Cotas, remendo ou reparo na educação?

E dados:

A participação de estudantes oriundos das escolas públicas, que era de
menos de 27% em cursos como Medicina, Arquitetura e Urbanismo, Direito, Comunicação, Odontologia, Ciências da Computação, Engenharia Civil e Engenharia Elétrica, cresceu consideravelmente, ultrapassando os 43% das vagas a eles reservadas pelo sistema de cotas.

A participação dos estudantes oriundos de escolas públicas, na
UFBA, que estava em torno de 38% antes do sistema de cotas, elevou-se
para 51% em 2005. Embora se verifique em 2006 uma redução deste
patamar de participação para 44,9%, ele se mantém num nível acima
do que é pretendido pelo sistema de cotas. Nos cursos de Ciências da
Computação, Engenharia Civil, Engenharia Elétrica, Geofísica, por
exemplo, houve um decréscimo na presença de estudantes oriundos de
escolas públicas, em relação a 2005, embora se mantendo o patamar da
reserva de vagas. Vale observar que o sistema adotado pela UFBA não implica necessariamente o preenchimento da reserva, posto que ela depende do desempenho do estudante.

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Ao contrário da expectativa daqueles que se mostravam resistentes à implantação do referido sistema, temendo uma desqualificação do
ensino, pelo ingresso de estudantes supostamente despreparados na
Universidade, o exame do desempenho dos estudantes que ingressaram
na UFBA, pelo sistema de cotas, revela resultados bastante animadores,
nos cursos das diversas áreas de conhecimento.

Para mais dados e tabelas bem interessantes, com média dos cotistas/ñ-cotistas:
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Hal 9000, vc disse exatamente o que eu disse no meu post anterior ao seu.
Fácil pra quem tem acesso ao privilégio dizer "negros deveriam esperar darmos educação de qualidade a todos antes de pedir quotas".

E lembrando que não foram só negros que pediram este sistema de quotas.

Não sei, honestamente, se eu o usaria (sou meio orgulhoso), nem se é o melhor sistema, mas entendo que é uma tentativa de se mudar um sistema que só superficialmente é justo.

Fabiola, eu havia justamente pensado no exemplo que vc citou dos motoristas para mostrar a injustiça da coisa (não exatamente o mesmo exemplo, mas a mesma situação).

Cotista, na minha visão, é aquele individuo que não seria aprovado se não fosse pela porcentagem extra de pontos. Tem gente que usa a cota, mas seria aprovado da mesma maneira. Se não tiver pesquisa só com esses indivíduos "cotistas", os dados são viesados.

Chusma escreveu:Cotista, na minha visão, é aquele individuo que não seria aprovado se não fosse pela porcentagem extra de pontos. Tem gente que usa a cota, mas seria aprovado da mesma maneira. Se não tiver pesquisa só com esses indivíduos "cotistas", os dados são viesados.

concordo.

Rafael Zoia escreveu:
Já sobre supretivo, Victor Pax,
Discordo (em parte), porque se tratando dos "cursos preparatórios" para as provas do estado, que realmente duram apenas 6 meses englobando todo o conteúdo fundamental OU médio, te garanto que dependendo da qualidade do curso é possivel o aluno sair beeem mais preparado e com maior bagagem teórica do que outros alunos de muitas escolas "pagou-passou".
Portanto não podemos prever as ações de certos estudantes ou limitar suas futuras conquistas.

Sei disso pois (como um muleque sem noção que fui) estudei em várias destas escolas até finalmente abandonar os estudos no primeiro ano do ensino médio, para só depois de muitos anos entrar em uma sala de aula novamente para me preparar para as "provas em massa" (supletivo) do estado.
Não tem um dia que não amargue o meu atraso, mas hoje tenho curso superior completo e estou me preparando para um concurso público bastante específico.

Claro que 70% do meu modesto (Só estou começando) conhecimento eu devo aos meus estudos e pesquisas individuais geradas pela minha sede em buscar sabedoria e cultura.

Rafael, justamente você está concordando comigo... me referia a ir diretamente de um supletivo noturno conturbado (como foi exemplificado) para uma universidade.
Como colocou, se um aluno de supletivo complementar o ensino precarizado condensado pode sim se dar bem.
Aliás eu dizia que não importava o curso feito, cabia ao aluno melhora-lo (se foi um curso bom seria mais fácil para a pessoa, se o curso fosse pior seria mais difícil, mas não impossível a pessoa passar sem ajuda).
Mas o colocado foi o "pobrezinho que não tem tempo nem disposição para estudar".

Cara, esses dias encontrei um ex aluno aqui da biologia, o Raul.
O cara trabalhava descarregando caminhão no abatedouro, mas isso não impediu de na hora do almoço e nas brechas das descargas ele pegar em livros e de dia (o turno dele era vespertino-noturno, mas não acho que trabalha-se menos por isso ) estudar na escola pública.
Ele não entrou pelas cotas.
Depois de entrar no curso ele continuou trabalhando no abatedouro (afinal tinha de se alimentar e manter a casa).
Ele terminou o curso, o mestrado e entrou em um concurso aqui.

Conversando com uma professora sobre o caso ela falou que após a primeira prova ele veio vê-la pois estranhou uma nota tão alta e pediu que não fosse tratado "como os outros".
Ela disse que apesar de realmente ter errado alguns pontos de certas perguntas em outras ele discorreu muito bem e inclusive demonstrou um conhecimento da matéria que extrapolava a pergunta feita, e por isso complementou os erros nas outras perguntas, e que ele não se preocupa-se que com certeza não precisaria ser "ajudado" como os outros.

Então como eu falei... se o cara estudou em um curso não tão forte (como uma escola média pública ou até um supletivo) dar chance é dar oportunidade para ele complementar os conhecimentos e até adquirir uma rotina de estudos e pesquisas (o que convenhamos os professores super sobrecarregados e atarefados e a aprovação continuada da escola pública não contribui para esse enfoque) e não simplesmente vê-lo e apresenta-lo como um coitadinho que precisa de muleta para se sustentar.

E sobre as escolas "pagou-passou" (ou seja particulares) o argumento pró-cotas não é a de que basta estudar em uma escola particular (seja qual for) para ter uma bagagem superior a dos alunos da pública e por isso a ajuda?
Realmente está coberto de razão... já dei aula na escola pública e te asseguro que boa parte dos alunos não devia nada em desempenho e conhecimento (pelo menos na minha matéria) aos de escolas particulares e estavam "pau-a-pau" com estes e tenho certeza que grande parte dos alunos dos cursos "pagou-passou" estão bem abaixo que os alunos das escolas públicas.

Hal 9000 escreveu: Elas são uma solução pífia, mas o problema do acesso dos negros ao ensino superior é urgente. Aliás, urgentíssimo. E o que faremos? Vamos esperar trinta anos para uma solução que pode não vir?

Eles não tem acesso por serem negros ou por não terem o conteúdo por estudarem em uma escola precarizada?
Se é por inferioridade racial (o que não acredito) e só pelas cotas vão conseguir algum dia entrar na universidade, está certo.

Se for pela diferença de conteúdo entre eles e os que se preparam para as provas, que urgentemente sejam preparados para ficarem no mesmo nível com cursos, palestras, grupos de estudo, informações, etc (pode demorar mais de algumas horas ou dias de esforço, mas acho que se são tão capazes para cursar um curso superior o são para assumirem seus destinos)... afinal não falta só a oportunidade que os outros alunos tem de adquirirem conhecimento?
E com comida e agasalho realmente não dá para esperar nem um dia, mas para adquirir conteúdo e informação que serão carregados pelo resto da vida destes, acho que vale o sacrifício e o esforço para conquistar o objetivo.

E sobre essa solução que pode não vir, é mais fácil ela não vir já que o problema está resolvido pelas cotas ou apesar do problema ser continuamente levantado com a obrigatoriedade de complementação ao problema escancarado.

Victor Pax escreveu:[Tens de ter uma conta e sessão iniciada para poderes visualizar esta imagem]

Rapz, gostaria que a maioria dos mortais lessem essa tirinha pelo o menos uma vez na vida. Talvez, e somente talvez assim a nossa sociedade pudesse tomar algum rumo, que não seja a autodestruição.

Realmente.