STF nega em definitivo pedido de proibição de livro sobre João Gilberto
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STF nega em definitivo pedido de proibição de livro sobre João Gilberto
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O STF (Supremo Tribunal Federal) negou de forma definitiva o pedido do músico João Gilberto para que o livro que leva seu nome, lançado em 2012 pela editora Cosac Naify, fosse retirado de circulação. A decisão foi publicada na segunda-feira (25).
O pedido foi rejeitado por unanimidade e o processo teve como relatora a ministra Carmen Lúcia, que também é relatora da ação direta de inconstitucionalidade movida pela Anel (Associação Nacional dos Editores de Livros), que pede que sejam declarados inconstitucionais os artigos 20 e 21 do Código Civil, que dão margem à proibição de biografias não autorizadas.
A ação movida pela Anel deve ser julgada ainda em 2013 e a ministra realizou na semana passada audiência pública para debater a questão.
Em junho, a 9ª Vara Cível de São Paulo já havia negado o pedido de João Gilberto, que pretendia ver recolhidos todos os exemplares da biografia não autorizada, organizada pelo professor do Instituto de Estudos Brasileiros da USP, Walter Garcia, que reúne críticas, fotografias, entrevistas, depoimentos e ensaios sobre um dos criadores da Bossa Nova.
O músico alega que a obra apresenta conteúdo ofensivo a sua imagem e intimidade, pela exposição não autorizada do seu retrato pessoal. O compositor também se sentiu ofendido com trechos do livro que o classificam como neurótico e esquisito.
Na sentença da justiça de São Paulo, o juiz Valdir da Silva Queiroz Júnior afirmou que "a busca e apreensão se caracteriza como censura, absolutamente inadmitida no ordenamento jurídico brasileiro."
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"Seu verdadeiro lar está dentro do seu coração e continua com você onde quer que você vá; mas um lugar legal e aconchegante é um motivo maravilhoso para voltar para casa!"
-J.R.R.Tolkien
Re: STF nega em definitivo pedido de proibição de livro sobre João Gilberto
Eu acho essa questão complicada.
Às vezes fico do lado da liberdade de expressão.
Às vezes fico do lado do direito à intimidade.
Tendo mais para o lado da liberdade, mas fico pensando que deve ser osso para um sujeito ver publicado um livro sobre si contendo partes que ele não aprova.
De qualquer maneira, sempre me vem à cabeça uma frase do Rui Castro que diz que não se biografa personagens ainda vivos.
Às vezes fico do lado da liberdade de expressão.
Às vezes fico do lado do direito à intimidade.
Tendo mais para o lado da liberdade, mas fico pensando que deve ser osso para um sujeito ver publicado um livro sobre si contendo partes que ele não aprova.
De qualquer maneira, sempre me vem à cabeça uma frase do Rui Castro que diz que não se biografa personagens ainda vivos.
Quero Café- Farrista "We are the Champions"
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Re: STF nega em definitivo pedido de proibição de livro sobre João Gilberto
Uma discussão interessante!
Pena o autor da biografia "Roberto Carlos em detalhes" ter concordado judicialmente em retirar os livros das livrarias. Se ele tentasse hoje eu acredito que conseguiria.
Por conta desse furdunço de direitos autorais, o preço dessa biografia do "Rei" que era oferecida por valores entre R$ 280 e R$ 500 no Estante Virtual, saltou para 800 lascas.
Por enquanto eu e$tou $egurando a minha edição aqui em ca$a... por enquanto...
Pena o autor da biografia "Roberto Carlos em detalhes" ter concordado judicialmente em retirar os livros das livrarias. Se ele tentasse hoje eu acredito que conseguiria.
Por conta desse furdunço de direitos autorais, o preço dessa biografia do "Rei" que era oferecida por valores entre R$ 280 e R$ 500 no Estante Virtual, saltou para 800 lascas.
Por enquanto eu e$tou $egurando a minha edição aqui em ca$a... por enquanto...
Sirius Plissken- Não tenho mais vida fora daqui
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Data de inscrição : 09/06/2010
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Localização : Constelação Canis Major
Re: STF nega em definitivo pedido de proibição de livro sobre João Gilberto
Eu cheguei a ver um exemplar desses numa livraria pouco antes da ordem de ser retirado das estantes.
Eu quase comprei.
Mas nunca fui tão fã assim do Roberto Carlos.
Eu quase comprei.
Mas nunca fui tão fã assim do Roberto Carlos.
Quero Café- Farrista "We are the Champions"
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Data de inscrição : 12/06/2010
Localização : Às vezes em Marte, às vezes no espaço sideral
Re: STF nega em definitivo pedido de proibição de livro sobre João Gilberto
O pecado dessa história é que o autor era o maior de todos os fãs do Roberto e fez uma briografia primorosa, só que, segundo o Roberto, citou episódios da vida conjugal que ele não queria expor. O cara dedidou mais de 10 anos de sua vida para fazer uma homenagem elogiada pela crítica por nada.Dan Shimaru (Ex Hal 9000) escreveu:Eu cheguei a ver um exemplar desses numa livraria pouco antes da ordem de ser retirado das estantes.
Eu quase comprei.
Mas nunca fui tão fã assim do Roberto Carlos.
Daqui há pouco começa a correr uma versão em pdf e acaba com a graça do cara...
Sirius Plissken- Não tenho mais vida fora daqui
- Mensagens : 8960
Data de inscrição : 09/06/2010
Idade : 104
Localização : Constelação Canis Major
Re: STF nega em definitivo pedido de proibição de livro sobre João Gilberto
Eu não vejo problema de biografar em vida, qualquer presidente americano ou candidato tem uma dezena, existe clássicas do Rolling Stones, Beatles (e individuais de cada um) etc.
Ainda mais no Brasil, onde a elite que são esses biografados recebem dinheiro público em sua maioria via leis de incentivo, só lembrar se não fosse a grita teríamos pelos módicos 1 milhão de reais, a Maria Betania declamando alguns poemas no youtube sem entrar em domínio público já que depois de 1 ou 2 anos para continuar se a União quisesse mais algum teria que entrar.
Ainda mais no Brasil, onde a elite que são esses biografados recebem dinheiro público em sua maioria via leis de incentivo, só lembrar se não fosse a grita teríamos pelos módicos 1 milhão de reais, a Maria Betania declamando alguns poemas no youtube sem entrar em domínio público já que depois de 1 ou 2 anos para continuar se a União quisesse mais algum teria que entrar.
marcelo l.- Farrista "We are the Champions"
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Re: STF nega em definitivo pedido de proibição de livro sobre João Gilberto
João Gilberto não tem o dinheiro do RC e o poder da Grobo do lado dele...
Quanto à biografia do Roberto Carlos, não precisa ser fã pra achar que é um livro excelente. E mesmo muitos fãs talvez concordem que foi a melhor coisa lançada no mercado com o nome "Roberto Carlos" em décadas, porque há muito tempo ele já não lança músicas e discos tão bons quanto já lançou...
Já os motivos pro RC ter se incomodado tanto com o livro, acho que esse trecho incomodou muito mais que os motivos alegados:
Quanto à biografia do Roberto Carlos, não precisa ser fã pra achar que é um livro excelente. E mesmo muitos fãs talvez concordem que foi a melhor coisa lançada no mercado com o nome "Roberto Carlos" em décadas, porque há muito tempo ele já não lança músicas e discos tão bons quanto já lançou...
Já os motivos pro RC ter se incomodado tanto com o livro, acho que esse trecho incomodou muito mais que os motivos alegados:
- Spoiler:
- Páginas 367 a 373 do PDF.No interior desse movimentado mundo do sexo, um grande escândalo abalou a corte do rei, embora não o tenha atingido diretamente. Foi em abril de 1966, quando explodiu uma denúncia de orgias sexuais com garotas menores que envolveu artistas como Erasmo Carlos, Carlos Imperial, Eduardo Araújo, além de discjockeys, divulgadores e discotecários do Rio de Janeiro.
Tudo começou numa quarta-feira, dia 6 de abril, quando o animador de rádio e televisão carioca Luis de Carvalho foi a São Paulo para uma reunião de negócios e, à noite, decidiu dar uma esticada até a boate La Cave, na rua Augusta. Na época, ele era um dos mais populares discjockeys do Rio de Janeiro, líder de audiência com o Parada Musical e Luis de Carvalho e seu Programa, diariamente pela manhã na Rádio Globo, mais o TV Fone, que apresentava aos sábados na TV Globo. Naquela noite na La Cave, ele conheceu quatro garotas que ficaram inebriadas com a narrativa que Luis fazia dos bastidores do mundo artístico carioca, de como ele tinha conhecido Roberto Carlos, Erasmo e outros ídolos da jovem guarda. O papo transcorreu tão alegre e descontraído que, ao se despedir, Luis de Carvalho convidou as garotas para comparecerem a uma festa que haveria sábado, no Rio.
Certas de que aquela seria uma festa de arromba, talvez até com a presença de Roberto Carlos com seu novo carrão, na sexta-feira à noite as quatro garotas foram para o Rio de Janeiro. Detalhe fundamental: três delas eram menores de idade, uma de quinze e duas de dezessete anos. As meninas chegaram ao Rio na manhã de sábado de Aleluia e, após algumas andadas pela cidade, encontraram Luis de Carvalho num café próximo à TV Globo, no Jardim Botânico,
onde ele gravava o programa TV Fone.
Luis de Carvalho não esperava que as garotas fossem realmente aparecer e a tal festa era apenas uma peixada que um de seus amigos decidira promover em seu apartamento naquela tarde. As meninas foram para lá, mas, como não havia nenhum grande artista presente, depois de almoçar foram se divertir no auditório do programa Festa do Bolinha, comandado por Jair de Taumaturgo, na TV Rio. Lá sim elas se esbaldaram, pois conheceram, entre outros, Erasmo Carlos, Ed Wilson, Eduardo Araújo e o gordo Carlos Imperial, que as convidou para um comes e bebes que haveria naquela noite em sua casa. Seria exatamente ali que o forrobodó iria acontecer.
Dessa vez a balada não foi propriamente no Chatô do Imperial, mas numa filial no terceiro andar de um prédio na rua Francisco Otaviano, em Copacabana, que na época Carlos Imperial estava dividindo com o cantor Eduardo Araújo. Segundo denúncia do promotor Batista de Paula, aquele apartamento "foi palco das mais baixas demonstrações de libidinagem e anomalia sexual" e "tudo de perversão que se pode imaginar ocorreu com as menores naquela noite: atos de libidinagem, congressos sexuais, desnudamentos, libações alcoólicas, etc". Uma outra autoridade também afirmou que "os detalhes e as circunstâncias dos fatos apurados são de tal maneira torpes e escabrosos que não é possível levá-los ao conhecimento do grande público por questão de decoro elementar".
Na verdade, não houve ali nada de muito diferente daquilo que costumeiramente acontecia na Casa da Baiana, em São Paulo, ou no próprio Chatô do Imperial, especialmente às sextas-feiras à noite, depois do programa Jovem Guarda Rio. Mas daquela vez houve a denúncia, o Juizado de Menores agiu com rigor e a imprensa sensacionalista achou um prato cheio para explorar em manchetes como "Monstruosidades contra mocinhas", "Corrupção no reino do iê, iê, iê" e "Em pânico artistas acusados de corromper fanzocas menores".
Essa combinação de sexo, garotas e play-boys tinha se tornado explosiva desde a noite de 14 de junho de 1958, quando a jovem Aída Curi foi atirada de um prédio na avenida Atlântica, em Copacabana. Nesse episódio ficou evidenciada, pelas marcas no corpo da moça, uma tentativa de curra seguida de homicídio praticado por dois rapazes da zona sul carioca. O caso Aída Curi ganhou repercussão nacional e deixou marcas profundas na sociedade do Rio de Janeiro. Por isso, quando estourou o escândalo com as meninas paulistas, não faltava quem dissesse que aquilo era "coisa desses playboys que mataram Aída Curi". Pois não é que o principal acusado pela morte de Aída Curi, o playboy Ronaldo Guilherme de Souza Castro, também se envolveu com as meninas no apartamento de Carlos Imperial?
Em abril de 1966, Ronaldo Guilherme havia pouco obtivera liberdade condicional, depois de cumprir seis dos 37 anos de prisão a que tinha sido condenado pelo assassinato de Aída Curi. De volta à zona sul carioca, ele andava sempre à procura de festas com os antigos amigos. Um deles era Carlos Imperial, a quem conhecia desde a adolescência, e fora visitar na noite em que lá estavam os brotos de São Paulo.
Outro que também apareceu no apartamento foi o cantor Erasmo Carlos. "Entrei numa fria, mas sei que não poderá dar nada contra mim", disse na época o Tremendão, argumentando que estivera ali apenas de passagem. De fato, após se apresentar no programa de Jair de Taumaturgo, na TV Rio, Erasmo foi lá para pegar a letra de O carango, que Carlos Imperial tinha feito para ele gravar. Ao chegar, deparou-se com a turma bebendo e cantando, num ambiente bastante convidativo. Mas Erasmo já tinha encontro marcado com uma namorada no Leme - e precisava chegar antes das dez horas, quando fechava a portaria do prédio onde a garota morava. Entretanto, aquele pouco tempo que ficou na casa de Imperial foi suficiente para Erasmo ter o seu nome envolvido num escândalo de sexo e orgia que abalou a jovem guarda.
As meninas relataram que, em certo momento da festa, a pretexto de ganhar um ovo de Páscoa, uma delas foi levada a fazer striptease acompanhada de Carlos Imperial, que se desnudou por completo para desinibir a menor. Segundos após, penetrou no ambiente um cachorro amestrado, o qual, atendendo a gritos lascivos, avançou sobre a adolescente, visando lamber-lhe o órgão sexual. A menina, em prantos, refugiou-se no banheiro, enquanto Carlos Imperial e demais marmanjos caíam na gargalhada. Aquilo seria apenas uma brincadeira para assustar e excitar, teria dito o anfitrião da festa. Mais tarde, depois de já terem tomado várias doses de batida, as meninas foram levadas ao quarto, onde fizeram sexo com Carlos Imperial, com seu irmão Paulo Imperial, mais Eduardo Araújo, o cantor Luiz Carlos Ismail... No dia seguinte, domingo, a festa continuou com a presença de novos convidados, como o discotecário Plínio Gesta e o playboy Ronaldo Guilherme. Ainda segundo a denúncia, nessa noite "repetiram-se os atos de libidinagem com as menores e após a exaltação da libido formaram-se os pares para os congressos sexuais".
Exauridas, as meninas passaram a segun-da-feira inteira dormindo. No dia seguinte, pela manhã, foram para a porta da Rádio Globo procurar Luis de Carvalho, pois estavam sem dinheiro para pagar a passagem de volta para São Paulo. O locutor desconversou e pediu para elas procurarem um colega no bar ao lado, que as encaminhou para um amigo, que por sua vez pediu para elas ficarem um pouco mais no Rio, num apartamento vago que ele tinha. Deveriam pegar a chave num bar na rua Siqueira Campos, na verdade um daqueles in-ferninhos de Copacabana. Resumo da ópera: na madrugada de terça para quarta-feira, as quatro meninas foram abordadas pela polícia quando vagavam grogues e chorosas pela praia de Copacabana. Encaminhadas ao Juizado de Menores, lá explicaram por que tinham saído de São Paulo, com quem tinham andado no Rio e por que foram parar num ponto de prostituição. A partir daí, foi detonada a bomba que associou artistas da jovem guarda a uma rede de corrupção de menores.
De imediato, o juizado determinou vigilância rigorosa em todos os programas de auditório de rádio e televisão do Rio de Janeiro, aos quais foi vetada a entrada de adolescentes - a não ser acompanhados dos pais ou responsáveis diretos. Os artistas envolvidos no escândalo também ficaram proibidos de se apresentar em shows e outros espaços de divulgação na capital e cidades fluminenses. E mais: o juiz Alberto Augusto Cavalcante de Gusmão mandou investigar outros casos e começaram a surgir novas denúncias.
Para a polícia, o caso das meninas paulistas ajudaria a desvendar "um processo de corrupção, depravação e perdição moral de adolescentes", que se iniciaria nos bastidores dos programas de auditórios e se consumaria nas festas de arromba promovidas pelos artistas da jovem guarda e seus colaboradores. Além do Chatô de Carlos Imperial, foi determinada a devassa em outros endereços, como o apartamento do cantor Ciro Aguiar, no centro do Rio, que alguns outros cantores também costumavam usar para furtivos encontros amorosos.
O animador Luis de Carvalho tentou se eximir de culpa no caso das meninas paulistas, mas novas denúncias determinaram a retirada do ar de seu programa TV Fone, apresentado aos sábados na TV Globo. "Era normal depois daquele programa a gente pegar três ou quatro meninas e ir lá para o apartamento de Imperial", confessa o cantor Ed Wilson. "Luis de Carvalho era um bandalheiro danado, um comedor de mulheres", afirma o locutor Mário Luiz, seu colega na Rádio Globo. O escândalo foi um grande baque para a imagem e popularidade de Luis de Carvalho, um locutor família, que diariamente rezava ao microfone da Rádio Globo a oração paz, saúde e amor, conclamando à harmonia em todos os lares.
Na sequência do inquérito instaurado para apurar o caso, todos os envolvidos foram intimados a prestar seu depoimento. "Não sou cafajeste. Tenho minha família, respeito as famílias dos outros, e gosto que me respeitem. Isso me cheira a onda contra a jovem guarda", disse Erasmo Carlos, após ser ouvido por mais de três horas pelas autoridades do Juizado de Menores do Rio de Janeiro. "Costumo receber visitas de fãs em meu apartamento, mas não sei se são menores porque nunca exijo delas certidão de idade", defendeu-se Carlos Imperial, enfatizando, porém, que não tivera contato mais íntimo com as menores paulistas, até por que "elas não são muito atraentes". Eduardo Araújo idem. Aliás, nega até hoje. "Não sou santo, nunca fui, mas daquela vez não fiz nada. Até estive com as meninas, mas não transei com nenhuma delas." Já o cantor Ed Wilson segue outra linha de defesa. "Nenhum de nós pegou aquelas meninas à força nem corrompeu ninguém. Elas já eram mais do que corrompidas e davam pra todo mundo."
Na época, nenhuma justificativa dos acusados convenceu o juiz Cavalcante de Gusmão, que declarou guerra aberta à turma do iê-iê-iê. Ao todo, nesse processo de corrupção de menores foram envolvidos cerca de quarenta artistas, quase o elenco inteiro da jovem guarda - o que prova que ela estava longe de ser um movimento musical de artistas românticos e ingénuos. Parece que versos como "ah! deixa essa boneca faça-me o favor/ deixa isso tudo e vem brincar de amor" eram levados às últimas consequências pelos artistas. Nesta e em outras canções, a palavra amor podia significar algo mais do que apenas o sentimento romântico.
Na época, a comunicação não era tão imediata e o Rio de Janeiro parecia mais distante do resto do Brasil. Mas o escândalo acabou se espalhando e ficou difícil para os artistas envolvidos fazerem shows pelo interior do país. Erasmo Carlos, por exemplo, foi um dos mais visados. Um juiz de São José do Rio Preto, interior de São Paulo, proibiu o Tremendão de se apresentar na cidade "em solidariedade ao Juiz de Menores do Rio". O mesmo aconteceu em vários outros locais do Brasil. Às vezes, o carro de Erasmo Carlos tinha sua passagem bloqueada já na entrada da cidade. "Aqui você não entra, pode voltar! Nosso juiz também proibiu você de se apresentar aqui", dizia-lhe a polícia local. "O mais desagradável é que só me avisavam da proibição depois de eu viajar de quatrocentos a quinhentos quilômetros para chegar à cidade onde faria o show", reclama o cantor, que, diante de toda aquela avalanche de denúncias envolvendo seu nome, foi defendido pelo parceiro Roberto Carlos. "Essa onda com meu amigo é uma injustiça! Erasmo é barra-limpa, conheço-o há muitos anos e sei de uma coisa: ele não é nenhum santo, mas não se mete em encrencas com menores. Aquele cara tem juízo, não dá mancada desse tipo. Se me disserem que ele se trancou no quarto pra ler o Pato Donald, acredito. Mas encrencas com menores, não!"
O fato é que, aos poucos, o cerco estava se fechando sobre os artistas e disc jockeys envolvidos. Em junho de 1966 houve um corre-corre geral quando vários deles, entre os quais Carlos Imperial, Eduardo Araújo e Luis de Carvalho, tiveram suas prisões preventivas decretadas pelo juiz João de Deus Lacerda Mena Barreto, da 3a Vara Criminal do Rio de Janeiro. Nas primeiras horas da manhã de sábado, dia 26, agentes da Delegacia de Vigilância prenderam o locutor e animador de televisão Jonas Garret. Horas depois foi a vez do cantor Luiz Carlos Ismail, que acordou com três policiais ao lado de sua cama. Em seguida caíram o discotecário Plínio Gesta e Paulo Roberto Imperial - ambos também levados de suas residências. Na segunda-feira foi preso o playboy Ronaldo Guilherme, que havia se refugiado na casa de um amigo em Vitória, Espírito Santo. "Não sou nenhum criminoso, mas, do jeito que as coisas vão, acabarei me tornando um marginal", desabafou ao ser reconduzido à prisão.
Os familiares do animador Luis de Carvalho disseram não saber do seu paradeiro, o que forçou a polícia a manter a casa dele discretamente vigiada durante alguns dias. Quando apareceu, foi preso. Erasmo Carlos estava em São Paulo e soube da operação policial em curso no Rio quando chegou no domingo para fazer o Jovem Guarda. O delegado Sérgio Paranhos Fleury - chefe de segurança da TV Record - o alertou de que a polícia paulista podia ser acionada para prendê-lo a qualquer momento. Erasmo Carlos foi então levado apressadamente por uma saída dos fundos do teatro e colocado em um carro. Dali seguiu para a casa de um amigo, com a expressa recomendação de sumir por uns dias.
Já o cantor Eduardo Araújo procurou um refúgio mais seguro: a fazenda de seus pais, no interior de Minas Gerais. "Tinha um delegado, amigo de minha família, que não deixava nenhum policial entrar na fazenda. Ninguém passava, nem agente da Polícia Federal", afirma o cantor, que ali ainda deu guarida a outro fugitivo, Carlos Imperial. Depois de ficar uma semana escondido na casa de um amigo em Brasília, Imperial sentiu que podia cair a qualquer momento e partiu em direção à fazenda do amigo Eduardo Araújo. Os dois artistas ficaram três meses lá confinados e nesse período compuseram um futuro sucesso da jovem guarda: Vem quente que estou fervendo.
Todos os artistas denunciados entraram com um pedido de habeas corpus e puderam responder ao processo em liberdade. "Fiquei 55 dias preso na delegacia e tive que pagar uma nota para não ir para o presídio. Mas todo dia eu falava; "bicho, eu não comi ninguém, eu não comi ninguém"", lembra Luiz Carlos Ismail. No fim do processo, todos conseguiram se safar da acusação de corruptores de menores. Mas, na época, a carreira e imagem deles foram duramente prejudicadas. Além de perder muitos shows pelo interior do Brasil, perderam espaço na importante praça do Rio de Janeiro -dado o fato de que durante um ano ficaram impedidos de participar dos programas de rádio e televisão cariocas. Desse modo, algumas gravações deles que eram sucesso em São Paulo tiveram pouca execução e vendagem no Rio. Foi o caso, por exemplo, de O caderninho, sucesso de Erasmo Carlos que, na época, foi mais ouvido pelo público carioca na voz do cantor Arthurzinho. Registre-se que, com tudo isso, o Tremendão não deixou de cultivar sua fama de mau e, ainda em meio a todo o imbróglio, lançou um álbum com o provocativo título de Você me acende.
Erasmo sempre foi bastante sincero quanto às suas estripulias: "Por que esconder? Tive muitos amores naquela época, era mulher que não acabava mais. Fidelidade? Não era papo pra mim! Nem dava tempo de ser fiel", confessa ele, acrescentando: "Já tive mais de mil mulheres na vida, fiz bacanais, fui para a cama com três ao mesmo tempo, essas coisas todas". Já de Roberto Carlos, nunca ninguém conseguiu arrancar maiores revelações, apesar de todos os boatos que rolavam sobre o que ocorria nos bastidores da jovem guarda. "Roberto Carlos era terrível! Principalmente antes de se casar com Nice, ele era uma fera, um grande comedor. Aliás, ele e Erasmo faziam uma dupla infernal", afirma o cantor Wanderley Cardoso. Outro cantor dessa geração, Nelson Ned, tem opinião semelhante: "Com aquele olhar triste, de peixe morto, Roberto Carlos sempre foi um devasso, um sacana, um tremendo comedor". Wanderléa confirma que na época o assédio a Roberto Carlos era muito grande: "Na jovem guarda era uma loucura. Saía mulher de debaixo da cama dele em hotel, de dentro do armário. E Roberto sempre foi muito mulherengo".
Esse assédio ao artista não acontecia apenas no Brasil. "No México as mulheres eram tão loucas pelo Roberto que se jogavam no palco gritando "Robertito... Robertito", e depois iam bater à porta da suíte dele. E isso também acontecia na Argentina, no Chile. Mas é a tal coisa: eu podia fazer o quê? Quando o conheci ele já era o Roberto Carlos famoso no mundo", afirma sua ex-mulher, a atriz Myrian Rios.
Com tudo isso, Roberto Carlos sempre evitou falar sobre suas aventuras sexuais.
Re: STF nega em definitivo pedido de proibição de livro sobre João Gilberto
Lido.Koppe escreveu:João Gilberto não tem o dinheiro do RC e o poder da Grobo do lado dele...
Quanto à biografia do Roberto Carlos, não precisa ser fã pra achar que é um livro excelente. E mesmo muitos fãs talvez concordem que foi a melhor coisa lançada no mercado com o nome "Roberto Carlos" em décadas, porque há muito tempo ele já não lança músicas e discos tão bons quanto já lançou...
Já os motivos pro RC ter se incomodado tanto com o livro, acho que esse trecho incomodou muito mais que os motivos alegados:
- Spoiler:
Páginas 367 a 373 do PDF.No interior desse movimentado mundo do sexo, um grande escândalo abalou a corte do rei, embora não o tenha atingido diretamente. Foi em abril de 1966, quando explodiu uma denúncia de orgias sexuais com garotas menores que envolveu artistas como Erasmo Carlos, Carlos Imperial, Eduardo Araújo, além de discjockeys, divulgadores e discotecários do Rio de Janeiro.
Tudo começou numa quarta-feira, dia 6 de abril, quando o animador de rádio e televisão carioca Luis de Carvalho foi a São Paulo para uma reunião de negócios e, à noite, decidiu dar uma esticada até a boate La Cave, na rua Augusta. Na época, ele era um dos mais populares discjockeys do Rio de Janeiro, líder de audiência com o Parada Musical e Luis de Carvalho e seu Programa, diariamente pela manhã na Rádio Globo, mais o TV Fone, que apresentava aos sábados na TV Globo. Naquela noite na La Cave, ele conheceu quatro garotas que ficaram inebriadas com a narrativa que Luis fazia dos bastidores do mundo artístico carioca, de como ele tinha conhecido Roberto Carlos, Erasmo e outros ídolos da jovem guarda. O papo transcorreu tão alegre e descontraído que, ao se despedir, Luis de Carvalho convidou as garotas para comparecerem a uma festa que haveria sábado, no Rio.
Certas de que aquela seria uma festa de arromba, talvez até com a presença de Roberto Carlos com seu novo carrão, na sexta-feira à noite as quatro garotas foram para o Rio de Janeiro. Detalhe fundamental: três delas eram menores de idade, uma de quinze e duas de dezessete anos. As meninas chegaram ao Rio na manhã de sábado de Aleluia e, após algumas andadas pela cidade, encontraram Luis de Carvalho num café próximo à TV Globo, no Jardim Botânico,
onde ele gravava o programa TV Fone.
Luis de Carvalho não esperava que as garotas fossem realmente aparecer e a tal festa era apenas uma peixada que um de seus amigos decidira promover em seu apartamento naquela tarde. As meninas foram para lá, mas, como não havia nenhum grande artista presente, depois de almoçar foram se divertir no auditório do programa Festa do Bolinha, comandado por Jair de Taumaturgo, na TV Rio. Lá sim elas se esbaldaram, pois conheceram, entre outros, Erasmo Carlos, Ed Wilson, Eduardo Araújo e o gordo Carlos Imperial, que as convidou para um comes e bebes que haveria naquela noite em sua casa. Seria exatamente ali que o forrobodó iria acontecer.
Dessa vez a balada não foi propriamente no Chatô do Imperial, mas numa filial no terceiro andar de um prédio na rua Francisco Otaviano, em Copacabana, que na época Carlos Imperial estava dividindo com o cantor Eduardo Araújo. Segundo denúncia do promotor Batista de Paula, aquele apartamento "foi palco das mais baixas demonstrações de libidinagem e anomalia sexual" e "tudo de perversão que se pode imaginar ocorreu com as menores naquela noite: atos de libidinagem, congressos sexuais, desnudamentos, libações alcoólicas, etc". Uma outra autoridade também afirmou que "os detalhes e as circunstâncias dos fatos apurados são de tal maneira torpes e escabrosos que não é possível levá-los ao conhecimento do grande público por questão de decoro elementar".
Na verdade, não houve ali nada de muito diferente daquilo que costumeiramente acontecia na Casa da Baiana, em São Paulo, ou no próprio Chatô do Imperial, especialmente às sextas-feiras à noite, depois do programa Jovem Guarda Rio. Mas daquela vez houve a denúncia, o Juizado de Menores agiu com rigor e a imprensa sensacionalista achou um prato cheio para explorar em manchetes como "Monstruosidades contra mocinhas", "Corrupção no reino do iê, iê, iê" e "Em pânico artistas acusados de corromper fanzocas menores".
Essa combinação de sexo, garotas e play-boys tinha se tornado explosiva desde a noite de 14 de junho de 1958, quando a jovem Aída Curi foi atirada de um prédio na avenida Atlântica, em Copacabana. Nesse episódio ficou evidenciada, pelas marcas no corpo da moça, uma tentativa de curra seguida de homicídio praticado por dois rapazes da zona sul carioca. O caso Aída Curi ganhou repercussão nacional e deixou marcas profundas na sociedade do Rio de Janeiro. Por isso, quando estourou o escândalo com as meninas paulistas, não faltava quem dissesse que aquilo era "coisa desses playboys que mataram Aída Curi". Pois não é que o principal acusado pela morte de Aída Curi, o playboy Ronaldo Guilherme de Souza Castro, também se envolveu com as meninas no apartamento de Carlos Imperial?
Em abril de 1966, Ronaldo Guilherme havia pouco obtivera liberdade condicional, depois de cumprir seis dos 37 anos de prisão a que tinha sido condenado pelo assassinato de Aída Curi. De volta à zona sul carioca, ele andava sempre à procura de festas com os antigos amigos. Um deles era Carlos Imperial, a quem conhecia desde a adolescência, e fora visitar na noite em que lá estavam os brotos de São Paulo.
Outro que também apareceu no apartamento foi o cantor Erasmo Carlos. "Entrei numa fria, mas sei que não poderá dar nada contra mim", disse na época o Tremendão, argumentando que estivera ali apenas de passagem. De fato, após se apresentar no programa de Jair de Taumaturgo, na TV Rio, Erasmo foi lá para pegar a letra de O carango, que Carlos Imperial tinha feito para ele gravar. Ao chegar, deparou-se com a turma bebendo e cantando, num ambiente bastante convidativo. Mas Erasmo já tinha encontro marcado com uma namorada no Leme - e precisava chegar antes das dez horas, quando fechava a portaria do prédio onde a garota morava. Entretanto, aquele pouco tempo que ficou na casa de Imperial foi suficiente para Erasmo ter o seu nome envolvido num escândalo de sexo e orgia que abalou a jovem guarda.
As meninas relataram que, em certo momento da festa, a pretexto de ganhar um ovo de Páscoa, uma delas foi levada a fazer striptease acompanhada de Carlos Imperial, que se desnudou por completo para desinibir a menor. Segundos após, penetrou no ambiente um cachorro amestrado, o qual, atendendo a gritos lascivos, avançou sobre a adolescente, visando lamber-lhe o órgão sexual. A menina, em prantos, refugiou-se no banheiro, enquanto Carlos Imperial e demais marmanjos caíam na gargalhada. Aquilo seria apenas uma brincadeira para assustar e excitar, teria dito o anfitrião da festa. Mais tarde, depois de já terem tomado várias doses de batida, as meninas foram levadas ao quarto, onde fizeram sexo com Carlos Imperial, com seu irmão Paulo Imperial, mais Eduardo Araújo, o cantor Luiz Carlos Ismail... No dia seguinte, domingo, a festa continuou com a presença de novos convidados, como o discotecário Plínio Gesta e o playboy Ronaldo Guilherme. Ainda segundo a denúncia, nessa noite "repetiram-se os atos de libidinagem com as menores e após a exaltação da libido formaram-se os pares para os congressos sexuais".
Exauridas, as meninas passaram a segun-da-feira inteira dormindo. No dia seguinte, pela manhã, foram para a porta da Rádio Globo procurar Luis de Carvalho, pois estavam sem dinheiro para pagar a passagem de volta para São Paulo. O locutor desconversou e pediu para elas procurarem um colega no bar ao lado, que as encaminhou para um amigo, que por sua vez pediu para elas ficarem um pouco mais no Rio, num apartamento vago que ele tinha. Deveriam pegar a chave num bar na rua Siqueira Campos, na verdade um daqueles in-ferninhos de Copacabana. Resumo da ópera: na madrugada de terça para quarta-feira, as quatro meninas foram abordadas pela polícia quando vagavam grogues e chorosas pela praia de Copacabana. Encaminhadas ao Juizado de Menores, lá explicaram por que tinham saído de São Paulo, com quem tinham andado no Rio e por que foram parar num ponto de prostituição. A partir daí, foi detonada a bomba que associou artistas da jovem guarda a uma rede de corrupção de menores.
De imediato, o juizado determinou vigilância rigorosa em todos os programas de auditório de rádio e televisão do Rio de Janeiro, aos quais foi vetada a entrada de adolescentes - a não ser acompanhados dos pais ou responsáveis diretos. Os artistas envolvidos no escândalo também ficaram proibidos de se apresentar em shows e outros espaços de divulgação na capital e cidades fluminenses. E mais: o juiz Alberto Augusto Cavalcante de Gusmão mandou investigar outros casos e começaram a surgir novas denúncias.
Para a polícia, o caso das meninas paulistas ajudaria a desvendar "um processo de corrupção, depravação e perdição moral de adolescentes", que se iniciaria nos bastidores dos programas de auditórios e se consumaria nas festas de arromba promovidas pelos artistas da jovem guarda e seus colaboradores. Além do Chatô de Carlos Imperial, foi determinada a devassa em outros endereços, como o apartamento do cantor Ciro Aguiar, no centro do Rio, que alguns outros cantores também costumavam usar para furtivos encontros amorosos.
O animador Luis de Carvalho tentou se eximir de culpa no caso das meninas paulistas, mas novas denúncias determinaram a retirada do ar de seu programa TV Fone, apresentado aos sábados na TV Globo. "Era normal depois daquele programa a gente pegar três ou quatro meninas e ir lá para o apartamento de Imperial", confessa o cantor Ed Wilson. "Luis de Carvalho era um bandalheiro danado, um comedor de mulheres", afirma o locutor Mário Luiz, seu colega na Rádio Globo. O escândalo foi um grande baque para a imagem e popularidade de Luis de Carvalho, um locutor família, que diariamente rezava ao microfone da Rádio Globo a oração paz, saúde e amor, conclamando à harmonia em todos os lares.
Na sequência do inquérito instaurado para apurar o caso, todos os envolvidos foram intimados a prestar seu depoimento. "Não sou cafajeste. Tenho minha família, respeito as famílias dos outros, e gosto que me respeitem. Isso me cheira a onda contra a jovem guarda", disse Erasmo Carlos, após ser ouvido por mais de três horas pelas autoridades do Juizado de Menores do Rio de Janeiro. "Costumo receber visitas de fãs em meu apartamento, mas não sei se são menores porque nunca exijo delas certidão de idade", defendeu-se Carlos Imperial, enfatizando, porém, que não tivera contato mais íntimo com as menores paulistas, até por que "elas não são muito atraentes". Eduardo Araújo idem. Aliás, nega até hoje. "Não sou santo, nunca fui, mas daquela vez não fiz nada. Até estive com as meninas, mas não transei com nenhuma delas." Já o cantor Ed Wilson segue outra linha de defesa. "Nenhum de nós pegou aquelas meninas à força nem corrompeu ninguém. Elas já eram mais do que corrompidas e davam pra todo mundo."
Na época, nenhuma justificativa dos acusados convenceu o juiz Cavalcante de Gusmão, que declarou guerra aberta à turma do iê-iê-iê. Ao todo, nesse processo de corrupção de menores foram envolvidos cerca de quarenta artistas, quase o elenco inteiro da jovem guarda - o que prova que ela estava longe de ser um movimento musical de artistas românticos e ingénuos. Parece que versos como "ah! deixa essa boneca faça-me o favor/ deixa isso tudo e vem brincar de amor" eram levados às últimas consequências pelos artistas. Nesta e em outras canções, a palavra amor podia significar algo mais do que apenas o sentimento romântico.
Na época, a comunicação não era tão imediata e o Rio de Janeiro parecia mais distante do resto do Brasil. Mas o escândalo acabou se espalhando e ficou difícil para os artistas envolvidos fazerem shows pelo interior do país. Erasmo Carlos, por exemplo, foi um dos mais visados. Um juiz de São José do Rio Preto, interior de São Paulo, proibiu o Tremendão de se apresentar na cidade "em solidariedade ao Juiz de Menores do Rio". O mesmo aconteceu em vários outros locais do Brasil. Às vezes, o carro de Erasmo Carlos tinha sua passagem bloqueada já na entrada da cidade. "Aqui você não entra, pode voltar! Nosso juiz também proibiu você de se apresentar aqui", dizia-lhe a polícia local. "O mais desagradável é que só me avisavam da proibição depois de eu viajar de quatrocentos a quinhentos quilômetros para chegar à cidade onde faria o show", reclama o cantor, que, diante de toda aquela avalanche de denúncias envolvendo seu nome, foi defendido pelo parceiro Roberto Carlos. "Essa onda com meu amigo é uma injustiça! Erasmo é barra-limpa, conheço-o há muitos anos e sei de uma coisa: ele não é nenhum santo, mas não se mete em encrencas com menores. Aquele cara tem juízo, não dá mancada desse tipo. Se me disserem que ele se trancou no quarto pra ler o Pato Donald, acredito. Mas encrencas com menores, não!"
O fato é que, aos poucos, o cerco estava se fechando sobre os artistas e disc jockeys envolvidos. Em junho de 1966 houve um corre-corre geral quando vários deles, entre os quais Carlos Imperial, Eduardo Araújo e Luis de Carvalho, tiveram suas prisões preventivas decretadas pelo juiz João de Deus Lacerda Mena Barreto, da 3a Vara Criminal do Rio de Janeiro. Nas primeiras horas da manhã de sábado, dia 26, agentes da Delegacia de Vigilância prenderam o locutor e animador de televisão Jonas Garret. Horas depois foi a vez do cantor Luiz Carlos Ismail, que acordou com três policiais ao lado de sua cama. Em seguida caíram o discotecário Plínio Gesta e Paulo Roberto Imperial - ambos também levados de suas residências. Na segunda-feira foi preso o playboy Ronaldo Guilherme, que havia se refugiado na casa de um amigo em Vitória, Espírito Santo. "Não sou nenhum criminoso, mas, do jeito que as coisas vão, acabarei me tornando um marginal", desabafou ao ser reconduzido à prisão.
Os familiares do animador Luis de Carvalho disseram não saber do seu paradeiro, o que forçou a polícia a manter a casa dele discretamente vigiada durante alguns dias. Quando apareceu, foi preso. Erasmo Carlos estava em São Paulo e soube da operação policial em curso no Rio quando chegou no domingo para fazer o Jovem Guarda. O delegado Sérgio Paranhos Fleury - chefe de segurança da TV Record - o alertou de que a polícia paulista podia ser acionada para prendê-lo a qualquer momento. Erasmo Carlos foi então levado apressadamente por uma saída dos fundos do teatro e colocado em um carro. Dali seguiu para a casa de um amigo, com a expressa recomendação de sumir por uns dias.
Já o cantor Eduardo Araújo procurou um refúgio mais seguro: a fazenda de seus pais, no interior de Minas Gerais. "Tinha um delegado, amigo de minha família, que não deixava nenhum policial entrar na fazenda. Ninguém passava, nem agente da Polícia Federal", afirma o cantor, que ali ainda deu guarida a outro fugitivo, Carlos Imperial. Depois de ficar uma semana escondido na casa de um amigo em Brasília, Imperial sentiu que podia cair a qualquer momento e partiu em direção à fazenda do amigo Eduardo Araújo. Os dois artistas ficaram três meses lá confinados e nesse período compuseram um futuro sucesso da jovem guarda: Vem quente que estou fervendo.
Todos os artistas denunciados entraram com um pedido de habeas corpus e puderam responder ao processo em liberdade. "Fiquei 55 dias preso na delegacia e tive que pagar uma nota para não ir para o presídio. Mas todo dia eu falava; "bicho, eu não comi ninguém, eu não comi ninguém"", lembra Luiz Carlos Ismail. No fim do processo, todos conseguiram se safar da acusação de corruptores de menores. Mas, na época, a carreira e imagem deles foram duramente prejudicadas. Além de perder muitos shows pelo interior do Brasil, perderam espaço na importante praça do Rio de Janeiro -dado o fato de que durante um ano ficaram impedidos de participar dos programas de rádio e televisão cariocas. Desse modo, algumas gravações deles que eram sucesso em São Paulo tiveram pouca execução e vendagem no Rio. Foi o caso, por exemplo, de O caderninho, sucesso de Erasmo Carlos que, na época, foi mais ouvido pelo público carioca na voz do cantor Arthurzinho. Registre-se que, com tudo isso, o Tremendão não deixou de cultivar sua fama de mau e, ainda em meio a todo o imbróglio, lançou um álbum com o provocativo título de Você me acende.
Erasmo sempre foi bastante sincero quanto às suas estripulias: "Por que esconder? Tive muitos amores naquela época, era mulher que não acabava mais. Fidelidade? Não era papo pra mim! Nem dava tempo de ser fiel", confessa ele, acrescentando: "Já tive mais de mil mulheres na vida, fiz bacanais, fui para a cama com três ao mesmo tempo, essas coisas todas". Já de Roberto Carlos, nunca ninguém conseguiu arrancar maiores revelações, apesar de todos os boatos que rolavam sobre o que ocorria nos bastidores da jovem guarda. "Roberto Carlos era terrível! Principalmente antes de se casar com Nice, ele era uma fera, um grande comedor. Aliás, ele e Erasmo faziam uma dupla infernal", afirma o cantor Wanderley Cardoso. Outro cantor dessa geração, Nelson Ned, tem opinião semelhante: "Com aquele olhar triste, de peixe morto, Roberto Carlos sempre foi um devasso, um sacana, um tremendo comedor". Wanderléa confirma que na época o assédio a Roberto Carlos era muito grande: "Na jovem guarda era uma loucura. Saía mulher de debaixo da cama dele em hotel, de dentro do armário. E Roberto sempre foi muito mulherengo".
Esse assédio ao artista não acontecia apenas no Brasil. "No México as mulheres eram tão loucas pelo Roberto que se jogavam no palco gritando "Robertito... Robertito", e depois iam bater à porta da suíte dele. E isso também acontecia na Argentina, no Chile. Mas é a tal coisa: eu podia fazer o quê? Quando o conheci ele já era o Roberto Carlos famoso no mundo", afirma sua ex-mulher, a atriz Myrian Rios.
Com tudo isso, Roberto Carlos sempre evitou falar sobre suas aventuras sexuais.
Pelo que entendi, o trecho em questão pega mais para o Erasmo e outros do que para o RC (confesso que li bem en passant,deu para entender.) e ambos não protestaram segundo me lembro.
De qualquer maneira, acho que deve ser algo que um senhor católico reservado prefere que seja mantido entre amigos.
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