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Sombria HQ francesa "Pinóquio", de Winshluss lançada no Brasil (Já adquiri)

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Mensagem por zkrk Qua Out 03, 2012 1:17 pm

Globo lança graphic novel francesa de Pinóquio

Em vez do boneco de madeira mentiroso que sonha em se transformar em menino de carne e osso, um super-robô criado por Gepeto para uso militar. Assim é o protagonista da graphic novel Pinóquio, escrita e ilustrada pelo autor francês Winshluss. A obra, que chega agora pela Editora Globo, através do selo Globo Livros Graphics, foi premiada no Festival de Angoulême em 2009 e será lançada na 22ª Bienal Internacional do Livro de São Paulo.

Nesta história, a inocência do personagem original criado por Carlo Collodi dá lugar a um protagonista sombrio. Pinóquio é uma máquina de guerra que, em suas andanças por locais sórdidos, entra em contato com a violência, a ganância, a corrupção e a crueldade enquanto conhece a fauna humana – do industrial que explora a mão de obra infantil (e para quem Pinóquio trabalha) a implacáveis caçadores de recompensas, além de uma Branca de Neve pós-moderna e sete anões sadomasoquistas.

A trama é contada quase exclusivamente por meio de imagens. Só há texto nas reflexões do personagem Jiminy Barata, correspondente ao Grilo Falante original. Em sua talentosa criação, Winshluss – pseudônimo de Vincent Paronnaud – alia desenhos com alto grau de detalhamento a uma estética que mescla técnicas do grafite, da caricatura e da tira de jornal.

Pinóquio, de Winshluss, tem 192 páginas, formato 21 x 29 cm e tem preço previsto de R$ 75,00.

Mestre do humor macabro, Winshluss ganhou em 2007, junto com Marjane Satrapi, o Prêmio do Júri do Festival de Cannes como codiretor do longa de animação Persépolis, que também recebeu uma indicação ao Oscar de Melhor Animação em 2008. Com Pinóquio, Winshluss ganhou o prêmio de melhor álbum no Festival International de la Bande Dessinée de 2009 em Angoulême (França).

FONTE: [Tens de ter uma conta e sessão iniciada para poderes visualizar este link]
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Mensagem por zkrk Qua Out 03, 2012 1:52 pm

Adquiri o álbum anteontem e jáli. A primeira coisa a dizer é quea HQ NÃO é voltada para o público infantil. O estilo me lembrou um pouco o do Robert Crumb (de quem não sou fã), a história traz cenas muito pesadas, cuja arte cartunesca deixa ainda mais perturbadoras.

Aparentemente "Pinóquio" tinha tudo para eu não gostar. Não gosto de HQs ultraviolentas (Não gostei de "Hardboiled" do Frank Miller) nem de gore ou conteúdo pornográfico excessivo/ hardcore. Tem tudo isso em "Pinóquio".

Não gosto desse estilo de arte que parece inspirado em grafites e arte urbana (atualmente presente tanto em HQs quanto em jogos, como o supervalorizado "Super Meat Boy").

A HQ em alguns momentos utilizava bastante esse estilo (assim como também caí para os lados do cartunesco, tipo cartoons e tiras de jornal, ou alternativo estilo "ZAP de Robert Crumb" ou "Fritz the Cat de Robert Crumb". Até as cores da HQ se alternam conforme o momento da HQ, tendo até alguns trechos cuja cor lembra algo como sépia.

Entretanto... gostei da HQ. A narrativa é ótima. Em geral não tem balões de fala, mas tudo é feito de forma tão bem-feita que pode-se acompanhar perfeitamente e entender tudo. A HQ cumpre algo que li aqui no fórum (se não me engano algo escrito pelo HAL 9000) de que um dos aspectos da arte é a subversão.

Essa HQ realmente subverte e muito o mundo dos contos de fada "versão Disney" e paradoxalmente os aproxima do aspecto sombrio que tinham em suas origens medievais ou do começo da era moderna. Pinóquio não é um boneco de madeira. É um robô para ser usado como arma militar. Gepeto não é engolido por uma baleia e sim por um peixe que sofreu mutação devido a despejo de resíduos radioativos no oceano. O Grilo Falante é substituído por uma barata problemática com anseios de ser escritor chamada Jimmy, e que em momento algum interage diretamente, conversa ou tenta orientar os passos e ações de Pinóquio.

Pinóquio mesmo sendo uma máquina criada para matar acaba sendo o personagem menos deturbado, corrompido ou mal caráter. Ao contrário de sua versão clássica, o Pinóquio Robô não é um mentiroso. Ele sequer fala. Apenas acaba send empurrado de uma situação bizarra para outra, sem pedir por isso, e aparentemente bem alheio a essas situações e as consequências de sua participação nela.

A HQ me pareceu apontar de forma mordaz para o lado podre do mundo atual... consumo de drogas, beliticismo, perda de humanidade por parte das pessoas, problemas familiares e domésticos, incapacidade dos orgãos públicos (como os reformatórios) de cumprir as funções que lhe são atribuídas, luta pelo poder por motivos egocêntricos e egoistas, degradação ambiental, violência urbana, alcoolismo, solidão, depressão e problemas psiquiátricos ou psicológicos, fanatismo religioso e suas consequências, hipocrisia, manipulação pela propaganda para estimular consumo, sentimento de exclusão e de não- pertencimento, as péssimas condições no ambiente e no mundo do trabalho,violência sexual comportamento lascivo... tudo isso está presente na HQ mas de forma que sempre seja possível reconhecer o paralelo com a versão mais conhecida da história.

Está tudo lá... a Ilha parque de diversão para onde as crianças mentirosas vão, Gepeto sendo engolido por uma imensa critaura marinha, etc... etc... conhecer a versão mais usual acrescenta muito na leitura dessa HQ francesa.

Talvez eu tenha gostado porque essas coisas não são colocadas de forma positiva, nem estilo "vamos glorificar o estilo VIDA LOCA de ser"), nem de forma "divertida & euforizada" (como a péssima série de jogos de videogame "GTA" faz...). As coisas são mostradas como são... ruins, destrutivas, sujas. Me lembrou um pouco o livro "As Ligações Perigosas", que expõe e mostra a realidade oculta do mundo corrompido, degradado, degradante e hipócrita da nobreza francesa (de forma mais geral, da própria nobreza européia) da era moderna. Não está se glorificando. Está se metendo o dedo na ferida.

Vale a pena lembrar que a versão de "Pinóquio" do livro escrito pelo autor italiano Carlo Collodi é bem sombria, com elementos de horror, bem diferente da "versão Disney", a mais conhecida (e pior...) versão de "Pinóquio". A HQ francesa parece que pretende se aproximar mais do clima original do livro que do cima mais "light" (alguns diriam hipócrita) tradicional da Disney.

NOTA para "Pinóquio" de Winshluss: 8,0
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