entre dois corpos é diretamente proporcional ao produto das massas destes corpos. As V-2 subiam a uma certa altura e caíam, com a trajetória calculada para acertar o alvo planejado. Na imagem acima vemos 3 exemplos de projéteis cuja trajetória determina a distância alcançada, basicamente usando a altura para obter a ação em que se determina onde a desgracenta irá cair.

A V-2, a infame V-2, foi largamente usada na Europa e Londres era um dos alvos preferidos daquele maníaco de bigode ridículo. Era uma assassina com 46 metros de comprimento, pesava 27.000 kg e viajava a velocidades superiores a 3.500 km/h. Estima-se quase 3000 mortes civis em Londres por causa das V-2. Sim, civis, e a V-2 mostrou-se o que seu nome sugeria: pura e simplesmente vingança, já que estas quase 3 mil pessoas eram cidadãos alheios aos ditames da política. Só que o tempo passou e a situação da Alemanha estava indo de mal a pior e as V-2 não eram suficientes para resolver os problemas. Von Braun sabia disso e resolveu que ele não teria amigos pelo mundo afora, e ficar dando mole na Alemanha que estava começando a se esfacelar não era algo que uma pessoa inteligente sequer aventasse.

Ele começou a dar um jeito de contrabandear material secreto para os americanos e quando o Exército Vermelho meteu o pézão na Alemanha, um dos mais procurados era ele, Wernher von Braun. O problema que os russos não tinha grande amor pelos alemães e Von Braun seria menos que humano se tentasse arriscar a sorte com os filhos de Lênin, já que Stalin nunca foi conhecido pela simpatia para com as pessoas (qualquer uma delas).

Von Braun conseguiu ralar peito dali, fugindo até da sombra: alemães, soviéticos e qualquer coisa que não fosse um norte-americano. Sendo recebido pelo pessoal de Eisenhower, Von Braun ficou trabalhando com o Exército dos EUA no desenvolvimento de mísseis balísticos. Como parte de uma operação militar chamada Projeto Paperclip, ele e sua equipe (que conseguiram fugir da Alemanha também) foram instalados em Fort Bliss, no Texas. Lá eles trabalharam em foguetes para o exército. Em 1950, a equipe de Wernher von Braun se mudou para o Arsenal Redstone perto de Huntsville, Alabama, onde construíram os mísseis balísticos Júpiter; e quando Kennedy se mostrou desconcertado com o Sputnik a ponto de dizer que sua meta era mandar um homem à Lua em 10 anos, a correria começou. A corrida espacial começara e a exploração do Espaço era a ordem do dia. Fundos praticamente ilimitados garantiram que pessoal técnico e de apoio, pilotos, equipamentos e tudo o que você possa pensar em termos de recursos humanos e material estivessem plenamente disponíveis.

Wernher von Braun naturalizou-se cidadão dos EUA em 1955. Entrou para a NASA em 1960, tornando-se diretor do Centro Espacial de voo Marshall de 1960 à 1970, onde dirigiu os programas de voos tripulados: Mercury, Gemini e Apollo. É o pai do foguete Saturno V que levou os astronautas dos EUA à Lua. Mais que um grande cientista, Von Braun despertou em muitos jovens a vontade de seguir uma área técnica e o então currículo dos EUA garantira que os colégios dessem maior ênfase à disciplina de Ciências. Lançar bombas na cabeça dos outros não era problema para ninguém da direita religiosa, só a Evolução das Espécies o é; dessa forma, ninguém se incomodou com várias feiras de ciência abordando o tema. É com este pano de fundo que se desenrola o filme Céu de Outubro, um filme que divulgadores de Ciência e professores deveriam ser obrigados a ver, e de preferência com seus alunos, e Paulo Freire que se dane. O próprio personagem principal, Homer Hickam, é fã incondicional do ilustre dr. Wernher Von Braun.

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O maniqueísmo nos faz pensar em Wernher Von Braun como vilão. Outros o veem como herói. Tê-lo como vilão, pois ele foi o responsável pela bomba que matou milhares de cidadãos londrinos implica em culparmos Winston Churchill também, posto que o serviço secreto inglês decifrara a mensagem antes e ele sabia do bombardeio. Churchill, entretanto, não alertou as pessoas, pois saia que se fizesse isso deixaria os alemães sobressaltados com a única conclusão óbvia: a Inglaterra já decifrara o que pensava-se ser uma cifra inquebrável: a da máquina Enigma. Churchill preferiu não alertar, tendo todas aquelas mortes em sua consciência, visando um bem maior. Complicado julgarmos ambos, pois numa guerra não existem vilões e mocinhos. Existe gente idiota que luta por pura idiotice. Foi o mesmo programa da V-2 que levou o Homem ao espaço e manteve o equilíbrio de forças entre duas potências termonucleares. Teríamos que culpar vários inventores por todo invento que causa algum mal às pessoas. O mundo não é só preto e branco.

Quanto ao maior de todos os cientistas de foguetes, o dr. Wernher Von Braun ficou na NASA até o ano de 1972, quando ele passou a ser diretor adjunto da Fairchild Industries. 5 anos depois, 16 de junho de 1977, Wernher Von Braun sucumbiu, não a uma explosão de uma de suas armas projetadas, mas a um câncer de pâncreas. Os restos mortais de um dos Grandes Nomes da Ciência repousam num túmulo simples no Ivy Hill Cemetery em Alexandria, no estado norte-americano da Virginia; e hoje é o dia que comemoramos o seu 100º aniversário de nascimento. Alles Gute zum Geburtstag, herr Braun.

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Grandes Nomes da Ciência - Página 2 Empty Grandes Nomes da Ciência 18 :Wernher von Braun

Mensagem por Brainiac Dom Out 21, 2012 9:55 pm

Grandes Nomes da Ciência 18 :Wernher von Braun


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O bebê de olhos escuros viu o raiar do dia. Seu murmúrio disse à sua mãe que ele estava com fome, e ela — como toda mãe zelosa — o amamentou. Aos poucos, o lindo bebê vira o rosto e começa a prescrutar o mundo e ele não sabe que será estudado por vários cientistas. Suas habilidades serão observadas e até pelo modo como ele pensa. Isto porque Kanzi, o bonobo, mostra como são pequenas as diferenças entre fera e homem.


Kanzi nasceu em 28 de outubro de 1980, no mesmo ano que o urso Misha chorou nas Olimpíadas de Moscou. Ele seria como mais um macaco idiota, se idiotas fossem os macacos. O fato de alguns humanos agirem como idiotas não é culpa da ordem dos Primates. Sabendo que a variação genética está entre 2 e 10%, estamos bem cientes de onde está o problema. De qualquer forma, macacos não são idiotas, pois são capazes de fazer ferramentas, pescam, guerreiam e espalham notícias (ok, a parte da guerra reflete certo grau de estupidez).

Kanzi pertence à raça dos bonobos (Pan paniscus), os quais são muitas vezes — e de forma errônea — chamados de “chimpanzés-anão”, sendo que há muitas diferenças entre eles, principalmente em termos de comportamento. Enquanto chimpanzés são mais violentos, sexistas, xenófobos e belicosos (lembraram-se de alguém?), bonobos são pacíficos, mantendo uma sociedade calma, ordeira e gentil, onde as pessoas dão mais ênfase ao comportamento homo ou bissexual de seus integrantes do que o modo como os membros de sua sociedade interagem mutuamente.

Como? Você não sabia que animais tidos como “irracionais” apresentam comportamento homossexual? Que coisa, né? (agora, algum idiota vem aqui dizer que eu chamei homossexuais de “irracionais”, já que interpretação de texto não é pra qualquer um.)

CriaBURRIcionistas idiotas (desculpem o pleonasmo) normalmente enchem o saco pedindo por elos perdidos, perguntando porque macaco não vira mais gente, fazendo relações idiotas e se achando os supra-sumos da imtelijênça ao repetir besteiras desde o tempo de Huxley. Obviamente, quando se coloca links como os que demonstrei acima, eles são formalmente ignorados e continuam repetindo a mesma ladainha, quais papagaios.

Kanzi — cujo nome significa “tesouro”, em swahili — nos dá um vislumbre da evolução da inteligência humana. Há muitos anos ele vem sendo estudado por cientistas, como a drª Sue Savage-Rumbaugh, primatologista que estuda processos de linguagem de símios, utilizando para isso lexigramas, isto é, representações simbólicas visuais de palavras, semelhantes a ideogramas japoneses (eu disse “semelhante” e não “igual”). Kanzi possui um vocabulário próprio de cerca de 200 palavras, mas é capaz de entender bem mais; em outras palavras, ele é capaz de ler o Cet.net e interpretar os textos melhor que muito paraquedista que aparece aqui tentando me corrigir. E eu nem vou compará-lo com comentaristas do YouTube ou do Yahoo! Respostas.

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O The Telegraph nos brinda com uma coletânea de fotos mostrando Kanzi preparando seu almoço, e quando eu falo isso, falo no sentido literal, pois ele pegou a lenha, acendeu o fogo e cozinhou sua comida, mostrando como a dieta cozida faz uma grande diferença e, parar horror dos vegans, não foi saladinha que ele comeu. O Daily Mail também trouxe uma matéria sobre isso.

"Assim, não vale! Ele não fez o fogo com dois gravetos ou atritando duas pedras, ele usou fósforos, blé!"



Você não está errado, só que pensemos que ele usou ferramentas de forma adequada. Ele sabia o que estava fazendo, acarreando que o simples processo pavloviano não bastou. Ele teve que recolher o material e usar os meios que dispunha de FAZER a comida, coisa que ele efetivamente fez.

O trabalho com Kanzi rendeu até mesmo um livro de nome Kanzi: The Ape at the Brink of the Human Mind (Kanzi: O símio à beira da mente humana), e a drª Savage-Rumbaugh até mesmo falou sobre isso no TED.

A capacidade de controlar o fogo representa um passo evolutivo importante que ajudou a melhorar a dieta dos seres humanos, impulsionando-nos em nosso desenvolvimento cognitivo, acarretando no desenvolvimento de cérebros maiores, mais sofisticados e desenvolvendo meios de comunicação, e, eventualmente, a conquista de nosso mundo. Kanzi demonstrou não ter medo da tecnologia nem de uma nova fronteira que se desenhou frente a ele. Ele não tocou o monolito negro, ele fez um próprio para si.

Kanzi não é cientista, como pensamos nos cientistas atuais, mas ele mostrou-se à altura da aventura humana em termos de técnica e conhecimento. É capaz de se comunicar e usar ferramentas e, ao menos até agora, não demonstrou nenhum desejo de exterminar outros macacos próximos a eles. Kanzi, então, nos ultrapassou em termos de evolução e, por isso, deve ser visto como um ícone, mas não um irmão. Ele é muito melhor que isso.

Esta é a postagem de fim-de-ano do Ceticismo.net. A todos vocês que nos acompanharam ao longo de mais 365 dias, fica-se o desejo que nós possamos ser como Kanzi, sem ter medo do futuro, sem ódio, sendo capazes de interagir com nossos semelhantes (ou não tão semelhantes assim), usando recursos que estiverem ao nosso alcance, sem destruir tudo (ou todos) em volta.

Fica aqui um agradecimento a todos os que nos acompanharam, comentaram, criticaram e até mesmo xingaram (já que estes são fontes de divertimento) por todo este ano. Espero tê-los aqui neste canto, onde sempre traremos assuntos relevantes (ou nem sempre), com nosso modo habitual de divulgar a Ciência e o pensamento crítico.



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Grandes Nomes da Ciência - Página 2 Empty Grandes Nomes da Ciência 19 : Alypio Leme

Mensagem por Brainiac Dom Jan 06, 2013 10:21 pm

Grandes Nomes da Ciência 19 : Alypio Leme




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Ao contrário do que muitos podem achar, o Brasil não é tão atrasado em termos de Ciência. Muitos cientistas se destacaram no passado, e uma das principais confirmações da Teoria da Relatividade veio, como Einstein mesmo disse, do luminoso céu do Brasil. No campo da Astronomia, um dos principais nomes brasileiros que merece destaque é o de Alypio Leme.

Alypio Leme de Oliveira nasceu em Bragança Paulista em 22 de novembro de 1886. Ele terminou seus estudos secundários – como era chamado o Ensino Médio na época – no Colégio do Seminário Episcopal, onde se matriculara em 02 de março de 1897, concluindo o curso de Humanidades em 1903. Foi um dos fundadores da Companhia rede Telefônica de Bragantina, em 1905, chegando a ser um de seus diretores. Essa companhia deu origem à Companhia Telefônica Brasileira, CTB, em 1912.


Em 1907, Alypio Leme ingressou na Escola Politécnica de São Paulo. Esta instituição seria reunida, mais tarde, com a Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras, a Escola Superior de Agricultura “Luiz de Queiroz”, a Faculdade de Medicina, a Faculdade de Direito e a Faculdade de Farmácia e Odontologia, dando origem à Universidade de São Paulo, USP.

Na Politécnica, Leme cursou Engenharia Civil até o 5º ano, diplomando-se em Engenheiro Geógrafo; mas enquanto estudava – e com base nos conhecimentos adquiridos, interessando-se por Astronomia – Leme escreveu durante o ano de 1910 vários artigos para os jornais da Capital, como o Diário Popular e Correio Paulistano, sobre o cometa Halley, que nessa época passava pelo seu periélio, o que contribuiu para que mais tarde, em 1927, fosse convidado para dirigir o Serviço Meteorológico do Estado de São Paulo.

Na Escola Politécnica, exerceu a presidência do Grêmio Politécnico e a presidência da redação da Revista Politécnica, em 1912, passando no mesmo ano a diretor da Revista de Engenharia. Também neste ano, instalou a Companhia Fabril de Bragança. Exercendo a profissão de Engenheiro-Chefe da Tração da Seção Bragantina, ramal da The São Paulo Railway (mais tarde, esta empresa seria parte da Rede Ferroviária Federal SA – RFFSA), cargo que ocupou até 1923, quando fundou as Oficinas de Construções Civis e Mecânicas de Bragança.

Alypio Leme ainda continuou dedicando-se à Astronomia. Em 22 de junho de 1927, foi convidado por Gabriel Ribeiro dos Santos, então Secretário da Agricultura, para ocupar o cargo de Diretor do Serviço Meteorológico do Estado, em substituição do diretor interino Eliezer Rodrigues dos Sanctos Saraiva e, ao mesmo tempo, para organizar o projeto da criação do Serviço Meteorológico e Astronômico do Estado de SP, que fora criado pela Lei Estadual nº 2261 de 31 de dezembro de 1927. Essa lei foi regulamentada pelo Decreto estadual nº 4388, de 14 de março de 1928, que confirmava que os serviços mencionados seriam desenvolvidos no Observatório Astronômico e Meteorológico, situado na Avenida Paulista nº 69.

Em 1927, com o rápido crescimento urbano, o local, que em 1910 era considerado ideal para a instalação do Observatório Astronômico, foi pouco a pouco se tornando inadequado para as observações astronômicas regulares, principalmente pelo aumento das áreas iluminadas em suas vizinhanças. Os bondes elétricos que já trafegavam na Av. Paulista produziam abalos e interferência nos incipientes serviços de geomagnetismo e sismologia. Para agravar ainda mais a situação, a prefeitura da Capital pretendia executar um projeto para o prolongamento da Av. Anhangabaú (hoje, Av. Nove de Julho) para além da Av. Paulista, através de um túnel a ser aberto por baixo do Trianon, o atual túnel Nove de julho. Estas obras previstas viriam a comprometer ainda mais o já precário funcionamento do Observatório de São Paulo.

Em vista disso, ainda no ano de 1927, Alypio Leme já estudava também a possibilidade de transferência do Observatório de São Paulo para outro local mais conveniente, pois conforme menciona a sua Exposição de Motivos, apresentada ao Secretário da Agricultura, Indústria e Comércio em outubro de 1927, eram:

Por apresentação do astrônomo Leon Cap (1897-1948), que, mais tarde, no período de 1930 a 1933, participaria dos trabalhos do Observatório de São Paulo, recebeu em 1930 o título de membro perpétuo da Societè d’Astronomie d’Anvers (Antuérpia, Bélgica), como reconhecimento de seus trabalhos científicos na direção do Serviço Meteorológico e Astronômico do Estado de SP. No mesmo ano de 1930, Leme organizou o projeto definitivo do novo Observatório Astronômico de SP, dando início às suas obras no Parque do Estado em 24/02/1932. A inauguração foi em 25/04/1941.

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No que se refere às observações astronômicas, não há muitos registros. No Relatório referente ao ano de 1930, Alypio Leme menciona que, no dia 19 de março de 1930, utilizando o refrator Zeiss de 175 mm, equipado com uma câmara solar (um de seus assessórios), foi tomada a primeira fotografia do Sol realizada em São Paulo. Foi iniciado assim, o Serviço Heliográfico do Observatório de São Paulo.

Também no campo das observações astronômicas, foi realizada uma sequência fotográfica das diversas fases do eclipse parcial da Lua, em 13 de abril de 1930, obtida também com o refrator Zeiss, publicada na Revista Politécnica nº 99.1930, e nas Publicações do Observatório de São Paulo, também em 1930. Esse foi o primeiro trabalho de fotografia astronômica nessa modalidade em São Paulo.

Alypio Leme de Oliveira dirigiu o Instituto Astronômico e Geofísico até 19 de janeiro de 1955 – mesmo ano do falecimento de Albert Einstein – época em que solicitou aposentadoria, sendo substituído pelo professor Abrahão de Moraes, da Universidade de São Paulo.

O digníssimo Alypio Leme de Oliveira faleceu na cidade de São Paulo, em 4 de dezembro de 1956, deixando uma marca indelével de sua passagem pela Diretoria do Serviço Meteorológico e Astronômico do Estado de São Paulo, o belo conjunto arquitetônico que é o Observatório de São Paulo, sede do IAG, hoje denominado Observatório Alexander Postoiev.

Alypio Leme de Oliveira é um orgulho para a ciência brasileira e também é um dos Grandes Nomes da Ciência.


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Grandes Nomes da Ciência - Página 2 Empty Re: Grandes Nomes da Ciência

Mensagem por Brainiac Sáb Abr 20, 2013 1:36 am

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Grandes Nomes da Ciência - Página 2 Empty Grandes Nomes da Ciência 20 : Carl Sagan

Mensagem por Brainiac Dom Abr 21, 2013 8:24 pm

Grandes Nomes da Ciência 20 : Carl Sagan

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Seu nome é paradigma entre os que prezam a Ciência. Ele é aquele que todos os divulgadores científicos gostariam de ser… que EU gostaria de ser. Carl Sagan foi aquele que divulgou a Ciência de modo nunca antes feito, com uma abrangência sem precedentes e ainda hoje é tido como uma referência. Hoje, dia 28 de setembro de 2010, é o dia que sua mais famosa obra, a série Cosmos, faz trinta anos e esta é a homenagem àquele que cativou tantas pessoas, as quais perceberam como o Universo é ao mesmo tempo lindo, mas ardiloso e selvagem ao mesmo tempo.


Há trinta anos, um garoto estava sentado em frente à televisão com seus pais e seu irmão. Havia sido noticiado uma nova série televisiva, mas o menino não sabia direito o que era e, talvez, nem se interessasse muito. Era um domingo, dia do Fantástico, que como show da vida só trazia morte e desgraça pelo mundo afora. Terminado o programa, a série começou com o barulho do oceano. Um homem caminhava, com uma tomada ao longe, que ia se aproximando lentamente. O homem tinha uma voz calma, parecia aquele tio querido que saiu para viajar por muito tempo e voltara com para nos contar muitas histórias. Ele começou dizendo:

O Cosmos é tudo o que existe, existiu ou existirá. A contemplação do Cosmos emociona-nos. Provoca-nos um arrepio, embarga-nos a voz, uma sensação suave, como uma recordação distante de cair de uma grande altura. Sabemos que nós estamos a nos aproximar do maior de todos os mistérios. O tamanho e a idade do Cosmos ultrapassam a comum compreensão humana. Perdida algures entre imensidão e eternidade, fica a nossa minúscula casa planetária, a Terra. Pela primeira vez temos o poder de decidir o nosso destino e o do nosso planeta. Esta é uma época de grande perigo. E, todavia, a nossa espécie é jovem, curiosa, corajosa e mostra-se prometedora.



Aquele homem, com um penteado engraçado apresentou o Universo e disse que estávamos apenas à beira do oceano cósmico, prontos para colocar o dedo na água um pouco mais e essa água era convidativa. E então, o homem fez um convite: para nos juntarmos a ele numa grande viagem em uma astronave, para conhecermos novos mundos, novas galáxias, novos conhecimentos, deixando para trás algumas crendices, fazendo clara separação do que é especulação dos fatos comprovados. O menino que assistia a tudo estava maravilhado com o que poderia ver e sim, aceitou o convite daquele homem que parecia um velho capitão de um imenso navio. O nome do navio é Conhecimento, e o capitão era Carl Sagan.

Carl Edward Sagan era uma pessoa diferente das demais. Ele era especial. Não no sentido que dão hoje. Hoje, “especial” são crianças com deficiência de alguma espécie. Eu não sei o que há de especial nisso, pois prefiro a definição mais antiga, onde “especial” era o indivíduo que se destacava dos outros. E, sim, Carl Sagan conseguia se distinguir. Seu amor pela Ciência era algo esplêndido e ele conseguia mostrar a poesia escondida em cada descoberta. Ele conseguia transmitir paixão no que falava e você acabava envolvido com aquilo, querendo saber mais e mais.

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Nascido na cidade de Nova Iorque, em 9 de novembro de 1934, cujo pai era um imigrante russo (por sorte, muito antes de Macartismo) tio Carl Sagan enveredou para o mundo científico quando visitou com seus pais, em 1939, a Feira Mundial de Nova York, com uma exposição científica de primeira linha. Quando ele ganhou seu primeiro cartão de uma biblioteca pública, foi até lá, ele pediu à bibliotecária um livro sobre estrelas e ela lhe deu um sobre atores e atrizes de cinema. Explicando que não era aquilo que ele queria a bibliotecária o apresentou ao universo que cerca o Universo.

Tirou seu diploma de bacharelado em Ciência em 1955 o diploma de bacharel em 1955, obteve o equivalente ao nosso mestrado em Física em 1956 e o título de doutor em Astrofísica em 1960.Trabalhou no laboratório do dr. Hermann Joseph Muller, agraciado com o Prêmio Nobel de Fisiologia/Medicina de 1946.

Carl Sagan trabalhou no Observatório Astronômico Smithsonian, foi catedrático da Univesidade Harvard, tinha seu próprio laboratório na Universidade de Cornell, fez parte do programa Apollo, onde trabalhava diretamente com os astronautas, trabalhou no Jet Propulsion Laboratory, da NASA, departamento responsável pelas sondas-robôs como as sondas Pioneer e Voyager e foi um dos responsáveis pelo projeto SETI (Search for Extra-Terrestrial Intelligence, ou Busca por Inteligência Extraterrestre). Mas, para o menino em frente à TV, Carl Sagan era muito maior que isso tudo. Ele sabia contar histórias, sabia transformar a linguagem árida da Ciência em poesia. A cada semana, com a trilha sonora Heaven & Hell, do Vangelis, tio Carl Sagan contava-nos mais histórias. Falou sobre o incrível planeta vermelho e como Vênus, apesar do nome remetendo ao amor, tratava-se de um verdadeiro inferno, de tão quente, denso e com ácidos em suspensão na atmosfera.

A série transformou-se em livro, e muitosoutros seriam escritos. Em Dragões do Eden, Carl Sagan discute a origem da inteligência humana. Em O Mundo Assombrado pelos Demônios, Carl Sagan desmente e choca-se de frente com as pseudociências, como a astrologia, homeopatia e adivinhações. Ele argumentava como dois gêmeos idênticos poderiam ter destinos tão diferentes. O que dava poder à Astrologia? A Força Gravitacional? mas a força gravitacional que os médicos e enfermeiros exerciam eram maiores, já que a Gravidade é uma força extremamente fraca. É nesse livro que está o antológico caso do Dragão da Garagem.

Carl Sagan soube traduzir bem o significado do ceticismo e nos levou a pensar. Ele até mesmo ministrou cursos sobre pensamento crítico, ajudando as pessoas a se libertarem das tolices. Não falo de religião ou crendices, mas da tolice de aceitar o que cada um fala sem querer investigar os fatos ocultos. Pois, ceticismo, não tem a ver com religião ou ateísmo e sim na vontade de descobrir a verdade.

Carl Sagan foi um marco na História da Ciência e muitos hoje, 30 anos depois da série, se tornaram cientistas e pesquisadores por causa dele. O menino se tornou rapaz e este perguntou ao seu professor de Ciências se era possível alguém saber tudo. O professor disse que não, que aí estava a maravilha da Ciência, pois quanto mais se sabe, mais se descobre, mais se quer saber, mais mistérios aparecem. “É uma busca contínua”, disse o professor Leugim O rapaz queria saber mais e leu os livros e, uau!, quantas respostas! Mas havia perguntas também. Ele olhava para a imagem de Carl Sagan e via que ele também tinha curiosidade em saber cada vez mais. Via o amor que Carl Sagan tinha pelo planeta onde vivemos, a ponto de ser um fervoroso pacifista e completamente contrário à corrida armamentista, quando o mundo vivia sob nuvens negras de uma ameaça de guerra nuclear, onde toda a humanidade poderia ser extinta, mediante o chamado Inverno Nuclear. Para uma discussão mais aprofundada sobre isso, recomendo a série escrita pelo Kentaro Mori (O Apocalipse Inevitável), onde ele mostra como Carl Sagan conseguiu salvar o mundo de nós mesmos.

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O rapaz queria ser como Carl Sagan, e só havia um meio: ele estudou, prestou vestibular, entrou para a Universidade, graduou-se, teve seus cursos, mestrado, doutorado etc. Durante este tempo todo, percebi que por mais que se saiba, menos se sabe. Ao invés de aceitar qualquer besteira que nos contam, estudamos para saber e conhecer, mas surge novas dúvidas, o que nos faz estudar mais e descobrir coisas inesperadas. Quem ficou na crença perdeu as descobertas, mas não fará falta, pois crédulos não se maravilham com descobertas, já que a preguiça mental impede de ver as coisas com clareza, ficando numa eterna miopia mental.

Eu sei que não sou Carl Sagan, e acho que não o serei. Tento dar o melhor em termos de explicação, mas ainda não adquiri midichlorians suficientes para traduzir a Ciência em sentimento, numa espécie de sinestesia do conhecimento. Ninguém conseguiu ser Carl Sagan e eu imagino que ninguém conseguirá, pois pessoas especiais aparecem com intervalos de séculos e não caindo do céu numa espaçonave vindo de outra galáxia, com um sol vermelho.

O mundo não é como gostaríamos que fosse. Se fosse justo, pessoas como Carl Sagan seriam imortais, mas não é assim que funciona. Sofrendo de esclerose lateral amiotrófica Síndrome mielodisplásica, os olhos de Carl Sagan se fecharam para este mundo em 20 de dezembro de 1996. Calmo e tranquilo, como sempre foi. O Universo não foi o mesmo desde a morte de Carl Sagan, mas graças à tecnologia, propiciada pelas descobertas científicas, temos registrado muitos de seus momentos. Um dos melhores momentos, ocorreu no dia 14 de fevereiro de 1990, durante a viagem da Voyager 1. Carl Sagan encheu o saco dos técnicos da NASA para que dessem uma ordem à sonda, para que ela virasse e tirasse uma foto da Terra a 6,4 bilhões de quilômetros de distância, mostrando-a como um “pálido ponto azul”. E é com a tecnologia que dispomos que podemos ouvir o próprio dr. Carl Edward Sagan, um dos Grandes Nomes da Ciência, dizer:




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Mensagem por Brainiac Qui Jul 04, 2013 10:16 pm

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Mensagem por Brainiac Qui Jul 04, 2013 10:17 pm

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Mensagem por Brainiac Qui Jul 04, 2013 10:17 pm

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Mensagem por Brainiac Seg Jul 15, 2013 10:57 pm

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Mensagem por Brainiac Sáb Jul 27, 2013 11:48 pm

Oswaldo Cruz


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A multidão ensandecida quer justiça! Ela se cansou dos desmandos dos poderosos e resolveu fazer algo contra isso. Os anônimos iniciaram um clamor popular e o homem do alto de seu palácio sente que dias negros se aproximam. O homem do palácio resolveu que algo tinha que ser mudado e o Presidente lhe dera carta branca; mas ele não contava com o Poder do Povo, e este estava decidido… Decidido a continuar na imundície, pouco importando quantas pessoas estavam morrendo.

Esta é a história da briga de Oswaldo Cruz contra a varíola, que resultou em várias mortes no que foi conhecido como “Revolta da Vacina”.


Entre os baluartes da ciência, Oswaldo Gonçalves Cruz escreveu seu nome na história, não usando uma pena, mas sim com uma agulha de injeção. Ele nasceu no município paulista de São Luiz do Paraitinga, em 5 de agosto de 1872. Aos cinco anos, Oswaldo (que eu continuarei escrevendo com “W”, pouco me lixando para “acordos” sem sentido) voltou para o Rio de Janeiro, onde mais tarde ingressaria na Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro em 1887, graduando-se em 1892 (naquela época ainda era “chique” ser médico, engenheiro ou advogado, apenas).

Oswaldo Cruz estagiou no renomado Instituto Pasteur, em Paris, sendo discípulo de Émile Roux, seu diretor, entre 1896 a 1899. De voltou ao Brasil, organizou o combate ao surto de peste bubônica registrado em Santos (SP) e em outras cidades portuárias. Demonstrou que a epidemia era incontrolável sem o emprego do soro adequado. Como a importação era demorada, propôs ao governo a instalação de um instituto para fabricá-lo, o Instituto Soroterápico Federal, também conhecido por Instituto de Manguinhos, Instituto de Patologia Experimental, Instituto Oswaldo Cruz e, por fim, Fundação Instituto Oswaldo Cruz, ou FIOCRUZ, para encurtar.

Em 25 de maio de 1900, por meio do Ofício nº 1, ainda em papel timbrado do Instituto Vacínico Municipal, Pedro Affonso Franco (Barão de Pedro Affonso), diretor do Instituto Soroterápico Federal, comunicava à Diretoria Geral de Saúde Pública que, em consequência da autorização do dia anterior, começariam nesta data os trabalhos do laboratório de Manguinhos, "esperando em breve poder começar o trabalho de inoculação nos cavalos". O laboratório fora criado com o objetivo de produzir o soro para o combate à peste bubônica que ameaçava a Capital Federal. É curioso saber que durante os anos da Primeira República, não havia a tradição de investimentos de pesquisa científica. Eu gostaria de dizer que isso mudou, mas sabemos que seria uma grossa mentira. Ciência nunca pareceu ser preocupação brasileira, onde D. Pedro II, que vivia com o traseiro mais fora do país do que aqui dentro, investia em mentes brilhantes lá fora, como Graham Bell, mas não pareceu muito animado em investir pesado em Ciência & Tecnologia aqui. O tanto de produção científica aqui é devido a homens como Oswaldo Cruz, que nunca mediram esforços para melhorar a vida da população, mesmo sem o reconhecimento dessa mesma população.

A nomeação de Oswaldo Cruz para a diretoria do que hoje é a mundialmente prestigiada Fundação Oswaldo Cruz – onde pesquisadores ganham um salário menor que um deputado semi-analfabeto e menos ainda que um jogador de futebol – fazia parte do projeto de governo de Rodrigues Alves, presidente da república entre 1902 e 1906.

Alves estava decidido em remodelar a cidade do Rio, então Capital Federal, de forma que a fizesse menos atrasada que uma favela no interior da África. Acreditem, não estava muito longe disso. O sistema de transporte público era ruim, muitas ruas não tinham calçamento ou eram esburacadas, o saneamento básico era uma tosqueira e a saúde pública era risível. Tem horas que eu olho o calendário para saber em que ano estamos. O Rio de Janeiro já tinha o problema de favelas, que começou graças à ingerência do próprio Estado quando da Guerra de Canudos, posto que alguns dos soldados que foram para a guerra e conseguiram regressar ao Rio de Janeiro em 1897, deixaram de receber o soldo, instalando-se em construções provisórias erigidas sobre o Morro da Providência, que era popularmente chamado “Morro da Favela”, que era um lugar que originariamente ficava próximo a Canudos. Daí em diante, qualquer grupo de “casas” (isto é, barracos) construídas em morros passaram a ser chamados de “favelas” e o nome pegou até hoje.

Na época de Rodrigues Alves, o Rio de Janeiro era circundado por várias favelas (não que tenha mudado muito), e os planos de urbanização, como sempre, visavam apenas os locais nobres, onde morava o pessoal endinheirado. Pobre que se ralasse. Enquanto isso, eu fico pensando se estou escrevendo sobre fatos históricos do século passado ou o dia-a-dia da cidade.

As edificações do que seria o Instituto Seropédico Federal começaram a ser construído em 1903, no bairro de Manguinhos, sob o projeto do engenheiro português Luiz de Morais Júnior, onde as fundações do edifício principal, o Pavilhão Mourisco, foram feitas em 1905, tendo sido concluído somente em 1918.


Enquanto Pavilhão Mourisco não ficava pronto, as condições sanitárias da cidade do Rio estavam em condições tão precárias que até os ratos estavam protestando, ainda mais que eles quase somavam número maior que a população. Eles estavam quase exigindo participação política na Assembleia Legislativa.

Oswaldo Cruz, como Diretor Geral de Saúde Pública, começou um ataque em massa no combate à febre amarela. Sua reforma sanitária, que tinha como meta erradicar não só a febre amarela, como a varíola, peste bubônica, malária, tifo, tuberculose e a dengue. Sim, o problema que temos HOJE com a dengue data dos fins do século XIX e início do século XX. Devia ser uma maravilha morar no Rio de Janeiro em 1903.

Bem, não adianta nada ter carta branca se você não for usá-la. Investido dos poderes dados pelo presidente Rodrigues Alves e de plena aprovação do prefeito Pereira Passos, Oswaldo Cruz conseguiu convencer que fosse aprovada a Lei da Vacina Obrigatória, editada em 31 de outubro de 1904. E como na base da democracia a coisa não anda, já que a população estava muito feliz – tão feliz quanto pinto no lixo, literalmente – Oswaldo, o cientista kickboxer, criou as chamadas Brigadas Mata-Mosquitos, grupos de funcionários do serviço sanitário que entravam nas casas para matar os insetos. Na marra! E muitas pessoas não queriam deixar (o que se vê ainda hoje). Só que os funcionários estavam acompanhados da polícia e ninguém brinca com polícia desde os tempos de Roma.

Boletins sanitários da época relatam que em um mês vistoriou-se 14.772 prédios, extinguiram 2.328 focos de larvas, limpou-se 2.091 calhas e telhados, 17.744 ralos e 28.200 tinas (onde eram recolhidas as águas das chuvas e o pessoal esquecia de jogar a água fora). Lavou-se 11.550 caixas automáticas e registros, 3.370 caixas d´água, 173 sarjetas, retiraram 6.559 baldes de lixo dos quintais de casas e terrenos necessitando 36 carroças de lixo, gastando 1.901 litros de petróleo. A população estava assistindo, alheia que aquilo era um grande bem e salvaria muitas vidas. As pessoas observavam a tudo isso praticamente impotentes, mas tudo tem limite.

A Lei de Vacinação Obrigatória não queria saber da vontade da população, que normalmente escolhe o pior. Ela literalmente obrigava as pessoas a se vacinarem contra a varíola e tudo o mais. As pessoas se revoltaram e o barril de pólvora explodiu no que ficou conhecido como A Revolta da Vacina, que teve início em 5 de novembro de 1904 e alcançou algo que eu definiria como “índices apocalípticos” entre 10 a 16 de novembro de 1904. Os jornais da época ajudavam no clima de histeria acusando os desmandos de Oswaldo Cruz, com charges nada elogiosas, enquanto jornalistas comentavam as decisões draconianas do Governo Federal, demonstrando que jornalista falando de ciência é a mesma coisa que tartaruga tentando costurar desde o milênio passado.


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O Governo não queria saber. Barracos imundos (e naquela época, barraco era feito de táuba de madeira, mesmo!), casas mal construídas, mal-conservadas, caindo aos pedaços e mais imundas que o passado de alguns políticos eram sumariamente derrubadas, sendo a lei apelidada, por causa disso, de Lei do Bota Abaixo. Claro, que a imprensa “esquecia” de dizer que o Governo realocava as pessoas, mas tal como hoje, as pessoas parecem que morrem se saírem da podridão, apesar dessa “realocação’ também não fosse grande coisa.

A imunização antivariólica era ordem do dia. Ninguém podia deixar de ser vacinado, e a população ensandecida foi pra rua e começou o quebra-quebra. O Governo mobilizou tropas e a porrada comeu solta. Oswaldo Cruz foi acusado de inimigo da população e essa mesma população insana enfrentou a polícia, o Exército, a Marinha e o Corpo de Bombeiros, resultando num saldo de 30 mortos e 110 feridos, centenas de pessoas foram presas e muitas delas foram convidadas a se mudarem pro Acre. O Governo sufocou a rebelião, porém, suspendeu a obrigatoriedade da vacina… temporariamente, pois em 1975 foi editada outra lei tornando a vacinação compulsória, já que a população demonstrou não ter maturidade de decidir sobre isso.

Talvez seja exagero tudo isso e a morte de 30 pessoas é com certeza algo lastimável, mas devemos lembrar que a histeria coletiva já tinha sido conhecida por Pasteur e as pessoas sempre dão mostras de 3ª Lei de Clarke (paráfrase) está certa: Qualquer tecnologia suficientemente avançada é indistinguível de magia. Remédios não são exceções, e depois que o louco do Andrew Wakefield inventou que vacinas contra a poliomielite causavam autismo, o que muitos idiotas acreditam até hoje, fica fácil de entender como essas atrocidades começam.

Fora a brutal ignorância reinante, havia interesses políticos, onde o monarquistas e membros de partidos da oposição se uniram contra as medidas, fomentando a revolta da população, onde “intelectuais” como Ruy Barbosa se mostraram claramente contra a ação do Governo Federal, Municipal e do próprio Oswaldo Cruz. O Apostolado Positivista do Brasil, um grupo de seguidores da filosofia de Augusto Comte, que acreditava que um país deveria ser governado por um grupo de intelectuais capacitados e não por uma família, no poder por hereditariedade, também entrou em cena, se posicionando contra o Governo e, de forma pouco lógica, se unindo aos adeptos de um governo monarquista! Jacobinos e Floristas se articulavam para depor o governo de Rodrigues Alves e usaram a insatisfação do povo para canalizar o ódio e usar esse ódio como força-motriz para a derrubada de um governo eleito democraticamente, apesar de fazer parte da Política do Café com Leite. Para mobilizar a população, chegaram a dizer que era uma afronta ao pudor, já que as mulheres teriam que se despir frente aos sanitaristas e alegavam os seguidores do candomblé que as doenças eram um castigo dos orixás e, por isso, não deviam ser combatidas.

De tudo e por tudo, as ações enérgicas de Oswaldo Cruz surtiram efeito. A febre amarela urbana foi erradicada. A mortal varíola foi erradicada. A dengue ainda existe por falta de pulso dos governantes e ações estratégicas. É de se pensar se houve falha de comunicação do Governo com a população, se se houvesse melhor divulgação de fatos se teria sido diferente. Creio que não. As pessoas não têm tanto interesse assim em se informar e os mais bem informados tinham interesses políticos e econômicos que as ações do presidente Rodrigues Alves dessem errado. Não havia rádios, TV, blogs etc. quando muito, jornais e estes eram formados por pessoas sem um pingo de informação, onde exaltam publicações como a Gazeta de Notícias que traziam poemas em sua capa. Ciência nunca foi levada a sério no Brasil e os planos de modernização da então Capital federal pelo prefeito Pereira Passos afetava a todos, que pareciam gostar de viver numa cidade do Primeiro Reinado ao invés de se preparar para ser uma megalópole.

Mais tarde, Oswaldo Cruz foi premiado no Congresso Internacional de Higiene e Demografia, em Berlim, em 1907. Dirigiu a campanha de erradicação da febre amarela em Belém do Pará e estudou as condições sanitárias do vale do rio Amazonas e da região onde seria construída a Estrada de Ferro Madeira-Mamoré. Em 1916, Oswaldo Cruz ajudou a fundar a Academia Brasileira de Ciências e, no mesmo ano, assumiu a prefeitura de Petrópolis. Oswaldo Gonçalves Cruz faleceu um ano, aos 44 anos, por causa de uma insuficiência renal, sem ter completado o seu mandato como prefeito.

É difícil analisar hoje, mais de 100 anos depois, as ações tomadas por Oswaldo Cruz. Havia a necessidade de uma ampla reforma sanitária, bem como urbanística. As ações políticas macularam o que foi um novo dia em termos de saúde pública e quando vemos o número de doenças erradicadas perante uma ação drástica, devemos refletir bastante antes de condenarmos o cientista. E quando passo pela Avenida Brasil e vejo o imponente prédio alaranjado do Pavilhão Mourisco, sabendo que ali há centenas de cientistas trazem melhores condições de saúde para todos, quando em 1906 já produzia vacinas contra o antraz, sinto-me bem, pois alguém resolveu que a Ciência no Brasil tinha que ser levada adiante. E alguém assim, no mínimo, tem que ser reconhecido como um dos Grandes Nomes da Ciência.


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Mensagem por Brainiac Sáb Out 12, 2013 10:58 pm

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Mensagem por Brainiac Ter Dez 31, 2013 11:17 pm

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Mensagem por Goris Sex Abr 25, 2014 6:06 pm

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