As Aventuras de Tintin - 2011
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É tudo muito subjetivo, encontrei isso aqui:
De:
http://guiadoestudante.abril.com.br/estudar/historia/tintim-herge-435501.shtml
Tintim, Hergé
O autor de um dos mais famosos personagens em quadrinhos da Europa completaria 100 anos em 2007. Conheça a obra do belga tachado de colaborador nazista, mas que criou um ícone pop
Aline Gattoni | 01/08/2007 00h00
"Meu único adversário no plano internacional é Tintim.” A espirituosa frase é atribuída a Charles de Gaulle, presidente da França entre 1958 e 1969. O político a teria dito ao escritor francês André Malraux e retrata a universalidade do personagem de histórias em quadrinhos que, à época, já completara meio século.
Tintim, repórter criado em 1929 pelo belga Hergé (pseudônimo formado pelas iniciais invertidas do autor, Georges Rémi), ultrapassou, desde sua criação, as fronteiras de seu país para influenciar definitivamente a cultura européia e a maneira de fazer quadrinhos ao redor do mundo. Os 24 álbuns de As Aventuras de Tintim (o último deles, Tintim e a Alfa-Arte, ficou inacabado com a morte do autor, em 1983) vendem cerca de 10 milhões de cópias por ano, editados em 45 línguas.
O estilo de Hergé foi exaustivamente copiado após o nascimento de Tintim e deu origem à “Escola de Bruxelas” de quadrinhos. As marcas são traços simples, de espessura regular, iguais em todos os elementos do desenho, e a ausência de sombra. Era uma busca de identidade européia para a produção de quadrinhos, para concorrer com o mercado americano e seus Super-Homem e Batman. Mas quem acha que o talento do autor belga se resumia aos desenhos está enganado. Os textos eram outro grande trunfo das aventuras, ambientadas em todos os continentes, no fundo do mar e até no espaço. Em alguns casos, os balões de diálogo chegavam a ocupar a maior parte do espaço. “Hergé foi mais que um desenhista de histórias em quadrinhos. Ele tinha uma forte dimensão política e satírica”, declarou o expoente americano da arte pop Andy Warhol, que o retratou.
Para muitas pessoas que já tiveram contato com o trabalho de Hergé, a abordagem política se restringia a um posicionamento colonialista e de extrema-direita. Essa interpretação teve início com o fato de o autor ter começado a carreira, em 1925, no Le Vingtième Siècle, um jornal belga católico e conservador editado por um fã confesso do ditador italiano Benito Mussolini. A primeira história após a publicação das tiras, Tintim no País dos Soviéticos (1930), mostrava um herói comum, sem superpoderes, mas preconceituoso ao se ver às voltas com a Revolução Russa, que resultou no controle do poder soviético por parte do partido bolchevique após a eliminação da autocracia. A obra é repleta de clichês e mostra uma visão tendenciosa do comunismo e do povo russo.
O segundo álbum, Tintim no Congo (1931), trazia um ingênuo e até violento Tintim, interagindo com estereótipos dos “exóticos” africanos. Em 1946, Hergé chegou a modificar um trecho original, substituindo uma aula que Tintim dava às crianças africanas. O próximo trabalho do belga, Sua Pátria, a Bélgica tornou-se uma mera lição de matemática devido à autocrítica do autor.
O encontro em 1934 com o estudante chinês Chang Chong-Chen mudou o destino da obra de Hergé. Chang, que se tornou personagem das histórias de Tintim, aconselhou o autor a se informar mais sobre os países e os povos abordados nos álbuns. Assim, Hergé passou a desenvolver um extenso arquivo sobre as mais diversas culturas. As histórias se tornaram mais reais e minuciosas e perderam muito do ar eurocêntrico. As feições de Tintim também foram modificadas. A partir daí, o repórter e seu inseparável cãozinho Milu viajaram pelo mundo e presenciaram fatos históricos, como o conflito dos gângsteres na Chicago dos anos 30 (Tintim na América, 1932), a Guerra do Chaco, entre a Bolívia e o Paraguai (O Ídolo Roubado, 1937), e as ditaduras latino-americanas (retratadas pelos generais e chefes de estado Alcazar e Tapioca em livros como Tintim e os Pícaros, de 1976). Simpático ao povo chinês em O Lótus Azul (1936) – que, na verdade, fazia menção à Guerra dos Boxers e à Guerra Sino-Japonesa –, Hergé foi convidado a ir a Taiwan em 1939, mas a guerra iminente na Europa impediu sua viagem.
Hergé e o nazismo
Em maio de 1940, a Bélgica foi invadida por tropas alemãs. O Le Vingtième Siècle e seu suplemento infantil Le Petit Vingtième, encabeçado por Hergé, foram fechados. A produção de Tintim no País do Ouro Negro, então em andamento e que abordava os conflitos no Oriente Médio, foi interrompida por oito anos. O autor passou a trabalhar no álbum O Caranguejo das Pinças de Ouro, publicado no jornal Le Soir, um dos poucos autorizados pelos nazistas a funcionar.
Com a libertação da Bélgica em setembro de 1944, Tintim deixou de circular no Le Soir. Mas a mancha nazista já havia se consolidado na vida de Hergé, acusado de colaborar com o regime por atuar em um jornal controlado pelos alemães.
Em 1950, surgiu a idéia de Explorando a Lua, trabalho que exigia dedicação técnica e rigor documental. Foram criados os Estúdios Hergé. Pouco se conhecia sobre o satélite, mas o autor adiantou no álbum fatos históricos como a exploração de sua geologia e os primeiros passos do homem em solo lunar. No início dos anos 60, Tintim já era bastante conhecido e fazia sua estréia no cinema, com Tintim e o Mistério do Tosão de Ouro e Tintim e as Laranjas Azuis, ambos sem sucesso. Também começaram a ser produzidos, em 1969, os desenhos animados para a TV.
Paz com a esquerda
Com o fim do trauma da guerra, Hergé continuou a dar andamento à transformação iniciada com a amizade entre ele e Chang Chong-Chen. Em O Caso Girassol (1956), o autor faz inúmeras referências ao “culto da personalidade” imposto por ditadores, mostrando uma faceta mais liberal de Hergé, que se refletia em Tintim. Os líderes de Estado representados em O Caso Girassol espalham estátuas e cartazes com suas imagens pela Bordúria, uma república balcânica militarista fictícia, marcada por tendências hegemônicas. A criação é uma crítica ao nazifascismo: Musstler, político da Bordúria e inimigo de Tintim, é uma simbiose de Mussolini e Hitler.
O líder da Bordúria, o “Grande General” Plekszy Gladz, é uma das alusões à república ditatorial, vigiada constantemente e repleta de soldados. O bigode de Gladz aparece em detalhes do álbum. Compõe o desenho da bandeira, as divisas de uniformes militares e o emblema das Forças Armadas. Toma força e invade fechaduras, automóveis, motocicletas, adornos de decoração... É a prova da onipresença da personalidade despótica.
Tintim no Tibete foi lançado em 1958, durante uma das muitas crises depressivas de Hergé, que marcaram sua chamada “fase branca”. O melancólico álbum mostra personagens solitários em cenários cheios de neve. A partir dos anos 60, seus desenhos já faziam alusão à filosofia oriental, à pintura abstrata e ao movimento pacifista. O peso da idade de Hergé se refletiu em Tintim: o personagem ganhou profundidade meditativa e perdeu capacidade de ação. Em Tintim e os Pícaros, o repórter aparece reinventado, de calça jeans, motocicleta e usando um capacete com o logotipo “faça amor, não faça guerra”.
A redenção
Hergé e seus personagens recuperaram a popularidade em 1973, quando as edições Casterman publicaram a primeira parte dos Arquivos Hergé. Tintim no País dos Soviéticos, sumido das livrarias durante os 40 anos em que o autor foi execrado, reapareceu. O belga pôde ir a Taiwan, 35 anos depois do convite oficial. Na Bélgica, ele voltou a estar com Chang, 45 anos depois de se conhecerem. O reencontro foi tratado com estardalhaço pela imprensa. Em Bruxelas, uma estátua de bronze de Tintim e Milu foi inaugurada. A Sociedade Belga de Astronomia batizou um planeta entre Marte e Júpiter com o nome do autor. Todos esses atos serviram para consolidar a fama do autor e suas criações. Após a morte de Hergé por leucemia, em 1983, sua segunda esposa, Fanny Vlamynck, substituiu os Estúdios Hergé pela Fundação Hergé, já que o autor havia manifestado a vontade de não confiar seu Tintim a nenhum outro profissional.
De:
http://guiadoestudante.abril.com.br/estudar/historia/tintim-herge-435501.shtml
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